Mangue Negro

Mangue Negro

Não é todo dia que a gente tem a oportunidade de ver um filme trash nacional de zumbis canibais, né? Pra isso, fui até o centro da cidade, em pleno domingo à noite. Valeu a pena!

A trama? Ora, zumbis canibais saem do mangue e atacam as pessoas! Precisa de mais? 😀

Em primeiro lugar, preciso dar os parabéns a Rodrigo Aragão, diretor, roteirista e editor de Mangue Negro – e que ainda trabalhou nos efeitos especiais. Fico imaginando o tamanho do perrengue que passou para finalizar o filme, e que deve estar passando agora para distribuí-lo. Com mais caras como ele, o cinema brasileiro seria bem melhor.

Sobre o filme: temos coisas boas e ruins. As boas: o filme é um ótimo trash movie. Muito sangue, muito gore, não é exagero dizer que nos lembramos dos primeiros filmes de Peter Jackson (Fome Animal e Trash – Náusea Total). A maior parte dos zumbis que saem do mangue são bem feitos, e algumas cenas são geniais – como a tomada através da cabeça explodida.

Mas nem tudo entusiasma. As atuações são todas caricatas. Sim, sei que é um trash, mas isso só funciona com alguns personagens. Alguns dos atores estão sob forte maquiagem para interpretar personagens velhos, e isso só piora. A cena da dona Benedita ficou longa demais…

Mas o pior não foi isso. Boa parte do filme se passa à noite. O diretor resolveu usar filmagens em preto e branco para ser a sua “noite”. E com isso, muito do visual ficou escuro demais – pelo menos na tela do CCBB. Aliás, a bola fora foi a exibição em dvd. Caramba, heu estava num cinema! Por que não em película? As cores estavam completamente sem vida, e muitos dos efeitos se perderam…

Desconfio que deve haver alguma lenda ligando baiacu a mortos vivos, afinal, este é o segundo filme nacional em menos de um ano onde vejo esta referência – o outro foi Morgue Story.

A boa notícia para os fãs brasileiros é que Mangue Negro já tem distribuição garantida em dvd por aqui, pela London Films. E a boa notícia para os fãs fora do Brasil é que Mangue Negro tem distribuição garantida em dvd pelo mundo afora, através da distribuidora alemã 8 Films!

Quando sair o dvd, vou comprar o meu!

As Sete Vampiras

As Sete Vampiras

Outro dia falei aqui do filme novo do Ivan Cardoso, “Um Lobisomem na Amazônia“. E ontem descobri que tinha uma sessão de “As Sete Vampiras”, lançado originalmente em 1986, num festival de horror no CCBB. Aproveitei que estou de recesso no trabalho e fui rever o clássico do terrir num cinema!

A história é uma bobagem deliciosa. A trama envolve uma planta carnívora importada da África, vampiros, anos 50 e misteriosos assassinatos em série. E muitos clichês de filmes de terror, aqui nada é para se levar a sério.

Rola MUITA nudez gratuita! Quase todas as atrizes tiram a roupa. Aliás, na época era fácil encontrar quase todas elas nuas nas páginas da revista Playboy. Temos Nicole Puzzi, Lucélia Santos, Simone Carvalho, Susana Matos, Andréa Beltrão, Danielle Daumerie, Dedina Bernardeli, Tania Boscoli, e mais algumas anônimas (seria a Alice de Carli peladona com a toalha numa das primeiras cenas, no vestiário da academia de dança?) – todas elas “generosas” com o público masculino. 😉

(Aliás, falando em nudez gratuita, é irônico ver o Pedro Cardoso bisbilhotando Lucélia Santos nua. E aquele manifesto contra a nudez?)

O resto do elenco ainda conta com um monte de nomes interessantes, como Nuno Leal Maia, Leo Jaime, Wilson Grey, John Herbert, Ivon Cury, Pedro Cardoso, Carlo Mossy e um impagável Colé Santana como o atrapalhado inspetor Pacheco.

Foi muito legal rever o número musical com o Leo Jaime (ainda magro) cantando a música As Sete Vampiras. Não reconheci todos os músicos da banda, mas dá pra ver Sergio Serra, que depois foi para o Ultraje a Rigor, na guitarra. E temos os quatro “miquinhos” do João Penca fazendo uma coreografia gaiata: Selvagem Big Abreu, Bob Gallo, Leandro (na época que encarnava o “guitarrista mascarado”) e Avellar Love.

Outra coisa: para mim, particularmente, este filme marcou muito. Boa parte foi filmada dentro do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Quando heu tinha oito anos de idade, morei por seis meses neste hotel. É muito legal reconhecer as locações!

