Segredos de um Escândalo

Crítica – Segredos de um Escândalo

Sinopse (imdb): Uma atriz pesquisa para interpretar uma mulher que, 20 anos antes, viveu um romance com um adolescente, causando um escândalo e a sua prisão.

Novo filme de Todd Haynes, Segredos de um Escândalo (May December, no original) prometia. Mas infelizmente ficou só promessa.

A história era boa. Vinte e poucos anos antes, um caso sacudiu uma cidade: uma mulher de 36 anos teve um romance com um adolescente de 13, amiguinho do filho dela. Ela chegou a ser presa, mas, quando saiu, o romance continuou, e eles constituíram uma família, com três filhos – e estão juntos até hoje.

A gente lê essa premissa e imagina vários dilemas sociais e morais, né? Mas o filme não se aprofunda nisso. Grace tem uma vida normal em sociedade. A gente fica o filme inteiro imaginando quando algo de impactante vai surgir na história, mas nada acontece.

Um exemplo simples: ela faz bolos. Em uma cena, ela está muito mal, arrasada, porque uma cliente dos seus bolos vai se mudar e vai parar de comprar bolos. Sério que isso é um problema grave? A cliente deixou o bolo pago, e o grande drama é “vou ter que jogar fora um bolo pronto!”

Tem uma coisa que atrapalha, que é uma trilha sonora completamente fora de proporção. Gosto de trilhas que fogem do óbvio, inicialmente heu estava gostando de ter uma trilha diferentona. Mas a trilha eleva o suspense em cenas que não têm nada de suspense! Tem uma cena logo no início onde Grace abre a geladeira, a trilha aumenta dramaticamente, a câmera dá um close, e ela fala “acho que vai faltar salsicha”. Parecia uma comédia nonsense.

Agora, precisamos reconhecer que as atuações das duas atrizes principais estão excelentes, tanto Julianne Moore quanto Natalie Portman. Tem uma cena no fim do filme, um close no rosto de Natalie Portman, onde ela está se preparando para a interpretação, que só essa cena já seria digna de premiações (e pra mim, o filme deveria terminar nesta cena). Charles Melton, que faz o marido, também está bem.

Mas, no fim, fica aquela sensação de que algo estava faltando. Só vale pelas interpretações.

Saltburn

Crítica – Saltburn

Sinopse (imdb): Lutando para encontrar seu lugar na Faculdade de Oxford, um aluno é atraído para o mundo de um encantador aristocrata, que o convida para Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, para passar um verão inesquecível.

Comecei a ver gente comentando sobre este Saltburn, novo filme escrito e dirigido por Emerald Fennell, que ganhou Oscar de Melhor Roteiro Original pelo seu filme anterior, Bela Vingança, que estreou na Amazon Prime no finzinho do ano passado.

Comentários falavam sobre “polêmica” e sobre “plot twist”. Polêmica, ok, concordo. Agora, não tem plot twist. Tem gradativas revelações sobre o que realmente estava acontecendo. Isso não é plot twist, galera!

Agora, sim, o filme traz assuntos polêmicos. Temos uma visão nada glamourizada da vida dos super ricos, e além disso, todos os personagens têm falhas de caráter, e vemos alguns comportamentos completamente fora do padrão. E o filme ainda tem algumas cenas que parece que foram colocadas lá só pra provocar.

Tecnicamente, é tudo muito bem feito. Saltburn é um filme bonito e bem filmado. E heu diria que o destaque são as atuações, principalmente os dois principais, Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin) e Jacob Elordi (Priscilla) – indicações ao Oscar devem vir em breve. Mas o resto do elenco também está bem, Rosamund Pike, Richard E. Grant, Archie Madekwe, Alison Oliver e Carey Mulligan.

Agora, teve uma coisa na parte final que me incomodou, vou falar depois do aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A gente descobre que Oliver tinha um plano, elaborado desde a época do colégio. Ok. Onde uma cena como ele lambendo a água do banho do Felix se insere nesse plano?

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo assim, ainda achei Saltburn um bom filme. Talvez um degrau abaixo de Bela Vingança, mas nada que estrague o currículo de Emerald Fennell. Que venha seu próximo filme!

Napoleão

Crítica – Napoleão

Sinopse (imdb): O filme oferece uma visão pessoal das origens de Napoleão e de sua ascensão rápida e implacável ao império, vista através do prisma de seu relacionamento viciante e muitas vezes volátil com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine.

