Pecadores

Crítica – Pecadores

Sinopse (imdb): Dispostos a deixar suas vidas conturbadas para trás, irmãos gêmeos retornam à cidade natal para recomeçar suas vidas do zero, quando descobrem que um mal ainda maior está à espera deles para recebê-los de volta.

Heu ia falar sobre Pecadores antes de Nas Terras Perdidas. Mas tenho tanta coisa pra falar de Pecadores que preferi atrasar o texto pra poder falar com mais calma.

Vi Pecadores ao lado do meu amigo André Gordirro. Ao fim da sessão, ele fez um comentário que faço questão de repetir aqui: “a gente, como crítico de cinema, vê tanta porcaria, é muito bom quando finalmente vemos um filmão como este”.

Pecadores é um filmão. Daqueles que dá vontade de rever assim que acaba a sessão.

Escrito e dirigido por Ryan Coogler (Pantera Negra, Creed), Pecadores (Sinners, no original) estava na minha lista de expectativas para 2025. Mas posso tranquilamente dizer que superou as expectativas. É daquele tipo de filme onde tudo está no lugar. A história é boa, o elenco está ótimo, a ambientação de época é perfeita, os efeitos especiais são excelentes, e a trilha sonora… A trilha sonora me pegou como há muito tempo uma trilha não me pegava.

Mas, antes de entrar no filme, preciso falar sobre spoilers. Tem uma coisa que acontece bem no meio do filme que muda completamente o rumo da narrativa. E tem muita gente comentando o que acontece, afinal isso aparece no segundo trailer (não aparece no primeiro). Mas… Acredito que o melhor seja ver o filme sem saber, então não vou comentar aqui! Este é um texto spoiler free!

Vamulá. Pecadores começa com um rápido prólogo, e a história volta para o dia anterior. Anos 30, conhecemos os gêmeos Fumaça e Fuligem, que trabalharam em Chicago com Al Capone e agora querem abrir um clube de blues só para negros. Esta primeira metade do filme é mais lenta, pra conhecermos os vários personagens e a relação entre eles, e o roteiro de Coogler é muito bem estruturado neste aspecto. Quando o filme muda de rumo na segunda metade, sabemos quem são aquelas pessoas, temos motivo para nos importarmos por elas!

Preciso falar da trilha sonora. Há muito tempo uma trilha de um filme “não musical” não me impactava assim. Adorei a trilha composta por Ludwig Göransson – se fosse anos atrás, ia correr atrás do disco pra minha coleção. Göransson consegue cria um clima perfeito de tensão usando o violão do blues. Göransson já tem dois Oscars (Pantera Negra e Oppenheimer), não será surpresa se for indicado de novo.

Heu diria que a trilha sonora aqui é tão importante quanto em um filme musical. A última vez que vi algo parecido foi em Baby Driver, que tinha cenas editadas coreografando com a música da trilha, como o tiroteio no ritmo de Hocus Pocus do Focus, ou o sensacional plano sequência inicial ao som de Harlem Shuffle. A diferença é que em Baby Driver eram músicas pop, e aqui Pecadores é uma trilha original (pelo menos heu não conhecia nenhuma das músicas). Mas a trilha é quase um “personagem” do filme. Quase tudo é blues, mas abre um pequeno espaço pra outros estilos, como uma boa cena usando música irlandesa.

Ainda nesse tema, tem uma cena sensacional no meio do filme, uma cena que vai dividir opiniões porque é bem fora da caixinha, mas que se você entrar na onda, vai curtir. Tem uma frase no filme que fala que a música pode invocar espíritos do passado e do futuro, e que pode romper o limite entre a vida e a morte. Então vemos um plano sequência que começa com o personagem Sammie cantando e tocando violão, e a música cresce e toma rumos inesperados, e a câmera começa a passear por caminhos igualmente inesperados. É daquelas sequências pra aplaudir de pé!

E, já que falei do som, tem alguns detalhes geniais que merecem uma ida ao cinema. Vou citar dois exemplos. Um acontece quando uma personagem está mexendo com feitiços e sua voz aparece mais encorpada. É só ela falando, mas a gente sente que ela não está sozinha. Outra é quando ouvimos um personagem contando uma história, e que numa narrativa convencional, a gente veria um flashback. Só que aqui a gente não vê nada – mas ouve tudo!