Este é um dos melhores filmes de “terrir” da história. Ivan Cardoso foi o criador desta palavra, que significaria uma mistura entre comédia e terror. E, claro, muito trash!

Um Lobisomem na Amazônia

lobisomem-na-amazonia-poster01

Um Lobisomem na Amazônia

Finalmente consegui ver Um Lobisomem na Amazônia, depois da tentativa frustrada de terça!

A trama: um grupo de jovens da cidade grande está na Floresta Amazônica atrás de experiências com o Santo Daime. Ao mesmo tempo, um misterioso cientista faz experiências genéticas. E ainda tem um grupo de amazonas, todas com os seios de fora. E isso sem contar com o lobisomem do título!

Trata-se de um legítimo Ivan Cardoso. O diretor de pérolas como As Sete Vampiras e O Segredo da Múmia mantém o seu estilo de “terrir” como sempre. Personagens caricatos, roteiros com situações absurdas e muita mulher pelada, tá tudo lá!

Ivan Cardoso é um caso único no cinema nacional. Seus filmes são sempre com o mesmo estilo trash. Quem curte, não vai se decepcionar. Pena que não é para qualquer um…

O elenco está bem, pelo menos dentro da proposta caricata “ivancardosiana”. Evandro Mesquita lidera um elenco que conta com o espanhol Paul Naschy como o dr Moreau e o trio Danielle Winnits, Djin Sganzerla e Karina Bacchi com pouca roupa. Nuno Leal Maia (num papel que às vezes lembra o Paulo Silvino) e Tony Tornado fazem uma boa dupla de alívio cômico. E ainda rola o Sidney Magal numa sensacional participação especial fazendo um sacerdote inca cantor, numa das melhores cenas do filme.

Mas nem tudo funciona. Sei lá, parece que falta alguma coisa. Sabemos que este filme teve problemas no lançamento – ele é de 2005, e só foi lançado agora em novembro de 2009. Me parece que sofreu cortes pelos produtores. São vários os elementos no roteiro que não foram bem explorados – até o próprio lobisomem está sub-aproveitado! Me lembro de uma entrevista com o Ivan Cardoso onde ele falava que tinha um filme pronto e ainda não lançado onde a Karina Bacchi aparecia nua. Bem, Karina é a única das três que não mostra nada… Será que não vai rolar um “director’s cut” um dia?

Enfim, se você curtiu outros filmes do diretor, vai se divertir. Mas se não viu, recomendo começar por um dos dois citados no terceiro parágrafo…

Os Normais 2

os-normais-2

Os Normais 2

Demorei, mas finalmente vi o grande sucesso nacional Os Normais 2.

O famoso casal Rui e Vani, da série da Globo Os Normais, está passando por uma crise, depois de anos de noivado. Resolvem então procurar outra mulher para experimentar um menage a trois.

E assim o filme segue, acompanhando o casal por toda a noite, atrás de sua nova aventura.

O elenco conta com alguns nomes interessantes para fazer companhia ao casal principal interpretado por Luís Fernando Guimarães e Fernanda Torres, como Daniel Dantas, Cláudia Raia, Danielle Winits, Daniele Suzuki, Drica Moraes e Alinne Moraes.

O filme não é ruim, mas, na minha humilde opinião, achei a maior parte das piadas fracas e apelativas. Sei lá, esperava algo melhor, de um modo geral, achei bobo.

Só recomendado aos menos exigentes.

Se Eu Fosse Você 2

se-eu-fosse-voce-2

Se Eu Fosse Você 2

O primeiro Se Eu Fosse Você, de 2006, foi um dos maiores sucessos recentes do cinema nacional. E, se em Hollywood as continuações funcionam, por que não fazer o mesmo aqui?

O filme segue a “cartilha da boa continuação”: mesmo elenco, mesmo diretor e mesma ideia básica. Mais uma vez, Cláudio (Tony Ramos) e Helena (Glória Pires) trocam de corpo, de forma inexplicável e “inconsertável”. Igualzinho ao primeiro filme!

Pra não ser exatamente igual ao primeiro, o roteiro cria algumas complicações: agora o casal passa por uma crise e está se separando, e ao mesmo tempo a jovem filha descobre que está grávida. E isso gera uma série de novas situações, algumas muito engraçadas.

Às vezes o filme cai na caricatura – Tony Ramos como Helena é mais feminino do que a própria Gloria Pires! Mesmo assim, o filme é leve e tem boas piadas. Tudo é meio clichê, mas é um “clichê do bem”.