Novo épico dirigido por Ridley Scott, grande diretor, de Alien, Blade Runner, Perdido em Marte, e que já nos entregou outros épicos como Gladiador e Cruzada. Recentemente Scott fez o bom Último Duelo e o fraco Casa Gucci, e isso já me dizia o que esperar de Napoleão: um filme bonito, mas meio chato.

Sei que vou me contradizer agora, mas preciso reconhecer isso. Sempre defendi filmes curtos. Acredito que o mais enxuto é sempre melhor. Mas… Este Napoleão dos cinemas tem duas horas e trinta e oito minutos, e Ridley Scott disse que tem uma versão de quatro horas que será lançada em breve na Apple TV. E teve coisa mal contada aqui, que acredito que pode ser melhor desenvolvida numa versão mais longa. Um exemplo: depois de anos tentando gerar um herdeiro, Napoleão se separa e casa de novo, e sua segunda esposa lhe dá um filho. E acho que essa segunda esposa só aparece em uma única cena! Ou seja, neste caso em particular, a versão longa deve ser melhor estruturada. Aqui teve muita coisa atropelada.

Soube de outro problema, mas esse não é da área que heu entendo. Existem críticas de que o filme não respeita fatos históricos. Scott foi criticado com relação a supostos erros na História, mas a sua resposta aos historiadores foi “Excuse me, mate, were you there? No? Well, shut the fuck up then.” (“Desculpe, amigo, você estava lá? Não? Bem, então cale a boca.”). Bem, não acho que esse seja o melhor modo de se encarar a História. Se ele queria fazer algo do jeito dele, devia fazer como o Tarantino e assumir que aquilo não é real.

Teve outro problema, e esse me incomodou: a idade do ator principal. Joaquin Phoenix é um grande ator (não é seu melhor trabalho, daqui a pouco volto nisso), mas, aos 49 anos de idade, precisaria de uma maquiagem forte ou de um rejuvenescimento digital para interpretar um Napoleão de vinte e poucos anos no início do filme – vemos datas na tela, Napoleão se casou com menos de 30, e foi coroado imperador aos 35. E Phoenix passa o filme inteiro com a mesma cara. Zero maquiagem para mudar a idade.

Por outro lado, as cenas de batalha são ótimas. Duas delas, Austerlitz e Waterloo, são grandiosas e muito bem filmadas. Aos 85 anos (ele faz 86 mês que vem!), Ridley Scott mostra que ainda manja dos paranauês quando o assunto filmar batalhas épicas.

Aliás, toda a produção merece elogios quanto à reconstituição de época. A cenografia é perfeita e a fotografia é belíssima.

Sobre as atuações, esse é um filme onde basicamente só dois atores têm espaço para grandes papéis. Joaquin Phoenix não está mal, mas também não está bem. Ele parece repetir outras atuações, o seu Napoleão parece ser uma colagem de outros personagens de outros filmes. Felizmente, nada grave, é um grande ator e não chega a atrapalhar o filme. Vanessa Kirby tem o outro papel importante, Josephine, a esposa do Napoleão, e também está ok.

No fim, vale pelas batalhas e pela reconstituição de época. Mas a bagunça no roteiro dá vontade de aguardar a versão mais longa.

O Assassino

Crítica – O Assassino

Sinopse (imdb): Um assassino começa a colapsar psicologicamente enquanto começa a desenvolver uma consciência, mesmo enquanto seus clientes continuam a solicitar seus serviços.

Dirigido por David Fincher, O Assassino (The Killer, no original) não é um filme de assassino profissional como tantos outros por aí. Temos menos ação e mais momentos reflexivos dentro da cabeça do protagonista. Se por um lado isso deixa o filme um pouco lento (e, reconheço, meio chato às vezes), por outro lado sempre apoio filmes diferentes do óbvio.

O início do filme é muito bom, o protagonista está pronto para cometer um assassinato como sniper, coisa que a gente já viu em dezenas de outros filmes. Mas, o alvo ainda não estava no local. Quanto tempo um sniper precisa ficar esperando pelo tiro perfeito? E o que ele faz enquanto esse momento não acontece? O foco do filme é a rotina do assassino, e não o ato em si!

