A Pequena Sereia (2023)

A Pequena Sereia (2023)

Sinopse (imdb): A filha do rei Tritão, Ariel, se apaixona loucamente por um príncipe que salvou de um naufrágio. Ela decide ir procurá-lo em terra firme e pede ajuda à bruxa do mar, Úrsula.

Mais um live action da Disney. Se quase todos até agora furam ruins, a expectativa era zero. (Acho que só gostei de Cruella, os outros todos variam entre “sofrível” e “ruim de doer”: Pinóquio, Rei Leão, Aladdin, Dumbo, Christopher Robin, A Bela e a Fera – nenhum desses a gente pode afirmar que é bom. Cheguei a gravar dois Podcrastinadores comentando alguns dos títulos.)

Dirigido por Rob Marshall (Chicago, Caminhos da Floresta, O Retorno de Mary Poppins), A Pequena Sereia (The Little Mermaid no original) mantém a tradição “live action desnecessário da Disney”. Ok, não é um dos piores, mas está bem longe de ser um bom filme. Vamulá.

O filme segue basicamente a mesma história do desenho de 1989. Uma pequena alteração aqui, outra ali, nada muito significativo. Mas não vou comparar as duas obras, porque faz tempo que não revejo o original.

Uma coisa que funcionou foi o cgi do fundo do mar. Temos belas imagens debaixo d’água – aliás, tem uma sequência logo no início do filme onde a “câmera” faz um passeio entre peixes e plantas, que tem a maior cara de sequência pra vender o filme em 3D. E gostei da sequência musical de Under The Sea, grandiosa, cheia de cores e elementos.

Por outro lado, o cgi nos bichos atrapalhou. Exatamente como aconteceu em O Rei Leão, os bichos são realistas – e portanto não têm expressões. Assim você tem um personagem que é um peixe, que deveria ser o principal coadjuvante, mas que tem exatamente a mesma cara ao longo de todo o filme. Deve ser por isso que o Linguado tem um papel menor no filme do que tinha no desenho. Os outros dois, Sebastian e Sabidão (que virou Sabidona), por serem animais mais articulados, têm uma participação maior.

Tenho outra reclamação, mas admito que é mimimi. O filme abre com a frase de Hans Christian Andersen: “Mas uma sereia não tem lágrimas, e, portanto, ela sofre muito mais… “. Ok. Mas, se não tem lágrimas, também não deveria piscar o olho, certo? Por que sereias debaixo d’água piscam o olho? Detalhe: só reparei nesse detalhe por causa da frase que abre o filme. Se não fosse por isso, nem repararia nos olhos piscando.

Sobre o elenco, achei uma forçação de barra enorme postar duas vezes na trivia do imdb que pessoas “choraram ao ouvir a voz da Halle Bailey”. Ok, a menina canta bem, mas canta igual a dezenas (centenas?) de boas cantoras por aí. Uma pessoa que chora de emoção ao ouvir alguém cantando bem precisa trocar a playlist do spotify, porque está ouvindo as músicas erradas.

Dito isso, o casal Halle Bailey e Jonah Hauer-king funciona pro que o filme pede. Javier Bardem está bem (como sempre); Melissa McCarthy está caricata, mas, caramba, é uma vilã da Disney, claro que precisa ser caricata. Agora, preciso dizer que gostei muito da Sabidona da Awkwafina. Já falei mal da Awkwafina outras vezes, tipo no recente Renfield, onde o tipo de humor da atriz não encaixou no filme. Mas aqui admito: ela está perfeita como a ave desengonçada e estabanada, tanto nos gestos quanto nas falas. Digo mais: curti a música que ela canta. Pela primeira vez, posso dizer que entendi o motivo do grande fã clube que a atriz tem. Também no elenco, Jacob Tremblay, Daveed Diggs, Art Malik e Noma Dumezweni.