Os efeitos especiais são muito bons. Já é o quarto filme que vi em poucas semanas onde um ator interpreta dois papéis (os outros são Mickey 17, O Macaco e Alto Knights). Pecadores não tem muitas cenas com os dois personagens interagindo (neste aspecto, Mickey 17 é mais impressionante), mas todas as cenas onde vemos Fumaça e Fuligem juntos são perfeitas. E, quando o filme se assume terror, temos bons efeitos de maquiagem. Não sei o que é efeito prático e o que é digital, mas acho que isso pode ser positivo…

Até agora só falei da parte técnica. Mas Pecadores também tem seu lado político. O diretor sabe abordar o tema do racismo de maneira que fica natural e não panfletária. O modo como ele apresenta as questões raciais não tem nada da lacração que vemos de vez em quando por aí.

No elenco, Michael B Jordan (protagonista de todos os filmes do diretor) está ótimo. Os dois irmãos são muito parecidos fisicamente (em O Macaco os irmãos usam cortes de cabelo diferentes), mas têm personalidades bem distintas. E gostei muito do estreante Miles Caton. Segundo os créditos, ele realmente toca e canta. Também no elenco, Hailee Steinfeld, Delroy Lindo e Jack O’Connell, e uma ponta do músico veterano do blues Buddy Guy.

Pecadores tem cenas pós créditos. Mas não é o mesmo padrão de sempre. Logo no início dos créditos, volta o filme para uma sequência enooorme – heu diria que nunca vi uma cena pós créditos tão longa! É um epílogo, podia facilmente fazer parte do filme. E, lá no finzinho de tudo, aí sim, uma cena pós créditos com cara de pós créditos.

Por fim, uma coisa que heu não entendi o motivo. Parte de Pecadores foi filmado em Imax, então algumas cenas têm o formato de tela diferente, e o filme fica mudando entre os dois formatos. Deve ter algum motivo pra essas mudanças, mas não sei qual foi.

Drop: Ameaça Anônima

Crítica – Drop: Ameaça Anônima 14/4

Sinopse (imdb): Uma mãe viúva em seu primeiro encontro em anos, seu par é mais charmoso e bonito do que ela esperava. Mas a química deles começa a estragar quando Violet começa a ficar aterrorizada por uma série de mensagens anônimas em seu telefone.

Alguns diretores sempre que fazem um filme novo a gente logo quer ver, grandes nomes como Spielberg, Scorsese, Tarantino, etc. Outros ainda não são do primeiro time, mas mesmo assim fico de olho, porque já realizaram algumas obras que fogem do óbvio. Christopher Landon é um desses nomes.

No início da carreira, Christopher Landon estava ligado aos filmes Atividade Paranormal – franquia pela qual não nutro nenhuma simpatia. Ele roteirizou cinco e dirigiu um dos filmes. Aí ele largou o estilo e em 2015 lançou Como Sobreviver a um Ataque Zumbi, comédia meio boba mas que trazia algumas ideias fora do óbvio. Em 2017, dirigiu A Morte te Dá Parabéns, uma mistura de Pânico com Feitiço no Tempo, outra ideia que não era revolucionária mas teve um resultado bem divertido. Dois anos depois, escreveu e dirigiu A Morte te Dá Parabéns 2, que, diferente da maioria das continuações, não é apenas uma cópia do primeiro filme, e segue um caminho bem diferente. E em 2020, escreveu e dirigiu Freaky, uma versão slasher de Sexta Feira Muito Louca / Freaky Friday. Não são filmes que o elevam ao nível de grandes diretores, mas, poxa, quero ver sempre quando esse cara fizer algo novo!

(Vi agora no imdb que em 2023 ele escreveu e dirigiu Fantasma e Cia, com David Harbour e Anthony Mackie. Aparentemente é filme da Netflix. Confesso que nunca tinha ouvido falar desse filme!)

Drop: Ameaça Anônima (Drop, no original) é o novo longa dirigido por Landon. E podemos dizer que ele mantém sua média: não é um grande filme, mas tem várias boas sacadas.

Drop parte do princípio de que todos têm um certo aplicativo de celular que recebe mensagens de qualquer um que esteja próximo, mesmo que um não tenha o contato do outro. Nem sei se existe este tipo de app, mas no filme isso é algo comum e todos usam. Ok, sem problemas, afinal vivemos tempos de Black Mirror com novidades tecnológicas no dia a dia dos personagens.

A protagonista Violet começa a receber mensagens anônimas a ameaçando e também o seu filho, que está em casa, e o filme entra numa espécie de whodunit. Se o app precisa de proximidade, precisa ser alguém que está no mesmo restaurante. Quem em volta é o vilão?

Ok, já vimos este formato outras vezes. Mas, ora, os filmes anteriores do diretor também partiam de ideias recicladas. O lance é que o cara sabe como pegar uma ideia batida e dar uma nova roupagem, trazendo um certo frescor. Além disso, o roteiro consegue convencer em boa parte das ameaças que ela sofre.