Agora, precisamos reconhecer que o resto do filme não acompanha esse ritmo. Ele tem tarefas para cumprir e vai seguindo de tarefa em tarefa, e o filme fica meio monótono. Acho que, do resto do filme, a única parte que merece destaque é uma violentíssima luta que acontece mais perto do final.

Ter um nome como Fincher na direção garante a qualidade pelo menos na parte técnica. Se às vezes O Assassino é chato, pelo menos é muito bem filmado. Mas, comparando com outros títulos do diretor (como Seven, O Clube da Luta e Garota Exemplar), na minha humilde opinião O Assassino fica um degrau abaixo.

Um filme nesse formato não funcionaria sem um grande ator no papel principal. E Michael Fassbender está ótimo como o cara metódico e detalhista. Pena que mais ninguém no elenco tem espaço pra desenvolvimento de personagem. Do resto do elenco, a única que tem algum espaço, mesmo que pouco, é Tilda Swinton. O elenco ainda tem um nome que interessaria ao público brasileiro, Sophie Charlotte, mas, diferente da Bruna Marquezine protagonista em Besouro Azul, Sophie quase não aparece aqui.

Enfim, mesmo sendo um filme “menor”, O Assassino ainda tem mais qualidade do que boa parte do que é despejado no streaming. Mas baixe suas expectativas!

Som da Liberdade

Crítica – Som da Liberdade

Sinopse (imdb): Um ex-agente especial do Governo Americano embarca em uma missão arriscada para resgatar crianças vítimas de tráfico infantil na Colômbia.

Vamos ao novo filme polêmico? Como sempre, vou falar antes só sobre o filme e no fim do texto comento a polêmica.

Dirigido por Alejandro Monteverde, Som da Liberdade (Sound of Freedom no original) é um drama que traz um grave problema que é pouco falado: tráfico de crianças e pedofilia. O tema é tabu e incômodo. E por isso mesmo achei uma boa ideia ser abordado num filme em cartaz nos cinemas.

Som da Liberdade se baseia na história real de Tim Ballard, que era um policial que caçava pedófilos. Até que um dia caiu a ficha: ele prende o pedófilo, mas não consegue ajudar a criança que foi sequestrada e abusada. Ele então resolve ir para a Colômbia para montar uma nega operação onde vai ao mesmo tempo capturar pedófilos e libertar crianças. E, aparentemente, essa parte foi de verdade, porque vemos nos créditos imagens supostamente da operação real.

Essa parte da operação é muito boa. Pena que a parte final do filme, na minha humilde opinião, é bem mais fraca. O filme entra num “momento Rambo” que destoa do resto do filme. Se antes era tudo crível, pé no chão, essa parte na floresta parece filme de super herói. O cara vai sozinho pra floresta e enfrenta um grupo numeroso e experiente. Não combina com o personagem apresentando anteriormente.

Mesmo assim, Som da Liberdade passa uma mensagem forte. Pena que, na minha humilde opinião, às vezes o filme força a mão no sentimentalismo. Tipo, a gente já sabe que o cara sente falta da filha todas as vezes que vê a cama vazia, o filme não precisa repetir isso várias vezes, e depois ainda mostrar o cara indo pra cama da filha. Como mensagem, ok; como cinema, foi excessivo. E, pra piorar, alguns diálogos são bem ruins e soam muito artificiais.

Algumas atuações são boas. Jim Caviezel se entrega ao papel, e está muito bem. Bill Camp, que faz o “Vampiro”, personagem que é mais ou menos um “braço direito” do protagonista na Colômbia, também está muito bem. Mira Sorvino tem um papel importante, mas aparece pouco, deve ter filmado tudo em uma única diária. Agora, os antagonistas, que fazem os pedófilos, são caricatos demais.

Sobre a polêmica. Parece que o Tim Ballard da vida real é um cara polêmico e tem muita gente que não gosta dele. Ou seja, é um filme “com torcida”: as pessoas que não gostam dele simplesmente falam mal mesmo sem ver o filme. Porque, dentro do filme, não tem absolutamente nada que contribua para a polarização.

