Vice

Crítica – Vice

Sinopse (imdb): A história de Dick Cheney, um insider despretensioso e burocrático de Washington, que discretamente exercia imenso poder como vice-presidente de George W. Bush, remodelando o país e o mundo de maneira que ainda hoje sentimos.

Confesso que não estava na pilha de ver este Vice (idem, no original). Zero expectativa com um filme sobre o vice do Bush. Pra piorar, não gostei muito de The Big Short, o filme anterior do diretor Adam McKay. Mas, é filme de Oscar, então deixei os preconceitos de lado e fui ao cinema.

De cara, o que chama a atenção é a atuação do Christian Bale. Assim como Gary Oldman se transformou no Churchill ano passado, Christian Bale está irreconhecível como Dick Cheney. Outros também estão bem parecidos, como o George W.Bush de Sam Rockwell, mas Bale está bizarro. Ficou difícil para os outros atores no Oscar deste ano. Também no elenco, Amy Adams, Steve Carell, Alison Pill, Eddie Marsan, LisaGay Hamilton, Jesse Plemons e Tyler Perry

Vice tem outra característica marcante. A edição tem idas e vindas “não convencionais” – chegam a subir os créditos finais no meio do filme! O filme ainda tem algumas cenas propositalmente fora da realidade, numa espécie de realismo fantástico (tipo a cena do restaurante com o Alfred Molina). Gostei, mas tenho minhas dúvidas se isso agrada ao grande público.

O resultado final foi melhor do que heu esperava. Mesmo assim, discordo das oito indicações ao Oscar. Melhor ator, sem dúvida; podemos questionar as outras…

Bohemian Rhapsody

Crítica – Bohemian Rhapsody

Sinopse (imdb): Uma crônica dos anos que antecederam a lendária aparição de Queen no concerto Live Aid (1985).

Sempre reclamei aqui de leitores de HQs que se queixam do filme porque “está diferente do que eu lia”. Um filme é um filme, uma adaptação não precisa copiar fielmente a obra onde se originou. Se o roteirista / diretor usou outro caminho diferente do que está na sua cabeça (o tal “head canon”), é você quem está errado.

Pois bem, agora é a minha vez de fazer o “mimimi nerd baseado em head canon”. Sou fã de Queen desde a minha adolescência, nos anos 80. Ainda tenho toda a discografia em vinil, além de vários cds, dvds, livros, camisas, etc. Ou seja, sei em qual disco está cada música, e sei a ordem que esses discos foram lançados. Bagunçar a linha temporal da banda me incomodou – muito.

Entendo que o filme tenha mudado algumas datas. Queriam mostrar a turnê nos EUA antes da gravação de A Night at the Opera, em 1975, aí usaram a música Fat Bottomed Girls, do Jazz (de 78), mais animada do que Now I’m Here, que estaria na ordem “certa”. Ou então quando queriam mostrar a importância do Rock in Rio de 85 – milhares de pessoas cantando Love of My Life em uníssono é realmente algo marcante – e por isso deslocaram “o show do Rio” pro meio do filme – dando a entender que We Will Rock You (de 77) foi gravada inspirada por aquele momento.

É. Foi a minha vez de provar do mesmo veneno. O meu conhecimento prévio sobre a banda me atrapalhou… O que foi uma pena, porque Bohemian Rhapsody (idem, no original) é muito bom!

O filme teve problemas sérios na produção. Me lembro que Sacha Baron Cohen seria o Freddie Mercury, mas pelo que se diz, ele queria mostrar os lados bizarros da história do cantor (muitos exageros com sexo e drogas), e a produção quis mostrar uma versão mais “família”. Além disso, houve uma troca no comando. Bohemian Rhapsody foi dirigido por Bryan Singer, mas este foi demitido pela produção quando faltavam poucas semanas para terminar as filmagens, e chamaram Dexter Fletcher (que está fazendo o filme do Elton John que estreia ano que vem). Não sei ao certo o quanto cada um dos dois palpitou no resultado final…

A primeira pergunta que todos fazem é: Rami Malek (conhecido pela série Mr Robot) consegue fazer um bom Freddie Mercury? O pior problema de Malek é a semelhança física. Mercury é um rosto muito conhecido na cultura pop, e Malek não se parece com ele. Mas a interpretação dele está ótima! Malek copia todos os trejeitos e, sim, é possível “ver” o Freddie na tela. E vou além: o resto da banda também está excelente, com interpretações de Gwilym Lee (Brian May), Ben Hardy (Roger Taylor) e Joseph Mazzello (John Deacon). Ainda no elenco, Lucy Boynton, Aidan Gillen, Allen Leech, Tom Hollander e Mike Myers, irreconhecível debaixo de maquiagem pesada, mas com uma piada muito boa pra quem se lembra de Quanto Mais Idiota Melhor.