Drop ainda traz algumas soluções visuais bem sacadas, como colocar as mensagens de texto escritas na tela, pra gente não precisar ficar vendo o celular da protagonista. O filme ainda traz alguns usos criativos da iluminação pra destacar alguns elementos do cenário, e alguns ângulos de câmera fora do óbvio aqui e ali.

No elenco, heu não conhecia ninguém. O casal principal é Meghann Fahy (de White Lotus, série que ainda não vi) e Brandon Sklenar. Ambos estão bem, mas este é aquele formato de filme que não exige muito dos atores. Mas se heu puder reclamar de alguém, não gostei do menino que faz o filho.

Achei que Drop: Ameaça Anônima cai bastante na parte final. Mas pra comentar isso, preciso entrar nos spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Pra mim, o filme terminava no restaurante. A sequência onde ela volta pra casa pra tentar impedir o assassino e salvar seu filho e sua irmã é cheia de inconsistências, a começar pelo fato de que ela NUNCA chegaria a tempo. Não chega a ser uma sequência ruim, mas achei bem inferior ao resto do filme.

FIM DOS SPOILERS!

Continue com o bom trabalho, sr. Landon! Continuarei acompanhando!

Adolescência

Crítica – Adolescência

Sinopse (imdb): Um garoto de 13 anos é acusado de assassinar uma colega de escola, levando a família, a terapeuta e o investigador do caso a se perguntarem o que realmente aconteceu.

Um amigo que sabe que curto plano sequência tinha me indicado essa série. Aí de repente ouvi várias pessoas comentando, mas não falavam sobre o lado técnico, e sim sobre o conteúdo da série. Resolvi encarar logo.

É uma série de quatro episódios, entre cinquenta e um minutos e uma hora e cinco minutos. E cada um deles é um grande plano sequência. Acompanhamos um garoto de treze anos que está sendo preso, acusado de um assassinato de uma menina da mesma idade.

(Tem gente por aí espalhando imagens de um suposto assassino real, mas os roteiristas garantiram que não se inspiraram em um caso específico. Cuidado com fake news!)

Vou começar pela parte técnica. Pra quem não sabe, um plano sequência é quando a câmera começa a gravar, e várias coisas acontecem sem nenhum corte. É uma tarefa complicada e desafiadora, porque exige que os atores saibam de cor todos os diálogos e marcações de cena, e também exige que a equipe técnica planeje bem os posicionamentos, pra ninguém “vazar” na câmera. Tudo exige uma complexa coreografia entre elenco e equipe, que tem que ser seguida até o final do plano – porque se alguém errar, tem que recomeçar tudo do zero. Claro que nos dias de hoje existem opções de se dividir o plano em planos menores e depois fazer emendas digitais (por exemplo, fazer um corte estratégico a cada dez minutos, tipo quando a câmera passa por alguma pessoa ou parede, e depois emendar como se fosse tudo um único take). Mas a produção de Adolescência afirmou que foi realmente um único, sem cortes. Será? Bem, pra mim isso pouco importa, também valorizo os planos sequência que têm cortes, não é fácil você planejar algo deste porte, mesmo com emendas.

O primeiro plano sequência mostra a prisão do garoto e sua entrada na delegacia; o segundo, traz os policiais pela escola tentando conseguir pistas; o terceiro, uma sessão entre o jovem acusado e uma psicóloga; o quarto, o dia a dia da família do garoto sem ele. Na minha humilde opinião, os mais impressionantes são o segundo e o terceiro. O segundo é o mais complexo, a câmera passeia por vários ambientes do colégio, e dezenas de personagens passam pela câmera. E ainda tem uma parte onde a câmera atravessa uma janela e outra parte onde a câmera voa, pendurada num drone. O terceiro é tecnicamente menos complexo, quase o tempo todo fica em um único ambiente, com apenas dois personagens. Mas por outro lado, exige muito mais dos atores, os diálogos são longos e cheios de diferentes camadas.

(Se posso fazer um mimimi, tem uma cena onde um aluno sai correndo e o policial corre atrás dele que me pareceu que ambos estavam correndo meio devagar. Não passou a impressão de uma corrida real. Mas, olhando isso em volta de tudo o que eles conseguiram nos quatro planos sequência, é uma reclamação bem besta.)