Tem outra coisa, mas acho que entra no território das fake news. Som da Liberdade era da Fox, mas quando a Fox foi comprada pela Disney, o projeto foi engavetado – assim como outros projetos. Mas aí tem gente dizendo que a Disney recusou o filme porque apoia a pedofilia. Muita teoria da conspiração…

No meio dos créditos aparece o Jim Caviezel pedindo pra todos divulgarem o filme e convidarem amigos, para espalhar a mensagem. Ele chega a sugerir que o espectador compre um novo ingresso e dê pra alguém. Lembrei daquele filme brasileiro religioso que a igreja comprou vários ingressos e distribuiu…

Air: A História Por Trás do Logo

Crítica – Air: A História Por Trás do Logo

Sinopse: Segue a história do vendedor de calçados Sonny Vaccaro e como ele liderou a Nike em sua busca pelo maior atleta da história do basquete: Michael Jordan.

A história de um contrato entre uma empresa de tênis e um jogador de basquete pode gerar um bom filme?

Hoje, em 2023, a gente sabe que Michael Jordan é o maior nome da história do basquete, e sabe que a Nike é uma marca gigante, e também sabe que o tênis Air Jordan é talvez o tênis mais vendido da história. Dirigido por Ben Affleck, Air: A História Por Trás do Logo (Air, no original) volta pra 1984, época que Michael Jordan era apenas uma promessa, e que a Nike não era um grande nome no basquete. E vemos as negociações para se chegar a esse contrato que gerou o famoso tênis.

(É curioso analisar o filme com o que a gente já sabe hoje. Essa negociação podia ser um fracasso se o Michael Jordan não vingasse. Outro jogador que era promessa e foi citado no filme como uma das opções era Mel Turpin, cuja carreira nunca decolou. Imagina se a Nike investisse todos os seus esforços num jogador assim?)

Sim, é pouco. Não temos grandes plot twists, não temos grandes momentos de tensão ou de ação. Então, por que muita gente elogia esse filme? Porque, apesar de simples, é uma história bem contada.

Além de ser uma história bem contada, Air ainda traz dois grandes trunfos. Um deles é a perfeita reconstituição de época. Tudo – figurinos, penteados, props – tudo está muito bem feito. E o filme ainda usa trechos de comerciais da época e tem uma trilha sonora repleta de músicas pop que tocavam nas rádios.

O outro trunfo é o elenco. Não sei se é porque o diretor também é ator, mas não é qualquer filme que conta com Matt Damon, Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina e Chris Tucker – todos estão bem. Ben Affleck também está no elenco, num papel secundário (e com uma caracterização bem esquisita).

(Curiosamente, o próprio Michael Jordan não aparece direito. Está sempre de costas ou atrás de alguém, nunca vemos o seu rosto. Jordan virou muito coadjuvante no filme sobre o seu tênis. Segundo o imdb, Ben Affleck teria dito: “Michael Jordan é tão famoso que eu realmente senti que se algum dia víssemos um ator interpretando-o, seria difícil fazer o público suspender sua descrença, porque, na minha opinião, não há como convencer ninguém de que alguém que não é Michael Jordan é Michael Jordan.“)

Na minha humilde opinião, Air não é um grande filme. Mas é uma opção honesta, dificilmente alguém vai desgostar do filme. Em cartaz no Amazon Prime.

Belo Desastre

Crítica – Belo Desastre

Sinopse (imdb): Abby, caloura na faculdade, tenta se distanciar de seu passado sombrio enquanto resiste à atração pelo bad boy Travis.

Não conhecia o diretor nem ninguém do elenco principal, o poster não era atrativo e muito menos a sinopse. Mas sabe quando a expectativa é zero, e mesmo assim o filme decepciona? Pois é…

Escrito e dirigido por Roger Kumble, Belo Desastre (Beautiful Disaster, no original) é a adaptação do livro homônimo escrito por Jamie McGuire e que conta uma história besta e cheia de clichês baseada apenas no romance do casal principal. Pior: romantiza um relacionamento abusivo. Ou seja, são dois problemas: é ruim como cinema e ruim pelo lado comportamental. Mas este é um site que fala de cinema, então vou deixar o lado social para ser comentado por gente com mais propriedade.

(Depois de ver o filme fui catar informações pela internet, e descobri que tem muita gente falando mal do livro. Parece que o relacionamento tóxico do livro é bem pior do que o que vemos no filme.)

Vamulá. Menininha certinha chega e encontra bad boy mulherengo. E eles passam dois terços do filme numa onda de quero / não quero. Personagens desinteressantes e história chata. Chata e mal contada, chega a ter uma cena onde ela está na sala de aula vendo o Instagram dele e comentando em voz alta, e ele está na fileira de trás, e eles começam a discutir. E ainda piora: a professora dá uma bronca, e eles continuam discutindo!!!

