O Sabor da Vida

Crítica – O Sabor da Vida

Sinopse (imdb): 1885. A cozinheira Eugenie trabalha para o gourmet Dodin há 20 anos. Com o passar do tempo, a admiração mútua gerou um relacionamento amoroso. Eugenie, no entanto, nunca quis se casar com Dodin. Ele decide, então, cozinhar para ela.

Teve um “causo” que viralizou, e como sou “rato de Estação Botafogo”, várias pessoas me encaminharam o vídeo. Funcionários do Estação Net Rio, cinema de rua, fecharam a porta do cinema enquanto ainda estava rolando a última sessão. Quando acabou o filme, os espectadores se viram presos atrás de uma grade e tiveram que chamar a polícia e os bombeiros.

O Grupo Estação, como pedido de desculpas, conseguiu entrar em contato com todos os que ficaram presos naquele dia, e, como pedido de desculpas, ofereceu um passe livre de um ano pra todo o circuito Estação, e ainda uma sessão pré estreia deste O Sabor da Vida, representante francês no Oscar 2024.

Não ganhei o passe livre do Estação, mas pelo menos participei da sessão, com direito a pipoca e várias bebidas liberadas.

Dirigido pelo vietnamita Anh Hung Tran, O Sabor da Vida (La passion de Dodin Bouffant, no original) conta a história de um casal em 1885, onde ambos são excelentes cozinheiros. Eles são namorados, mas ela se recusa a casar. Mesmo assim, são uma dupla em perfeita sintonia. O filme desenvolve bem a relação entre o casal. Mas tive a impressão de que dedica mais tempo de tela com a comida. É um filme que “dá fome”!

Agora, precisamos reconhecer que pouca coisa acontece. Estamos acostumados com outro ritmo, acredito que boa parte do público vai estranhar ver um filme onde quase o tempo todo vemos pessoas cozinhando.

Uma coisa que amplifica essa sensação de estranheza é a ausência de trilha sonora. Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que só ouvimos trilha não diegética nos créditos finais.

O Sabor da Vida tem vários planos longos. Não sei se podemos chamar de plano sequência, porque são planos onde a câmera fica parada, ou se move muito pouco. Mas são cenas extremamente bem filmadas.

Por fim, uma curiosidade que não entendi na hora, mas depois li a explicação no imdb. Em uma cena, um grupo de amigos se senta à mesa, e todos cobrem a cabeça para comer. Eles estavam comendo um pequeno pássaro chamado ortolan, que, segundo a tradição, quem come precisa cobrir a cabeça com um guardanapo, se debruçar sobre o prato e enfiar o pássaro inteiro na boca de uma vez só.

No fim do filme, deu fome. E curiosidade de saber o que é um “pot au feu”, prato citado no filme.

Desespero Profundo

Crítica – Desespero Profundo

Sinopse (imdb): Personagens de diferentes origens são reunidos quando o avião em que viajavam cai no Oceano Pacífico. Segue-se uma luta de pesadelo pela sobrevivência, com o suprimento de ar se esgotando e os perigos se aproximando por todos os lados.

A sinopse lembra Sharknado. Mas a proposta aqui não tem nada a ver com o trash do SciFi. Não que seja um bom filme, mas aqui pelo menos tentaram fazer um filme sério.

(Sharknado me irrita não por ser um filme trash, mas sim por ser um filme preguiçoso. Além de todo o contexto ilógico de tubarões que voam em vez de serem carregados pelo tornado, ainda tem um monte de cenas mal feitas. Num take, chove torrencialmente; no take seguinte, as calçadas estão secas. Num take, venta muito; no seguinte, não tem vento. Num take, eles estão dentro de uma casa, e a água invade o primeiro andar, água suficiente para ter um tubarão nadando; no take seguinte, eles saem de casa, e está tudo seco em volta)

Mas aqui até que podia funcionar, se tivesse um roteiro e um elenco melhores. Vamulá.