Segundo o imdb, cada episódio teve três semanas de produção, com a última semana sendo para filmagem. Assim, cinco dias eram para filmar o produto final, dois por dia. O episódio 1 foi concluído no segundo take; os outros três foram concluídos no último. Inicialmente, eles filmariam cada episódio na íntegra dez vezes, uma vez pela manhã e outra à tarde, ao longo dos cinco dias – mas na realidade algumas tentativas tiveram que ser abandonadas e reiniciadas, então alguns episódios tiveram muito mais do que dez tomadas.

Adolescência foi criada e escrita por Stephen Graham e Jack Thorne – Graham interpreta o pai (e me lembro dele em Snatch, do Guy Ritchie). A direção dos quatro episódios foi de Philip Barantini, diretor com um currículo pequeno – mas que certamente vou ficar de olho daqui pra frente. Ah, tem um tal de Brad Pitt na produção executiva – cargo que normalmente não está ligado a nada íntimo da produção.

O elenco todo está bem. Mas heu queria citar o garoto Owen Cooper, que faz o adolescente acusado do assassinato. É um garoto estreante, e ele está excelente! Digo mais: o primeiro episódio a ser filmado foi o terceiro, ou seja, aquela atuação que o jovem entrega na cena com a psicóloga era sua estreia num set de filmagens! Esse menino vai longe! Por causa de sua atuação, ele já está escalado para o novo filme de Emerald Fennell (Oscar de melhor roteiro em 2021 por Bela Vingança), pra trabalhar ao lado de Margot Robie e Jacob Elordi.

(Uma curiosidade: determinado momento da cena com a psicóloga, o garoto boceja. Isso não estava no script, ele estava realmente cansado. Mas a atriz que faz a psicóloga improvisou e, com naturalidade, perguntou se ela estava deixando ele entediado. Ele responde que não e dá um leve sorriso. Não era pra ser assim, mas ficou ainda melhor do que o previsto!)

Até agora só falei da parte técnica, mas Adolescência também chama a atenção pelo lado comportamental, porque aborda a dificuldade dos pais de entenderem o universo dos adolescentes de hoje em dia, além de entrar em temas como incels e red pills. Ou seja, vai ter um monte de vídeos e textos analisando a parte sociológica. Mas como não entendo muito dessa parte, vou deixar meu texto mais focado na parte cinematográfica.

O fato de serem planos sequência traz algumas características que nem sempre são positivas. Um exemplo: no primeiro episódio, quando o garoto é levado para a delegacia, determinado momento ele precisa tirar a roupa pra ser revistado. Numa narrativa convencional, haveria um corte e a história seguiria. Aqui a câmera foca no pai enquanto a gente ouve o que está acontecendo com o garoto, durante todo o desconfortável tempo da revista (a propósito, grande atuação do pai!)

Mas, pra mim, o pior não foi isso. Não gostei da conclusão da série, porque algumas dúvidas são levantadas no segundo e terceiro episódio, e essas dúvidas não são concluídas. A gente segue o plano sequência com a família, e o estilo de narrativa escolhido não tem espaço pra voltar para aquelas dúvidas. Afinal, o objetivo da série não é investigar o assassinato em si, e sim algo mais profundo e complexo que é a relação familiar e todo o contexto que abrange. Faz seus pais questionarem onde erraram e junto com o detetive, tentar compreender o que motivou tamanha violência cometida pelo filho. Como tudo isso pode gerar tantas camadas e afetar completamente toda a família.

Mas confesso que heu estava esperando uma conclusão sobre as pontas soltas. Ou seja, na minha humilde opinião, o quarto episódio mantém a excelência técnica, mas falha na narrativa. Resumindo: quem estiver esperando por grandes revelações ao final da trama vai se decepcionar. O foco principal da série não é esse.

Mesmo assim, recomendo Adolescência. Tecnicamente impecável, atuações incríveis, além de abordar um tema muito atual. Está em cartaz na Netflix.

Conclave

Crítica – Conclave

Sinopse (imdb): O Cardeal Lawrence é encarregado de liderar um dos eventos mais secretos e antigos do mundo, a seleção de um novo Papa, onde ele se encontra no centro de uma conspiração que pode abalar os próprios alicerces da Igreja.

Dirigido por Edward Berger, mesmo diretor do também bom Nada de Novo no Front (que ganhou 4 Oscars em 2023, incluindo melhor filme internacional), Conclave traz uma boa história, numa trama fluida, grandes atuações e todos os personagens são bem construídos. Isso tudo com uma fotografia belíssima.

O conclave é quando morre o Papa, então cardeais se isolam do mundo para escolherem o novo Papa. Segundo a “mitologia” da igreja católica, todos rezam e são “tocados por Deus”, então escolhem o novo líder. Mas claro que deve rolar muita politicagem por debaixo dos panos.

