Duna: Parte 2

Crítica – Duna: Parte 2

Sinopse (imdb): Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, Paul Atreides, agora ao lado de Chani e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.

Estreou a aguardada continuação de Duna, de 2021. Heu tinha um receio sobre o final do filme, mas achei satisfatório – mais tarde volto a esse assunto.

Mais uma vez dirigido por Dennis Villeneuve, Duna: Parte 2 é um filmão, com tudo de superlativo que isso carrega. Elenco recheado de estrelas, cenários fantásticos, figurinos caprichados, trilha sonora excelente, tudo aqui é grandioso.

Não li os livros, tudo o que conheço do universo de Duna aprendi no filme de 2021 e no filme de 1984 dirigido por David Lynch. Um amigo que leu comentou que tem coisa diferente, mas faz parte do conceito de “adaptação”.

A história já começa de onde o primeiro filme acabousim, precisa ver ou rever o filme de 2021, senão você pode ficar um pouco perdido. Agora Paul Atreides está com o povo Fremen e precisa lutar contra os Harkonnen, enquanto rola um questionamento religioso se ele seria o novo messias.

Nem sei por onde começar a falar. Acho que posso começar com o visual do filme. Não tenho ideia do quanto foi filmado em locações e quanto foi filmado em estúdio. Mas podemos afirmar que absolutamente nada parece artificial. Se existe tela verde e cgi (e deve ter de monte), não aparece na tela. Cenários, figurinos, props, efeitos especiais, efeitos sonoros, tudo é tecnicamente perfeito.

Vi o filme no Imax. Não só a imagem é ótima, como o som estava muito alto (em algumas cenas, as poltronas do cinema tremiam!) Todo o som do filme é impressionante, tanto a trilha sonora de Hans Zimmer quanto os efeitos sonoros – o efeito usado nas vozes imperativas é assustador.

Vou copiar um parágrafo que escrevi no texto do primeiro filme, porque repito o mesmo comentário: “De vez em quando falam coisas como “o streaming vai matar o cinema”. Olha, a não ser que você seja muito rico e tenha uma sala de cinema especialmente construída na sua casa, não tem como barrar a experiência de ver um filme desses numa sala de cinema, com uma tela grande e um som equilibrado em volta. Duna é filme pra se ver no cinema!

Uma coisa que heu não me lembrava era toda a pegada religiosa. Paul Atreides vira quase um líder de uma seita extremista. E o personagem do Javier Bardem está ótimo como o cara que alimenta todo o fanatismo em volta desse messias.

O elenco é excelente. Timothée Chalamet está muito bem como o protagonista, e, apesar de ser magrelo, convence quando precisa assumir o papel de liderança. Mas quem rouba a cena é Austin Butler (o Elvis!) como Feyd-Rautha, papel que foi do Sting na versão de 84. Butler está assustador! Muito mais do que Dave Bautista que tem porte físico para colocar medo nos adversários.

(Uma curiosidade: Villeneuve disse que pensou no personagem como uma mistura entre o Mick Jagger, um assassino psicopata, um espadachim olímpico e uma cobra. Mick Jagger foi cotado para viver o mesmo personagem na versão de Alejandro Jodorowsky que nunca foi terminada.)

Ainda no elenco, vou contra a maré. Achei que a Zendaya foi o ponto fraco. A personagem dela gosta do Paul, mas resolve não apoiar o lado messiânico, e na minha humilde opinião ela não conseguiu trabalhar bem essa dualidade. Não estraga o filme, mas todo o resto está melhor.

Também no elenco, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Florence Pugh, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård e Charlotte Rampling, além do já citado Javier Bardem. E uma curiosidade: Anya Taylor-Joy está no filme mas só aparece em uma cena! Piscou, perdeu!

É um filme longo, duas horas e quarenta e seis minutos. Vai ter gente dizendo que é um filme chato. Mas heu consegui “entrar” no filme e em nenhum momento me cansou.

Por fim, gostaria de falar sobre o final do filme. Heu tinha um pé atrás porque o imdb já falava sobre um terceiro filme, e fiquei traumatizado com o Aranhaverso 2, filme que não tem fim. Mas, a boa notícia é que Duna Parte 2 faz o correto: encerra a história que estamos vivendo, e deixa pontas soltas para serem resolvidas num possível terceiro filme. Mas, se não tiver esse terceiro filme, ok, temos um encerramento.