Desespero Profundo é um “drama de sobrevivência”: um avião cai no mar, afunda, e alguns sobreviventes ficam presos numa bolha de ar. E eles precisam descobrir como sair com vida. Filmes assim podem ser muito bons, lembro de A Queda, de dois anos atrás, onde duas amigas ficam presas no alto de uma torre – e todo o filme é isso. Mas em A Queda o roteiro joga elementos aqui e ali e consegue manter a tensão ao longo de toda a duração do filme, e o espectador fica angustiado na beira da poltrona. Já o roteiro de Desespero Profundo causa sono em vez de tensão.

Desespero Profundo é chato. O roteiro é preguiçoso e não traz quase nada de novidades pra incrementar a história. E, pra piorar, todos os personagens são ruins, e todos os atores são igualmente ruins. Tem um tubarão nadando dentro do avião? Que eles morram pelo tubarão ou afogados, ninguém se importa com personagens assim!

Nem tudo é ruim. O acidente do avião, quando uma parte da turbina explode e despressuriza o avião, é bem feito. Ok, não é tão bem feito quanto o de A Sociedade da Neve, mas não faz feio lembrando que este é um filme de baixo orçamento. Se fosse um curta metragem usando esse acidente de avião, seria um filme bem melhor.

Mas é um longa. Mal escrito, mal desenvolvido e mal atuado. Vale mais rever A Queda.

Instinto Materno

Crítica – Instinto Materno

Sinopse (imdb): A vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Celine desmorona após um acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo de segredos e mentiras.

O trailer vendia Instinto Materno como um suspense psicológico. Mas o resultado final ficou devendo.

Estreia na direção de Benoît Delhomme, Instinto Materno (Mothers’ Instinct, no original) é a refilmagem de Duelles, filme belga de 2018. Não vi o original, não sei se lá temos algo a mais. Normalmente, os originais europeus são melhores. Mas acredito que seja melhor, ano passado um amigo que mora na Europa tinha me recomendado esse Duelles, mas não achei onde ver aqui.

Acho que são os anos 60, tem um diálogo onde falam dos presidentes americanos, pra situar o espectador sobre qual ano o filme se passa, mas como não entendo de presidentes americanos, não sei qual ano. Enfim, duas famílias, vizinhas, muito amigas. As duas mulheres são amigas, e os filhos, de idades parecidas, são inseparáveis. Mas acontece uma fatalidade e isso abala a amizade.

A gente passa o filme todo pensando quando algo vai sacudir a trama. Um plot twist, uma grande revelação, algo bombástico. Mas nada. O filme é linear, tudo o que acontece é o que aconteceria numa vida normal. Ou seja, o filme acaba sendo chato.

Ok, temos duas grandes atrizes, Anne Hathaway e Jessica Chastain, e ambas estão bem. Mas, nenhuma atuação memorável. Filme linear com atuações lineares.

Quem foi a sessão de imprensa ganhou o livro que deu origem ao filme, e avisaram que a continuação do livro está para ser lançada em breve. Ou seja, o filme deve ter continuação. Mas, boa notícia: a história fecha, não deixa nenhuma ponta solta a ser resolvida num filme que a gente nem sabe se vai existir.

No fim, Instinto Materno não é ruim, mas é decepcionante porque tem cara de telefilme.

Comentários sobre o Oscar 2024

 

Comentários sobre o Oscar 2024

Um pouco atrasado, vou comentar o Oscar, que aconteceu no último domingo.

Tive a impressão de ser uma cerimônia mais curta. Lembro de outros anos de ter entrado na madrugada, e domingo acabou relativamente cedo. O fato de ter começado mais cedo também ajudou.

Foi uma premiação sem surpresas nas categorias principais. Acho que os bolões de apostas devem ter sido decididos nos detalhes.

O host foi Jimmy Kimmel, que fez algumas boas piadas, outras nem tanto – faz parte do formato. E a cerimônia teve alguns momentos bem divertidos. Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito subriam juntos ao palco – eles co-estrelaram Irmãos Gêmeos (1988) e Junior (1994), além de DeVito ter feito a voz do cachorro em O Último Grande Herói (1993). Aí DeVito falou “Vocês sabem o que nos une? Nós tentamos matar o Batman!” – DeVito fez o Pinguim no Batman de 1992; Schwarzenegger fez o Sr. Frio no Batman de 1997. Então, DeVito apontou o Michael Keaton na plateia!

