E Aí Hendrix?

E Aí Hendrix?

Já falei antes aqui no blog, não sou muito fã de documentários. Meu interesse no documentário é proporcional ao meu interesse no assunto tratado. Pra minha sorte, gosto do assunto de E Aí Hendrix?!

O documentário de Pedro Paulo Carneiro e Roberto Lamounier fala, claro, sobre o Jimi Hendrix. Liderada pela cantora Pitty, uma equipe foi até Londres, entrevistou contemporâneos do guitarrista, visitou lugares históricos (relacionados a Hendrix) e assistiu um show cover, feito por John Campbell e a banda Are You Experienced. Entremeando o “diário de bordo de Londres”, vemos trechos de  entrevistas com gente como Roberto Frejat, Pepeu Gomes, Robertinho do Recife e Davi Moraes.

O documentário não é careta. Alguns detalhes que poderiam ser classificados como defeitos técnicos dão ao filme um charme irresistível, coisas como tomadas não convencionais, câmera trêmula, ruídos no áudio – aparece o reflexo do diretor em uma tela de computador, durante uma entrevista por skype!

Uma decisão acertada dos realizadores, na minha humilde opinião, foi manter o foco apenas na música, sem mencionar nada da sua conturbada relação com as drogas. Se bem que o filme podia explicar um pouco – a Garotinha Ruiva estava comigo, e me perguntou como Hendrix morrera…

Em alguns momentos, a edição podia enxugar um pouco o filme. Por exemplo, achei o “momento Purple Haze” longo demais. Aliás, de um modo geral, rolou um excesso de imagens do cover de John Campbell. O cover é legal, mas acredito que seria mais interessante vermos mais imagens de arquivo.

Não sei se E Aí Hendrix? será lançado, o circuito para documentários é algo complicado hoje em dia. Mas vale a pena para quem curte este que foi um dos maiores guitarristas da história!

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1972

1972

Sabe quando a gente nutre uma enorme simpatia por um projeto, mas mesmo assim, o resultado decepciona? É o caso aqui, neste filme lançado em 2006.

Rio de Janeiro, 1972. Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se conhecem e vivem uma turbulenta paixão, pontuada pelo amor que amboes têm por rock’n’roll e tendo a ditadura militar como pano de fundo.

Pra começar, sou fã dos anos 70. Olho com bons olhos qualquer filme ambientado nesta época. E tem mais: o filme foi co-escrito pela jornalista Ana Maria Bahiana, provavelmente a melhor jornalista brasileira sobre cinema – lembro que, anos atrás, ela tinha uma coluna semanal sobre Hollywood no Segundo Caderno d’O Globo, e heu colecionava a coluna!

Alguém que entende pra caramba de cinema, fazendo um filme sobre um assunto que me interessa, esse é daqueles que viro fã antes de ver o resultado… Pena que o tal resultado ficou muito aquém do que poderia…

É o filme de estreia do também jornalista José Emílio Rondeau, marido de Ana Maria e também autor do roteiro. Sem experiência na direção, ele chamou atores também novatos para os papeis principais. E aí ficou assim: diretor inexperiente trabalhando com atores inexperientes em cima de um roteiro também inexperiente…

Os atores são fracos, só alguns coadjuvantes se salvam no elenco (como Tony Tornado e Lúcio Mauro Filho), e alguns diálogos são tão constrangedores que dá vontade de desistir e assistir um filme melhor. Acho que a inexperiência falou mais alto…

Sobre o casal principal, o único comentário que faço é que Dandara Guerra é a cara da mãe, Cláudia Ohana. Mas, pelo menos por este filme, parece que ela não herdou o talento da mãe… Ainda no elenco, os novatos Bem Gil, Fábio Azevedo e Débora Lamm, apoiados pelos experientes Tony Tornado, Lúcio Mauro Filho, Louise Cardoso e Elizângela.

O roteiro ainda falha na recriação rasa da ambientação política da ditadura. Para isso, o filme O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, lançado no mesmo ano, funcionou muito melhor.

Em defesa do filme, podemos dizer que é uma simpática história de amor ambientada no Rio de Janeiro dos anos 70, com direito ao famoso pier de Ipanema. E a trilha sonora traz um monte de boas músicas nacionais da época. Mas é pouco, muito pouco. Infelizmente…

Hair

Hair

Semana passada fui ver a montagem teatral carioca da peça Hair. Deu saudade do filme, aproveitei o fim de semana e revi o dvd que já tinha em casa há tempos.

