A Noite que Mudou o Pop

Crítica – A Noite que Mudou o Pop

Sinopse (Google): Em uma noite de janeiro de 1985, as maiores estrelas da música se reuniram para gravar “We Are the World”. O documentário se aprofunda nos bastidores do evento para descobrir como tantos artistas se juntaram para fazer algo histórico.

Um documentário sobre a histórica gravação de We Are the World!

Uma contextualização pra quem não era nascido na época. No fim de 1984, um grupo de músicos ingleses se reuniu para uma gravação beneficente. A banda se chamava “Band Aid” e tinha gente como Bono, Sting, George Michael, Simon LeBon, Boy George e Phil Collins, entre outros, e a música falava do Natal: “Do They Know it’s Christmas”. Inspirados por essa gravação, um grupo de músicos americanos resolveu fazer exatamente igual (inclusive convidaram Bob Geldof, idealizador do projeto inglês, para participar da gravação), e criaram o USA For Africa, para arrecadar fundos contra a fome na África. Heu particularmente gostava mais da música inglesa (heu tinha o compacto!), mas sempre tive a impressão de que a versão americana tinha mais sucesso.

(Chegou a ter uma versão brasileira, “Chega de Mágoa”, contra a seca no Nordeste, que reuniu gente como Rita Lee, Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Simone, Roger, Paula Toller e vários outros.)

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, no original) é um documentário que conta a história dessa gravação, contando com ricas imagens de arquivo e alguns depoimentos atuais de pessoas envolvidas.

(Só achei o nome nacional errado, se existiu uma “noite que mudou o pop”, deveria ser a versão inglesa, que veio antes…)

Já tinha visto esse videoclipe centenas de vezes, mas nunca tinha parado pra pensar como deve ter sido difícil pra juntar toda essa galera num estúdio, por causa de questões de ego e de agenda. O filme aborda isso, eles falam, por exemplo, que era pra ter o Van Halen, mas estavam em turnê; o filme também cita que Quincy Jones colocou um aviso na entrada do estúdio dizendo “deixem seus egos fora” – era muita gente, então os artistas tinham que entrar sozinhos, deixando assessores e auxiliares de fora.

A música foi composta por Michael Jackson e Lionel Ritchie. Era pra ter colaboração do Stevie Wonder, mas ele não respondeu as mensagens a tempo, quando respondeu a música já estava pronta. E eles aproveitaram a noite da premiação American Music Awards, que aconteceria em Los Angeles e contaria com boa parte dos músicos participantes do projeto. Pensa só: chegaram no estúdio 10 horas da noite, para só então começarem a gravação!

Uma coisa curiosa é a gente se situar na época. Era janeiro de 1985 – mesmo mês do primeiro Rock in Rio! Al Jarreau participou de ambos, mas acho que foi o único.

O documentário traz algumas histórias muito boas. Prince era pra ter participado, mas rolava uma briga de egos entre ele e o Michael Jackson. Sheila E, então namorada do Prince, foi usada pra tentar convencer o Prince a vir. Quando ela se tocou que era esse o motivo do convite, saiu fora.

Um dos momentos mais engraçados é quando vemos Bob Dylan perdido no meio da galera. Todos o reverenciavam como um nome importante na música, mas ele estava muito deslocado. Também foi divertido ver Diana Ross tietando Daryl Hall e começando uma onda de caça a autógrafos.

Stevie Wonder, um dos músicos mais completos presentes no estúdio, tem cara de ser muito boa praça, e também protagoniza alguns momentos bem divertidos. Ele é um dos primeiros a gravar o solo, e erra de propósito só pra quebrar o gelo para os menos experientes.

Vemos depoimentos atuais de gente como Lionel Ritchie, Bruce Springsteen, Huey Lewis, Cyndi Lauper, misturados com imagens da gravação naquela longa noite. Uma bela história que felizmente foi muito bem documentada.

A Noite que Mudou o Pop não é perfeito, senti falta de mostrar um pouco mais de alguns dos protagonistas, como Billy Joel e Tina Turner. Mesmo assim, achei muito bom.

Agora, A Noite que Mudou o Pop reforçou o que normalmente penso sobre documentários: um documentário só é bom se você se interessa pelo assunto abordado. Heu curti muito porque vivi aquela época, e me lembro das carreiras de cada um que aparece. Além disso, ver Kenny Loggins, Steve Perry, Daryl Hall e Huey Lewis juntos me lembra a minha banda Elemento Surpresa, a gente tocava Footloose, Don’t Stop Believin, Kiss on My List e Power of Love. Agora, será que alguém dá geração dos meus filhos vai curtir?