Mas, na minha humilde opinião, o momento mais engraçado foi o John Cena pelado apresentando o Oscar de melhor figurino! Ri alto!

Ah, gostei da homenagem aos dublês!

Teve uma mudança nos anúncios de melhores atores. Antes, o melhor ator do ano anterior entregava para a melhor atriz, e a melhor atriz entregava ao melhor ator – assim não tinha risco de alguém entregar para si mesmo (Tom Hanks ganhou dois Oscars seguidos, Philadelphia (1993) e Forrest Gump (1994)). Agora chamaram 5 ganhadores do prêmio, cada um falou de um indicado. Ficou bonito, mas se forem repetir tem que tomar cuidado pra não ter ator “repetido”.

Momento fofo: o cachorro Messi, de Anatomia de uma Queda, aparece batendo palmas. É efeito especial, aquelas patas são falsas. Mas ficou bonitinho!

Vamos aos prêmios. Da’Vine Joy Randolph ganhou melhor atriz coadjuvante por Os Rejeitados. Heu não gostei muito da atuação dela, achei que os outros dois se destacaram mais, mas ela já tinha levado outros prêmios, ninguém pode dizer que foi surpresa. E faço um comentário parecido sobre o Oscar de melhor animação: O Menino e a Garça também estava levando outros prêmios.

Roteiro original foi pra Anatomia de uma Queda, merecidíssimo, comentei isso no meu texto. Roteiro adaptado talvez seja uma das poucas surpresas, porque quem ganhou foi American Fiction, que achei que não levaria nada.

Depois vieram Cabelo e Maquiagem, Design de Produção e Figurino, três seguidos para Pobres Criaturas.

Filme Internacional foi Zona de Interesse, e faço o mesmo comentário que fiz anos anteriores: se já estava concorrendo a melhor filme, a Academia já o considerava o melhor dos cinco indicados (o mesmo aconteceu ano passado com Nada de Novo no Front e em 2020 com Parasita). Agora, achei uma coisa curiosa entre os indicados. O filme inglês é falado em alemão; o filme italiano é falado em francês, inglês, árabe e uolofe (língua falada no Senegal); o filme espanhol se passa entre Uruguai, Argentina e Chile e tem atores argentinos e uruguaios; o filme alemão é falado em alemão, turco, polonês e inglês; e o filme japonês foi dirigido por um alemão (Wim Wenders). Realmente podemos chamar de “Oscar de Filme Internacional”!

Melhor ator coadjuvante foi pra Robert Downey Jr, merecido e previsível. Mas o mais divertido foi ver a cara do Robert De Niro, que claramente não queria estar lá! E o Tim Robbins ainda errou sua fala, dizendo que a atuação dele era “ganhadora do Oscar”!

(Na disputa pata ator coadjuvante, O Homem de Ferro ganhou do Hulk e do N’Jobu (Pantera Negra) – e o Rocket Racoon, o Vigia e o Rhino concorriam a ator principal!)

Efeitos especiais foi para Gozilla Minus One, o que achei muito legal (apesar de Resistência também merecer). Toda a equipe de Godzilla Minus One estava com pequenos bonecos do Godzilla!

Como falei em outras ocasiões, tem quatro categorias que não costumo dar bola: curtas (live action e animação) e documentários (curta e longa). Ok darem os prêmios, só acho que deveriam estar fora da premiação principal. Mas, tenho um comentário. Sábado, véspera do Oscar, queria ver algo curto com meu filho, abri a Netflix e vimos A Incrível História de Henry Sugar, do Wes Anderson, baseado em Roald Dahl. E no dia seguinte ganhou melhor curta! Legal! Mas, péra, o filme tem 39 minutos, não seria um média?

