Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Crítica – Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Sinopse (imdb): D’Artagnan chega em Paris a procura de seus agressores após ser dado como morto. Sua busca o leva para o centro de uma guerra real que coloca em risco o futuro da França. Ele se alia à Athos, Porthos e Aramis, três mosqueteiros do rei.

Bora pra mais uma versão da clássica história dos três mosqueteiros?

Produção francesa, essa nova versão tem um problema logo de cara: o filme não tem fim, e o espectador só descobre isso durante a projeção. Qual é o problema de se colocar no cartaz, ou no imdb? Só está escrito “Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan”, quando deveria ter um “parte 1”. Ou seja, estão enganando o espectador!

Dito isso, vamos ao filme. Dirigido por Martin Bourboulon, Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (Les trois mousquetaires: D’Artagnan, no original) tem algumas sequências de ação muito bem filmadas, como uma luta entre os quatro mosqueteiros e vários soldados do Richelieu, onde tudo acontece em plano sequência (ok, dá pra ver que tem alguns cortes ali, mas não tiro o mérito da filmagem). Outra cena boa é quando a Rainha é encurralada num cômodo, a briga sai do cômodo mas a câmera continua – sem cortes – com a Rainha.

Gostei de toda a ambientação de época. Tudo é muito sujo, e sempre impliquei com filmes medievais “limpinhos”. Aqui não, D’Artagnan aparece sujo no início do filme e continua sujo por várias cenas. Quem está acostumado só com o cinema hollywoodiano talvez ache estranho.

Na minha humilde opinião, o filme tem uns escorregões no terço final. Por exemplo, o Duque de Buckingham estava arrasado, triste porque perdeu o amor da sua vida, e logo depois já estava alegre e serelepe dando mole pra primeira piriguete que apareceu. Mas… Me disseram que no livro é assim também. Não li o livro, não sei, mas, no filme, soou incoerente.

Outro problema: tem um momento onde o Athos conta uma história do seu passado para o D’Artagnan. E essa história não se conecta com absolutamente nada do que acontece no filme. Provavelmente é algo que vai ter continuidade na Parte 2. Mas acho bem ruim deixar algo assim aberto. Porque, se a gente olhar só esse filme, tira aquela cena e o filme não perde nada.

O elenco está bem, mas, tem aquele problema de sempre sobre a idade dos atores. Vincent Cassel é um grande ator, dono de uma grande filmografia, mas, ele está com 56 anos, me pareceu um pouco velho pra ser um mosqueteiro do Rei (fui catar na wikipedia, o personagem era pra ter 30 anos). Mas, isso é um problema recorrente, então deixemos pra lá. O elenco também conta com Eva Green, François Civil, Romain Duris, Pio Marmaï, Louis Garrel, Vicky Krieps e Lyna Khoudri.

Ainda preciso falar desse lance de dividir entre duas partes. Na verdade, isso já foi feito, nos anos de 1973 e 74 foram lançados os filmes Os Três Mosqueteiros e A Vingança de Milady, com Michael York, Oliver Reed, Richard Chamberlain, Raquel Welch, Faye Dunaway e Christopher Lee. Mas não sei se naquela época alguém avisou aos espectadores que a história não teria fim. Porque aqui, nesta versão de 2023, parece um seriado de TV: o arco da história tem uma conclusão, mas acontece um cliffhanger para chamar para um próximo episódio ou próxima temporada. Bem, pelo menos a segunda parte já foi filmada e tem previsão de ser lançada ainda este ano, em dezembro.

Ameaça Profunda

Crítica – Ameaça Profunda

Sinopse (imdb): Uma equipe de pesquisadores oceânicos que trabalham para uma empresa de perfuração em alto mar tenta chegar em segurança após um terremoto misterioso devastar suas instalações de pesquisa e perfuração em águas profundas localizadas na parte inferior da Fossa das Marianas.

Ameaça Profunda (Underwater, no original) quer ser uma mistura de Alien com O Segredo do Abismo. Mas funciona melhor se visto como uma mistura de Tentáculos com Do Fundo do Mar. Sim, Ameaça Profunda só funciona se for encarado como um filme B.

Dirigido pelo pouco conhecido William Eubank, Ameaça Profunda tem um bom ritmo e uma ambientação claustrofóbica eficiente, mas tem personagens rasos, é previsível e cheio de clichês. Ou seja, é um bom filme B.

Li algumas críticas que entram mais em acontecimentos da trama, mas prefiro não citar aqui pra evitar os spoilers. Fui ao cinema sem saber de nada, o que costuma ser sempre a melhor opção. Tomara que o leitor do heuvi consiga a mesma experiência!