Filmão. Grandes chances de top 10 do ano.

Super Mario Bros. – O Filme

Crítica – Super Mario Bros. – O Filme

Sinopse (imdb): Um encanador chamado Mario viaja por um labirinto subterrâneo com seu irmão, Luigi, tentando salvar uma princesa capturada

Sempre comento aqui que não jogo videogames, mas, nesse caso, joguei. Claro que não conheço todas as versões, mas conheço o suficiente pra saber que era uma ideia arriscada – e não estou falando da versão de trinta anos atrás com o Bob Hoskins. O problema é que o universo do jogo é muito maluco. Fica difícil criar uma história coerente quando você está num local onde comer um cogumelo faz você crescer – dentre muitas outras coisas completamente nonsense. E o roteiro aqui conseguiu essa tarefa. Não só o filme flui apesar desse lore louco, como ainda é repleto de easter eggs.

O visual não traz nada de revolucionário, mas pelo menos é extremamente bem feito – às vezes parece que são bonecos reais. Além disso, o filme é bem colorido, com cenários malucos e coerentes com os mundos apresentados no videogame. Ah, claro, o filme é muito engraçado, algumas piadas são muito boas (é uma produção da Illumination, eles têm tradição de filmes bem engraçados).

A trilha sonora de Brian Tyler é excelente! O tema do jogo é super famoso, e a trilha orquestrada usa trechos do tema ao longo de todo o filme.

Os personagens são bons. Não sei se a Peach teve alguma atualização em algum jogo – na época que heu jogava ela era literalmente uma “donzela em perigo”, coisa que não funciona mais nos dias de hoje. Agora Peach tem um bom protagonismo. O Luigi também tem um papel importante, não é só “escada” para o Mario como no jogo. Dentre os personagens secundários, adorei a estrelinha azul que está presa, acho que ela é do Super Mario Galaxy.

(A sessão de imprensa foi com cópia dublada. A dublagem é boa, mas preferia ter visto ouvindo as vozes de Chris Pratt, Anya Taylor-Joy, Jack Black, Seth Rogen, Charlie Day e Keegan-Michael Key.

Por fim, não é Marvel, mas tem duas cenas pós créditos, uma no início e outra lá no finzinho.

O Menu

Crítica – O Menu

Sinopse (imdb): Um jovem casal viaja para uma ilha remota para comer em um restaurante exclusivo onde o chef preparou um cardápio farto, com algumas surpresas chocantes.

Parece que este O Menu (The Menu, no original) foi um dos títulos badalados no último Festival do Rio. Mas, como comentei no texto sobre Império da Luz, não dei bola para o Festival do Rio este ano, e quase deixei O Menu passar.

Dirigido pelo pouco conhecido Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game of Thrones, Shameless e Succession), O Menu é daquele tipo de filme onde quase tudo acontece no mesmo cenário, com todos os personagens presentes – quase uma peça de teatro filmada.

O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy é eficiente ao equilibrar a trama entre vários personagens. Claro, o foco maior fica nos três principais, mas tem espaço para conhecermos um pouco de cada um dos outros convidados do jantar. E o modo como o jantar é apresentado é uma boa crítica à gourmetização extrema. Aliás, vi alguns críticos incomodados, acho que a carapuça serviu e eles entenderam que seria “cinema” no lugar de “comida”.

Mas o melhor está nas atuações, principalmente de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy. Fiennes tem uma das melhores atuações da sua carreira como o chef obcecado pela perfeição. E Anya mais uma vez mostra que é um nome a ser acompanhado. Nicholas Hoult tem o terceiro papel principal, mas seu personagem é mais besta. Entre os vários nomes menores do resto do elenco, olha lá, tem o John Leguizamo!

Tenho um comentário sobre o fim, mas é um spoiler brabo, então vou colocar o aviso de spoilers.

SPOILERS!