Agora, IMHO, o principal problema é que é um filme longo demais. O original tem uma hora e vinte e três minutos, esta nova versão tem duas horas e quinze! São cinquenta e dois minutos a mais, e não tem uma nova história que precise desse acréscimo todo. Aí o filme fica cansativo.

Sobre a polêmica. Desde que a Disney anunciou que a Ariel seria interpretada por uma negra, isso virou uma guerra na internet. Por um lado, uns defendiam que a sereias não existem, e por isso tanto faz a cor da pele. Ok, bom argumento. Por outro lado, outros defendiam que sereias não existem, mas a personagem Ariel existe. Seria como trocar a etnia do Batman, ou do Thor, ou do Pantera Negra, ou sei lá, ter um Mario que não é italiano. Ok, outro bom argumento. E qual e a minha opinião? Heu digo que a Disney acertou, porque o objetivo nunca foi promover diversidade e inclusão, e sim gerar buzz pra vender ingressos. E essa polêmica gerou um buzz enorme! Muita gente quer ver o filme pra defender ou atacar! Objetivo alcançado!

E por que digo que a Disney nunca quis promover diversidade e inclusão? Ora, existe uma princesa negra: a Tiana, de A Princesa e o Sapo, de 2009. Uma princesa que nem todos conhecem, afinal as outras são muito mais badaladas – Cinderela, Bela, Branca de Neve, Rapunzel, Aurora, Elsa e Ana, a galera lembra até da Mulan e da Moana. Mas ninguém se lembra da Tiana, o que é uma pena, porque o desenho dela é bem legal. E por que a Disney não promove a Tiana, ou faz uma continuação, ou melhor ainda, um live action? Porque isso não geraria um trending topics no twitter. Um live action da Tiana ia ter 100 pessoas comentando. Um live action da Pequena Sereia mudando a etnia da personagem vai ter 100 mil pessoas comentando. É, a Disney acertou. Polêmica vende.

(E nem vou entrar na próxima polêmica, que vai ser uma Branca de Neve estrelada por uma latina. Sim, Branca de Neve, aquela que é descrita como “lábios vermelhos como sangue, cabelo negro como ébano e pele branca como a neve”.)

Luca

Crítica – Luca

Sinopse (imdb): Um menino vive um verão inesquecível à beira-mar na Riviera Italiana repleto de gelato, macarrão e passeios de scooter sem fim. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundo: ele é um monstro marinho de outro mundo logo abaixo da superfície do oceano.

Luca é bonitinho, tem bons personagens, uma história cativante e um visual que enche os olhos. Mas mesmo assim é uma decepção.

Luca carrega a responsabilidade de ser “o novo Pixar”. E, com títulos como Toy Story, Wall-E, Up, Divertida Mente, Monstros S.A., Soul e outros, a Pixar nos ensinou que desenhos animados podem ser algo a mais. Então o espectador vai ao cinema para ver mais uma nova obra prima. Quando vem um filme apenas bom, pode não agradar.

Mas… Isso é uma espécie de head canon, coisa que sempre critico. Head canon é quando você imagina algo na sua cabeça, e quando o filme te apresenta algo diferente, você não gosta. Mas, não é culpa do filme, e sim da expectativa que você criou sobre o filme. Como costumam dizer em términos de relacionamento, “a culpa não é sua, a culpa é minha”.

Então, se a gente analisar Luca sem compará-lo com o catálogo da Pixar, o filme até funciona.

Luca é o primeiro longa metragem dirigido por Enrico Casarosa, que já tinha trabalhado na equipe técnica de alguns longas da Pixar (Ratatouille, Up, Viva, Incríveis 2 e Toy Story 4), e que tinha feito um curta, também pela Pixar, em 2011, A Lua (que passou nos cinemas junto com Valente). Italiano, Casarosa mesclou influências de Hayao Myiazaki (como o nome da cidade Portorosso ser uma homenagem ao filme Porco Rosso) com memórias da sua própria infância (na infancia, ele passou verões em Cinque Terre, local onde Luca se passa; ou ainda, “trenette al pesto”, prato que é servido pelo pai de Giulia, é um prato típico de Gênova, cidade natal do diretor).