Aí começou a “onda Oppenheimer“, com os prêmios de Edição, Cinematografia, e, pouco depois, Trilha Sonora. Mas perdeu melhor Som, que foi para Zona de Interesse, merecidamente na minha opinião.

Ryan Gosling fez uma ótima apresentação de I’m Just Ken, com dezenas de bailarinos, participação do público e até o Slash! Mas, perdeu a estatueta pra Billie Eilish, o que achei uma pena, I’m Just Ken é muito melhor que a ganhadora. Sei que a menina é talentosa, ela tem 22 anos e acabou de ganhar o segundo Oscar (o primeiro foi dois anos atrás por Sem Tempo Para Morrer), não tem como dizer que ela é ruim, mas, sei lá, não gosto do estilo, ela parece que sofre muito quando esta cantando!

Todo ano rola um momento “In Memorian”, homenagem às pessoas que faleceram no último ano. Este ano resolveram colocar um balé na frente do telão, e achei bem ruim, porque às vezes mal dava pra ver quem estava sendo homenageado.

A reta final foi sem surpresas: Cillian Murphy e Emma Stone ganharam melhor Ator e melhor Atriz, Chrsitopher Nolan ganhou melhor diretor e Oppenheimer, melhor Filme.

Ah, teve uma piadinha durante os créditos. Aparece o cachorro Messi fazendo xixi na estrela da fama do Matt Damon. Existe uma longa piada de rivalidade entre Jimmy Kimmel e Matt Damon, se você não conhece, vale procurar.

Imaginário – Brinquedo Diabólico

Crítica – Imaginário – Brinquedo Diabólico

Sinopse (imdb): Uma mulher retorna com a família para a casa em que cresceu. Sua filha mais jovem logo fica apegada a um ursinho de pelúcia que ela encontra no porão. Apesar da interação parecer divertida, a situação não demora para se tornar sinistra.

E vamos para o novo terror da Blumhouse!

Dirigido e co-escrito por Jeff Wadlow (dos fracos Verdade ou Desafio e A Ilha da Fantasia) ,Imaginário – Brinquedo Diabólico (Imaginary, no original) começa bem. A protagonista é casada com um cara que tem duas filhas, uma criança e uma adolescente (que antagoniza com ela). A família se muda pra casa onde a protagonista passou a infância. Lá, a caçula encontra um ursinho de pelúcia que se torna o novo amigo imaginário dela. Claro que coisas estranhas vão acontecer, ligadas a esse amigo imaginário.

Lá pelo meio do filme rola um plot twist que me surpreendeu. Se estivesse vendo o filme em casa, heu ia voltar pra rever algumas cenas, rolou um clima meio Sexto Sentido. Mas…

Estava tudo indo bem, mas no terço final, parece que a produção se perdeu. São jogadas várias ideias e nenhuma deles é bem desenvolvida. Dois exemplos simples, pra não entrar em spoilers. Um deles é que às vezes vemos uma silhueta de uma criatura que supostamente deveria ser o “vilão do filme”, mas outras vezes vemos um urso monstruoso. O outro é quando somos levados a um mundo diferente, e o cenário parece aquele labirinto do Escher, que foi bem utilizado no filme Labirinto, de 1986. Inicialmente parece que exploraremos aquele labirinto com escadas onde a gravidade se porta de maneira diferente, mas acaba que toda a ação se passa num único corredor cheio de portas.

Resumindo: ideias são jogadas, mas não são desenvolvidas, a gente só vê ideias soltas e misturadas.

Tem outro problema. Sabe aquele tipo de personagem que é inserido na história só pra explicar pro espectador o que está acontecendo? Poizé, temos uma personagem assim, que entra na trama e é bem didática ao explicar tudo. O problema é que nada faz sentido. Ou seja, a gente tem uma personagem que usa tempo de tela tentando explicar uma coisa que não tem explicação. Seria melhor tirar essa personagem do filme!

Nem tudo é ruim. Como falei, o plot twist do meio do filme é muito bem bolado. Além disso, a trilha sonora de Bear McCreary sabe aproveitar a musiquinha que toca no ursinho de pelúcia, a gente ouve o tema em várias versões diferentes.