Entendi a ideia do chef, uma espécie de vingança pessoal misturada com suicídio. Mas não consigo entender por que seus funcionários embarcariam nesse suicídio coletivo. Eles já trabalhavam num sistema quase escravo, era a chance de liberdade. Não achei muito lógico.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo não gostando do final, O Menu ainda é uma boa opção de suspense/terror diferente do óbvio.

Amsterdam

Crítica – Amsterdam

Sinopse (imdb): Na década de 1930, três amigos testemunham um assassinato, são incriminados e descobrem uma das tramas mais ultrajantes da história americana.

Antes de falar do filme, preciso falar da sessão de imprensa. Normalmente, críticos e jornalistas têm acesso a uma sessão antes da estreia, pra dar tempo de produzir conteúdo. E normalmente essa sessão acontece alguns dias antes. Mas, não sei por que, Amsterdam teve uma sessão quase um mês antes da estreia. Pior: sessão foi sem legendas! Pra que exibir um filme com tanto tempo de antecedência?

Enfim, estreia esta semana, então agora é hora do texto. Vamos ao filme?

A primeira coisa que chama a atenção aqui é o elenco. Afinal não é sempre que temos Margot Robbie, Christian Bale, John David Washington, Robert DeNiro, Rami Malek, Anya Taylor-Joy, Zoe Saldaña, Michael Shannon, Mike Myers, Chris Rock, Taylor Swift, Timothy Olyphant e Andrea Riseborough. É tanta gente legal passando pela tela que o espectador até se distrai e esquece as falhas.

Além do elenco, a reconstituição de época também é muito boa, assim como a fotografia de Emmanuel Lubezki (que ganhou três vezes seguidas o Oscar de fotografia, por Gravidade, Birdman e O Regresso). Amsterdam é um filme bonito. E as maquiagens também são muito boas, os dois atores principais tiveram graves ferimentos de guerra.

Mas, dito isso, achei o filme meio vazio.

Diria que o problema é o roteiro, escrito pelo diretor David O Russell, que não lançava nenhum filme desde Joy, de 2015. E, olha só, fui reler o que escrevi sobre Joy na época, vou copiar um trecho aqui: “Mais um filme meia boca do superestimado David O. Russell… A história de uma mulher que inventou um esfregão daria um bom filme? Talvez. Mas precisaria de um bom roteiro, já que a história em si é besta. E isso não acontece aqui. Joy: O Nome do Sucesso tem uma cena boa aqui, outra acolá. Mas no geral, é um filme bobo.”

Ou seja, O. Russell continua o mesmo. Mas, péra, posso catar um trecho do que escrevi em 2013 sobre Trapaça, seu filme anterior? “Sabe quando um filme tem um monte de coisas legais, mas simplesmente não funciona? Tem a Amy Adams linda e com decotes generosíssimos, bons atores com boas caracterizações, figurinos bem cuidados, boa ambientação de época, boa trilha sonora? Mas, apesar de tudo isso, parece que o filme não “dá liga”.

(E isso porque achei O Lado Bom da Vida um filme bem fuén…)

Pior é que depois que vi Amsterdam, fui catar informações pela internet e descobri que David O. Russell já teve problemas nos bastidores com alguns de seus atores, como George Clooney e Amy Adams. Mas, não sei por quais motivos, os filmes dele sempre geram indicações ao Oscar, sete atores diferentes já foram indicados por filmes com ele: Jennifer Lawrence (três vezes), Christian Bale (duas vezes), Amy Adams (duas vezes), Bradley Cooper (duas vezes), Melissa Leo, Robert De Niro e Jacki Weaver. Mais: ele é o único diretor que já teve dois filmes consecutivos com indicações para os quatro Oscars de atuação (O Lado Bom da Vida e Trapaça). Deve ser por isso que ele consegue tal elenco.

E, pra fechar, falando do elenco deste Amsterdam. São três papeis centrais, Margot Robbie, Christian Bale e John David Washington. Mas o único destaque é para Bale, que está ótimo com suas cicatrizes e seu olho de vidro. Os outros dois estão apenas no piloto automático. E o resto do elenco mal dá pra julgar, alguns deles aparecem em uma ou duas cenas!

Por fim, mais uma vez, longo demais (acho que comentei isso em todas as críticas sobre os filmes do diretor), são duas horas e quatorze minutos que chegam a cansar.