Um dos vários méritos de Conclave está nos personagens. Ao longo da projeção vemos pelo menos seis candidatos que teriam reais chances, e o roteiro consegue equilibrar perfeitamente essa dúvida. Claro que tem um que é retratado como um “vilão”, um cara retrógrado e racista, que quer que a Igreja católica volte ao que era décadas atrás, inclusive quer um Papa italiano. Mas o filme não é maniqueísta, mostra várias facetas de vários personagens. E a parte final ainda traz um plot twist que vai pegar quase todos os espectadores de surpresa (mais tarde comento sobre o final).

Aproveito pra falar do elenco. Ralph Fiennes está ótimo, ele precisa organizar o conclave, está no meio de um turbilhão porque a Igreja está dividida e ele sente que precisa unir as diferentes correntes, ele não quer ser Papa mas muitos discordam… Sua indicação ao Oscar de Melhor Ator não é um exagero. Stanley Tucci e John Lithgow também estão bem – heu tive um problema com Lithgow, mas reconheço que o problema meu e não do filme: gosto muito do seriado 3rd Rock From the Sun, e de vez em quando ele falava e heu me lembrava do Dick Solomon. Outros nomes menos conhecidos também se destacam, como Sergio Castellitto (Tedesco) e Carlos Diehz (Benitez). Por fim, Isabella Rossellini tem um papel bem pequeno, mas protagoniza um dos melhores momentos do filme.

Um parágrafo à parte pra falar da trilha sonora de Volker Bertelmann. Tirado da wikipedia: “Em busca de um instrumento acústico que “soasse como um sintetizador ou algo eletrônico”, Bertelmann escolheu o Cristal Baschet , um cristalofone tocado com as mãos molhadas, como o som predominante para a trilha sonora do filme. O instrumento era tematicamente adequado para a trilha sonora do filme, pois produz uma sensação de um “espaço sobrenatural” e sua execução artesanal o ajudou a produzir sons “estranhos e divinos”.

Nem todo o filme é perfeito. Determinada cena acontece uma explosão, e essa explosão não agrega nada à história que o filme está contando. Não que seja uma cena ruim, mas é bem desnecessária, se tirar essa cena o filme não perde nada.

Vou comentar o final, mas não vou entrar em detalhes por causa de spoilers. O final traz um plot twist que talvez possa ofender algum católico. Mas… Meus pais são muito católicos, vão à missa mais de uma vez por semana, participam ativamente da sua paróquia. Vi o filme, recomendei a eles, com medo de não gostarem do fim. Mas, para a minha surpresa, não falaram nada negativo sobre este plot twist. Ou seja, se as pessoas mais católicas que heu conheço não se ofenderam, acho que Conclave pode ser curtido por qualquer um.

Conclave está concorrendo a oito Oscars: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Ralph Fiennes), melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini), Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Design de Produção. Claro que estou torcendo pra Ainda Estou Aqui – mas sei que dificilmente vai ganhar; e claro que prefiro A Substância – mas sei que dificilmente um filme de terror com gore ganha. Dentre os “filmes com cara de Oscar”, achei Conclave o melhor até agora (vi 9 dos 10 principais).

Acompanhante Perfeita

Crítica – Acompanhante Perfeita

Sinopse (imdb): A morte de um bilionário desencadeia uma série de eventos para Iris e seus amigos durante uma viagem de fim de semana à sua propriedade à beira do lago.

É complicado falar de um filme como Acompanhante Perfeita (Companion, no original), porque boa parte da graça do filme está nas pequenas reviravoltas espalhadas ao longo do roteiro. Fui ao cinema sem ver o trailer, apenas tinha lido uma sinopse genérica. E posso dizer que entrar na sala sem saber nada é uma experiência melhor! Então vou me policiar pra falar o mínimo possível sobre a trama.

Um grupo de amigos vai passar uns dias numa mansão à beira de uma lagoa, de um milionário russo. Acontece um assassinato, e descobrimos que nem tudo é o que parece. É, acho que isso é o suficiente.

O roteiro e a direção são de Drew Hancock – pelo imdb dele, este é seu primeiro longa, ele já tinha trabalhado em séries e curtas (inclusive dois do Tenacious D, banda do Jack Black). Gostei do estilo dele, tomara que seu próximo filme siga esse caminho. O poster do filme fala “dos mesmos criadores de Noites Brutais / The Barbarian“, mas isso não está correto – na verdade, entre os produtores está Zach Cregger, diretor de Noites Brutais (outro filme que também tem suas surpresas no roteiro, mas são estilos bem diferentes).