E agora aguardemos a terceira parte, anunciada nos créditos…

A Mulher Invisível

mulher-invisivel-poster01

A Mulher Invisível

Oba! Mais um filme no estilo “comédia romântica brasileira”!

Pedro (Selton Mello), um apaixonado e devotado marido, é abandonado pela esposa, que está grávida de um amante alemão. Depois de um tempo em profunda depressão, ele conhece a mulher ideal, Amanda (Luana Piovani): linda, apaixonada por ele, com os mesmos gostos… Só que Amanda tem um defeito: ela só existe na imaginação de Pedro!

O filme, dirigido por Claudio Torres, é leve, ágil e despretensioso. O que o torna um bom programa. Quem me acompanha por aqui sabe que gosto quando o cinema nacional segue por esse caminho!

O filme é cheio de situações hilariantes. Claro que o talento de Selton Mello ajuda aqui: muitas vezes ele tem que contracenar fingindo que existe alguém do seu lado. E isso ele faz sem parecer caricato!

Um parágrafo para tecer um comentário sobre o ator Selton Mello. Ele tem um defeito: quase todos os seus personagens são semelhantes. Parece que vemos sempre o mesmo personagem! Mas aqui não há queixas, porque o “personagem Selton Mello” é a cara do filme, e funciona perfeitamente!

O bom roteiro, co-escrito por Claudio Torres e Adriana Falcão, ainda traz algumas reviravoltas interessantes, como a outra mulher invisível. E no elenco, contamos ainda com os importantes coadjuvantes Vladimir Brichta, Maria Manoella e Fernanda Torres (irmã do diretor).

E assim, despretensiosamente, espero que A Mulher Invisível consiga trilhar o mesmo rumo que Se Eu Fosse Você 2, um dos maiores sucessos nacionais recentes. E que os cineastas brasileiros se lembrem que “cinema é a maior diversão”!

Divã

diva-poster01

Divã

Baseado na peça homônima interpretada pela mesma Lilia Cabral, peça esta que por sua vez foi inspirada no livro homônimo de Martha Medeiros, agora é a vez do filme Divã.

Mercedes é uma mulher simples, casada há muito tempo, com dois filhos adolescentes e uma vida aparentemente feliz. Ao fazer terapia, ela descobre que não é tão feliz assim. E resolve procurar caminhos alternativos em sua vida.

Divã é muito bom. Por que? Porque é um filme leve, divertido, engraçado e, principalmente, despretensioso. Isso é uma característica que o torna melhor do que muitos outros filmes nacionais.

Costumo dizer que a diferença entre o cinema nacional e o feito em Hollywood é que lá existe uma indústria, enquanto aqui é tudo artesanal. É claro que um artesanato pode ter uma qualidade muito boa, mas reconheço que é muito mais difícil fazer cinema aqui do que lá. Talvez por isso alguns cineastas brazucas sejam tão pretensiosos…

Felizmente não é o caso aqui. Divã segue a linha de filmes como Pequeno Dicionário Amoroso ou Os Normais, comédias românticas com cara brasileira. Leves, divertidos, engraçados e despretensiosos…

Temos também que falar de Lilia Cabral. Ela mesma foi a Mercedes nos teatros durante alguns anos. Ou seja, ela “é” a Mercedes! No elenco, ainda temos Alexandra Richter como uma ótima “melhor amiga”, além dos homens das diferentes fases de Mercedes, José Mayer, Reinaldo Gianecchini e Cauã Reymond.

Enfim, bom programa. E o cinema nacional precisa de mais exemplares como esse!

Meu Tio Matou um Cara

meutiomatouumcara

Meu Tio Matou um Cara

Outro dia falei aqui de A Concepção, filme que exemplifica toda a picaretagem do cinema nacional. Hoje falarei do extremo oposto. Simples, leve e despretensioso, Meu Tio Matou um Cara mostra que sim, “filme nacional” não é sinônimo de “filme ruim”. Uma boa história bem contada pode ser o suficiente!

A história é simples: Duca (Darlan Cunha, de Cidade de Deus), ao descobrir que seu tio Eder (Lázaro Ramos) matou um cara, começa a investigar por conta própria com a ajuda de seus amigos Isa (Sophia Reis, filha de Nando Reis) e Kid (Renan Gioelli).

A idéia de se contar a história do ponto de vista do garoto é boa, e e também acompanhamos o triângulo amoroso dos 3: Duca gosta de Isa, que gosta de Kid, que por sua vez não gosta de ninguém em particular.

O diretor Jorge Furtado já mostrava talento desde o fim dos anos 80, época que fazia curtas. É dele um dos mais geniais curtas da história do cinema brasileiro, Ilha das Flores. Não viu? Procure no youtube, são uns 5 minutos, vale a pena!