No fim, fica aquela sensação de potencial desperdiçado. Pena.

O Homem do Norte

Crítica – O Homem do Norte

sinopse (imdb): Depois de testemunhar o assassinato do pai pelas mãos do seu tio Fjölnir, e ver sua mãe e reino tomados pelo assassino, o jovem Príncipe Amleth foge para retornar anos depois, já adulto, determinado a fazer justiça.

Estreou o aguardado épico viking O Homem do Norte (The Northman, no original), novo filme de Robert Eggers.

Como falo sempre, a gente deve seguir o nome do diretor. Este é o terceiro filme dirigido por Eggers, e heu tenho opiniões opostas com relação aos outros dois. Gosto muito de A Bruxa, mas acho O Farol muito ruim. Então, rolava uma expectativa, mas ao mesmo tempo rolava um pé atrás.

A boa notícia é que gostei muito de O Homem do Norte. Gostei mais até do que A Bruxa. Empolgante, violento e muito bem filmado.

O Homem do Norte é o filme mais palatável de Eggers. Sim, tem partes contemplativas e algumas sequências cabeça, mas bem menos que os anteriores. A Bruxa era um terror cabeça, muita gente saiu do cinema com raiva do filme pelos seus momentos “tênis verde”. E O Farol era ainda mais hermético, tipo, “não gostou do meu filme porque é cabeça, vou fazer um ainda mais cabeça”. O Homem do Norte tem seus momentos “tênis verde”, claro, mas por outro lado traz uma clássica história de vingança, num ritmo alucinante, e com muito muito sangue. O cara que for ao multiplex no shopping pode até comentar sobre alguns momentos onde não dá pra entender nada, mas vai curtir a jornada de sangue e violência do protagonista Amleth.

Falei violento? O Homem do Norte é MUITO violento, e tem algumas sequências muito boas. Tem uma (que me pareceu ser um plano sequência) onde um grupo de vikings ataca uma vila e faz um massacre violentíssimo – aliás, é desta sequência que tiraram a imagem do pôster. Vou além: algumas mortes são tão gráficas que vão agradar os fãs de gore.

O visual do filme é um espetáculo. Não li sobre os bastidores, não sei se foi tudo filmado em locações ou se teve algo em estúdio, mas o resultado ficou excelente, vários planos abertos onde dá pra pausar e colocar num quadro. A trilha sonora, que usa muitos sons de instrumentos antigos, também é muito boa.

Queria fazer dois comentários sobre o elenco. O primeiro é sobre o protagonista Alexander Skarsgård. Sou fã do cara desde a época de True Blood. Ele foi o Tarzan, mas flopou. Ele estava num filme do King Kong mas ninguém lembra. Ele aqui está sensacional, ele tem porte físico coerente com o que o personagem pede, e mostra a fúria necessária para o filme. Torço muito por ele, tomara que a partir deste filme sua carreira decole.

O outro comentário não é tão elogioso. Por opção, o filme é falado em inglês, com um sotaque que ficou muito forçado. Grandes atores (Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe) , grandes atuações, atrapalhadas por um sotaque artificial.

Segundo o imdb, O Homem do Norte é o filme viking mais correto feito até hoje, historicamente falando. Eggers, junto com historiadores, fez uma pesquisa minuciosa para ter cenários, figurinos e props o mais próximos o possível da realidade.

Filmão!

Noite Passada em Soho

Crítica – Noite Passada em Soho

Sinopse (imdb): Uma jovem apaixonada por design de moda pode entrar misteriosamente nos anos 60, onde conhece uma cantora deslumbrante. Mas a década de 1960 em Londres não é o que parece, e o tempo parece desmoronar com consequências sombrias.

Lembro de um Podcrastinadores onde estávamos falando sobre expectativas sobre filmes a estrear. Não gosto muito de criar expectativas, acho que a chance disso dar errado é grande, então normalmente evito ler muito sobre filmes vindouros. Mas, já que era pra citar um filme, falei de Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, no original), porque era o filme novo do Edgar Wright depois de Baby Driver.

Edgar Wright tem um currículo impressionante (e, inexplicavelmente, é um nome muito pouco conhecido). Ele fez a trilogia cornetto – que tem três nomes péssimos aqui no Brasil, Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso e Heróis de Ressaca. Ele também fez o genial Scott Pilgrim e a obra prima Baby Driver.