Dois comentários sobre o elenco. Kristen Stewart, apesar de odiada por muitos, não faz feio como a “quero ser Sigourney Weaver” da vez. Por outro lado, alguém podia ter avisado ao TJ Miller que não estamos num filme de comédia. Suas piadinhas sempre erravam o timing. Também no elenco, Vincent Cassel, Mamoudou Athie, John Gallagher Jr. e Jessica Henwick.

Vai agradar os menos exigentes.

Jason Bourne

Jason BourneCrítica – Jason Bourne 

O ex-agente mais perigoso da CIA está de volta para descobrir verdades ocultas sobre o seu passado.

Depois do terceiro filme do personagem Bourne, parece que Matt Damon teria dito que queria largar a franquia para diversificar a carreira. Pelo jeito, mudou de ideia e repensou a decisão – afinal, só dá franquia no cinema blockbuster contemporâneo.

Pelo menos este novo Jason Bourne (idem no original) mantém a qualidade da franquia. Inclusive o diretor é o mesmo Paul Greengrass do segundo e terceiro filmes.

A volta de Greengrass é uma boa notícia para os fãs da franquia, porque garantiu o padrão. Mas preciso confessar que não gosto do estilo do diretor, de usar câmera tremida na mão o tempo todo. Isso inclusive atrapalha nas cenas de ação. Na minha humilde opinião, o filme seria bem melhor se a câmera temesse menos.

Agora, o problema real de Jason Bourne é que a gente já viu tudo isso antes. Se o primeiro Bourne, lá longe, em 2002, inovou e revolucionou o conceito dos espiões no cinema contemporâneo, este novo é apenas mais um bom filme de ação.

Pelo menos Jason Bourne é um filme competente. Os fãs da franquia vão curtir. E admito que, mesmo com a câmera tremida, a “obrigatória” cena de perseguição de carros é de tirar o fôlego.

Outro destaque é o elenco. Além da volta de Damon e Julia Stiles, o filme também conta com a recém oscarizada Alicia Vikander, além de Tommy Lee Jones e Vincent Cassel.

Enfim, nada de novo. Mas vai agradar os fãs.

Crimes Ocultos

crimes ocultosCrítica – Crimes Ocultos

Na União Soviética pós Segunda Guerra Mundial, o policial Leo Demidov desobedece ordens superiores e investiga uma série de assassinatos de crianças.

Sabe quando um filme te atrai com um elenco legal, mas a história é tão mal conduzida que põe tudo a perder?

Dirigido por Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo), Crimes Ocultos (Child 44, no original) não chega a ser exatamente ruim. Mas a trama é mal construída, e os personagens, mal desenvolvidos. Ouvi um papo que o filme originalmente teria mais de cinco horas (!), e foi editado para ter “apenas” 137 minutos. Assim, várias sequências ficam sem sentido (como, por exemplo, as trocas de olhares entre os personagens de Joel Kinnaman e Noomi Rapace no início do filme), e alguns personagens são desperdiçados, como o General Nesterov de Gary Oldman. E, mesmo com os cortes, o resultado ficou cansativo.

Teve outra coisa que me incomodou, mas é um detalhe. O filme é falado em inglês. Mas como se passa na Rússia, todos os atores estão falando com sotaques. Não gostei, achei que ficou forçado. Na minha humilde opinião, ou fala em russo, ou esquece esse sotaque forçado…

Se algo se salva, é o elenco. O filme é confuso, mas é sempre legal ver gente como Tom Hardy, Gary Oldman, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Paddy Considine, Vincent Cassel, Jason Clarke e Charles Dance em ação.

Crimes Ocultos é baseado no livro Criança 44, de Tom Rob Smith, primeiro livro de uma trilogia com o personagem Leo Demidov. Ou seja, devemos ter outros dois filmes…

Em Transe

Crítica – Em Transe

Filme novo do Danny Boyle!

Um homem que trabalha em leilões de peças de arte acaba envolvido com uma gangue responsável pelo roubo de quadros e com uma hipnoterapeuta.

O diretor Danny Boyle tem uma carreira peculiar. Seus filmes pouco têm a ver um com o outro – o que têm em comum Quem Quer Ser um Milionário?, Trainspotting, Sunshine – Alerta Solar e Caiu do Céu?. Mas, por ter um estilo marcante de filmar – edição com cortes rápidos, fotografia com cores fortes, trilha sonora alta e marcante – sua filmografia apresenta uma certa unidade.