A história é simples, mas é bem contada. Algumas piadas são muito engraçadas, e alguns lances são geniais – como o “silêncio, Bruno!”. E os personagens são ótimos, todos eles são bem construídos, e a dupla principal realmente convence como grandes amigos. Vi dublado, deu vontade de rever com as vozes originais quando soube que a dupla é dublada por Jacob Tremblay (O Quarto de Jack, Extraordinário) e Jack Dylan Grazer (It, Shazam).

A animação é um absurdo de bem feita. Mas aí não é nada novo. A Pixar não apresentaria alguma deficiência neste aspecto.

Ah, tem uma cena pós créditos, mas é bem boba.

No fim, fica a recomendação: esqueça que é Pixar e se deixe levar!

Doutor Sono

Crítica – Doutor Sono

Sinopse (imdb): Anos após os eventos de “O Iluminado”, Dan Torrance, agora adulto, deve proteger uma jovem com poderes semelhantes de um culto conhecido como O Verdadeiro Nó, que ataca crianças com poderes para permanecer imortais.

Ninguém esperava uma continuação do clássico O Iluminado, mas, olha lá a programação dos cinemas…

Heu não sabia, mas existe um livro escrito pelo mesmo Stephen King onde ele conta a vida do Danny Torrance adulto. Coube ao diretor Mike Flanagan (que fez um excelente trabalho com a série A Maldição da Residência Hill) adaptar este livro.

O terreno era perigoso, afinal a comparação com a obra de Kubrik era inevitável. Felizmente o filme acerta mais do que erra.

Um ponto positivo é não querer fazer uma refilmagem. Temos personagens novos que guiam a trama por um caminho completamente diferente do filme anterior. Também gostei da caracterização dos atores escolhidos para interpretarem os personagens do filme anterior (Henry Thomas, o garotinho do ET, que estava em Residência Hill, funciona bem como o “Jack Nicholson”). E, claro que fãs de O Iluminado vão ver um monte de referências ao filme de 1980. Tem bastante fan service!

Algumas coisas do roteiro ficaram um pouco forçadas. Não vou comentar aqui pra evitar spoilers, mas falei tudo no Podcrastinadores, quem quiser, ouve lá!

O elenco é muito bom. Ewan McGregor funciona muito bem como o Danny adulto, e Rebecca Ferguson está excelente como a vilã. Também no elenco, Kyliegh Curran, Cliff Curtis, Zahn McClarnon e Emily Alyn Lind, além de uma ponta de Jacob Tremblay (O Quarto de Jack).

No fim, saldo positivo. O Iluminado não precisava de continuação, mas até que funcionou.

O Predador (2018)

Crítica – O Predador (2018)

Sinopse (imdb): Quando um menino acidentalmente aciona os caçadores mais letais do universo para retornar à Terra, apenas uma tripulação desorganizada de ex-soldados e uma professora de ciências descontente pode impedir o fim da raça humana.

No meio de tantos reboots e releituras, por que não voltar com a franquia Predador?

Em primeiro lugar aviso logo que não sou contra continuações. Mas não gosto da ideia de chamar o quarto (ou sexto) filme de uma saga do mesmo nome do primeiro filme. Gente, qual é o problema de ter um título novo? Mesmo erro de The Thing – o prequel de 2010 tem o mesmo nome do original de 1982.

Dito isso, vamos ao filme. O Predador (The Predator, no original) é uma boa continuação. Boas cenas de ação, humor na dose certa, efeitos especiais top de linha, referências ao filme original, e toda a violência gráfica que um filme desses pede.

