O Ninho

Crítica – O Ninho

Sinopse (imdb): Samuel é um menino paraplégico que vive com sua mãe Elena em uma mansão. Quando conhece Denise, ele encontra a força para se abrir para o mundo. Elena não o deixa ir tão facilmente, e está pronta para fazer o que for preciso para detê-lo.

Uma coisa que sempre repito é que todo cinéfilo deve guardar os nomes dos diretores. Este ano vi Um Clássico filme de Terror, terror italiano dirigido por Roberto de Feo. Quando apareceu este O Ninho (Il Nido, no original) e vi que era o mesmo diretor, já bateu curiosidade.

(Curioso que Um Clássico filme de Terror é de 2021, enquanto O Ninho é de 2019…)

O Ninho é bem diferente do Um Clássico filme de Terror. Aqui a gente é apresentado a uma família dominada a rédeas curtas por uma matriarca cruel e ultra controladora. A gente sabe que tem alguma coisa escondida, mas não tem ideia do que está acontecendo.

Uma coisa muito boa aqui é a ambientação num casarão enorme e isolado de tudo. A fotografia com poucas cores também ajuda no clima. Outro ponto positivo é não saber em que época o filme se passa.

Roberto de Feo constrói bem os personagens, principalmente os dois jovens. E gostei da atuação dos dois, Justin Korovkin e Ginevra Francesconi. Acho que só não gostei do médico, me pareceu caricato demais.

O Ninho é bem lento, talvez fosse melhor se o filme fosse mais curto – me parece que não tinha história pra uma hora e quarenta e sete minutos de projeção. Mas o fim do filme traz um plot twist shyamalaniano, que explica todos as pontas soltas e dá um gás extra. Gostei, não esperava algo naquele caminho.

Um Clássico Filme de Terror

Crítica – Um Clássico Filme de Terror

Sinopse (imdb): Cinco carpoolers viajam em um motorhome para chegar a um destino comum. A noite cai e, para evitar a carcaça de um animal morto, eles se chocam contra uma árvore. Quando eles voltam a si, eles se encontram no meio do nada. A estrada pela qual viajavam desapareceu e há apenas uma floresta densa e impenetrável e uma casa de madeira no meio de uma clareira, que descobrem ser o lar de um culto de arrepiar a espinha.

Dirigido pela dupla Roberto de Feo e Pablo Strippoli, Um Clássico Filme de Terror (A Classic Horror Story, no original) parece uma mistura de um monte de filmes de terror. Tem Midsommar, Louca Obsessão, Pânico na Floresta, O Albergue, O Homem de Palha, Evil Dead… As referências parecem um pouco exageradas, mas depois a gente descobre por que.

Gostei da fotografia do filme, que usa bem as cores e os cenários na floresta e na cabana. Também gostei da trilha sonora, algumas cenas ganham uma tensão maior com aquelas frases de violino.

Agora, o roteiro tem suas escorregadas. Ok, a gente sabe que terá clichês, afinal o próprio nome avisa que é uma “clássica história de terror”, então a gente sabe que vai seguir mais ou menos um certo formato. Mas mesmo a gente sabendo que alguns personagens estão lá só para morrer, os mesmos precisam de algum desenvolvimento. Porque, com zero desenvolvimento, a gente não se importa com eles. Ah, vai morrer? Pode morrer, ué.

(Isso sem falar de um “plot twist” que é telegrafado ainda na parte inicial do filme)

No elenco, só conhecia um nome, Matilda Lutz, que fez O Chamado 3 e Vingança. Também no elenco, Francesco Russo, Peppino Mazzotta, Yuliia Sobol, Will Merrick e Alida Baldari Calabria.

No geral, gostei bastante do resultado, mesmo com algumas escorregadas aqui e ali.

Perfetti Sconosciuti

Crítica – Perfetti Sconosciuti

Sinopse (imdb): Sete amigos de longa data se reúnem para um jantar. Quando eles decidem compartilhar um com o outro o conteúdo de cada mensagem de texto, e-mail e telefonema que recebem, muitos segredos começam a se revelar e o equilíbrio treme.

Viagem de avião, vamos ver as opções de filmes? Opa, tem a versão original italiana do Perfectos Desconocidos!

Os dois filmes são praticamente iguais. Só o fim muda um pouco. A solução final desta versão, dirigida por Paolo Genovese, (que desagradou algumas pessoas) também acontece aqui, só é mais sutil.

Fica difícil de comparar qual dos dois é o melhor. Gosto do estilo do diretor espanhol Álex de la Iglesia, e acho o som da língua espanhola mais agradável que a italiana (será que ainda posso falar isso nos dias de hoje?). Mas reconheço que gostei mais do espanhol porque vi primeiro. Se tivesse visto o italiano antes, provavelmente ia preferir o italiano.

