Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Crítica – Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Sinopse (imdb): Os irmãos Tartaruga trabalham para conquistar o amor da cidade de Nova York enquanto enfrentam um exército de mutantes.

Antes de tudo, preciso falar que não sou fã das Tartaruga Ninja. Vi os filmes dos anos 90, vi os filmes dos anos 2010, mas nunca li nenhum quadrinho nem nunca vi nenhum desenho animado. Quando soube que este novo longa seria uma animação, quase decidi não ver. Mas um amigo que trabalhou na dublagem do filme comentou que o visual lembrava os longas do Aranhaverso. “You had my curiosity, now you have my atention!”

A gente se acostumou a animações cada vez mais realistas, evoluindo a cada ano – lembro quando vi Soul, que tem cenários que parecem filmados em vez de desenhados. Aí chegou o Homem Aranha no Aranhaverso, que trazia outra proposta: em vez de realismo, parece que estamos vendo páginas de quadrinhos na tela do cinema. Essa proposta foi tão revolucionária que ganhou o Oscar de melhor animação e começou a influenciar grandes estúdios – Gato de Botas 2 usou essas técnicas “low fi” em algumas sequências.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, no original) foi dirigido por Jeff Rowe e Kyler Spears, que antes tinha trabalhado em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (outro exemplo bem-sucedido de animação que usa um visual diferente do padrão). O longa segue o estilo de “animação não realista”, mas não tenta se parecer com o Aranhaverso. O traço da animação lembra pinturas à mão, e o visual ficou impressionante. E o filme tem algumas cenas muito boas, como uma sequência de ação onde eles atacam mais de um lugar, e a edição corta trechos de cada ataque para mostrá-los em ação.

Mas o filme não é bom só por causa disso, a história também é boa. Como comentei antes, não conheço muito do universo das Tartarugas Ninja. Não sei o vilão já existia ou se foi criado para o filme. Independente disso, achei o vilão ótimo, gostei dele ter a mesma origem dos heróis, e como isso causou uma confusão no entendimento deles. Não sei se fui o único a pensar assim, mas senti uma vibe meio X-Men, com mutantes sendo rejeitados pela população, e dois grupos com perspectivas diferentes, um querendo apenas ser aceito, o outro querendo oposição aos “normais”.

O filme tem muitas piadas boas (logo no início tem uma piada de humor negro envolvendo uma barata que ri tanto que quase perdi a cena seguinte). E são muitas referências à cultura pop: falam de Marvel, de DC, de cantores, etc.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante ainda traz outra novidade. Normalmente, cada ator grava suas falas isoladamente, e depois as frases soltas são editadas para parecerem diálogos. Aqui, foram colocados quatro atores adolescentes no mesmo estúdio, falando ao mesmo tempo, e permitindo improvisações. Isso gerou um ótimo entrosamento entre os personagens.

(Um breve comentário sobre a idade dos quatro protagonistas. Fui catar as idades dos atores Nicolas Cantu, Shamon Brown Jr., Micah Abbey e Brady Noon, mas não achei de todos. Um deles é de setembro de 2003, ou seja, mês que vem faz 20 anos. Lá nos EUA ele ainda é “teenager”, mas, aqui no Brasil, não podemos chamá-lo de “adolescente”…)

A dublagem é boa, mas quando vemos o elenco original, dá pena. Dá vontade de rever, pra ouvir as vozes de Jackie Chan, Seth Rogen, John Cena, Rose Byrne, Ice Cube, Post Malone, Paul Rudd e Maya Rudolph.

Temos uma cena pós créditos com um gancho pra continuação, que deve acontecer. Que mantenham a qualidade!

xXx: Reativado

XXXCrítica – xXx: Reativado

Depois de um acidente envolvendo o agente Gibbons, a CIA consegue encontrar Xander Cage, que estava escondido, dado como morto, e convocá-lo para voltar à ativa.

Vamulá. Muita gente vai falar mal mesmo sem ver o filme. xXx: Reativado (xXx: Return of Xander Cage, no original) é daquele tipo de filme onde é legal dizer que é uma porcaria. Afinal, é um filme genérico de tiro, porrada e bomba. Agora, quem se propõe a ir ao cinema ver um filme desses não espera algo diferente disso. Escreverei a crítica pensando nisso.