(Adoro Baby Driver, é um musical sem os atores cantando as músicas, tudo no filme está sincronizado com a trilha sonora.)

Para o bem e para o mal, Última Noite em Soho não quer ser um novo Baby Driver. Claro que heu queria ver outro filme com uma edição sonora como aquele, mas não reclamo de ver algo novo. Desta vez não é um filme de ação sincronizado com a parte musical; Wright nos apresenta um suspense com um toque sobrenatural e uma espécie de viagem no tempo. Achei que seria terror, mas acho que só adentra no universo do terror em alguns momentos na parte final. Mas, mesmo quando não é terror, tem um ou dois jump scares bem feitos.

Última Noite em Soho é extremamente bem filmado. O filme é cheio de cenas com espelhos, onde tem uma atriz de um lado e outra do outro lado. Não sei se ele tinha um cenário com um vidro no lugar do espelho, ou se ele filmou dois takes, um com cada atriz, só sei que o resultado ficou impressionante. Tem uma cena de uma dança, onde a câmera acompanha um casal, e a atriz é trocada durante a dança, várias vezes. Segundo o imdb, a dança foi coreografada, as atrizes realmente trocavam de lugar, sem efeitos especiais!

Aliás, preciso falar da atuação das duas atrizes. Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit, Tempo) e Anya Taylor-Joy (Fragmentado, A Bruxa) estão ótimas! O roteiro dá espaço para as duas se desenvolverem, e ambas apresentam um resultado excelente. Tembém no elenco, Matt Smith, Terence Stamp e Diana Rigg – foi o último filme dela, antes de começar tem uma dedicatória “para Diana”.

Ah, sim, a reconstituição de época da década de 60 é fantástica. E, claro, depois de Baby Driver a gente precisa falar da trilha sonora. A trilha aqui, repleta de músicas da década de 60, ajuda a entrar no clima. E sempre as músicas são bem colocadas dentro do filme. Acho que só tem uma música que não é dos anos 60, uma música da Siouxsie and the Banshees – que aliás, é usada numa cena onde a edição do áudio ajuda o clima hipnótico vivido pela personagem.

(Descobri que duas músicas que gosto, da década de 80, são covers de músicas dos anos 60! I’ve got my mind set on you, que achava que era do George Harrison, teve uma gravação em 1962 por James Ray. E Always Something There to Remind Me, que achei que era da banda Naked Eyes, foi composta por Burt Bacharach e Hal David, e foi gravada por Sandie Shaw em 1964!)

O fim do filme traz um plot twist bem bolado – algumas pistas são deixadas ao longo do filme, mas posso dizer que não peguei essas pistas e gostei do plot twist.

Não tem cenas pós créditos, mas tem várias paisagens londrinas vazias – esses takes foram feitos durante o lockdown, quando não tinha ninguém nas ruas.

Segundo o imdb, Edgar Wright está trabalhando numa nova versão de O Sobrevivente / The Runing Man. Aguardemos.

Radioactive

Crítica – Radioactive

Sinopse (imdb): A incrível história real de Marie Sklodowska-Curie e seu trabalho ganhador do Prêmio Nobel que mudou o mundo

O texto de hoje vai ser curtinho, porque não tem muito o que se falar sobre esse filme.
Dirigido por Marjane Satrapi (Persepolis), Radioactive é uma cinebiografia sobre a Marie Curie. Um filme correto, mas, cinematograficamente falando, um filme bobo.

Vejam bem: não é um filme ruim. Pra mim foi ótimo, porque heu conhecia pouca coisa sobre a Marie Curie. Não sabia que ela tinha ganhado o Nobel duas vezes, e que sua filha também ganhou o Nobel! Num mundo muito mais machista que o atual, ela teve importantes conquistas.

No papel principal, Rosamund Pike mais uma vez manda bem – apesar do papel não exigir muito. Sam Riley faz Pierre Curie, personagem historicamente importante, mas atuação burocrática. E foi uma agradável surpresa ver Anya Taylor-Joy no fim do filme, o nome dela nem está na primeira página do imdb.