A trama todo mundo conhece, né? Em 1968, convocado para servir na Guerra do Vietnã, o caipira Claude Hooper Bukowski vai para Nova York se apresentar ao exército. Lá, ele conhece a troupe de hippies liderada pelo carismático Berger e fica fascinado com o estilo de vida flower power.

Dirigido por Milos Forman, Hair é um filme obrigatório para aqueles que gostam dos anos 70 e também para os apreciadores de boa música.

Sem dúvida o melhor do filme é a trilha sonora de Galt MacDermot, com texto e letras de James Rado e Gerome Ragni. Lembro que heu ouvia muito o Lp duplo com a trilha, nos “bons tempos do vinil”… As músicas são muito boas, hoje não tenho mais como ouvir vinil, então baixei os mp3 e estou ouvindo direto desde então…

As músicas são todas boas, mas algumas coreografias às vezes parecem forçadas demais, algo excessivamente “Broadway”, não gostei dessas partes. Mas não sei como poderia ser resolvido, não entendo de musicais…

O filme foi dirigido por Milos Forman, autor de outras grandes obras – tanto musicais, como Amadeus e Na Época do Ragtime; como “não musicais”, como Um Estranho No Ninho e O Povo Contra Larry Flynt.

Sobre o elenco, é curioso notar que o os três principais, Treat Williams, John Savage e Beverly D’Angelo, seguiram carreira em Hollywood e se tornaram rostos conhecidos, mas os outros atores sumiram. (Williams fez Era Uma Vez na América; Savage esteve em O Franco Atirador; Beverly, na série Férias Frustradas).

Admito que o filme é um pouco longo, são duas horas, talvez algo pudesse ser enxugado. Mas o fim do filme é sensacional – tanto pela parte cinematográfica (a edição alternando entre os dois personagens trocados ficou muito boa) quanto pela parte musical (é impossível não entrar no coro de “Let the sunshine”!).

Enfim, o filme, lançado em 1979, baseado em uma peça de dez anos antes, ainda emociona hoje, em 2011!

p.s.Off Topic: Posso falar de uma peça de teatro num blog de cinema?
A peça é muito boa, mas tem um problema, na minha humilde opinião. Claude e Sheila funcionam melhor na trama se não forem hippies, e na peça são todos hippies. Assim, o fim não tem o mesmo impacto. (Detalhe que descobri na wikipedia: a peça original era assim, com todos na mesma “tribo hippie”, o filme é que mudou o roteiro).
Mesmo assim, um dos acertos da montagem teatral carioca é respeitar os arranjos originais das músicas. Todas as músicas estão lá, em português, mas com os mesmos bons arranjos. Não se mexe em time que está ganhando há décadas!

Inferno

A Mansão do Inferno

Há um bom tempo queria rever A Mansão do Inferno, do Dario Argento, filme que vi muitos anos atrás, gravado da tv, e do qual não me lembrava de quase nada. Este filme tem a trilha sonora composta pelo meu tecladista favorito, Keith Emerson!

Rose Elliot compra um velho livro intitulado “Le Tre Madri” (As Três Mães), que fala sobre as três mães dos Infernos: Mater Suspiriorum (a Mãe dos Suspiros), Mater Lacrimarum (a Mãe das Lágrimas) e Mater Tenebrarum (a Mãe das Trevas). O autor do livro construiu uma casa para cada uma delas, e Rose passa a acreditar que mora em uma delas. Ela escreve uma carta ao seu irmão Mark, estudante de música em Roma, e pede que venha ficar com ela, mas a carta é antes lida por uma amiga de Mark, que acaba sendo assassinada antes falar com ele. Mark descobre a carta rasgada aos pés do cadáver da amiga e decide ir para Nova Iorque.

Olha, gosto do Dario Argento, já vi vários filmes dele, mas… Sinceramente? Achei A Mansão do Inferno bem fraco…

Argento é muito bom ao criar uma ambientação de terror. Nisso o filme funciona. Mas o roteiro é confuso e algumas partes não fazem o menor sentido!

O roteiro é muito mal escrito. Personagens entram e saem da trama de maneira confusa, algumas situações são mal explicadas, outras soam forçadas demais… E várias cenas sem sentido acontecem. Como por exemplo, a morte no lago, quando o cara está sendo atacado pelos ratos, e, do nada, o cara do trailer tem aquela reação???