Resumindo: boa opção, independente da versão.

8 1/2

Crítica – 8 1/2

Esta semana, no curso A Arte da Crítica, o crítico Marcelo Janot disse que ia analisar dois filmes. Disse que ia provar que 8 1/2 era bom, e que 127 Horas era ruim. Aproveitei o fim de semana para rever 127 Horas, e ver pela primeira vez 8 1/2, um dos filmes mais famosos de Federico Fellini.

A trama traz um alter ego do Fellini, o diretor de cinema Guido (Marcello Mastroianni), que sofre de bloqueio criativo enquanto é cercado por pessoas envolvidas na sua próxima produção. No meio dessa onda metalinguística, Fellini encaixa várias citações autobiográficas.

8 1/2 frequenta 9 entre 10 listas de melhores filmes por aí. O filme é realmente muito conceituado – dei uma pesquisada pela internet, é papo de Cidadão Kane, Poderoso Chefão e 8 1/2, um ao lado do outro. Por isso, a espectativa era alta. Mas… Será que posso dizer que não gostei?

O filme é uma grande egotrip do diretor. A impressão que a gente tem é que Fellini estava completamente perdido (assim como o seu Guido), e saiu filmando qualquer coisa!

(E isso se a gente for benevolente. Porque a outra interpretação para o parágrafo acima seria “Fellini é um picareta que, sem ter algo sólido para filmar, enrolou por pouco mais de duas horas.”)

O roteiro, cheio de simbolismos pouco interessantes pra quem não é fã do diretor, é vazio. Uma prova disso é o próprio título do filme: o “oito e meio” não tem nada a ver com o filme em si, é porque Fellini já tinha feito antes sete filmes e “meio” – na verdade, fizera antes um quarto do filme Boccaccio 70. Ou seja, o próprio Fellini não sabia o que ia filmar!

O pior é que ele já desconfiava que isso podia dar errado. Tanto que criou um crítico como um dos personagens principais, que passa quase o tempo todo falando mal do filme enquanto ele é feito. E em alguns momentos, concordei com ele, quando ele falou coisas como: “Bem, à primeira vista, vê-se que a falta de uma ideia problemática, ou, se quiser, de uma premissa filosófica, transforma o filme numa suíte de episódios totalmente gratuitos e até divertidos, na medida do seu realismo ambíguo. Perguntamo-nos o que os autores realmente querem.” É, o cara estava perdido…

Mesmo assim, o filme não é de todo ruim. Fellini não tinha uma história nas mãos, mas ele era talentoso e sabia como colocar as imagens na tela. Algumas partes são muito boas, como por exemplo a sequência inicial, do pesadelo; ou a sequência onde Guido está cercado de mulheres no lugar onde ele tomava banho quando criança.

A bela fotografia em preto e branco é outro destaque, assim como a inspirada trilha sonora de Nino Rota, apesar desta trazer um problema: rola um tema no final que é igualzinho ao tema de O Poderoso Chefão, do mesmo Rota. Ok, 8 1/2 veio antes. Mas O Poderoso Chefão é mais famoso…

O resultado final não me agradou. Fiquei com a impressão de que é um filme feito apenas para os apreciadores de Federico Fellini e seu estilo cheio de simbolismos, surrealismo, elementos circenses e mulheres gordas e feias. E, para o espectador “normal”, o filme não funciona…

Quem sabe daqui a alguns anos heu vejo o filme de novo e revejo a minha crítica… Mas, por enquanto, o Fellini ficou devendo…

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p.s.: Depois de rever 127 Horas, notei algumas falhas, como a queda de ritmo no terço final e algumas incoerências do roteiro. Mas mesmo assim, não acho um filme tão ruim assim como o Janot pichou…

Inferno

A Mansão do Inferno

Há um bom tempo queria rever A Mansão do Inferno, do Dario Argento, filme que vi muitos anos atrás, gravado da tv, e do qual não me lembrava de quase nada. Este filme tem a trilha sonora composta pelo meu tecladista favorito, Keith Emerson!

Rose Elliot compra um velho livro intitulado “Le Tre Madri” (As Três Mães), que fala sobre as três mães dos Infernos: Mater Suspiriorum (a Mãe dos Suspiros), Mater Lacrimarum (a Mãe das Lágrimas) e Mater Tenebrarum (a Mãe das Trevas). O autor do livro construiu uma casa para cada uma delas, e Rose passa a acreditar que mora em uma delas. Ela escreve uma carta ao seu irmão Mark, estudante de música em Roma, e pede que venha ficar com ela, mas a carta é antes lida por uma amiga de Mark, que acaba sendo assassinada antes falar com ele. Mark descobre a carta rasgada aos pés do cadáver da amiga e decide ir para Nova Iorque.