Mas aquele final bagunçado atrapalha tudo. Pena.

Plano de Aposentadoria

Crítica – Plano de Aposentadoria

Sinopse (imdb): Quando Ashley e sua filha Sarah se envolvem em um empreendimento criminoso que coloca suas vidas em risco, ela recorre ao pai afastado Matt, atualmente vivendo a vida de um vagabundo de praia aposentado nas Ilhas Cayman.

Não costumo ver trailers, mas me enviaram o trailer deste Plano de Aposentadoria (The Retirement Plan, no original) acabei vendo e curti a ideia. Parecia ser um “novo John Wick”, com o Nicolas Cage no papel principal. Ok, vamos ver qualé.

A comparação é válida, afinal são dois super mega assassinos, aposentados, que são forçados a voltarem à ação. O problema é que John Wick pode até ter uma premissa clichê, mas a execução é bem longe disso. Já Plano de Aposentadoria tem uma execução burocrática, o que nos entrega um filme bem genérico. Escrito e dirigido por Tim Brown, Plano de Aposentadoria é extremamente óbvio. A gente consegue prever tudo o que vai acontecer.

Se tem algo aproveitável é o elenco. Porque, se a trama é previsível e cheia de clichês, pelo menos vemos na tela atores como Nicolas Cage, Ron Perlman, Jackie Earle Haley e Ernie Hudson – inclusive este último é aquele clichê do “amigo do mocinho que entra na trama só pra se ferrar”.

Falei desses quatro atores, mas o melhor personagem é sem dúvida o do Ron Perlman, assassino brutamontes e ao mesmo tempo carinhoso. Se uma coisa vale a pena em Plano de Aposentadoria, é o personagem do Ron Perlman!

As cenas de ação são ok. Não tem nenhuma coreografia de luta que chama a atenção. Mas, pelo menos, mostra sangue quando precisa mostrar.

Por fim, uma coisa curiosa: os diálogos repetem insistentemente que estão procurando um HD, mas o filme só mostra um pen drive. Se a gente vê um pen drive, por que não mudaram o texto dos diálogos?

Pode divertir os menos exigentes. Mas é daquele tipo de filme que a gente esquece na semana seguinte.

Garra de Ferro

Crítica – Garra de Ferro

Sinopse (imdb): Uma família de lutadores que se enfrentam no ringue precisa lidar com uma série de tragédias pessoais.

Bora pro filme do “Zac Efron feio”!

Escrito e dirigido por Sean Durkin, Garra de Ferro (The Iron Claw, no original) conta a história da família Von Erich. Heu não saco nada de luta livre, nunca tinha ouvido falar da família Von Erich. Mas reconheço que é uma história que vale o registro. O Von Erich pai, ex lutador, teve vários filhos, todos acabaram se envolvendo com a luta livre, e boa parte deles teve destinos trágicos. Não vou entrar em detalhes sobre as tragédias, porque pode ser spoiler, mas o filme fala sobre uma suposta “maldição Von Erich”.

(Pelo filme, são quatro irmãos, mais um que morreu criança. Mas, pela trivia do imdb, eram seis no total: Kevin, David, Kerry, Mike e Chris (mais o Jack Jr). Não sei por que o filme não cita o Chris, que segundo a wikipedia, era o caçula, e teria por volta de dez anos no início do filme.)

Garra de Ferro tem personagens ricos e bem construídos, os relacionamentos entre os irmão são bem arquitetados, e o pai super controlador acaba se tornando o grande vilão da história.

O ponto forte aqui são as atuações. Zac Efron surgiu para o mundo com High School Musical, e virou um símbolo para “jovem, talentoso e bonito”. Fez O Rei do Show com o Hugh Jackman, fez Hairspray com John Travolta, Christopher Walken e Michelle Pfeiffer, fez Baywatch com Dwayne Johnson, fez Vizinhos com Seth Rogen, fez 17 Outra Vez com Matthew Perry, entre outros – ele conseguiu criar uma boa carreira “pós sucesso infantil da Disney”. Aqui em Garra de Ferro talvez ele tenha a sua melhor atuação, e duas coisas chamam a atenção. Uma é que Efron está tão forte que de repente podia estar numa cinebiografia do Arnold Schwarzenegger. E a outra é que ele está muito mais feio do que em todo o resto de sua carreira – não sei o quanto é maquiagem e o quanto é resultado de algum procedimento estético que deu errado.