Existe um livro chamado Manual do Roteiro, do Syd Field, que traz uma fórmula de três atos. Um filme não precisa usar a fórmula do Syd Field, mas a grande maioria dos longa metragens feitos atualmente usam essa fórmula: meia hora de apresentação dos personagens e da situação, acontece um ponto de virada que direciona a trama para outro caminho, até que meia hora antes do fim acontece outro ponto de virada e o filme direciona para uma conclusão.

Belo Desastre só tem ponto de virada no terço final (a não ser que você considere a aposta como um ponto de virada – pra mim, não mudou nada do que estávamos vendo). No terço final aparece uma parada a ser resolvida em Las Vegas, envolvendo o pai da protagonista. Ok, mudança de rumo da trama. Pena que na parte “cinema” o filme continua tão ruim quanto antes. Um exemplo simples: ela precisa ganhar dinheiro num cassino. Ela vai, ganha, e quando está saindo, um segurança diz que ela é menor de 21 então não pode jogar. Amigo, você deveria ter impedido a menina durante o jogo, naquele momento ela não estava fazendo nada de errado, apenas carregando um dinheiro. E ela entrega sem ao menos questionar!!! E a cena de sexo no quarto de hotel em Las Vegas causa vergonha alheia.

Falei que era ruim, né? Se a história é ruim e mal contada, colocar um casal de atores ruins e sem nenhuma química só atrapalha. Os personagens são muito mal construídos, o cara quer passar que é um bad boy mas fica com ciuminho adolescente, a menina diz que não quer nada com ele mas fica dando mole o tempo todo. E ainda tem o problema recorrente da idade do elenco – Virginia Gardner tem 27 anos e não consegue convencer ninguém que tem menos de 21.

Ah, tem um nome conhecido no elenco, Brian Austin Green. E quando a gente vê ele aqui, entende por que sua carreira não deslanchou.

Agora, preciso dizer que talvez heu não seja o público alvo. Duas fileiras atrás de mim tinham duas mulheres rindo alto algumas vezes. Aparentemente, elas estavam se divertindo. Ou seja, o filme deve agradar algumas pessoas. Boa sorte se você for ver, porque existe uma série de livros – deve ter continuação…

Tár

Tár

Sinopse (imdb): Situado no mundo internacional da música clássica ocidental, o filme é centrado em Lydia Tár, amplamente considerada uma das maiores compositoras-regentes vivas e a primeira diretora musical de uma grande orquestra alemã.

Bora pra mais um filme da lista do Oscar!

Tár (idem, no original) é o novo filme escrito e dirigido Todd Field. É apenas seu terceiro filme como diretor, e, curiosamente, seus filmes anteriores são de muitos anos atrás (Pecados Íntimos, de 2006; Entre Quatro Paredes, de 2001). Mas, o cara deve ter alguma moral nos bastidores, já que Tár é um projeto ambicioso.

Tenho três destaques para citar. O primeiro é a atuação da Cate Blanchett. Ela aprendeu alemão e aprendeu a reger uma orquestra. E ela está realmente sensacional interpretando Lydia Tár, a maestrina super premiada, inteligente e arrogante. Ainda acho que o Oscar vai para Michelle Williams por Fabelmans, mas se for para Cate Blanchett, ninguém vai reclamar.

Também preciso falar da parte musical. No post sobre Missa da Meia Noite, comentei sobre música diegética e não diegética. A música diegética é quando os personagens estão ouvindo – por exemplo, quando alguém liga um rádio ou toca um instrumento. Toda a música diegética de Tár foi executada pelo elenco. Cate Blanchett realmente toca o piano e rege a orquestra. Sophie Kauer, que faz a violoncelista Olga, nunca tinha atuado, ela era uma violoncelista que aprendeu a atuar. Isso faz uma enorme diferença na tela!

Por fim, não escondo de ninguém que curto planos sequência. E tem um muito bom aqui. Nada tão mirabolante como Babilônia, que comentei semana passada, mas mesmo assim, impressionante. Se lá a proposta era um caos organizado, aqui o foco é o diálogo. Lydia Tár está numa aula e desafia um aluno, que não gosta de Bach porque ele era branco, hétero e com muitos filhos. A câmera vai e volta, os atores vão e vem, tocam piano, e é uma cena longa, pouco mais de dez minutos! Melhor cena do filme, de longe!