O lance aqui é curtir a viagem sem se preocupar com detalhes como roteiro e construção de personagens. Porque o clima do filme é muito interessante, as cenas de assassinato são bem feitas, o gore é até bastante para um filme feito em 1980, e a trilha sonora é muito boa.

Novo parágrafo para falar da trilha sonora. Só consegui comprar o dvd original deste filme em 2010, mas o cd com a trilha já tenho desde os anos 90. Sou fã desta trilha, e acho que ela combina perfeitamente com o clima de terror do filme. Pena que o Keith Emerson, até onde sei, não fez nenhuma outra trilha sonora para filmes de terror…

Enfim, Dario Argento fez coisa melhor. Prefira O Pássaro das Plumas de Cristal. Mas procure a trilha sonora de A Mansão do Inferno!

O Som do Coração

O Som do Coração

Nem dei bola pra este O Som do Coração (August Rush) quando foi lançado, em 2007. Mas a garotinha ruiva sugeriu, a gente viu, e agora vai pro blog.

O garoto Evan (Freddie Highmore), criado em um orfanato, tem um apurado mas ainda não desenvolvido dom musical. Ele quer criar uma música que traga de volta seus pais, os também músicos Lyla e Louis. Detalhe: nenhum dos dois sabe que Evan está vivo. Evan foge para Nova York, onde vira um prodígio musical.

Podemos ver O Som do Coração sob dois ângulos. Por um lado, é uma bela e emocionante história sobre encontros e desencontros; por outro lado, o roteiro é tão óbvio que dá nervoso!

Toda a trama é extremamente previsível. Dá até raiva. A gente consegue adivinhar cada passo do roteiro muito antes de acontecer. Isso atrapalha, e muito! Clichês seguidos de clichês…

O que salva é a parte musical do filme. Gostei muito de como o filme mostra o modo como Evan / August vê a música em volta dele, e também das diferentes cenas com a música clássica de Lyla misturada ao rock pop de Louis – frases do violoncelo dela entram nas melodias da banda dele em uma perfeita mixagem. E isso porque não falei da original técnica de violão de August!

(Só não deu pra engolir o moleque escrevendo partituras do nada. Que a música seja algo natural, ok. Mas para escrever na pauta precisa estudar um pouco – justamente para saber como é a “linguagem escrita” da música!)

No elenco, o nome a ser mencionado é Freddie Highmore, que confirma aqui o seu talento já demonstrado em vários outros filmes infanto juvenis, como A Fantástica Fábrica de Chocolates, As Crônicas de Spiderwick e Arthur e os Minimoys. O garoto vai longe! Ainda no elenco, Kerri Russell, Jonathan Rhys Meyers, Terrence Howard, Robin Williams e William Sadler.

Veja pela parte musical, e abstraia o roteiro ruim!

Coração Louco

Coração Louco

Atrasado, mas vi Coração Louco, o filme que deu o Oscar em 2009 para o grande Jeff Bridges!

Com 57 anos, o cantor de country Bad Blake vive à sombra do próprio passado, tocando em buracos quase sempre indignos do seu talento, acompanhado de muito cigarro e muito álcool. O orgulho o impede de se aproximar de Tommy Sweet, um cantor mais novo que no passado foi seu pupilo, e hoje goza de grande fama e prestígio. Apesar de vários casamentos frustrados, Bad ainda faz uma nova tentativa com a jovem jornalista Jean.

Jeff Bridges está ótimo, como sempre. Admito que sou fã do cara, caramba, ele é o Dude Lebowski! E não só isso, é só olhar o currículo dele pra virar fã: Tron, Starman, O Pescador de Ilusões… Ele estava até em Homem de Ferro! Confesso que Bad Blake não é o meu personagem preferido de sua carreira recente – ele merecia um prêmio por Os Homens Que Encaravam Cabras, isso sim! Mas pelo menos o Oscar foi para a pessoa certa.

O resto do elenco também está ok. Colin Farrell, sei lá por que, não está nos créditos principais, mas tem um dos principais papeis como Tommy Sweet. E Maggie Gyllenhaal, feinha mas simpaticíssima, está perfeita como Jean, a mulher que sabe que precisa manter distância do homem que ama. E ainda tem Robert Duvall num papel pequeno.