Deu vontade de ver um documentário parecido sobre a versão inglesa. Será que existe material de arquivo suficiente?

Quem Fizer Ganha

Crítica – Quem Fizer Ganha

Sinopse (imdb): Com a chegada da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, um técnico precisa de muita dedicação, sorte e empenho de seus atletas para tentar classificar o time de futebol da Samoa Americana, considerada a pior seleção do mundo.

Quem Fizer Ganha (Next Goal Wins, no original) estava na minha lista de expectativas de 2022, por ser o novo filme do Taika Waititi. O filme teve problemas na pós produção e demorou a ser lançado, e ainda por cima foi mal lançado. Um amigo disse que é ruim. Claro que minha expectativa mudou e agora estava lá embaixo.

Mas, não é que curti? Está longe de um Jojo Rabbit (que deu o Oscar de roteiro para Waititi), mas é um filme leve e divertido sobre superação através do esporte.

Um dos problemas da produção foi o personagem Alex Magnussen, que originalmente era interpretado por Armie Hammer. Hammer se envolveu em polêmicas pesadas ligadas a abuso e até canibalismo, então a produção achou melhor trocar o ator por Will Arnett, ou seja, todas as cenas que envolvem o personagem tiveram que ser refilmadas. Não sei o quanto isso atrasou a estreia, mas acho que eles deram mole em não ter lançado perto da Copa do Mundo.

A história contada em Quem Fizer Ganha é muito boa. O time da Samoa Americana entrou na história por ter levado a maior goleada da história das eliminatórias: perdeu de 31 a zero para a Austrália em 2001. E o sonho dos caras não era ganhar um campeonato, mas simplesmente marcar um único gol. Por outro lado, o técnico Thomas Rongen também passava por problemas pessoais e profissionais, quando resolveu assumir o time samoano.

Tem mais: este time tinha uma jogadora trans, Jaiyah, que como estava no meio da transição, ainda podia jogar entre os homens (isso é explicado em um diálogo, em breve ela não poderia mais fazer parte do time). Jaiyah foi a primeira atleta trans a competir em uma eliminatória de Copa do Mundo, e hoje é embaixadora da Fifa pela igualdade.

Uma história dessas merece um filme. Agora, precisamos reconhecer que Quem Fizer Ganha é previsível e usa todos os clichês de “filmes de superação no esporte”.

Todos os filmes do Taika Waititi têm um pé forte na comédia, então claro que Quem Fizer Ganha tem várias cenas engraçadas. O contraste do treinador estrangeiro com toda a calma do povo samoano gera algumas piadas muito boas. Pena que algumas não funcionam, tipo o padre interpretado pelo próprio Taika. Ele como Korg (Thor) ou como Hitler (Jojo Rabbit) funciona melhor.

Por outro lado, Michael Fassbender mais uma vez mostra que é um dos grandes atores em atividade. O seu personagem Thomas Rongen tem camadas, é um cara rabugento e mal humorado, e que aos poucos a gente conhece melhor alguns de seus problemas. Grande ator, grande personagem.

(Para mim, o que enfraqueceu Quem Fizer Ganha não teve nada a ver com o filme. Mas, é difícil a gente não se lembrar de Ted Lasso, onde um técnico “diferente” foi contratado pra treinar um time de futebol. E se Thomas Rongen é um bom personagem, Ted Lasso é ainda melhor.)

No fim do filme, vemos cenas do time real e do treinador real. E tem uma piadinha bem boba no pós créditos.

Quem Fizer Ganha não é um grande filme, mas é um filme divertido e gostoso de acompanhar.

Zona de Interesse

Critica – Zona de Interesse

Sinopse (imdb): O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig, se esforçam para construir a vida dos sonhos para sua família em uma casa com jardim ao lado do campo.

Imagine uma família: pai, mãe, quatro filhos crianças e mais um bebê. Moram numa bela casa, com um jardim grande, piscina, espaço pra horta e até um gazebo. Família com dinheiro, vários empregados em casa. Família feliz, numa casa feliz! Agora, esse pai de família é um oficial nazista, no meio da segunda guerra mundial. E, ao lado da casa, logo depois do muro, está o campo de concentração de Auschwitz.

Sim, esse é Zona de Interesse, novo filme de Jonathan Glazer, e que está indicado a 5 Oscars.