O melhor de Acompanhante Perfeita são os pequenos plot twists espalhados pelo filme – confesso que alguns me pegaram de surpresa. Porque, se a gente analisar mais profundamente, o roteiro de Acompanhante Perfeita não é algo muito inovador. Mas, sabe quando um filme sabe usar os clichês? Além disso, o roteiro equilibra bem o humor, algumas cenas são bem engraçadas, apesar do filme não ser uma comédia.

(Achei algumas coisas forçadas no conceito por trás dos plot twists, mas como este é um texto sem spoilers, vou relevar. Mas preciso deixar registrado que tem algumas cenas que a gente pensa “mas será que isso ia funcionar assim?”)

Outro trunfo é o elenco. Sophie Tatcher (O Livro de Bobba Fett, Herege) está ótima num papel que tem mais camadas do que aparenta ter; Jack Quaid (um dos principais da série The Boys, e filho da Meg Ryan com o Dennis Quaid) também está muito bem. O pequeno elenco secundário também é bom: Rupert Friend, Harvey Guillén, Lukas Gage e Megan Suri.

Acompanhante Perfeita ainda abre uma interessante discussão sobre relacionamentos tóxicos. Ouvi gente comentando que seria sobre machismo, mas, como tem um casal gay entre os personagens, acho que relacionamento tóxico tem mais a ver do que machismo…

Acompanhante Perfeita está em cartaz nos cinemas e tem cara de que já já sai do circuito.

Ameaça no Ar

Crítica – Ameaça no Ar

Sinopse (imdb): Um piloto é responsável por transportar uma profissional da Força Aérea que acompanha um fugitivo até seu julgamento. À medida que atravessam o Alasca, a tensão aumenta e a confiança é testada já que nem todos a bordo são quem mostram ser.

Às vezes alguns grandes nomes de Hollywood fazem escolhas que me deixam intrigado. Mel Gibson, como diretor, fez poucos filmes. Depois da sua estreia em 1993 com O Homem sem Face, todos seus filmes seguintes foram projetos grandiosos e ousados: Coração Valente (95), A Paixão de Cristo (2004), Apocalypto (2006) e Até o Último Homem (2016). Aí chega aos cinemas seu novo filme como diretor, este Ameaça no Ar.

Vejam bem, não estou entrando no mérito se Ameaça no Ar é bom ou ruim. Mas é um filme “pequeno” – quase todo o filme só conta com três atores e apenas uma locação. Poderia ter sido dirigido por um diretor qualquer, de segunda linha, e poderia ter ido direto para o streaming. E a gente vê que é o novo filme do mesmo diretor de Coração Valente, A Paixão de Cristo, Apocalypto e Até o Último Homem. Caramba, Mel, por que diabos você escolheu este projeto?

Vamos ao filme. Um contador que trabalhou para um mafioso é preso e precisa ser levado como testemunha. A agente responsável pela sua captura pega um voo em um aviãozinho onde estão só os dois e mais o piloto. Mas este piloto pode ser alguém diferente do esperado.

Como falei, Ameaça no Ar é uma produção “pequena” – poucos atores e apenas uma locação. Quase todo o filme é baseado em diálogos e tensões envolvendo os três personagens. Em alguns momentos, preciso reconhecer que a tensão realmente funciona. Ok, tudo cheio de clichês, mas são clichês bem usados, pelo menos duas vezes fiquei na beirada da poltrona do cinema.

Sobre o elenco: gostei da personagem da Michelle Dockery (Magnatas do Crime), durona no ponto certo. Mark Wahlberg está ok, mas preciso reconhecer que achei a careca dele estranha e isso me tirava do filme – parece que ele raspou mal raspado o cabelo, por que fazer isso? Já Topher Grace (That’s 70 Show) achei um pouco exagerado, sei que é um alívio cômico, mas em alguns momentos saía do tom. Também queria citar o personagem Hassan, que fala pelo rádio com a personagem da Michelle Dockery. Se Topher Grace saiu do tom, achei Hassan perfeito. Um personagem carismático e engraçado, que só aparece em pontos eventuais da trama. O curioso é que são dois atores interpretando, Maaz Ali faz a voz que ouvimos ao longo do filme, mas quando o personagem finalmente aparece é interpretado por Monib Abhat.

No fim, Ameaça no Ar nem é ruim. Mas é um filme bem genérico. Sugiro baixar as expectativas!

Babygirl

Crítica – Babygirl

Sinopse (imdb): Uma executiva poderosa coloca a carreira e família em risco quando começa um caso tórrido com seu estagiário muito mais jovem.