Preciso falar da parte musical. Por um lado, é legal ver Bridges e Farrell cantando e tocando, gosto muito quando os atores “colocam a mão na massa” e conseguimos vê-los cantando e tocando (confira nos créditos: eles não foram dublados!). Mas, por outro lado, não sou chegado em música country… Mesmo assim, reconheço o bom trabalho – e não estou sozinho, a Academia deu à canção “The Weary Kind” o outro Oscar de Coração Louco.

Coração Louco é o filme de estreia do diretor Scott Cooper, que também escreveu o roteiro. O filme é interessante, mas é o tipo de filme que não tem muito como ser criativo. É aquilo, cantor veterano tem problemas com álcool, com mulheres, com ego… e depois tem problemas com álcool, com mulheres, com ego… Não sou muito fã do estilo, então não virei fã do filme. Mas é sempre um prazer ver Jeff Bridges atuando bem!

Hedwig – Rock, Amor e Traição

Hedwig – Rock, Amor e Traição

Hansel é um jovem que mora em Berlim Oriental, mas sonha com o rock ocidental. Até que conhece um militar americano que promete levá-lo para os Estados Unidos. Mas, antes disso, para poder se casar, Hansel precisa fazer uma cirurgia de troca de sexo e virar Hedwig. A cirurgia não dá certo, deixando Hedwig com um órgão sexual do tamanho de uma polegada (a “angry inch” do título original), mas mesmo assim ela consegue ir para os EUA. Lá, abandonada pelo seu marido militar, ela conhece o jovem Tommy Gnosis, a quem ensina tudo sobre amor e sobre rock. Quando suas músicas começam a fazer sucesso, Tommy as rouba e abandona Hedwig, que, agora, faz shows em pequenos restaurantes e bares com a sua própria banda.

Hedwig – Rock, Amor e Traição (Hedwing And The Angry Inch, no original) é a adaptação de um musical de sucesso na off-Broadway, onde ficou dois anos em cartaz. Mas o filme tem um problema grave: seu protagonista. O ator / autor / diretor James Cameron Mitchel fez tudo, e ficou parecendo uma grande egotrip.Talvez fosse melhor ele entregar a direção e / ou o roteiro para outra pessoa. Pra piorar, o seu Hedwig tem carisma zero, é um personagem super antipático. Fica difícil gostar de um filme assim.

Pena, porque a parte musical é ótima. A trilha sonora composta por Stephen Trask (que faz Skszp, um dos membros da banda) tem várias músicas muito boas, e alguns números musicais são bem criativos.

No elenco, um nome desponta, Michael Pitt, que faz o jovem Tommy Gnosis, e que depois disso fez Os Sonhadores, Last Days, a refilmagem de Violência Gratuita e hoje está na série da HBO Bordwalk Empire. O resto do elenco era desconhecido e continua até hoje assim.

Há pouco estreou uma versão brasileira nos teatros cariocas, dirigida por Evandro Mesquita. Pretendo ver qualé…

Cinderela Baiana

Cinderela Baiana

Há muito que heu queria ver este famoso involuntário trash brasileiro. Tomei coragem e assisti! Sim, trata-se de um trash no nível de Plan 9 ou Manos, The Hands Of Fate!

A trama escrita e dirigida por Conrado Sanchez fala de uma menina do interior da Bahia, que, ao se mudar pra Salvador, se destaca por causa de suas habilidades como dançarina e é contratada por um grande empresário para ser a dançarina de um grupo de axé.

Ok, a gente já sabia que o filme é ruim, muito ruim. Afinal, um filme baseado no talento da “atriz” Carla Perez não rola, né? Mas o buraco é mais embaixo. O filme é REALMENTE ruim. Daqueles que, de tão ruim, se tornam obrigatórios! O roteiro é um lixo, cheio de furos, a história óbvia e clichê e as atuações são TODAS muito muito ruins, do nível de peça infantil de escola. Mas, se isso já era esperado, o filme surpreende por ser ainda muito pior!

Tem um monte de detalhes que tornam Cinderela Baiana um lixo monumental. Antes de tudo, queria perguntar por que esse título. Pelo que me lembro, a história original da Cinderela falava de uma menina que foi morar com a madrasta, era maltratada pelas irmãs “postiças”, e conseguiu ajuda da fada madrinha para conseguir ir ao baile, onde conheceu o príncipe, mas tinha que voltar antes da meia noite porque sua carruagem ia voltar a ser uma abóbora, então, na fuga, perdeu seu sapato de cristal, sapato este que o príncipe usou para encontrá-la novamente. Confere?