O diretor Shane Black tem uma história curiosa com a franquia. Ele estava no primeiro filme, como ator – ele é o magrelo de óculos, o primeiro a morrer. Recentemente, ele disse numa entrevista que foi contratado apenas como ator, e quando chegou ao set, pediram pra ele rever o roteiro (ele tinha escrito o roteiro de Máquina Mortífera pouco antes). Ele se recusou, porque tinha sido contratado como ator e não como roteirista. Segundo ele, esse seria o motivo de seu personagem ser o primeiro a morrer. E ele disse que teria aprendido uma lição: nunca discutir com os produtores!

Black tem um currículo maior como roteirista, mas também tem alguns filmes como diretor. Seu estilo frequentemente mistura ação com humor (Beijos e Tiros, Dois Caras Legais). E o roteiro aqui foi escrito por Black e por Fred Dekker, que escreveu e dirigiu o divertido Noite dos Arrepios, de 1986. A parceria vem de longa data, a dupla escreveu o roteiro de Deu a Louca nos Monstros, de 87. Claro que O Predador não seria um filme sério. O filme é quase uma paródia do filme original.

O fato de ter um diretor e roteirista ligado à saga faz de O Predador um filme cheio de referências. Além da trilha sonora trazer o mesmo tema, o roteiro tem algumas citações aqui e ali. Get to the choppa!

O elenco é bom. O papel principal é do pouco conhecido Boyd Holbrook, vilão de Logan, mas o filme é bem equilibrado entre vários personagens – os melhores estão em um núcleo de loucos, que conta com Trevante Rhodes, Keegan-Michael Key, Thomas Jane, Alfie Allen e Augusto Aguilera. Sterling K Brown (em cartaz também no Hotel Artemis) também manda bem. Os papéis de Jacob Trembley e Olivia Munn às vezes soam forçados, mas não chegam a atrapalhar o filme. Ainda no elenco, Yvonne Strahovski e Jake Busey.

No fim tem uma desnecessária cena curta com um gancho para uma provável continuação. Achei que podia ser uma cena pós créditos à lá Marvel, daquelas que, se não tiver filme novo, deixa pra lá…

Tem gente por aí que odiou O Predador. Sinceramente não entendo por que. Achei divertido. Que venha o quinto (ou sétimo)!

p.s.: Na verdade é a sexta vez que temos Predadores nas telas, mas, na minha humilde opinião, os dois Alien Vs Predador não fazem parte da saga. Por isso pra mim este é o quarto filme.

O Quarto de Jack

O Quarto de JackCrítica – O Quarto de Jack

Um menino de 5 anos vive com sua mãe em um pequeno quarto, de onde nunca saiu, e por isso nunca teve contato com o mundo exterior.

Depois de contar uma história esquisita sobre um cara esquisito em Frank, o diretor Lenny Abrahamson resolveu contar uma história sobre um garoto que vive uma realidade esquisita no seu filme novo, O Quarto de Jack (Room, no original). E Abrahamson conseguiu mostrar um universo rico, mesmo confinado dentro de um pequeno quarto de poucos metros quadrados. O personagem Jack é ótimo!

Assim como em Frank, o forte aqui são as atuações. Brie Larson ganhou o Globo de Ouro e está concorrendo ao Oscar de melhor atriz (o filme concorre a outras três estatuetas, melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado), mas quem chama a atenção é Jacob Trembley, que interpreta o pequeno Jack, de 5 anos recém completados. Trembley entrega um personagem mais sólido que muito ator adulto por aí. Seu Jack vale o ingresso! William H. Macy e Joan Allen também estão bem, em papeis secundários.

O roteiro de O Quarto de Jack foi escrito por Emma Donoghue, autora do livro onde o filme se baseia. Não li o livro, não sei qual a sua estrutura, mas podemos dizer que o filme se divide claramente em duas partes. No meio da trama acontece um grande plot twist, que muda o rumo da história. E aí reside um problema: a segunda parte não é tão boa quanto a primeira. Nada que estrague o resultado final, mas o ritmo do filme nitidamente cai.

Mesmo assim, vale ver o pequeno Trembley.