O filme não mostra nada de dentro do campo de concentração. Ficamos só no dia a dia da família, que tem uma vida normal, ouvindo gritos e tiros que vêm do outro lado do muro, 24 horas por dia.

Ouvi um comentário de um amigo crítico, não me lembro quem foi, que falou algo como “a banalização da crueldade”. Zona de Interesse é isso. O oficial recebe uma promoção e vai ser transferido, mas sua esposa se revolta, porque mora na casa perfeita e não quer sair de lá. Enquanto a mãe planta novas mudas para tentar tapar o muro, filho mais velho brinca com dentes de ouro. Enquanto isso, gritos e lamentos são ouvidos o tempo todo.

O som aqui é algo muito importante. Porque a gente não vê nada, só ouve. Vemos uma rotina perfeitamente normal – enquanto do outro lado do muro estão morrendo milhares de pessoas.

Agora, preciso dizer que tem uma característica do diretor que heu não gosto. Lembro de Sob a Pele, filme dele de uns dez anos atrás, onde acontece o mesmo que vemos aqui: cenas longas e chatas, com a câmera parada, apenas captando o ambiente. Um exemplo: perto do fim do filme vemos uma personagem varrendo uma sala. Não contei, mas deve ser perto de um minuto de câmera parada com alguém varrendo o chão. E são várias cenas assim, onde nada importante acontece. É um filme com temática pesada e importante, mas ao mesmo tempo é um filme chato. Talvez se tivesse uma trama sendo contada ao fundo, o filme fluísse melhor – mas, não, é basicamente o dia a dia banal da família.

O filme tem umas cenas em negativo, com trilha sonora esquisita, tudo pra parecer diferentão. Sei lá, na minha humilde opinião, não combinou com o resto do filme. Parece que o diretor apenas queria chamar a atenção.

No elenco, olha lá, Sandra Huller, de Anatomia de uma Queda, tem um dos papéis principais! Mas, aqui ela está apenas ok, o elenco não se destaca em Zona de Interesse.

Zona de Interesse está concorrendo a 5 Oscars – Filme, Filme Internacional, Direção (Jonathan Glazer), Roteiro Adaptado e Som. Como concorre a melhor Filme e também melhor Filme Internacional, a Academia já deu a dica de que é o grande favorito para filme internacional. Sobre os outros, não sei se tem chances.

Baghead: A Bruxa dos Mortos

Crítica – Baghead: A Bruxa dos Mortos

Sinopse (imdb): Após o falecimento do pai, Iris herda um antigo bar que abriga uma entidade capaz de incorporar os mortos. Tentada a explorar os poderes da criatura e ajudar pessoas desesperadas em troca de dinheiro, Iris mergulha em um terreno perigoso.

Assim como aconteceu com o recente Mergulho Noturno, este Baghead: A Bruxa dos Mortos (Baghead, no original) também era um curta, e o diretor do curta, Alberto Corredor, ganhou a chance de transformá-lo em longa metragem. Até procurei o curta original no youtube, mas não encontrei…

Enfim, Baghead: A Bruxa dos Mortos não é tão ruim quanto Mergulho Noturno, mas infelizmente está longe de ser um bom filme. A ideia era boa, mas o desenvolvimento é ruim, e o filme tem uma das decisões burras mais burras dos últimos tempos.

Sei que boa parte do cinema de terror se baseia em decisões burras dos personagens. Mas a tal decisão burra daqui é difícil de aceitar. A menina não tinha contato com o pai, descobre que ele tem um pub caindo aos pedaços. Aí aparece um cara que quer pagar pra visitar o porão, e fala “dinheiro não é problema”. E ela diz que precisa do dinheiro pra recomeçar a vida. Por que ela não vendeu o pub pro cara? Win win, todos iam sair ganhando!!!

Apesar de ser algo óbvio, essa ideia não surge entre os personagens. Então o filme segue com a dinâmica de sempre. E aí rolou outro problema para mim: a protagonista vê que existe algo sobrenatural e aceita tudo muito rápido. Qualquer pessoa normal se faria um monte de questionamentos ao se deparar com algo sobrenatural “real” daquele jeito, mas para ela parecia apenas mais um dia qualquer.

Ou seja, decisões burras dos personagens, somado a uma protagonista que parece artificial…

Some-se a isso uma entidade / monstro que tinha potencial – é uma bruxa que sai de um buraco na parede para se transformar em um ente próximo falecido! – mas que tem um visual mal construído e não assusta (Em uma única cena, rápida, ela anda no teto. Não que seja novidade, já vimos isso em outros filmes, mas seria algo diferente. Mas não desenvolveram esse “sentido aranha”.)