O filme usa uns flash forwards pra avançar no tempo e mostrar coisas que aconteceram no futuro por causa das descobertas da Marie Curie – coisas boas e coisas ruins. Mas não gostei muito deste artifício, achei tudo meio jogado.

Como personagem histórica, Marie Curie precisa ser conhecida. Mas, como cinema, sua cinebiografia deixa a desejar. Não é um filme que vai ser lembrado no futuro.

Os Novos Mutantes

Crítica – Os Novos Mutantes

(Não, não vou falar da versão d’Os Mutantes sem a Rita Lee)

Sinopse (imdb): Cinco jovens mutantes, apenas descobrindo suas habilidades enquanto mantidos em uma instalação secreta contra sua vontade, lutam para escapar de seus pecados passados ​​e se salvar.

Finalmente estreou Os Novos Mutantes (The New Mutants, no original). E quando falo “finalmente”, não é porque heu estava aguardando ansiosamente, mas porque esse filme foi adiado diversas vezes. Já até tinha virado piada interna no Podcrastinadores, porque já citamos esse lançamento em alguns episódios de “expectativas pro ano que vem”.

Não fui procurar detalhes da produção, mas sei que a mesma passou vários problemas. Claro que isso refletiu no resultado que vemos na tela, infelizmente. Vamos primeiro ao filme, depois a gente fala um pouco sobre os percalços.

O diretor Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) declarou que é o primeiro filme ao mesmo tempo de terror e super heróis. Achei boa a ideia, mas, não, não é a primeira vez. Sem precisar de muito esforço me lembro de Brightburn, que era uma versão terror do Superman.

A proposta era um filme de terror paralelo ao universo dos X-Men (que são citados, mas não mostrados). Gostei da ambientação no hospital / sanatório. Segundo o imdb, a produção se inspirou em Um Estranho no Ninho, Clube dos Cinco e A Hora do Pesadelo 3, a mistura ficou boa. Mas a gente logo vê que é uma produção sem dinheiro – a médica interpretada pela Alice Braga aparentemente trabalha sozinha naquele prédio enorme – ela deve ser médica, segurança, cozinheira, faxineira e responsável por serviços gerais. Será que era tão caro contratar uns dois ou três atores secundários e colocá-los de jaleco branco ao lado dela?

Mas esse não é o pior problema. A protagonista Blu Hunt é uma atriz sem graça interpretando uma personagem sem graça (no imdb, o seu nome é o quinto a ser creditado!). Carisma zero. Se o protagonismo fosse com a Anya Taylor-Joy, talvez o filme fluísse melhor. O poster do filme concorda comigo, a Anya está em destaque, enquanto a Blu está escondida.

E aí a gente vê os problemas da produção. Provavelmente houve mudanças desde o projeto inicial até o resultado nas telas (em um dos pôsteres do filme o cabelo da Maisie Williams está diferente!). E nem todas as mudanças surtiram efeito, e assim coisas ficam soltas no ar. Por exemplo, gostei do “monstro” que assombra a Anya Taylor-Joy, mas ele é pouco explorado pelo roteiro. A ideia inicial era fazer uma trilogia, talvez esse plot fosse desenvolvido. Mas aparentemente não teremos continuação…

O elenco diminuto traz nomes com potencial de criar hype – Anya Taylor-Joy, de A Bruxa e Fragmentado; Maisie Williams, de Game Of Thrones; e Charlie Heaton, de Stranger Things. Mas acho que só Anya se salva. Uma curiosidade pro público brasileiro: o personagem Roberto é brasileiro, e o ator que o interpreta, Henry Zaga, também é – ele solta umas duas frases em português, ia ficar tosco se fosse um gringo. Aliás, não nos esqueçamos de Alice Braga. Produção gringa com dois atores brasileiros, pena que é uma produção que naufragou.

(Já repararam que, aos poucos, Alice Braga constrói uma sólida carreira no cinema fantástico hollywoodiano? Ela também estava em Predadores, Elysium, Eu Sou A Lenda, Repo Men, O Ritual, Ensaio Sobre a Cegueira…)

2020, pandemia, cinemas vazios, Os Novos Mutantes finalmente foi lançado. Não tem como não pensar que foi de propósito. Afinal, “se a bilheteria for ruim, a culpa é da pandemia”.