Olha, gosto do Dario Argento, já vi vários filmes dele, mas… Sinceramente? Achei A Mansão do Inferno bem fraco…

Argento é muito bom ao criar uma ambientação de terror. Nisso o filme funciona. Mas o roteiro é confuso e algumas partes não fazem o menor sentido!

O roteiro é muito mal escrito. Personagens entram e saem da trama de maneira confusa, algumas situações são mal explicadas, outras soam forçadas demais… E várias cenas sem sentido acontecem. Como por exemplo, a morte no lago, quando o cara está sendo atacado pelos ratos, e, do nada, o cara do trailer tem aquela reação???

O lance aqui é curtir a viagem sem se preocupar com detalhes como roteiro e construção de personagens. Porque o clima do filme é muito interessante, as cenas de assassinato são bem feitas, o gore é até bastante para um filme feito em 1980, e a trilha sonora é muito boa.

Novo parágrafo para falar da trilha sonora. Só consegui comprar o dvd original deste filme em 2010, mas o cd com a trilha já tenho desde os anos 90. Sou fã desta trilha, e acho que ela combina perfeitamente com o clima de terror do filme. Pena que o Keith Emerson, até onde sei, não fez nenhuma outra trilha sonora para filmes de terror…

Enfim, Dario Argento fez coisa melhor. Prefira O Pássaro das Plumas de Cristal. Mas procure a trilha sonora de A Mansão do Inferno!

Starcrash

Starcrash

Stella Star e Akton, dois contrabandistas espaciais, são capturados e depois contratados pelo imperador numa missão de resgate contra o malvado Conde Zarth Arn e sua poderosa arma misteriosa.

Não conhecia este quase plágio de Guerra nas Estrelas, feito em 1978. Aí descobri que o filme é italiano, e tudo fez sentido! Na década de 70, a Itália copiou vários filmes americanos, principalmente westerns e filmes de terror, criando os famosos “western spaguetti”. Quase sempre eram filmes vagabundos, com orçamentos pequenos e resultados de qualidade duvidosa. Mesmo assim, o cinema ganhou nomes talentosos na época, como Sergio Leone, Dario Argento e Lucio Fulci.

Starcrash é uma “ficção científica spaguetti”!

Visto hoje em dia, Starcrash é um legítimo trash movie. Atuações caricatas, trama ridícula e “defeitos” especiais. Me questiono se na época era pra ser sério…

Na verdade, o que mais enfraquece Starcrash é a comparação com Guerra nas Estrelas. Por um lado, tem coisas em Starcrash que beiram o plágio – caramba, tem até um sabre de luz aqui! Por outro lado, os efeitos do filme de George Lucas são muito melhores (e olha que foi feito um ano antes!)

Falando do roteiro, não só parece um plágio barato, como ainda traz situações tão ridículas que o filme às vezes parece uma comédia. Tem cenas mais engraçadas que paródias como Spaceballs!

O elenco traz dois nomes curiosos. O imperador é ninguém menos que Christopher Plummer, que, nas poucas vezes que aparece, está com uma cara de “o que estou fazendo aqui?”. E seu filho é um dos primeiros papéis de David Hasselhoff, que anos mais tarde ficaria famoso por protagonizar os seriados A Super Máquina e Baywatch.

Parágrafo novo pra falar da única coisa que Starcrash tem melhor que Guerra nas Estrelas: a protagonista Stella Star interpretada pela atriz Caroline Munro e suas roupas pequenas e decotadas! Cinco anos antes do biquíni dourado de O Retorno do Jedi, Stella Star usa roupas tão sexy quanto!

Definitivamente, Starcrash não é pra qualquer um, nem pra qualquer hora. Mas, se visto no clima certo, é diversão garantida!

Estamos Bem Mesmo Sem Você

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Estamos Bem Mesmo Sem Você

Drama familiar italiano premiado em Cannes em 2007 pela Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio, Estamos Bem Mesmo Sem Você (Anche libero va bene no original) conta a história de um pai que cria sozinho o casal de filhos, porque a mãe dos meninos some de vez em quando.

O filme é apresentado sob o ponto de vista do filho caçula, Tommi (Alessandro Morace). Com 11 anos, ele já desconfia que a mãe vai acabar abandonando a família de novo – diferente da irmã, Viola (Marta Nobili), mais apegada à mãe.

Kim Rossi Stuart escreveu o roteiro e dirigiu, e ainda interpreta Renato, o pai. Barbara Bobulova fecha o quarteto principal de personagens, fazendo a mãe fujona.