(Aliás, Cinderela também tem um furo enorme no roteiro, porque se a carruagem voltou a ser abóbora, o sapato também deveria voltar a ser o que era. Mas deixemos isso pra outro post!)

A Cinderela Baiana não tem NADA a ver com a Cinderela original! Por que, meu Deus, por que chamar de Cinderela???

(E, ainda falando do título, no poster a gramática está correta; mas, no filme, está escrito “bahiana”, com “H”! Será que é uma homenagem à famosa ocasião onde Carla Perez falou “I” de “Escola”? Socorro!!!)

Mas, vamos ao filme. A ideia é mostrar um filme de uma dançarina, né? Então, por que não arranjaram uma que dança bem? A srta (ou sra) Perez não dança bem, ela executa coreografias de axé e rebola. Faça uma rápida busca no youtube, você verá dezenas de pessoas que dançam melhor. E a prova está logo na cena que abre o filme. Uma banda toca num palco, e a sra (ou srta) Perez se atrapalha para tentar seguir a coreografia do colega ao lado. Céus, será que não dava nem pra ensaiar uma coreografia pra abrir o filme?

Mas isso é só o começo. O filme é repleto de cenas tão malfeitas que temos a nítida impressão de que foi de propósito. Quer um exemplo? Vários dos diálogos estão com o áudio fora de sincronia com o video, mas isso acontece muito no cinema nacinal, infelizmente. Mas, em uma das cenas na academia de dança, ela dança fora de sincronia com o áudio. Caramba, era um filme ligado à dança, será que não rolava de sincronizar direito?

E o roteiro? Olha, já vi muito roteiro ruim e cheio de furos. Mas o que explica uma menina com no máximo uns dez anos de idade se mudar pra Salvador, e, apenas três anos depois, já ser a Carla Perez adulta? Outra coisa: por que criar uma dançarina rival (aliás, mais bonita e que dança melhor), pra depois esquecer dela? E por aí vai…

Pelo menos o roteiro traz várias frases divertidíssimas. Acho que era involuntário, não queriam fazer graça. Mas, momentos como a cena final são antológicos! Carla, não se sabe por que, vestida de odalisca, fala a uma criança “Me dê isso menina, você devia estar brincando e estudando, não jogada na estrada pra ganhar uns míseros trocados pra matar a fome.” Aí pega uma gaiola de passarinho, solta o bicho e fala “Vai passarinho, você, como a criança também tem o direito a liberdade. De que adiantam essas campanhas demagógicas se estas crianças continuam aqui na estrada e com fome? Todos os pequeninos merecem proteção, alimentação, amor e paz.” E faz uma pomba da paz com as mãos. E depois todos começam a dançar o Tchan. Detalhe 1: a letra fala “pau que nasce torto nunca se endireita” – de que adianta então ela tentar consertar? Detalhe 2: até freiras seguram o tchan! Sensacional, não?

Os atores estão todos péssimos, claro. E olha que Lázaro Ramos faz um dos amigos de Carla! Mas tem um que achei o pior de todos: Perry Salles, que faz Pierre, o empresário. O cara berra o filme inteiro! E é um personagem incoerente – um cara daqueles ia tentar dar uns pegas em todas as dançarinas…

Ainda tem mais, muito mais. A cena da briga entre o cantor Alexandre Pires e dois capangas do Pierre é pateticamente ruim, talvez a pior cena de luta da história do cinema.

O filme é tão ruim que abstraí a grande quantidade de música ruim que vem “no pacote”. Porque, todos sabem, a música baiana boa não está presente. Gosto de Raul Seixas e Camisa de Vênus, respeito Caetano e Gil (apesar de não ser fã), respeito até a Pitty. Mas axé não, né? Música que precisa de coreografia pra funcionar não pode ser boa!

E por aí vai. Quem estiver na pilha de um trash legítimo, vai se divertir. Mas, por favor, que fique avisado: o filme é ruim, muito ruim!