Mas ele não é o único que está bem. Holt McCallany, que normalmente faz coadjuvantes insossos, arrebenta aqui, ele faz o pai vilão, e é uma das melhores coisas do filme. Dois dos irmãos, Harris Dickinson (Triângulo da Tristeza) e Jeremy Allen White (que acabou de ganhar um Emmy pela série The Bear), também estão ótimos (o quarto irmão, vivido por Stanley Simons, é um pouco mais apagado que os outros três). Nos papeis femininos, Lily James está bem, mas nada demais; Maura Tierney tem pouco espaço, mas sua personagem tem alguns ótimos momentos (pena que poucos).

Além disso, a reconstituição de época também é muito boa. O filme se passa no fim dos anos 70 e início dos 80, e toda a parte de roupas e penteados é bem cuidada. A trilha sonora também é boa.

Agora, como “não consumidor de luta livre”, tenho uma crítica. Em uma cena, vemos claramente os supostos opositores combinando os resultados antes da luta. E em outra cena a personagem da Lily James pergunta como funciona um campeonato onde as lutas são combinadas. Faltou algo no filme pra explicar isso. Porque entendo como um show pode (e deve) ser combinado, mas uma competição combinada não tem como ter um campeão.

Não sei por que a produção não tentou indicações ao Oscar. Acho que Zac Efron tinha chances…

I Bought a Vampire Motorcycle

Crítica – I Bought a Vampire Motorcycle

Sinopse (imdb): Quando uma gangue de motociclistas mata um ocultista, o espírito maligno que ele invocava habita uma moto danificada. A moto é então comprada e restaurada, mas revela sua verdadeira natureza ao tentar se vingar da gangue e de qualquer outra pessoa que se interponha em seu caminho.

Outro dia mandaram no grupo de apoiadores do Podcrastinadores um short de Instagram com uma cena de uma moto vampira. Claro que fui catar que filme era!

É um filme trash inglês de 1990, dirigido por Dirk Campbell. O nome original é I Bought a Vampire Motorcycle, mas não consegui descobrir qual é o nome brasileiro – pelo Google parece ser “A Moto Vampira”, mas no imdb está “A Motocicleta do Vampiro”. Aliás, me pergunto se esse filme já foi lançado oficialmente aqui no Brasil, desconfio que não.

Enfim, como previsto, I Bought a Vampire Motorcycle é ruim. Mas não é só ruim por ser trash, tem algumas camadas extras de ruindade. Vamulá.

O filme começa com um ritual satânico que dá errado e acaba que a moto fica possuída. Até aí, aceito. Não me incomoda uma moto possuída. O problema são cenas mal escritas, mal filmadas e mal editadas.

Tem uma cena que é tão ruim que vou criticar em dois níveis. Aliás, é uma cena que heu preferia não ter visto: a cena do cocô animado. A gente tem uma cena com uma visita do policial e acaba descobrindo que era um sonho do protagonista. Como é que alguém acha uma boa ideia colocar outro sonho do protagonista na cena seguinte? Será que ninguém se tocou que já tinham acabado de usar esse recurso? E, pra piorar, o segundo sonho – a cena do cocô – é completamente fora de qualquer coisa proposta dentro do filme. Essa cena não se encaixa com nada dentro da narrativa aqui.

Esta é a pior cena do filme, mas tem outras cenas ruins. Tem uma luta num pub que não faz o menor sentido. Pra começar que o dono do pub ia tentar impedir. Mas, independente do dono do pub, a briga é péssima, uma das piores coreografias da história do cinema. E a cereja do bolo é o erro de continuidade nas motos caídas.