Voltemos uns anos no tempo. No início dos anos 2000, Vin Diesel começou a aumentar o seu star power e entrou numa de não fazer continuações – não quis fazer o segundo Velozes e Furiosos (2003), nem o segundo xXx (2005). A indústria mudou, a cabeça do Vin Diesel mudou, ele voltou à franquia Velozes e Furiosos e virou uma estrela. Por que não reativar outra franquia?

A direção coube a D. J. Caruso, um nome compatível com o projeto – tem bons filmes no currículo (Paranoia, Controle Absoluto, Eu Sou o Número 4), mas nada que se destaca. Aqui ele faz “o de sempre” – mais um filme competente, mas esquecível. Porque o importante aqui é que temos uma boa quantidade de sequências de ação bem filmadas e bem humoradas. Veracidade? O cara que pagou ingresso não quer veracidade, quer ver tiro, porrada e bomba…

Claro que xXx: Reativado tem muitos absurdos. Um deles me lembrou outra franquia do mesmo Vin Diesel. Sabe aquela cena final do Velozes 6, onde um avião fica tempo demais numa pista de aeroporto? Desta vez um avião fica tempo demais caindo. O tempo da queda é tão absurdo quanto no outro filme.

Uma das falhas é que o elenco tem muita gente, e não sabe equilibrar bem esses personagens. Alguns estão bem, como Donnie Yen (Rogue One). Mas outros parecem desperdiçados, como Tony Jaa, que dá uns dois saltos e só. Se é pra colocar muitos personagens, que eles estejam equilibrados, como aconteceu em Sete Homens e um Destino.

Uma tendência do cinema de ação contemporâneo está presente: o empoderamento feminino. Temos 3 mulheres no time principal: Deepika Padukone e Ruby Rose nas cenas de ação e Nina Dobrev como um dos alívios cômicos. Isso porque não falei que a Toni Collette faz a chefa da CIA. Ainda no elenco, Kris Wu, Rory McCann e Michael Bisping, em papeis que se fossem cortados do filme, ninguém sentiria falta. Ice Cube e Samuel L. Jackson aparecem em pontas (ambos repetindo papeis da franquia). Ah, também tem o Neymar – sim, o jogador de futebol – numa cena onde vemos claramente que ele não estava no mesmo ambiente que seu interlocutor (o que nos faz pensar se existem outras versões do filme com outros atletas mais famosos em outros países).

O fim do filme deixa clara outra tendência do cinema atual: temos um gancho para continuar a franquia (o nome já dizia, né? “Reativado”…). Um aviso aos haters: em breve deve aparecer um quarto filme…

Enfim, como falei lá em cima, é legal dizer que xXx: Reativado é uma porcaria. Mas pelo menos é uma porcaria divertida.

Festa no Céu

0-Festa no ceu-posterCrítica – Festa no Céu

Um desenho animado pode falar de morte e continuar sendo amigável para crianças? Festa no Céu prova que sim!

Um jovem tem dúvidas entre cumprir as expectativas impostas por sua família de toureiros ou seguir a vontade de seu coração de músico. Tentando se decidir, ele embarca em uma viagem por três diferentes mundos: o dos Vivos, o dos Lembrados e o dos Esquecidos.

Antes de tudo, uma eplicação para quem não conhece as tradições mexicanas. Lá no México, o Dia dos Mortos é uma grande e tradicional festa, de origem indígena (já acontecia antes da chegada dos espanhóis), que honra os falecidos no dia 2 de novembro. É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm visitar seus parentes. Ela é festejada – nos cemitérios – com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos – e, para as crianças, temos caveirinhas de açúcar. A parada é tão influente que o primeiro jogo de computador feito em 3D pela LucasArts, em 1998, foi o “Grim Fandango”, baseado no folclore Asteca, com estética derivada do Día de los Muertos mexicano.

Um dos grandes trunfos de Festa no Céu (The Book of Life, no original) é tratar a morte de maneira leve e tranquila, diferente do tom dark de um Tim Burton, por exemplo. Enquanto os mortos forem lembrados por familiares e conhecidos, eles estarão num lugar bom e festivo. Legal, gostei deste jeito de encarar a morte!