Novo filme da diretora Halina Reijn (Morte Morte Morte), Babygirl (idem no original) está sendo vendido como um thriller erótico, mas neste aspecto o filme é fraco. Mesmo assim, o filme me deixou pensando, me deixou com reflexões sobre relacionamentos.

Primeiro vamos comentar o filme. Nicole Kidman faz Romy, uma mulher bem sucedida profissionalmente, com um bom casamento, filhos, tem um bom padrão social. Mas, sexualmente falando, é uma mulher infeliz. Até que ela conhece um estagiário na sua empresa e começa com ele um jogo sexual onde o importante não é o sexo em si, e sim o jogo de poder, de saber “quem é o dono da bola”. Romy é uma CEO que tem o controle sobre tudo em volta – e se ela fosse controlada em vez de controlar?

Claro que a divulgação do filme explorou o lado sexual, como se estivéssemos diante de um novo 9 1/2 Semanas de Amor ou Atração Fatal. Pipocaram matérias dizendo que Nicole Kidman estaria cansada de “filmar cenas de orgasmos”. Mas até que o filme é bem comportado neste aspecto. Aliás, quase não tem nudez. O início promete ir por este caminho, mas o resultado final deixa a desejar.

Um dos maiores destaques é o elenco. Gostei das atuações do trio principal. Nicole Kidman está excelente, em cenas difíceis, não à toa ela ganhou prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e está sendo ventilada como uma provável indicada ao Oscar. Antonio Banderas e Harris Dickinson também estão bem.

Babygirl também tem suas “roteirices”, como o amante aparecer no local onde a protagonista estava reclusa – como ele descobriu que ela estava lá? Mesmo assim, o resultado final é bom. É um filme bonito e bem filmado, e reconheço que a cena usando Father Figure, do George Michael, é muito boa.

Agora, queria comentar o comportamento social. Babygirl, enquanto filme, achei apenas ok. Mas o conceito abordado me deixou pensando por vários dias. Logo na cena inicial, vemos Romy transando com seu marido. Aparentemente ela tem uma vida sexual saudável. Mas logo na cena seguinte vemos que ela, sozinha, vê vídeos eróticos para se masturbar.

Por um lado Romy tem uma vida feliz, ao lado do marido; mas por outro lado ela tem necessidades sexuais que não são saciadas pelo mesmo marido. E pra piorar: determinado momento ela confessa que nunca teve um orgasmo com ele, apesar de estarem juntos há 19 anos. E mesmo assim ele não consegue embarcar nas fantasias da sua esposa. Ou seja, ela está errada pela dificuldade em declarar seus fetiches ao marido, e ele está errado por não entrar nos jogos sexuais propostos por sua esposa.

Aí fiquei pensando neste formato de sociedade onde vivemos. Jovens se conhecem, ficam juntos e constituem famílias – antes de se conhecerem plenamente para saberem o que querem do(a) companheiro(a). Quando o casal dá sorte, ok, podem ser felizes pelo resto da vida. Mas, imagina quanta gente deve estar insatisfeita por aí, sexualmente falando.

Infelizmente somos vítimas do formato usado pela sociedade, dificilmente essas regras e convenções sociais vão mudar. Para você que me lê, torço para você encontrar alguém que lhe satisfaça do jeito que você merece. E recomendo: sempre conversem!

Jurado Nº2

Crítica – Jurado Nº 2

Sinopse (imdb): Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, um homem se vê em um dilema moral, podendo influenciar o veredito do júri.

Uma coisa que acho muito legal é quando vejo pessoas idosas trabalhando no que gostam, por prazer. Sim, sei que tem muita gente com condições financeiras precárias, que precisa continuar trabalhando, mas alguns trabalham porque gostam do que fazem. Lembro do show do Deep Purple, ano passado, no Rock in Rio. Quatro membros da banda com mais de 75 anos!

Aí a gente vê que chegou no streaming o novo filme dirigido por Clint Eastwood – que está com 94 anos! Quando crescer, quero ser que nem esses caras!

(Antes de entrar no filme, uma coisa que descobri pesquisando sobre o que ia falar aqui: Clint Eastwood tem fama de ser um diretor muito responsável com prazos e orçamentos. Seus filmes sempre custam menos do que o estimado e sempre são entregues antes do prazo. Legal!)

E vamos ao filme. Vi Jurado Nº 2 (Juror # 2, no original) no finzinho do ano passado, lembro que alguns amigos colocaram o filme em suas listas de melhores do ano, queria ver logo pra ver se ia mudar o meu top 10. Reconheço todos os méritos de Jurado Nº 2, é um filmão, mas não mudou minha lista.