Tem outras cenas que apenas são mal filmadas, como a cena onde dois policiais abordam um motorista bêbado e a moto vampira mata um dos policiais. A cena é tão mal filmada que tive que voltar pra entender quem tinha morrido.

Quer mais? Tem uma cena onde o cara entra na garagem e vê que a moto voltou, com um pedaço de perna humana. Chama a polícia? Não, melhor um padre. Ou… Quando policiais veem a moto descendo pela parede do hospital, eles ligam pra delegacia. Mas até o fim do filme não vemos mais nenhum policial, só o investigador que é um dos principais. Detalhe: o padre estava na delegacia, mas logo depois ele está com a galera.

No elenco, vários atores ruins e uma coisa curiosa. O ator principal, Neil Morrissey, fez um seriado na tv britânica, Boon, junto com Michael Elphick e David Daker, que também estão no elenco daqui. Amanda Noar, a principal personagem feminina, era casada com Neil Morrissey. Nunca soube de nenhum outro filme com nenhum deles. Por outro lado, o padre é interpretado por Anthony Daniels, também conhecido como C-3P0. E sim, o padre tem uma moto!

I Bought a Vampire Motorcycle termina com um gancho pra continuação, que até onde pesquisei, nunca foi feita.

Duna: Parte 2

Crítica – Duna: Parte 2

Sinopse (imdb): Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, Paul Atreides, agora ao lado de Chani e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.

Estreou a aguardada continuação de Duna, de 2021. Heu tinha um receio sobre o final do filme, mas achei satisfatório – mais tarde volto a esse assunto.

Mais uma vez dirigido por Dennis Villeneuve, Duna: Parte 2 é um filmão, com tudo de superlativo que isso carrega. Elenco recheado de estrelas, cenários fantásticos, figurinos caprichados, trilha sonora excelente, tudo aqui é grandioso.

Não li os livros, tudo o que conheço do universo de Duna aprendi no filme de 2021 e no filme de 1984 dirigido por David Lynch. Um amigo que leu comentou que tem coisa diferente, mas faz parte do conceito de “adaptação”.

A história já começa de onde o primeiro filme acabousim, precisa ver ou rever o filme de 2021, senão você pode ficar um pouco perdido. Agora Paul Atreides está com o povo Fremen e precisa lutar contra os Harkonnen, enquanto rola um questionamento religioso se ele seria o novo messias.

Nem sei por onde começar a falar. Acho que posso começar com o visual do filme. Não tenho ideia do quanto foi filmado em locações e quanto foi filmado em estúdio. Mas podemos afirmar que absolutamente nada parece artificial. Se existe tela verde e cgi (e deve ter de monte), não aparece na tela. Cenários, figurinos, props, efeitos especiais, efeitos sonoros, tudo é tecnicamente perfeito.

Vi o filme no Imax. Não só a imagem é ótima, como o som estava muito alto (em algumas cenas, as poltronas do cinema tremiam!) Todo o som do filme é impressionante, tanto a trilha sonora de Hans Zimmer quanto os efeitos sonoros – o efeito usado nas vozes imperativas é assustador.

Vou copiar um parágrafo que escrevi no texto do primeiro filme, porque repito o mesmo comentário: “De vez em quando falam coisas como “o streaming vai matar o cinema”. Olha, a não ser que você seja muito rico e tenha uma sala de cinema especialmente construída na sua casa, não tem como barrar a experiência de ver um filme desses numa sala de cinema, com uma tela grande e um som equilibrado em volta. Duna é filme pra se ver no cinema!

Uma coisa que heu não me lembrava era toda a pegada religiosa. Paul Atreides vira quase um líder de uma seita extremista. E o personagem do Javier Bardem está ótimo como o cara que alimenta todo o fanatismo em volta desse messias.

O elenco é excelente. Timothée Chalamet está muito bem como o protagonista, e, apesar de ser magrelo, convence quando precisa assumir o papel de liderança. Mas quem rouba a cena é Austin Butler (o Elvis!) como Feyd-Rautha, papel que foi do Sting na versão de 84. Butler está assustador! Muito mais do que Dave Bautista que tem porte físico para colocar medo nos adversários.