As interpretações são boas, o filme é envolvente, mas, pelo menos para mim, há um problema muito grave: cria-se uma expectativa de que algo acontecerá, e nada acontece. O roteiro não tem grandes viradas, é aquela rotina o tempo todo…

Interessante, mas poderia ser melhor.

Zombi 2

Zombie

Zombi 2

Filmes de terror italianos nos anos 70 e 80 eram quase sempre cópias de filmes de sucesso americanos. Mas às vezes a cópia pode ser tão boa quanto o original! Este é o caso de Zombi 2, de 79, dirigido por Lucio Fulci, clássico obrigatório quando o assunto é filme de zumbis. (Inclusive, ele está na minha lista de Top 10: Filmes de Zumbi!)

A história é simples: acompanhamos um grupo de pessoas que vai até uma ilha tropical, e lá descobrem que existe uma “infestação” de zumbis. Pouca frescura e muito gore!

A primeira curiosidade sobre esse filme é sobre o nome dele. Qualé a desse nº “2”? Trata-se de uma continuação? Não – a resposta é mercadológica. O filme Zombie – O Despertar dos Mortos, de George A. Romero, de 78, foi lançado na Itália com o nome Zombi. Aí, pra pegar carona no nome conhecido, resolveram chamar esse de Zombi 2. Além disso, ele também é conhecido como Zombie ou como Zombie Flesh Eaters.

E por que esse filme merece estar lado a lado com os clássicos do Romero? (Pra quem não sabe, George A. Romero é “o cara” quando se fala nesse assunto, ele já fez 5 filmes no gênero, e todos eles merecem vagas nas listas de melhores filmes de zumbi!)

Zombi 2 trouxe algumas inovações ao estilo, e que hoje são obrigatórias em qualquer filme do gênero. Por exemplo: se até então, os zumbis eram sempre cadáveres inteiros, aqui vemos vários deles em diferentes estados de putrefação. Outra das invenções de Fulci foi mostrar um cadáver saindo de debaixo da terra.

Isso sem contar com uma ideia genial, mas pouco usada: aqui temos um zumbi sub-aquático! Claro, tem lógica, afinal, se o zumbi está morto, ele pode ficar no fundo do mar sem respirar…

O filme é graficamente muito violento, temos algumas cenas bem fortes. Muito bom pra quem gosta do gênero.

A produção às vezes se mostra um pouco pobre, e os atores não se destacam positivamente. Mesmo assim, filmão pra quem é ligado em zumbis!

O Bosque Maldito (Il bosco fuori)

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O Bosque Maldito (Il bosco fuori)

Um jovem casal é atacado numa estrada pouco movimentada por uma gangue. Uma família os salva, mas mal eles sabem que essa família é ainda pior que a gangue…

Com a produção do veterano Sergio Stivaletti (que trabalhou com Dario Argento, Lamberto Bava e outros), o jovem diretor Gabriele Albanesi nos traz um filme cheio de gore e humor negro, repleto de elementos que agradarão aos fãs dos filmes trash, como famílias de freaks sádicos e desmembramentos por serras elétricas. Isso, claro, aliado a muito, muito sangue cenográfico.

Despretensioso, pode render uma boa diversão!

O Fantasma da Ópera

O Fantasma da Ópera

Nem só de novidades vive o festival! Se a gente procurar bem, até acha tosqueiras em outras mostras ditas “sérias”… Tem uma mostra chamada “Divas Italianas”, e uma delas é a Asia Argento, estrelando um filme do pai, o mestre do terror Dario Argento, de dez anos atrás: O Fantasma da Ópera.

A história é fiel à original, até onde sei (são tantas as versões que é difiícil saber qual é a mais “certa”). Christine (Asia Argento) é uma jovem e talentosa cantora de ópera, mas fica ofuscada sob a sombra da diva Carlotta, gorda, feia e antipática. O teatro é assombrado por um fantasma misterioso (Julian Sands), que se apaixona por Christine e quer levá-la ao estrelato – custe o que custar.

O personagem do Fantasma é muito interessante, porque é o perfeito anti-herói: age por amor, mas não deixa de ser um grande vilão. A escolha de Julian Sands foi ótima, afinal nos anos 90 ele fez um monte de tipos mezzo sedutores mezzo psicopatas, como Encaixotando Helena, Warlock e Despedida em Las Vegas. Só senti falta da máscara. Pô, a máscara do Fantasma da Ópera é muito característica! Um Fantasma de cara limpa? Como assim?

Dario Argento muitas vezes é exagerado no visual dos seus filmes, e incompreendido por causa disso. Mas aqui ele acerta a mão: temos gore na dose certa, nada parece exagerado. Às vezes, até parece um filme “normal”…