Dito tudo isso, preciso dizer que reconheço os méritos de Tár, mas acho um exagero tantas indicações ao Oscar. É um bom filme, mas, tirando a indicação da Cate Blanchett, na minha humilde opinião o filme não deveria ser indicado às outras cinco estatuetas: filme, direção, roteiro original, edição e cinematografia. Além disso, é longo demais, são mais de duas horas e meia, chega a cansar.

Vale pela Cate Blanchett!

Babilônia

Crítica – Babilônia

Sinopse (imdb): Um conto de ambições exageradas e excessos escandalosos, o filme traça a ascensão e queda de múltiplos personagens durante uma era de desenfreada decadência e depravação no início de Hollywood.

Depois de Whiplash e La La Land, claro que fico de olho em cada novo filme do Damien Chazelle (apesar de não ter curtido muito O Primeiro Homem).

Babilônia (Babylon, no original) é um filme do jeito que heu gosto. Tecnicamente impressionante, traz como pano de fundo os bastidores de Hollywood, e ainda tem uma parte musical absurdamente bem trabalhada. Vamos por partes.

Logo no início do filme tem um exemplo do que mais gosto no cinema: um plano sequência que deve ter sido um caos pra filmar! Está rolando uma festa, com álcool, drogas, gente pelada passando, diálogos, tem até uma galinha! O espectador desavisado olha e deve pensar “ora era só o diretor dizer “pirem!” e sair andando com a câmera. Mas não, cada elemento é bem pensado e faz parte de uma complexa coreografia que envolve todos os que estão em cena e também a equipe que está atrás da câmera. Adaptando o meme da Internet, “é pra isso que heu pago o ingresso do cinema!”

Esta cena não é o único momento bem filmado. Todo o filme é cheio de detalhes, são várias sequências muito boas – como aquela onde a equipe está pela primeira vez filmando com som. Mas também preciso falar de outro plano sequência impressionante, quando vemos um estúdio da época do cinema mudo, com várias produções sendo filmadas uma ao lado da outra.

Porque isso me leva ao segundo ponto: bastidores de Hollywood. A gente vê um monte de filmes e séries que mostram sets de filmagem, mas aqui vemos sets da época do cinema mudo, o que não é algo muito comum. Nunca tinha me tocado desse detalhe: como não tinha som, você podia ter um set exatamente ao lado de outro.

O terceiro ponto é o som do filme. Babilônia não é um musical, como La La Land, mas tem muitos momentos envolvendo música. Em vários momentos a câmera está em movimento e se aproxima de um músico, e então ouvimos este instrumento mais alto do que a massa sonora. Além disso, a trilha sonora composta por Justin Hurwitz (o mesmo de La La Land) é muito boa!

Nem tudo é perfeito. Além do filme ser um pouco longo demais, tem duas coisas que achei desnecessárias. Uma é a cena logo no início que envolve fezes de elefante. O filme começou e pensei “caramba, se for nessa pegada, vai ser complicado”. Felizmente a escatologia é pouca.

A outra parte desnecessária é uma viagem com a história do cinema que vemos bem no finzinho, e que acho que deveria ser reduzida. Afinal, estamos nos anos 50 e vemos imagens de filmes como Matrix e Avatar. Na minha humilde opinião, ficaria mais lógico se parassem nos anos 50, não?

Ouvi críticas com relação à sequência perto do fim com a participação do Tobey Maguire. Ok, concordo que é uma sequência que se você tira, o filme não perde nada. Mas… Me diverti na sequência. E sim, é bizarra, mas, se a gente lembrar que o filme começa com fezes de elefante, essa sequência está longe de ser o mais bizarro que vemos na tela.