(Aliás, falando em versatilidade, Boyle foi o responsável pela cerimônia de abertura das últimas Olimpíadas, em Londres…)

Em Transe (Trance, no original) é mais um filme diferente na sua versátil filmografia. Desta vez, Boyle apresenta um thriller com reviravoltas na trama. Em Transe é daquele tipo de filme que o quanto menos você souber antes, melhor. Por isso, vou tomar cuidado para não soltar spoilers. Só vou adiantar que a trama é bem construída, e nem tudo é o que parece.

Talvez esta “necessidade de enganar o espectador” seja o ponto fraco de Em Transe. A trama é tão envolvente e rocambolesca, principalmente na parte final, que a gente não repara as inconsistências do roteiro. O fim do filme teria um desfecho diferente na vida real (selecione para ler: a polícia procuraria a mulher desaparecida, e acabaria encontrando o carro abandonado no estacionamento. Além disso, o carro estaria exalando um cheiro terrível!).

Sobre o elenco, James McAvoy e Vincent Cassell estão bem, como esperado. E Rosario Dawson impressiona com uma corajosa (e generosa) cena de nu frontal (que não é gratuita, tem explicação na trama).

Apesar da parte final confusa, Em Transe mantém a qualidade habitual de Danny Boyle e é uma boa opção no circuito.

Um Método Perigoso

Crítica – Um Método Perigoso

O filme mostra o início da psicanálise. Um jovem Carl Jung começa um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein, envolvendo interpretações de sonhos e associações de palavras, sob orientação de seu mestre, Sigmund Freud – que usa uma metodologia diferente.

Admito que não gostei do filme, mas não posso dizer que me decepcionei. Um Método Perigoso (A Dangerous Method, no original) é compatível com a carreira recente do diretor David Cronenberg.

Cronenberg não era um diretor “de ponta”, mas era reconhecido como um grande realizador de filmes de terror, com clássicos como Scanners, Videodrome e A Mosca no currículo. O gore era tão presente nos seus filmes quez ele tinha o “carinhoso” apelido “Cronembleargh”… Mesmo quando não estava no terror, seus filmes filmes eram coerentes, como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Crash – Estranhos Prazeres e eXistenZ.

Aí parece que o cara resolveu “crescer”, e passou a fazer filmes “sérios”: Marcas da Violência (2005), Senhores do Crime (2007) e agora este Um Método Perigoso. Não posso dizer que ele está errado com esta nova fase na carreira, afinal, ele ganhou mais reconhecimento da crítica em geral e seus atores são indicados a prêmios importantes (Viggo Mortensen foi indicado ao Oscar por Senhores do Crime e ao Globo de Ouro por Um Método Perigoso; William Hurt concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante  por Marcas da Violência). Mas posso dizer que, pelo menos na minha humilde opinião, sua carreira ficou sem graça. Heu preferia os seus filmes anteriores…

Um Método Perigoso é a adaptação da peça The Talking Cure (de Christopher Hampton, também roteirista aqui), baseada no livro A Most Dangerous Method, de John Kerr. O filme não chega a ser ruim. O problema é que é um filme chato – se baseia quase que totalmente em diálogos monótonos, um papo cabeça sobre psicologia / psiquiatria. Tem gente que curte isso, me  lembro dos meus tempos de frequentador do bar “Sujinho”, na UFRJ, campus Praia Vermelha, ao lado do Instituto de Psicologia. Naquela época, talvez heu tivesse paciência pra toda essa discussão cabeça, e a mania de Freud de dizer que tudo tem a ver com sexo. Mas confesso que hoje em dia não tenho mais saco…

Se tem algo muito bom aqui são as interpretações dos atores. Michael Fassbender e Viggo Mortensen estão bem como Jung e Freud; Vincent Cassel idem, num papel pequeno, como Otto Gross. E Keira Knightley está excelente como a desequilibrada (e depois controlada) Sabina Spielrein.

Mas no geral, é chato. Sinto que sou uma voz sozinha na multidão, mas mando o meu recado para o diretor: “Volte, Cronenberg!”

Cisne Negro

Cisne Negro

Nina Sayers (Natalie Portman), uma obcecada bailarina, ganha o papel principal na montagem de Lago dos Cisnes, de Tchaikovisky. Nina é perfeita para o papel da delicada Cisne Branca, mas tem problemas para compor a personagem de sua irmã gêmea, a malvada Cisne Negra.