Ainda rolam algumas tentativas de jump scares baratos. Mas, se tem uma coisa que posso elogiar é o clima da casa / pub. É pouco, mas pelo menos o “espectador de multiplex do fim de semana” pode ter uma hora e meia de distração.

Pena que é pouco. Essa premissa merecia um filme melhor.

Freelance

Crítica – Freelance

Sinopse (imdb): Um ex-agente das forças especiais trabalha fornecendo segurança para uma jornalista que vai entrevistar um ditador. No meio da entrevista, ocorre um golpe militar e eles são forçados a fugir para a selva, onde precisam sobreviver.

Alguns filmes se propõem a ser grandes filmes que vão mudar paradigmas do cinema. Outros apenas querem proporcionar uma leve diversão. Este é o caso de Freelance, novo filme de ação de Pierre Morel, diretor francês que chamou a atenção 20 anos atrás com B13 – 13º Distrito (com roteiro e produção de Luc Besson), e que quatro anos depois dirigiria o filme que mais marcou a carreira do Liam Neeson (Busca Implacável).

Se Busca Implacável foi um grande filme, este Freelance parece uma nova versão de Cidade Perdida, de 2022. Se Cidade Perdida era uma mistura de comédia com ação que se baseava no carisma de seus protagonistas Sandra Bullock e Channing Tatum, Freelance faz o mesmo, só que com John Cena e Alison Brie.

A história é clichê e previsível: uma jornalista vai para um país fictício entrevistar o ditador, e contrata um segurança particular. Quando chegam lá, acontece um golpe de estado, tentam matar o presidente ditador, e o trio “se mete em muitas confusões!”

O que vale no filme é o carisma do elenco. É sempre agradável ver John Cena em cena, se ele aparece pouco em Argylle, pelo menos aqui ele está durante o filme inteiro. A personagem de Alison Brie não é muito consistente, às vezes ela parece querer uma coisa, logo depois parece querer outra, mas a atriz também tem carisma. E gostei de Juan Pablo Raba e seu ditador divertido e irônico. Também no elenco, Christian Slater, Alice Eve e Marton Csokas (como o vilão caricato – por que sempre tem que ter um vilão caricato?).

Agora, todo o filme é genérico. Cenas de perseguição genéricas, tiroteios genéricos… Sim, a gente já viu esse filme antes. Mas serve para os fãs do John Cena e da Alison Brie.

Argylle – O Superespião

Critica – Argylle – O Superespião

Sinopse (imdb): Quando as tramas dos livros de uma reclusa autora de romances de espionagem sobre o agente secreto Argylle começam a espelhar as ações de uma verídica organização de espionagem, as linhas entre o fictício e o real começam a se entrelaçar.

Filme novo do Matthew Vaughn!

Sempre curti a carreira de Matthew Vaughn, desde X-Men Primeira Classe e Kick-Ass. Mas, seu último filme, King’s Man A Origem, foi bem fraco. O trailer deste Argylle – O Superespião (Argylle, no original) prometia algo mais próximo do primeiro Kingsman, o que me fez colocar Argylle na minha lista de expectativas para 2024.

Então, valeu o lugar na lista? Ou foi uma grande decepção como Turma da Mônica Jovem Reflexos do Medo?

Olha, pode não ser tão bom quando Kingsman, mas, me diverti muito. O filme é engraçado, tem cenas de ação muito bem filmadas, tecnicamente enche os olhos e tem um elenco sensacional. Saí da sessão feliz, isso pra mim conta muito.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Tem uma luta num trem onde a protagonista está vendo o agente “real” lutando ao mesmo tempo que imagina o personagem dela. Ou seja, uma coreografia de luta onde troca o ator que está lutando. Deve ter dado um trabalho enorme pra coreografar, filmar e editar isso!

Ouvi uma crítica negativa comparando com Missão Impossível, porque lá tudo é mais “real”. Mas aqui nunca teve uma proposta de algo real! Tem uma cena com uma luta em cima de uma enorme poça de petróleo que é completamente galhofa! E tem uma cena usando fumaça colorida que, além de galhofa, é linda! E achei genial a solução dada para o “tiro no coração”. Sim, é absurdo; e sim, é por ser absurdo que curti!