Sobre o elenco, curioso ler os nomes Brad Pitt e Margot Robbie e sair do filme impressionado com Diego Calva (quem?). Babilônia acompanha a história de quatro personagens, e como essas quatro histórias se misturam – ou seja, não tem um personagem exatamente central. E o Manny do quase desconhecido Diego Calva é o cara que acaba conduzindo o filme. Mas, mesmo assim, ainda podemos dizer que Brad Pitt e Margot Robbie estão excelentes nos seus papéis – um grande astro em decadência e uma aspirante a estrela que funciona no cinema mudo mas não se adapta ao cinema falado. O quarto personagem seria o trompetista vivido por Jovan Adepo (Fiquei na dúvida sobre a importância de outros coadjuvantes, como a repórter de fofocas interpretada por Jean Smart, ou a Lady Fay Zhu interpretada pela Li Jun Li. Mas acho que o trompetista tem um arco melhor desenvolvido). Ainda no elenco, Olivia Wilde, Lukas Haas, Patrick Fugit, Eric Roberts, Samara Weaving, Jeff Garlin, Flea e Katherine Waterston.

É longo? Sim, concordo. É exagerado? Sim, também concordo. Mas curti. Saí do cinema com vontade de rever!

The Last of Us – E01S01

Crítica – The Last of Us – E01S01

Sinopse (imdb): Joel e Ellie, uma dupla conectada pela dureza do mundo em que vivem, são forçados a suportar circunstâncias brutais e assassinos implacáveis em uma jornada pela América pós-pandemia.

Estreou no domingo passado uma série na HBO baseada no famoso videogame The Last Of Us. Como nunca joguei o game – nem sei do que se trata – nem me interessei pela série. Mas, ouvi elogios em mais de um grupo, e reparei que alguns dos youtubers que acompanho estão comentando, então resolvi ver qualé.

E preciso dizer que rolou uma certa decepção. A série não é exatamente ruim, mas… falta muito pra ser tão boa quanto estão falando por aí. Vamos por partes.

Antes de tudo, queria falar que gosto do formato de um episódio por semana. Alguns streamings liberam de uma vez toda a temporada de uma série, e os espectadores mais afoitos fazem binge watching. Acho isso ruim, prefiro ver um episódio de cada vez, dá tempo de digerir o que a gente acabou de ver.

Vamos primeiro ao que deu certo. O criador do videogame, Neil Druckmann, é roteirista aqui. Isso já coloca The Last Of Us num patamar acima de muitas adaptações ruins – lembro de uma recente adaptação de Resident Evil que conseguiu a façanha de desagradar tanto quem jogou o game quanto quem apenas gosta de um bom filme ou série. Outro acerto foi trazer Gustavo Santaolalla, que fez a trilha sonora do videogame, para fazer a trilha sonora aqui.

Uma curiosidade: o diretor Craig Mazin não dirigia nada desde 2008, quando fez a comédia nonsense Super Herói: O Filme (e antes ele tinha escrito o roteiro de duas sequências de Todo Mundo em Pânico!). Mas, boa notícia: Mazin faz um bom trabalho aqui. E hoje ele é mais conhecido por ser o criador da série Chernobyl do que pelo seu passado no besteirol.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Gostei muito da sequência do carro, onde o ponto de vista está sempre dentro do veículo enquanto o caos acontece lá fora, inclusive com alguns planos sequência no meio (me lembrei de Filhos da Esperança, que também tem um plano sequência sensacional envolvendo um carro e o caos em volta). E não é só isso, alguns detalhes são boas sacadas como a cena onde vemos uma personagem que está virando zumbi, mas em segundo plano, fora de foco.

Dito isso, precisamos reconhecer que a gente já viu tudo isso. Estou meio saturado com o tema “apocalipse zumbi”. E o episódio traz um “plot twist” com a Ellie, mas no primeiro diálogo onde ela aparece a gente já saca qual é o segredo dela.

Tem outro problema: tudo é muito lento. O episódio tem uma hora e vinte minutos, que se arrastam…

No elenco, Pedro Pascal mais uma vez mostra que é um nome em ascensão. O seu Joel é um cara complexo, tem seus problemas, seus traumas, trabalha com coisas dentro e fora da lei, é um personagem muito bem construído. Bella Ramsey, o outro nome principal, por enquanto não é um bom personagem, ela só faz uma adolescente chata. Isso pode ser do roteiro, ou pode ser um problema com a atriz, aguardemos os próximos. Anna Torv, de Fringe, tem um papel importante, mas também ainda não mostrou a que veio.

Bem, fiz essa análise vendo apenas um episódio. Ainda faltam oito. Ou seja, admito que é cedo pra tirar conclusões. Espero que a série traga algo de novo e seja realmente isso tudo o que prometeram.