A ideia é muito boa. Um cara é convocado pra fazer parte de um júri. Durante o julgamento, ele descobre que pode ter um envolvimento pessoal com o caso. Aí entra o dilema moral: será que ele deve assumir a sua responsabilidade, ou é melhor deixa outra pessoa pagar por um erro seu?

(Nunca entendi esse sistema que acontece nos EUA onde pessoas são convocadas pra participarem de um júri. O que acontece se a pessoa não pode? Se tem um trabalho que não a deixa sair? Se tem algum problema de saúde? Acho que isso não funcionaria no Brasil…)

Um dos destaques de Jurado Nº 2 é o roteiro, que consegue explorar bem vários tons de cinza no meio do julgamento, e consegue equilibrar um elenco com vários bons personagens. Ok, não tem como aprofundar todos os personagens em um filme de uma hora e cinquenta e quatro minutos, são uns vinte personagens participando da trama. Mas conseguimos ver nuances de vários deles.

Outro destaque é o elenco. Nicholas Hoult (segundo filme que comento este ano, segundo filme com o Nicholas Hoult) está excelente com seus dilemas – ele tem uma esposa em gravidez de risco, ele tem um histórico de alcoolismo, e está vendo um homem que pode ser inocente ser condenado. E Toni Collette, como a promotora, também tem seus dilemas, porque está vendo que talvez precise prejudicar terceiros por motivos pessoais. Duas grandes atuações! E ainda tem outros dois grandes atores em papéis bem menores, J.K. Simmons e Kiefer Sutherland. Papéis importantes, mas com pouco tempo de tela. Também no elenco, Zoey Deutch, Chris Messina e Leslie Bibb. Ah, a vítima do assassinato é Francesca Eastwood, filha do Clint.

Jurado Nº 2 foi muito mal lançado. Um filme desses merecia ir pros cinemas. Mas foi direto pro streaming, e sem nenhuma divulgação. Nosso diretor nonagenário merecia um tratamento melhor!

MadS

Crítica – MadS

Sinopse (imdb): Um adolescente para na casa do seu traficante para testar uma nova droga antes de ir para uma festa. No caminho, ele encontra uma mulher machucada e a noite se torna algo surreal.

Quando ouvi falar de um filme francês de zumbi, em plano sequência, lembrei de Coupez!, refilmagem do japonês One Shot of the Dead, que traz um filme trash de zumbi em um divertido plano sequência, e que tem um plot twist no meio que deixa tudo ainda mais interessante. Mas não, MadS tem outra proposta.

Não sei se MadS chega a ser um “filme de zumbi”. Vemos o início de uma infecção, mas parece mais algo na linha do filme Extermínio, onde pessoas são infectadas e passam a agir como zumbis, mas não são mortos vivos. Enfim, a história em si não tem nada demais. O grande lance é ser um filme inteiro sem cortes.

Escrito e dirigido por David Moreau, a proposta é ser um longo plano sequência de 90 minutos. Li uma entrevista do diretor num site português, ele falou que realmente não tem cortes. Ele disse que filmou tudo cinco vezes, em cinco dias seguidos, e que nos dois primeiros dias deu tudo errado, mas que depois acertaram, e que a quinta filmagem é o filme que estamos vendo.

Se é verdade ou não, não sei. Existem vários pontos onde a câmera passa por uma parede, ou pilastra, ou lugar escuro, pontos onde poderiam haver cortes – normalmente usam esses pontos pra fazer os cortes e depois emendar digitalmente. Heu particularmente não acredito que ele tenha conseguido tudo em um único take.

Mas, isso pouco importa. Valorizo mesmo quando o plano sequência tem essas emendas, porque a concepção do story board precisa pensar em um todo. Por isso, bato palmas pro resultado alcançado, tenha emendas ou não.

Digo isso porque acontece MUITA coisa durante este plano sequência. Tem câmera acompanhando carro, moto, bicicleta, tem festa com dezenas de pessoas, tem cenas com policiais, tem brigas, tiros, sangue… E em defesa da declaração do diretor, a trama começa ao entardecer e segue de noite. E filmar nesse horário é complicado por causa da continuidade.

Outra coisa que heu queria destacar são os efeitos de maquiagem “em tempo real”. Talvez tenha tido algo inserido digitalmente na pós produção, mas em alguns momentos provavelmente o ator estava com algum truque de maquiagem para usar na hora, com a câmera rolando. Independente de como foi feito, o resultado ficou bem legal.

MadS é um filme do streaming Shudder, que infelizmente não existe oficialmente no Brasil…

Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.