(Uma curiosidade: Villeneuve disse que pensou no personagem como uma mistura entre o Mick Jagger, um assassino psicopata, um espadachim olímpico e uma cobra. Mick Jagger foi cotado para viver o mesmo personagem na versão de Alejandro Jodorowsky que nunca foi terminada.)

Ainda no elenco, vou contra a maré. Achei que a Zendaya foi o ponto fraco. A personagem dela gosta do Paul, mas resolve não apoiar o lado messiânico, e na minha humilde opinião ela não conseguiu trabalhar bem essa dualidade. Não estraga o filme, mas todo o resto está melhor.

Também no elenco, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Florence Pugh, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård e Charlotte Rampling, além do já citado Javier Bardem. E uma curiosidade: Anya Taylor-Joy está no filme mas só aparece em uma cena! Piscou, perdeu!

É um filme longo, duas horas e quarenta e seis minutos. Vai ter gente dizendo que é um filme chato. Mas heu consegui “entrar” no filme e em nenhum momento me cansou.

Por fim, gostaria de falar sobre o final do filme. Heu tinha um pé atrás porque o imdb já falava sobre um terceiro filme, e fiquei traumatizado com o Aranhaverso 2, filme que não tem fim. Mas, a boa notícia é que Duna Parte 2 faz o correto: encerra a história que estamos vivendo, e deixa pontas soltas para serem resolvidas num possível terceiro filme. Mas, se não tiver esse terceiro filme, ok, temos um encerramento.

Filmão. Grandes chances de top 10 do ano.

O Jogo da Morte

Crítica – O Jogo da Morte

Sinopse (imdb): A estudante Dana chora por sua irmã mais nova, uma criança outrora feliz que cometeu suicídio. Desesperada para saber o que aconteceu, ela explora a história online de sua irmã, descobrindo um jogo sinistro nas redes sociais.

Um amigo mandou o link deste O Jogo da Morte, uma “sessão de imprensa online” deste novo terror russo. Confesso que achei que ia ser bem ruim. Olha, não é que me surpreendeu? Não chega a ser um grande filme, mas é melhor do que muito lixo que chega todos os meses.

(Lembrando que terror russo me traz más lembranças, uns anos atrás tivemos alguns filmes de terror russos lançados aqui, todos eram bem fracos. Aliás, acho que o último filme russo que me empolgou foi o insano Hardcore Henry, mas o seu diretor, Ilya Naishuller, quase não dirige longas, e de lá pra cá so fez o também ótimo Anônimo (vi pelo imdb que ele esta fazendo um filme novo, com John Cena, Carla Gugino e Idris Elba, aguardemos!)).

O Jogo da Morte fala do jogo da Baleia Azul, onde jovens eram incentivados a cometer suicídio. A irmã da protagonista é vítima do jogo, então ela resolve entrar para tentar descobrir quem são os responsáveis.

O formato é aquela espécie de found footage que foi usado em Buscando e Desaparecida, filmes que se passam integralmente através de telas de computadores e celulares. (Não posso afirmar com certeza se todo o filme se passa através de telas, mas não reparei em nenhuma cena fora delas.) Ou seja, tudo aqui é construído através de chats, chamadas de vídeo redes sociais, youtube, etc.

Um detalhe importante para o entendimento do espectador: assim como em Desaparecida, tudo o que aparece escrito nas telas está em português. Lembrando que é um filme russo, isso é essencial, imagina ler tudo em russo e ficar procurando as legendas pro que está escrito?

O ritmo do filme é muito bom, reconheço que fiquei tenso em alguns momentos. Mas, por outro lado, a trama é muito previsível. Qualquer um acostumado com filmes de terror vai adivinhar o suposto plot twist do final.

No elenco, jovens atores russos desconhecidos, ninguém chama a atenção.

O Jogo da Morte não é nada revolucionário, não vai mudar a vida de ninguém. Mas é uma diversão melhor que boa parte dos filmes de terror que são lançados.