A Vida Até Parece Uma Festa

A Vida Até Parece Uma Festa

Documentário sobre banda paulista Titãs, um dos maiores nomes do rock nacional dos anos 80, escrito e dirigido pelo vocalista Branco Mello e por Oscar Rodrigues Alves. Sem se preocupar com narração nem com ordem cronológica, o filme mostra vários momentos importantes da carreira da banda.

Como coleção de imagens, o filme é um deleite para os fãs. São inúmeras gravações de todas as fases da banda. Arquivos de tv, gravações pessoais, trechos de shows, bastidores de estúdio, descontração nas viagens… Branco Mello, Tony Bellotto, Charles Gavin, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Nando Reis, Marcelo Fromer e Arnaldo Antunes estão bem à vontade, e em várias épocas diferentes – vale lembrar que a banda surgiu em 1981 e está aí até hoje!

Mas como documentário, é fraco. A opção de não usar uma linha narrativa enfraquece momentos importantes. Por exemplo: André Jung, primeiro baterista da banda, trocou de lugar com Charles Gavin, então no Ira!. Isso é citado rapidamente por Charles, de maneira casual. O mesmo acontece com a participação de Ciro Pessoa (o “nono Titã”), com a prisão de membros da banda por envolvimento com heroína e com a saída de Arnaldo da banda – a saída de Nando e a morte de Frommer estão mais bem documentadas. Quem conhece a história dos Titãs conhece tudo isso, mas, e os que não conhecem?

Tem outro problema, este de ordem técnica – o volume das músicas está muito mais alto que os diálogos. Poxa, as músicas a gente já conhece. Os diálogos é que são novidade!

Mesmo assim, A Vida Até Parece Uma Festa é obrigatório para os fãs do Rock BR. O filme traz algumas cenas bem interessantes, como a apresentação do seminal Trio Mamão e as Mamonetes (com Branco Mello, Marcelo Fromer e Tony Bellotto) num programa de tv, onde Wilson Simonal era jurado. Gostei também do momento embaraçoso, quando o produtor Liminha dá uma grande bronca em Charles durante uma gravação. Quer dizer, gostei de ver, mas não queria estar presente…

Rush – Beyond The Lighted Stage

Rush – Beyond The Lighted Stage

Acho que o Festival do Rio resolveu “pegar carona” no show da banda canadense Rush que vai acontecer na Apoteose no próximo domingo, e programou este documentário Rush – Beyond The Lighted Stage, que já está à venda em dvd em lojas brasileiras…

O documentário mostra desde a infância dos integrantes em Toronto até os dias de hoje, passando pelo lançamento de seus álbuns mais marcantes, altos e baixos na carreira, mudanças na sonoridade da banda e até um problema pessoal de um dos membros que quase causou o fim da banda.

O fenômeno do duradouro sucesso da banda e sua carreira de 40 anos são explorados através de imagens de arquivo inéditas e entrevistas com artistas como Gene Simmons (Kiss), Sebastian Bach (Skid Row), Kirk Hammett (Metallica), Trent Reznor (Nine Inch Nails), Mike Portnoy (Dream Theater), Billy Corgan (Smashing Pumpkins), Zakk Wylde (Black Label Society), Les Claypool (Primus) e Jack Black (ator, mas aqui representando a banda Tenacious D).

Como já falei aqui antes, o meu interesse em um documentário está diretamente ligado ao interesse no objeto do documentário. E desta vez gostei da escolha do tema. A história da banda Rush é um bom assunto.

O Rush é uma banda peculiar: apesar de nunca ter conseguido sucesso de crítica e nunca ter tocado nas rádios, tem uma enorme legião de fiéis fãs – por exemplo, quando toca por aqui, tem público para lotar estádios (em 2002, tocaram no Maracanã).

O Rush tem outra forte característica: seu som não tem um estilo facilmente identificável, não se encaixam em nenhum rótulo – eles ficam em algum lugar entre o hard rock setentista e o progressivo. Isso porque não estou falando das peculiaridades de dois dos membros: Geddy Lee não só é um excelente baixista como também canta e toca teclados – ao mesmo tempo! E Neil Peart figura em toda e qualquer lista de melhores bateristas da história (Alex Lifeson é “apenas” um excelente guitarrista).

Estas características e outras são bem retratadas pelos documentaristas Scot McFadyen e Sam Dunn, realizadores de Metal – Uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal, e Iron Maiden: Flight 666.

Bom documentário. Boa opção para o “esquenta” antes do show de domingo!