Agora, o filme tem uma quebra no meio e a segunda metade dá umas escorregadas. Existe um plot twist onde muda todo o ponto de vista sobre os personagens, e a partir daí o filme tem uma queda. Não chega a ficar ruim, mas a primeira metade é melhor.

Adorei a trilha sonora! Desde a cena inicial com Barry White, até a nova música Electric Energy, de Ariana DeBose, Boy George, Nile Rodgers – que tem muita cara de música feita nos anos 70! Ok, entendo que a trilha me pegou pelo lado nostálgico, mas, todas as músicas se encaixam perfeitamente!

O elenco é muito bom. Um amigo crítico estava vendo ao meu lado e criticou a escolha dos dois protagonistas, Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell, porque eles não têm o perfil para “blockbuster de ação”. Verdade, eles não têm esse perfil. Na página do imdb, os primeiros nomes são Sofia Boutella e Henry Cavill, dois nomes que teriam mais a ver. Mas, curiosamente, o mesmo motivo que fez o meu amigo criticar é o motivo que me faz defender: gostei de ter dois nomes “diferentões” como protagonistas. Henry Cavill aparece bem menos, e Sofia Boutella só aparece em uma única cena, e não é uma cena de ação! Ainda no elenco, Bryan Cranston, John Cena, Samuel L Jackson, Dua Lipa, Catherine O’Hara e Ariana DeBose.

O final traz uma solução “deus ex machina” que achei completamente desnecessária e que diminuiu um pouco o valor do filme na minha humilde opinião. E tem uma cena pós créditos que aparentemente é um teaser de uma nova franquia.

Bad CGI Gator

Crítica – Bad CGI Gator

Sinopse (imdb): Seis universitários alugam uma cabana nos pântanos da Geórgia durante as férias de primavera. Lá, eles decidem jogar seus laptops escolares em um lago no quintal, em um ato de rebeldia juvenil.

Não tem muito o que se falar sobre um filme chamado “Jacaré de CGI ruim”. Mas, vamulá.

Em primeiro lugar, CLARO que o CGI é ruim. Está no nome do filme! Se não tivesse um CGI ruim seria o mesmo que você ver um filme do Homem aranha sem o Homem Aranha, ou o filme da Barbie sem a Barbie! O CGI aqui é propositalmente ruim. Reclamar disso é incoerência.

Seis jovens universitários vão passar um fim de semana em uma casa isolada à beira de um lago. Resolvem jogar os laptops no lago, e a eletricidade faz um jacaré crescer – e voar. Sim, o jacaré flutua no ar. Qual é a lógica? Não tem. Mas também não tem lógica um jacaré crescer porque levou um choque.

Já comentei em outras ocasiões que tenho uma memória bizarra quando o assunto é cinema. Nos créditos iniciais li o nome do produtor Charles Band, lembro dele nos anos 80, quando fazia filmes B, ele dirigiu Trancers O Policial do Futuro e produziu A Visão do Terror, que era um dos meus trash favoritos nos tempos do VHS. Não via nada do Charles Band há anos, fui checar no imdb, o cara continua em atividade, e já soma 424 títulos como produtor!

Bad CGI Gator tem personagens clichês e unidimensionais: dois casais dentro do clichê fútil e descerebrado, um loser e uma descolada. Não sei se os seis atores são ruins, ou se não conseguem desenvolver nada porque são péssimos personagens. Todas as atuações são caricatas. Ah, rola uma breve nudez gratuita que tem tudo a ver com a proposta.

Se o filme é bom? Claro que não! Mas, tem uma coisa muito boa: uma duração de apenas 58 minutos. Como é uma piada curta, não precisa esticar. Conta a piada e acaba logo o filme.

Depois que acabou o filme, descobri que existe um “Bad CGI Sharks”, de 2019; e que existe um “Big Bad CGI Monsters” a ser lançado. Mas, depois deste Bad CGI Gator, acho que não preciso ver outro do mesmo estilo.

Os Rejeitados

Crítica – Os Rejeitados

Sinopse (imdb): Um professor mal-humorado é forçado a permanecer no campus para cuidar do grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal. Ele acaba criando um vínculo improvável com um deles e com a cozinheira-chefe da escola.

Bora continuar com análises dos filmes indicados ao Oscar?