Playmobil – O Filme

Crítica – Playmobil – O Filme

Sinopse (imdb): Longa-metragem de animação inspirada nos brinquedos da marca Playmobil.

O cinema evolui. De vez em quando aparecem filmes que mudam os paradigmas. O cinema de ação mudou com o Jason Bourne, e depois mudou de novo com o John Wick. Os filmes da Marvel elevaram a barra no subgênero “filmes de super heróis”; os filmes da Pixar fizeram o mesmo com os longas de animação.

Depois dos filmes da Lego, fica difícil ver um filme tão bobinho quanto Playmobil – O Filme (Playmobil: The Movie, no original). Playmobil não é exatamente ruim, mas é tão insosso que até a sinopse do imdb é sem graça.

Playmobil tem alguns bons momentos, e talvez agrade os menores. Mas só. Na dúvida, reveja Uma Aventura Lego.

Vidro

Crítica – Vidro

Sinopse (imdb): O segurança David Dunn usa suas habilidades sobrenaturais para rastrear Kevin Wendell Crumb, um homem perturbado que tem vinte e quatro personalidades.

Já falei aqui sobre a carreira do M. Night Shyamalan. Depois de um início sensacional, foi ladeira abaixo até A Visita (seu nono filme) começar uma curva ascendente, que culminou no bom Fragmentado – que terminou com uma cena que o ligava a Corpo Fechado, segundo filme do diretor. Agora é o momento de ver como ficou essa conexão entre os dois filmes aparentemente independentes entre si.

(Todos se perguntam se Shyamalan teve a ideia de fazer uma trilogia lá atrás, quando fez Corpo Fechado. Heu acredito que não, que a ideia só deve ter surgido junto com Fragmentado – quando fez Dama na Água ele tinha moral para um grande orçamento, era melhor ter feito àquela época, quando o Bruce Willis estava mais novo).

O melhor de Vidro (Glass, no original) é como foi feita a união desses dois filmes. Não me lembro de outro caso assim, onde um filme é revisitado quase vinte anos depois, e é ligado a outro filme que não teria nada a ver – com o detalhe de manter o diretor e roteirista, além de todo o elenco (não só temos o trio principal Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy, como Spencer Treat Clark repete o papel de filho do Bruce Willis e Charlayne Woodard volta como a mãe do Samuel L. Jackson, papeis que eles fizeram em Corpo Fechado). E, vendo Vidro, a gente realmente acredita que os três filmes são uma coisa só. Palmas para o Shyamalan.

Se por um lado a junção dos dois filmes ficou boa, por outro lado Shyamalan perdeu a mão no ritmo do filme. Sim, ele continua sabendo conduzir sua câmera, e a boa trilha sonora ajuda. Mas em alguns momentos Vidro fica chato, com muita enrolação, principalmente na parte do hospital. Talvez pudesse ser um filme mais curto – são duas horas e nove minutos!

Outra coisa que não funcionou é que este era pra ser o filme do Mr. Glass (já que o primeiro foi do David Dunn e o segundo, do Kevin). Ele inclusive ganha o nome do filme. Mas sua participação é discreta, ele passa mais da metade do filme olhando pro nada. (Além disso, fiquei me perguntando por que a personagem da Sarah Paulson o colocou junto com os outros dois, inteligência não é exatamente um super poder).

Sobre o elenco, James McAvoy novamente dá um show. Sim, é a repetição do papel que ele já tinha feito em Fragmentado, mas aqui ele vai além, e conhecemos outras das suas personalidades. E McAvoy realmente convence quando muda de “personagem” – em uma das cenas, a câmera está dando voltas num quarto, enquanto personalidades entram e saem. Impressionante! Por outro lado, Anya Taylor-Joy não acrescenta nada com a volta do seu papel.

Vidro não vai agradar a todos, principalmente quem for ao cinema pra ver um filme de super heróis. Mas os fãs do diretor vão curtir.

p.s.: Vidro funciona muito melhor se você se lembra do que acontece em Corpo Fechado e Fragmentado. Não há explicações, quem não viu ou não se lembra talvez se sinta perdido em algumas situações.