(Diferente do filme The Doors, que usou a voz do Val Kilmer nas músicas do Doors, Bohemian Rhapsody usa gravações originais da banda Queen.)

Toda a reconstituição está perfeita. Ensaios, gravações, reuniões com a gravadora, festas, entrevistas coletivas, e, principalmente, shows, muitos shows. O Live Aid, ponto alto do filme, está quase completo (vemos três músicas e meia!). E se na linha temporal o fã fica chateado, aqui o fã fica feliz: você vê que o filme respeita cada detalhe dos shows do Queen.

Na verdade, esse é o grande mérito de Bohemian Rhapsody. As músicas são muito boas, e estão muito bem representadas na tela. A costura da trilha sonora pode não respeitar a ordem cronológica, mas vai ser muito difícil o espectador não se emocionar e sair cantando junto. E prevejo sessões terminando com palmas, como se o público estivesse saindo de um show.

Claro, o filme podia ser diferente em vários aspectos. Podia ter se aprofundado mais nas extravagâncias do Freddie (parece até um filme Disney, não mostra nada que possa gerar polêmica). Podia ter mostrado casos importantes como a briga com o empresário antes do A Night at the Opera, que gerou a música Death On Two Legs. Podia ter avançado na época que o Freddie descobriu que estava com Aids e a banda parou de excursionar. Podia ter mostrado mais os outros integrantes. Ah, podia ter respeitado a linha temporal da banda – não se se falei aqui, isso me incomodou muito…

Faltou muito pouco para termos uma das melhores cinebiografias da história. Mas, com certeza, vai ficar para sempre na memória e nos corações de todos os fãs. Vou comprar meu blu-ray e guardar junto com os shows do Queen!

O Primeiro Homem

Crítica – O Primeiro Homem

Sinopse (imdb): Um olhar sobre a vida do astronauta Neil Armstrong e a lendária missão espacial que o levou a ser o primeiro homem a caminhar na Lua em 20 de julho de 1969.

Damien Chazelle, de Whiplash e La La Land, dirigindo a cinebiografia do Armstrong… Ei, péra, como assim não é o músico Louis Armstrong? O filme é sobre o astronauta Neil Armstrong?!?!

Poizé. Na minha humilde opinião, Chazelle escolheu o Armstrong “errado”. E fez um filme correto, mas sem graça.

Ok, admito que achei o filme bobo, mas reconheço que ele cumpre os objetivos. O Primeiro Homem (First Man, no original) é um “filme pra Oscar”. Produção grandiosa, contando a história real de um herói norte americano, com nomes badalados na produção e no elenco. É, visto por esse ângulo, Chazelle mandou bem. E deve conseguir algumas indicações ao prêmio da Academia em 2019.

A reconstituição de época é bem cuidada, e os efeitos especiais são discretos e eficientes. O pouso na lua – momento chave no filme (e na História) – é uma sequência belíssima, com toques de jazz na trilha sonora. O público geral vai curtir.

O problema é que tudo é muito linear e sem graça. Apolo XIII contava uma história semelhante mas era muito mais emocionante. Estrelas Além do Tempo se passa na mesma época e local, e tem personagens muito mais cativantes. E a longa duração (duas horas e vinte e um minutos) torna tudo cansativo.

No elenco, Chazelle repete a parceria com Ryan Gosling, que faz cara de paisagem o tempo todo (como sempre, aliás), mas funciona porque o papel pede – será que vem outra indicação ao Oscar? Claire Foy faz sua esposa, num papel provavelmente adaptado para os dias de hoje – sua Janet Armstrong é uma mulher forte e desafiadora, diferente do que era comum nos anos 60 – mas coerente com a onda de mulheres fortes do cinema atual. Também no elenco, Jason Clarke, Kyle Chandler, Ciarán Hinds, Ethan Embry, Corey Stoll, Shea Whigham, Patrick Fugit e Lukas Haas.

O Primeiro Homem vai agradar muita gente (principalmente nos EUA). Mas ainda acho que que Chazelle faria melhor se escolhesse o outro Armstrong…

p.s.: Aposto como vai ter gente dizendo que é um filme de ficção científica…

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Professor MarstonProfessor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Sinopse (imdb): A história do psicólogo William Moulton Marston e sua relação poliamorosa com sua esposa e sua amante, que inspirariam sua criação da super-heroína Mulher Maravilha.