Preciso admitir que acho difícil falar de um filme como Os Rejeitados (The Holdovers, no original). Não é um filme ruim, longe disso, mas, sabe quando acaba um filme e você sente que ele não falou diretamente para você? É o caso aqui. Alguns filmes, saio da sessão já pensando no que vou escrever, quais temas vou abordar, quais cenas, enquadramentos, movimentos de câmera, personagens, trilha sonora, vários detalhes me marcam e quero dividir esses detalhes aqui no heuvi. Mas, em Os Rejeitados, acabou o filme e não tinha nada pra comentar.

Mas, vamulá, se a proposta é comentar todos os filmes do Oscar, vamos aos comentários.

O grande lance de Os Rejeitados é que a produção conseguiu fazer um filme com “cara de anos 70”. Não é só a história que se passa nos anos 70, mas tudo foi filmado tendo em mente grandes filmes da época – o diretor Alexander Payne disse que fez exibições para a equipe de filmes como A Primeira Noite de um Homem (1967), Amor Sem Barreiras (1970), Ensina-me a Viver (1971), A Última Missão (1973), Klute, O Passado Condena (1971) e Lua de Papel (1973). Mais: Os Rejeitados não foi filmado em película, foi filmado digitalmente, mas, na pós produção foram inseridos ruídos na imagem e no som, para “envelhecer” o filme.

Inicialmente achei que a gente veria uma espécie de versão anos 70 de Clube dos Cinco, porque temos uma escola vazia com um professor e cinco alunos. Mas logo acontece um evento que tira quatro alunos da escola, então passamos o filme em cima de três personagens: um aluno, o professor e uma cozinheira. E aí temos um grande trunfo do filme: um elenco inspiradíssimo.

Paul Giamatti está excelente com o seu professor com problemas de sociabilidade – tanto que ganhou o Globo de Ouro e está indicado ao Oscar pelo papel. E o jovem Dominic Sessa também está fantástico, e rola uma boa química entre os dois – nem parece que Sessa está em seu primeiro filme!. Completa o time Da’Vine Joy Randolph como a cozinheira de luto porque seu filho morreu na guerra. Da’Vine também está bem, também ganhou Globo de Ouro e está indicada ao Oscar, mas, na minha humilde opinião, os outros dois chamam mais a atenção.

(Se tenho uma única crítica a Dominic Sessa é que acho que ele parece um pouco velho para o personagem, Sessa tem 21 anos e seu personagem ainda está na escola.)

Ah, Paul Giamatti tem um “lazy eye”, um dos olhos enxerga numa direção diferente do outro. Pesquisei pra saber como ele fez isso, mas só encontrei matérias falando coisas como “não diremos como o olho foi feito”.

Li alguns comentários dizendo que era um filme “muito engraçado”. Discordo. Sim, até podemos classificar como comédia, mas é mais no sentido de deixar um sorriso no rosto do que dar uma gargalhada. Acho que está mais para “dramédia”.

Agora, voltando ao que comentei no início: Os Rejeitados é ruim? Longe disso. Mas… Infelizmente, não achei nada essencial. Um bom filme, mas, na minha humilde opinião, dispensável.

Os Rejeitados está concorrendo a cinco Oscars: Filme, Ator (Paul Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da’Vine Joy Randolph), Roteiro Original e Edição. Se for perguntar a minha opinião, o único que tem chances é o Paul Giamatti. Aguardemos.

Anatomia de uma Queda

Crítica – Anatomia de uma Queda

Sinopse (imdb): Uma mulher é suspeita de ter assassinado o marido, e o seu filho cego enfrenta um dilema moral como única testemunha.

Bora pro filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Globo de Ouro de melhor roteiro?

Escrito e dirigido por Justine Triet, Anatomia de uma Queda (Anatomie d’une chute, no original) parece um “filme de tribunal”. Mas só de longe, porque foge de vários clichês dos filmes de tribunal que a gente está acostumado.

Logo de cara, acontece uma morte, e não sabemos se o sujeito se matou ou se foi assassinado. A partir daí temos uma investigação, e depois um longo julgamento.

E por que falei que esse não é um filme de tribunal igual aos outros? Porque o foco do filme não é esclarecer o mistério de quem matou, e sim em aprofundar várias camadas dessa área cinza. O filme foca na personagem principal, em vários aspectos de sua personalidade e de sua vida pessoal e profissional.

E aí vemos talvez o maior trunfo de Anatomia de uma Queda: sua protagonista Sandra Hüller, em uma interpretação sensacional, onde vemos e sentimos toda a sua dor e suas dúvidas, problemas conjugais, problemas com um filho que perdeu parte da visão, além da grande questão do filme – será que ela matou seu marido? Sim, teremos um “duelo de gigantes” no Oscar entre Sandra, Emma Stone (Pobres Criaturas) e Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores).