Festa no Céu é uma produção americana, mas tem cara de filme mexicano – afinal, foi produzido por Guillermo Del Toro e escrito e dirigido por Jorge R. Gutierrez, ambos mexicanos. Determinado momento do filme, aprendemos que “o México é o centro do mundo”…

A história é meio clichê – um triângulo amoroso que todo mundo sabe como vai terminar – mas pelo menos é bem contada, e temos alguns personagens que fogem do maniqueísmo (Chibalba não é 100% vilão, apesar de estar bem longe de ser um “mocinho”). E a mensagem final é boa. O filme tem muitas cores e boas sacadas no uso de músicas pop na trilha sonora. Ah, e gostei dos personagens parecerem bonecos marionetes.

Pena que não deu pra ver a versão legendada – o original traz vozes de Zoe Saldana, Channing Tatum, Diego Luna, Christina Applegate, Ron Perlman, Ice Cube, Hector Elizondo e Danny Trejo. Pelo menos a dublagem brasileira é bem feita.

Por fim, queria fazer uma homenagem. A sessão de imprensa de Festa no Céu foi um dia depois que soube do falecimento de um grande amigo, Oswaldo Lopes Jr., o Oz, roteirista e crítico de cinema, com quem tive oportunidade de trabalhar em alguns curta-metragens. Se depender da minha lembrança, o Oz estará num lugar bonito por um longo período!

Anjos da Lei 2

0-Anjos da Lei 2-posterCrítica – Anjos da Lei 2

Uma comédia “bromântica”!

Continuação do Anjos da Lei de 2012. Os policiais Schmidt e Jenko têm uma nova missão: se infiltrarem em uma faculdade, mais uma vez atrás de drogas. O problema é que, em meio à investigação, Jenko conhece sua alma gêmea na equipe de atletismo, e Schmidt começa a questionar a dupla. Em meio aos inevitáveis problemas de relacionamento, eles precisam encontrar um meio de desvendar o caso.

Ok, admito que não curti muito o primeiro Anjos da Lei. É um filme divertido, mas a idade dos atores me incomodou – era um marmanjo de 29 e outro de 31 se passando por garotos de 17 anos.

Desta vez os atores são os mesmos, e ainda estão dois anos mais velhos. Mas, num ambiente universitário, às vezes temos colegas de vinte e muitos anos na mesma aula. Além disso, a idade dos dois protagonistas gera várias piadas ao longo da projeção.

E isso é o melhor de Anjos da Lei 2 (22 Jump Street, no original): o filme não se leva a sério em momento algum. O humor presente no filme é leve, bobo e um com um pé no politicamente incorreto. Algumas cenas são impagáveis, como aquela quando Channing Tatum descobre quem é a namorada de Jonah Hill e sai gritando pela sala, ou a briga final de Jonah Hill contra uma garota. Ah, assim como acontece no primeiro filme, o momento que eles tomam drogas é um dos pontos altos do filme.

A estrutura de Anjos da Lei 2 segue as comédias românticas, mas em vez de ter um casal, são dois amigos – por isso usei o neologismo “bromântico” lá de cima. Aliás, o roteiro é feliz quando usa os clichês de brigas de casal entre os amigos.

A boa química entre o “casal” de atores principais garante bons momentos ao filme, que também conta com Ice Cube, Peter Stormare, Amber Stevens e Wyatt Russell, e pontas de Queen Latifah, Dave Franco e Rob Riggle. Seth Rogen faz uma participação especial em uma rápida cena, justamente a melhor piada do filme, na minha humilde opinião. (Li no imdb que Anna Faris também participa da sequência, mas confesso que não reparei nela).

A direção é dos mesmos Phil Lord e Christopher Miller, dupla que dirigiu o primeiro filme, e que este ano fez o divertido Uma Aventura Lego. O roteiro de Anjos da Lei 2 não é tão maluco quanto o de Lego (escrito pela dupla). Já a cena dos créditos – de longe a melhor parte do filme – foi escrita por Lord e Miller. Não saia do cinema assim que acabar o filme: rola uma sequência com várias piadas sobre possíveis continuações e outros modos de explorar a franquia, como jogos, videogames e desenhos animados.

Ah, último aviso: além da “cena dos créditos”, tem cena “após” os créditos…