Vou falar sobre um pé atrás que tenho (ou tinha) com o diretor Darren Aronofsky. Vi seus dois primeiros filmes na mesma época, Pi e Réquiem Para um Sonho. Não são ruins, mas são “cabeça” demais, e confesso que não gostei, achei ambos bem chatos. Fiquei tão traumatizado que ainda não vi Fonte da Vida e O Lutador

Mas Aronofsky acertou a mão desta vez, Cisne Negro é muito bom. Aronofsky foi muito eficiente ao mostrar toda a paranoia que envolve Nina, usando a trilha sonora aliada a rápidos movimentos de câmera. E o clima do filme começa a mudar mais pra perto do fim, o filme vira quase um terror! Aliás, gostei de como o filme resolveu a dubiedade de Nina, entre a graça e suavidade da rainha Cisne Branca e a sensualidade agressiva da Cisne Negra.

Natalie Portman está sensacional. Se heu for apostar em apenas um Oscar para 2011, é o de melhor atriz para ela. Portman encarna com perfeição toda a obsessão e loucura que a personagem pede.

Digo mais: todo o elenco está inspirado, o filme não é só de Portman. Mila Kunis está excelente como a bailarina antagonista, sensual e imperfeita, ideal para o cisne negro. Idem sobre Vincent Cassel, Barbara Hershey e Winona Ryder.

(Me senti velho. Lembro de Winona Ryder com quatorze ou quinze anos em Inocência do Primeiro Amor. E agora ela faz uma bailarina veterana, se aposentando…)

Preciso falar da famosa e polêmica cena de sexo lésbico. A cena é sensacional, e já circulou por toda a internet. Sem mostrar nada de nudez, a cena consegue ser mais erótica que muito filme pornô! Mas é só uma cena, o filme não toma esse caminho GLS!

Sobre os eficientes e quase invisíveis efeitos especiais, tenho dúvidas sobre o quanto as meninas dançam de verdade. Vemos de perto, muito perto, a montagem do balé. Portman e Kunis têm formação de balé clássico?

Enfim, grande filme, deve ganhar várias indicações ao Oscar 2011. A estreia nacional só vai rolar em fevereiro, mas Cisne Negro já está disponível nos sites de torrent.

Senhores do Crime

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Senhores do Crime

Quem conhece o diretor canadense David Croneberg sabe que, anos atrás, ele podia ser chamado de “Cronembleargh”, devido à quantidade de cenas escatológicas presentes em seus filmes. Sua filmografia era repleta de filmes de terror ou de temática fantástica, sempre com cenas fortes, como pudemos ver em filmes como A Mosca, Videodrome ou Scanners.

Mas parece que, de uns anos pra cá, ele resolveu “amadurecer”: começou a fazer filmes mais “sérios”. Em 2005, ele nos apresentou o estranho Marcas da Violência. Digo estranho porque parece que infelizmente não consegue se identificar entre diferentes estilos: muito lento para um filme de ação, mas muito violento para um drama; muito careta pros fãs antigos, mas muito esquisito pro público mainstream.

Agora, com Senhores do Crime, Cronemberg acertou a mão. Até teve um ator indicado ao Oscar de melhor ator – quer maior prova de maturidade?

Em Londres, nos dias atuais, Anna (Naomi Watts), uma enfermeira descendente de russos, procura a família de um bebê que nasceu de uma adolescente grávida e drogada que apareceu – e morreu – no hospital. E, sem reparar, começa a se infiltrar na máfia russa.

Viggo Mortensen, o Aragorn de O Senhor dos Anéis, encontra aqui com Nikolai o seu melhor momento como ator, tanto que foi indicado ao Oscar e comparado com Robert De Niro. Nikolai sempre se identifica como “apenas o chofer”, mas aos poucos vamos descobrindo mais sobre esse fascinante e misterioso personagem. Nikolai está quase sempre acompanhado de Kirill, o espalhafatoso filho do chefe, em mais uma magnífica interpretação, desta vez pelo francês Vincent Cassel (pra quem não sabe, marido de uma tal de Monica Bellucci…).

Cronemberg também mostra que ainda sabe usar a escatologia, em diversas cenas. Mas aqui, em vez de explorar temas fantásticos como em seus filmes de outrora, explora as delicadas relações entre diferentes pessoas e diferentes culturas.

O ritmo do filme e as cenas fortes podem desagradar alguns. Mas acredito que podemos colocar esse filme ao lado de Gêmeos – Mórbida Semelhança como os melhores filmes “sérios” de Cronemberg.