Tem uma coisa curiosa: ao longo do julgamento somos apresentados a várias outras características da personagem que pouco importam para o ponto chave (se ela matou ou não), coisas como ela ter tido um caso com outra mulher, ou a dúvida sobre qual idioma a ser usado pela família (ela é alemã e o marido é francês, então decidiram usar o inglês). Sim, são pontos que não importam para o julgamento, mas que ajudam a criar uma personagem complexa.

Mas não é só Sandra Hüller que se destaca. O jovem Milo Machado Graner (pelo que li na internet, é filho de uma portuguesa, Susana Machado), que faz o filho com problemas na visão, também está sensacional. Anotem esse nome, esse menino vai longe!

Anatomia de uma Queda é longo, são duas horas e meia de filme, mas tudo é muito bem conduzido, o filme não cansa. E tem uma cena que achei genial, que é quando todos no tribunal começam a ouvir o áudio de uma conversa, e logo a imagem começa a mostrar o casal conversando, e o diálogo começa a ficar cada vez mais tenso. Admiro quem consegue escrever um diálogo tão longo, fluido e ao mesmo tempo complexo.

Tenho um comentário sobre o final, mas não sei se pode ser spoiler, então vamos aos avisos.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Não sei se isso é exatamente um spoiler, mas… Passamos o filme inteiro na dúvida se ela matou ou não o marido, e o filme conclui sem responder isso. Confesso que o meu head canon queria uma solução hollywoodiana com um plot twist onde a gente descobriria um novo fato que mudaria toda a história. Mas, esse seria o meu filme, não o da Justine Triet.

FIM DOS SPOILERS!

Anatomia de uma Queda ganhou Palma de Ouro em Cannes e está concorrendo a 5 Oscars. Não são muitos, mas todos são “nobres”: Melhor Filme, Diretora, Roteiro, Atriz e Edição. Será que ganha algum?

Indicados ao Oscar 2024

Indicados ao Oscar 2024

Ontem saiu a lista dos indicados ao Oscar 2024, cerimônia que vai acontecer dia 10 de março. Ninguém pediu, mas vou fazer alguns comentários sobre os indicados.

Antes de tudo, preciso falar algo polêmico: tem 4 categorias que nunca dei bola, e que por mim, seriam retiradas da cerimônia: Documentário Curta, Documentário Longa, Curta de Animação e Curta Live Action. Não estou dizendo que não deveriam ser premiados, mas sim que deveriam sair da cerimônia e ter um evento separado. O Oscar sempre foi uma cerimônia longa e cansativa, e quando estou assistindo, quero ver o Robert De Niro, o Scorsese, a Emma Stone e o Ryan Gosling, não quero ver um ilustre desconhecido que fez um filme que ninguém viu. Sim, o prêmio é importante, mas, deveria ser outro dia, outra hora. A gente ia ganhar uma meia hora sem essas 4 categorias…

Vamos aos indicados. Poucas surpresas esse ano. Dos dez indicados a melhor filme, já vi sete, cinco já têm texto aqui no heuvi, o sexto texto vem nos próximos dias. Mas pretendo ver todos e comentar todos!

Oppenheimer foi o que teve mais indicações, 13 no total – Filme, Diretor (Christopher Nolan), Ator (Cillian Murphy), Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr), Atriz Coadjuvante (Emily Blunt), Roteiro Adaptado, Cinematografia, Trilha Sonora, Edição, Cabelo e Maquiagem, Design de Produção, Figurino e Som. Se ganha melhor filme? Não sei, mas certamente vai ganhar algo. Talvez seja a hora do Christopher Nolan finalmente ganhar. E acho que Robert Downey Jr está excelente, também merece.

(Mas, se fossem perguntar pra mim, não achei Oppenheimer isso tudo, tanto que não estava no meu top 10 de 2023.)

Pobres Criaturas teve 11 indicações – Filme, Diretor (Yorgos Lanthimos), Atriz (Emma Stone), Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Edição, Cinematografia, Trilha Sonora, Cabelo e Maquiagem, Design de Produção e Figurino. Na minha humilde opinião, um dos dois melhores filmes da lista dos 10 indicados. Merece vários desses prêmios, falei isso ano passado quando escrevi sobre o filme.