E aqui esse talento é usado numa história ágil e enxuta – o filme dura menos de 90 min. Furtado também assina o roteiro, junto com Guel Arraes. Completam o elenco Deborah Secco, Dira Paes e Aílton Graça.

Seria bom para a saúde do combalido cinema nacional se tivéssemos mais filmes como esse…

A Concepção

concepcao-poster01

A Concepção

Às vezes falam que a gente tem implicância com o cinema nacional. Ai a gente se enche de boa vontade e vai ver um filme nacional. E então vê uma bomba como este A Concepção. E me pergunto se é preconceito ou conceito mesmo…

Tenho uma grande boa vontade e ao mesmo tempo uma grande implicância com o cinema nacional, desde que sou moleque e existia a Embrafilme. Parece que, na época da Embrafilme, era assim: alguns membros de uma seleta panelinha pegavam dinheiro público e faziam qualquer porcaria. Pra vender, em vez de qualidade, tinha mulher pelada. E como não existia um compromisso com o retorno financeiro do mercado, era porcaria atrás de porcaria. São poucos os filmes que se salvam no meio de tanto lixo.

A Embrafilme acabou, o cinema voltou a ser algo comercial. Tem que vender, ué, senão não se paga! E algo vendável não precisa necessariamente ser ruim!

Mas ao que parece, ainda tem gente que pensa como naquela época. Este A Concepção é exatamente isso: um fiapo de história ruim regado a muita nudez, sexo e drogas.

Um grupo de jovens ricos mora em Brasilia. Os pais de todos estão sempre longe, apenas pagando as contas. Ninguém trabalha, estuda ou tem qualquer objetivo. Guiados por um guru sem nome, X (Matheus Nachtergaele), criam o “movimento concepcionista”, pregando a “morte do ego”: queimam os documentos e vivem um cotidiano de sexo e drogas o tempo todo.

O diretor José Eduardo Belmonte nos lembra como é a picaretagem: tire as drogas, a nudez e o sexo (hetero e homo), não vai sobrar quase nada, apenas uma história fraca e mal contada, com personagens mal construídos. Mas, é claro, sexo vende. E polêmica também…

E assim segue o cinema nacional. Sorte a nossa que de vez em quando aparece alguém com talento e faz bons filmes. Pena que eles serão colocados nas prateleiras ao lado dessas bombas…

p.s.: a atriz Gabrielle Lopez poderia interpretar uma irmã da Kate Hudson. A semelhança é impressionante!

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias

anoemquemeuspaissairamdeferias

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias

Lembra do zunzunzum em torno do Tropa de Elite? Foi considerado pela opinião popular o melhor filme brasileiro em muito tempo, né? Mas, na hora de mandar um filme pra Hollywood pra tentar uma indicação pro Oscar, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias foi o escolhido para representar o Brasil. “Alguma coisa de bom esse filme deve ter…”, foi o que pensei.

E, realmente, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias é muito bom! Completamente diferente de Tropa de Elite, então não dá pra comparar. Mas claro que é bom! Pena que, sem o zunzunzum, o filme passou batido…

Estamos em 1970. A euforia pela Copa do Mundo de 70 contrasta com o auge da ditadura militar. Mauro, um garoto mineiro de 12 anos, não sabe que seus pais fazem parte da resistência política, e é levado para a casa do avô, num bairro judeu em São Paulo. Para ele, os pais “saíram de férias”, e voltam antes da Copa.

Mauro é deixado na porta do prédio do avô, e seus pais rapidamente vão embora – sem saber que o avô tinha acabado de morrer!

E assim, Mauro se vê sozinho. Shlomo, o vizinho de seu falecido avô, meio que o adota, mas o relacionamento entre os dois não é tranquilo.

Aos poucos, Mauro vai se acostumando com a situação. No início, se recusa a sair do apartamento, com medo de perder um possível telefonema dos pais, mas aos poucos vai conhecendo melhor os novos vizinhos e o novo bairro.

O diretor Cao Hamburguer monta todo o filme em cima de uma metáfora com a posição do goleiro num time de futebol. É um personagem solitário, mas importante. E Mauro se identifica com o goleiro, jogando botão ou futebol “de verdade”.

Vale ressaltar que a reconstituição do momento é perfeita, o que nem sempre acontece em filmes nacionais. E existe pelo menos uma citação cinematográfica interessante: quando a vizinha Hanna leva os garotos pra espiarem as mulheres trocando de roupa, nos lembramos de Era Uma Vez na América, de Sergio Leone.

Belo filme. Merece ser visto!