Certas histórias pessoais são tão fascinantes que merecem ser contadas no cinema. William Moulton Marston foi o criador da Mulher Maravilha, inventor do detector de mentiras e vivia uma relação de bigamia com duas mulheres – isso nos anos 30 e 40!

A divulgação do filme escrito e dirigido por Angela Robinson vai querer pegar carona no sucesso de Mulher Maravilha. Mas o foco de Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (Professor Marston and the Wonder Women, no original) é a vida incomum de William Moulton Marston – seu relacionamento com Elizabeth e Olive (que gerou quatro filhos, dois com cada uma), seu envolvimento com sadomasoquismo e sua briga contra as regras impostas pela sociedade.

Claro que o trio da vida real era bem diferente dos atores Luke Evans, Rebecca Hall e Bella Heathcote (no fim do filme vemos fotos do trio) – mas a gente entende a opção da produção de escolher rostos mais vendável. Também no elenco, Connie Britton e Oliver Platt.

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas não é um grande filme, mas certamente vale o ingresso.

Eu, Tonya

Eu TonyaCrítica – Eu, Tonya

Sinopse (imdb): A patinadora de gelo competitivo Tonya Harding sobe nos rankings dos Campeonatos de patinação artística dos EUA, mas seu futuro na atividade é posto em risco quando seu ex-marido intervém.

Em determinado momento de Eu, Tonya (I, Tonya, no original), a personagem título Tonya Harding fala que ela era a segunda personalidade mais conhecida nos EUA, atrás apenas do Ronald Reagan. Bem, não sei se sou só heu, mas admito que sabia pouco sobre ela. Sei que Tonya Harding era uma patinadora, mas não sabia de quase nada da sua história. Que bom pra mim, não sabia “spoilers” sobre sua história!

Eu, Tonya é uma boa biografia, assim como Tonya Harding é uma boa biografada. Temos um personagem rico, uma atleta com talento acima da média, e completamente fora do padrão de comportamento. Gostei da história dela – apesar de não saber se o que aparece no filme é verdade ou não.

Dirigido pelo pouco conhecido Craig Gillespie (da refilmagem de A Hora do Espanto), Eu, Tonya tem uma narrativa pouco convencional. Não só vemos o elenco caracterizado como se fosse nos dias atuais, interpretando entrevistas “reais”, como várias vezes estamos acompanhando uma narração em off, até que a câmera alcança o personagem que está falando, e este se vira para a câmera, quebrando a quarta parede e terminando sua narrativa diretamente para o público. Gostei dessa ideia – não me lembro de ter visto isso antes.

Outra parte técnica digna de nota são as cenas de patinação. Não sei o quanto a Margot Robbie sabe patinar e o quanto foi usado de dublês. Só sei que as sequências ficaram perfeitas. E gostei de ter visto durante os créditos finais a Tonya Harding original, na mesma competição que vimos antes no filme.

Claro que o nome que mais chama a atenção no elenco é Margot Robbie, a Arlequina de Esquadrão Suicida (uma das poucas coisas boas daquele filme). Robbie está muito bem, tanto que ganhou uma indicação ao Oscar de melhor atriz. Mas, na minha humilde opinião, o grande destaque é Allison Janney, também indicada ao Oscar (atriz coadjuvante). Também no elenco, Sebastian Stan, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Bobby Cannavale Bobby Cannavale e Bojana Novakovic.

Por fim, preciso falar da trilha sonora. Sabe Guardiões da Galáxia, que pega boas músicas pop e insere dentro do contexto da história que está sendo contada? Eu, Tonya segue o mesmo conceito. Não só as músicas são boas, como ainda ajudam a contar a história.

Além dos Oscars de atriz e atriz coadjuvante, Eu, Tonya está concorrendo a melhor edição. Tô na torcida pela Allison.

Legalize Já

Legalize-JáCrítica – Legalize Já

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Como o encontro entre dois jovens que vendiam camisetas e fitas cassete no centro do Rio de Janeiro para se sustentar pôde dar origem a uma das bandas mais populares do Brasil na década de 1990? O filme narra esse momento transformador na vida de Marcelo – futuramente, conhecido como Marcelo D2 – e Skunk, que culminou na formação do Planet Hemp. Reprimidos por uma sociedade preconceituosa, os dois fizeram da música um grito de alerta e de resistência, conquistando corações e mentes de toda uma geração.​

Uma cinebiografia de uma banda nacional dos anos 90 – gostei da ideia!