Assassinos da Lua das Flores (o outro dos dois melhores na minha opinião) teve 10 indicações – Filme, Diretor (Martin Scorsese), Atriz (Lily Gladstone), Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Edição, Cinematografia, Trilha Sonora, Canção, Design de Produção e Figurino. Achei que faltou indicar para melhor Roteiro e melhor ator para Leonardo DiCaprio.

Barbie teve 8 indicações – Filme, Ator Coadjuvante (Ryan Gosling), Atriz Coadjuvante (America Ferrera), Roteiro Adaptado, Design de Produção, Figurino e duas vezes Canção. Ouvi um monte de mimimi ontem “porque foi o filme mais hypado de 2023 e teve poucas indicações!” Cara, Barbie é filme pop, não é “filme de Oscar”. Vingadores Ultimato teve mais hype que Barbie, e só foi indicado a um único Oscar, de Efeitos Especiais. Barbie concorrer a melhor filme já está muito melhor do que o bom senso diria. E, sim, Margot Robbie está ótima, mas, me desculpem os fãs, mas ela está vários degraus abaixo do trio Emma Stone, Lily Gladstone e Sandra Hüller

Maestro teve 7 indicações – Filme, Ator (Bradley Cooper), Atriz (Carey Mulligan), Roteiro Original, Cinematografia, Cabelo e Maquiagem e Som. Bradley Cooper está indicado três vezes! Pena que a concorrência é grande, se bobear não ganha nenhum dos três.

Anatomia de uma Queda teve 5 indicações – Filme, Diretor (Justine Triet), Roteiro Original, Atriz (Sandra Hüller) e Edição. Para um filme francês, que já ganhou Palma de Ouro em Cannes, já considero excelente estar concorrendo a 4 das cinco estatuetas mais importantes (filme, diretor, roteiro, ator e atriz). E se ganhar qualquer um deles, não será surpresa.

Os Rejeitados teve 5 indicações – Filme, Ator (Paul Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da’Vine Joy Randolph), Roteiro Original e Edição. Ok, entendo, é um filme “com cara de Oscar”, mas, sei lá, não achei tudo isso que estão falando. E, na minha humilde opinião, Paul Giamatti merece a indicação, mas Da’Vine Joy Randolph não.

Zona de Interesse teve 5 indicações – Filme, Filme Internacional, Direção (Jonathan Glazer), Roteiro Adaptado e Som. Ouvi falar muito bem, mas tenho pé atrás, porque vi outro filme do mesmo diretor, Sob a Pele, que é ruim com força. Aguardemos.

American Fiction teve 5 indicações – Filme, Ator (Jeffrey Wright), Ator Coadjuvante (Sterling K. Brown), Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Não sei nada ainda sobre esse filme.

Vidas Passadas teve 2 indicações – Filme e Roteiro Original. Ouvi elogios, mas ainda não vi.

Agora alguns comentários sobre outros filmes que não estão indicados a melhor filme.

A Sociedade da Neve foi indicado a Filme Internacional e Cabelo e Maquiagem. No meu texto, comentei sobre a maquiagem! Pena que deve perder Filme Internacional pra Zona de Interesse.

Nyad foi indicado a Atriz (Annette Bening) e Atriz Coadjuvante (Jodie Foster). Me recomendaram, ainda não vi.

Napoleão, Missão Impossível e Resistência, cada um teve duas indicações técnicas. Resistência teve excelentes Efeitos Especiais, mas acho que Godzilla Minus One (que só foi indicado a Efeitos Especiais) pode surpreender.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino teve uma indicação, para Trilha Sonora, mais uma indicação na carreira de John Williams, que tem a impressionante marca de 54 indicações, sendo que ganhou 5 vezes.

Guardiões da Galáxia 3 só teve uma indicação, para Efeitos Especiais. Pra provar que os fãs da Barbie estão de mimimi.

Segredos de um Escândalo foi indicado a melhor Roteiro Original, uma indicação que não faz sentido, porque é um roteiro bem fraco.

Por fim, vou comentar as indicações a Melhor Animação: Nimona é muito bom, mas não acho que ganha; O Menino e a Garça ainda não vi, é o novo Miyazaki, ganhou o Globo de Ouro, acho que tem chances; Homem Aranha Através do Aranhaverso, o primeiro Aranhaverso ganhou, não sei se dariam também pro segundo; Elementos acho que nem deveria estar aqui; e Meu Amigo Robô, ainda não tinha ouvido falar.

Fui sondado para participar de uma live este ano comentando o Oscar. Mais perto confirmo aqui!