Confesso que tinha um pé atrás com a proposta do filme (principalmente pelo nome “Legalize já”). Gosto do som do Planet Hemp, sou amigo de alguns dos integrantes da banda. Mas não sou fã de maconha – nada contra, mas é algo que nunca “fez a minha cabeça”. A boa notícia (pelo menos pra mim) é que Legalize Já foca muito mais na relação entre D2 e Skunk do que na maconha.

Nem todos sabem, mas um dos fundadores do Planet Hemp faleceu antes da banda gravar seu primeiro disco e fazer sucesso. O filme foca neste momento, o início da amizade e a formação da banda, que, segundo a proposta de Skunk, falaria mais de problemas sociais do que de maconha – mas isso é ironizado pelo próprio filme, num diálogo onde alguém comenta “mas as músicas só falam de maconha”. É, a crítica social está lá, mas o que vendeu a banda foi a maconha…

Legalize Já foi dirigido pela dupla Johnny Araújo e Gustavo Donafé, que já tinham feito juntos O Magnata, com roteiro do Chorão (Charlie Brown Jr); e que estão em cartaz com Chocante. A fotografia quase preto e branca, assinada por Pedro Cardillo, traz um visual interessante à história.

No elenco, destaque para Ícaro Silva, que antes já interpretou os cantores Jair Rodrigues e Wilson Simonal no teatro, e que aqui faz um, bom trabalho como o Skunk. Marcelo D2 foi interpretado por Renato Góes, enquanto Stepan Nercessian faz um papel menor como seu pai. Uma boa notícia: na minha humilde opinião, uma das falhas do cinema nacional é o descuido com relação ao sotaque dos atores. Ícaro é paulista; Renato, pernambucano. E ambos passam por cariocas. Finalmente alguém se preocupa com sotaques!

Que venham mais cinebiografias musicais brasileiras!

Steve Jobs

steve jobsCrítica – Steve Jobs

Um retrato do inventor e empresário co-fundador da Apple. A história se desenrola nos bastidores de três lançamentos de produtos icônicos.

Com roteiro de Aaron Sorkin (A Rede Social), a narrativa de Steve Jobs (idem, no original) é interessante. Em vez de uma cinebiografia clássica, onde acompanhamos a vida do biografado, o filme se divide em três momentos: os bastidores dos momentos antes dos lançamentos do Macintosh, em 84, do NeXT, em 88 e do iMac, em 98.

O elenco é muito bom – Kate Winslet acabou de ganhar o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante e ser indicada ao Oscar; Michael Fassbender também concorre à estatueta pelo filme. Também no elenco, Seth Rogen, Jeff Daniels, Michael Stuhlbarg e Katherine Waterston.

Steve Jobs tem alguns problemas. Michael Fassbender é um grande ator, é sempre um prazer vê-lo atuando, mas… Quando vi o filme, não vi o personagem Jobs na tela, só vi o ator Fassbender. Ok, o cara é bom, mas talvez fosse melhor ter um ator menos famoso, pra gente entrar mais facilmente no personagem.

Outro problema é que, como a narrativa só mostra três momentos distintos da carreira de Jobs, algumas coisas ficam sem explicação para quem nunca acompanhou o desenvolvimento da Apple – saí do cinema e fui catar no google mais informações sobre Apple II e NeXT…

Além disso, são muitos diálogos. Cansa ficar duas horas vendo um cara arrogante brigar com um monte de gente. Pelo menos o estilo pop de Danny Boyle ajuda no ritmo, com cortes rápidos, música alta e até projeções nas paredes do cenário.

Mas, no geral, acho que Boyle ainda nos deve algo mais semelhante ao seu início de carreira…

Love & Mercy

love&mercyCrítica – Love & Mercy

Biografia do Brian Wilson!

Na década de 60, o líder dos Beach Boys, Brian Wilson, luta com uma psicose emergente enquanto ele tenta criar sua obra-prima pop. Na década de 1980 , ele é um homem confuso sob a vigilância de 24 horas de um terapeuta de métodos duvidosos.

Quando me perguntam se prefiro Beatles ou Rolling Stones, minha resposta sempre é “Beach Boys”. Claro que quero ver um filme sobre o líder da banda!

Dirigido por Bill Pohlad, Love & Mercy traz duas narrativas paralelas, com dois atores distintos, cada um interpretando o músico em uma diferente fase da vida. Paul Dano interpreta Brian Wilson nos anos 60, na época da gravação do disco Pet Sounds, enquanto John Cusack fica com os anos 80, quando Wilson estava sob os cuidados polêmicos de Eugene Landy.

Isso traz um problema básico:  John Cusack é um grande ator, mas não é nada parecido com o músico. Quando Paul Dano está na tela, vemos Brian Wilson; quando Cusack aparece, vemos Cusack.

Além da semelhança física, Dano ainda deu a sorte de interpretar Wilson durante sua fase criativa. Como fã de Beach Boys, preciso dizer que gostei muito mais da parte do Paul Dano, afinal, ver bastidores de composições, arranjos e gravações de músicas como God Only Knows ou Good Vibrations é muito mais legal do que problemas de relacionamento entre Brian Wilson e seu terapeuta.

O que compensa é que na outra parte temos Paul Giamatti e Elizabeth Banks contracenando com Cusack. Um excelente trio de atores, com uma boa química entre eles.

Love & Mercy passou no Festival do Rio, mas acredito que deve entrar no circuito. Tem potencial para isso!

Livre

0-LivreCrítica – Livre

Um pouco atrasado, mas vamos de mais uma cinebiografia visando o Oscar.

Depois de uma tragédia pessoal, Cheryl Strayed decide encarar uma trilha de 1100 milhas pela costa do oceano Pacífico, numa jornada de auto-conhecimento.

A premissa lembra Na Natureza Selvagem – personagem de mochila nas costas sai sozinho por belas paisagens em jornada de auto-conhecimento. Mas na verdade os filmes são bem diferentes. Neste filme, dirigido por Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas), a protagonista tem um objetivo bem diferente na sua jornada.

O visual é bonito, a edição é empolgante, mas Livre (Wild, no original) tem um problema básico: parece um livro de auto-ajuda. E a trilha sonora cheia de clichês só reforça isso. O chato é quando a gente lê os créditos e vê que o roteiro foi escrito por Nick Hornby, o mesmo que escreveu o excelente Alta Fidelidade!

Tem outra coisa que me incomodou, mas não é do filme, e sim da história. Cheryl teve um problema pessoal e por isso se meteu com drogas e sexo promíscuo. Sua jornada acontece em função disso. Ora, conheço muita gente que passou por problemas muito piores e não precisou de “jornadas de auto-conhecimento”…

De positivo, podemos dizer que esta é uma das melhores atuações da carreira de Reese Witherspoon – ela foi indicada ao Oscar pelo papel. Laura Dern, também indicada ao Oscar, também está bem. E admito que algumas paisagens são realmente bonitas.

Mas no geral, fica devendo.

Sniper Americano

sniperamericanoCrítica – Sniper Americano

Mais uma “cinebiografia de Oscar”…

Durante a guerra do Iraque, o fuzileiro americano Chris Kyle salva inúmeras vidas nos campos de batalha devido à sua pontaria apurada, e acaba virando uma lenda por causa disso. De volta para casa, para sua esposa e seus filhos, ele descobre que não consegue deixar a guerra para trás. Baseado no livro escrito pelo próprio Chris Kyle.

Dirigido por Clint Eastwood, Sniper Americano (American Sniper, no original) tem um problema sério: é muita propaganda militar norte-americana – mais uma vez aquele papo maniqueísta de “matar um soldado americano é um crime horroroso, mas matar um iraquiano é legal”. Como já falei antes, não tenho nada contra os EUA, pelo contrário, sou um admirador do cinema e da música norte-americana. Mas não gosto dessa propaganda militar maniqueísta.

(Pra falar a verdade, me lembrei de Bastardos Inglórios, onde fazem um filme para glorificar um sniper alemão. Sniper Americano me pareceu EXATAMENTE a mesma coisa, só mudou o país e a guerra.)

E aqui tem um agravante: usaram a guerra errada. O cara vira um herói no Iraque, onde os EUA invadiram atrás de “armas de destruição em massa”, mas que até agora não encontraram nada. Assim, fica difícil ter simpatia por Chris Kyle, afinal, a gente sabe que ele era uma marionete do governo norte-americano, numa guerra baseada numa mentira…

Por outro lado, quem for analisar só a parte técnica pode curtir. Sniper Americano é um filme muito bem feito, com boas cenas de batalha e tensão nas doses certas. Tá, algumas cenas são desnecessariamente piegas (tipo, precisa de um cara sem perna pra dizer pro moleque que o pai dele é um herói?), mas acho que esse era o objetivo.

Peço desculpas aos fãs do diretor Eastwood e do ator Bradley Cooper (que está bem, admito). Mas, pra mim, não desceu.