Cidade Invisível

Crítica – Cidade Invisível

Oba! Folclore nacional!

Sinopse da Netflix: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para o seu passado misterioso.

Sempre fui fã do folclore nacional. E sempre defendi que isso geraria boas histórias fantásticas pro cinema. Pra provar que falo isso há tempos, vou deixar aqui o link de um curta de metragem de terror que fiz com o Boitatá. O curta não é muito bom não, fiz coisa melhor depois, mas, vale o registro!

(Ainda dentro do tema, recomendo o filme Fábulas Negras, organizado pelo Rodrigo Aragão. São 5 curtas, dirigidos pelo próprio Aragão, além de Zé do Caixão, Joel Caetano e Peter Baiestorf, e mostrando Monstro do Esgoto, Loira do Banheiro, Iara, Saci e Lobisomem. Dá pra fazer uma sessão com o meu curta e depois esse filme! 🙂 )

Vamos à série. Produção Netflix, Cidade Invisível é uma criação do Carlos Saldanha. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Carlos Saldanha é um dos brasileiros mais bem sucedidos em Hollywood. Ele dirigiu os três primeiros A Era do Gelo, Touro Ferdinando e os dois Rio – todos, longas de animação da Blue Sky. Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, por Touro Ferdinando e por um curta do esquilinho Scratch. E agora ele estampa o nome na abertura de Cidade Invisível – não sei o quanto ele esteve envolvido na produção. São sete episódios, dirigidos por Luis Carone e Julia Jordão. A série é baseada na história desenvolvida pelos roteiristas e autores de best-sellers Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

E, olha, como é legal ver uma produção bem feita, usando as nossas lendas!
Várias gerações de brasileiros cresceram lendo livros e vendo adaptações na TV do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ok, sei que existe uma polêmica hoje em dia envolvendo o Monteiro Lobato, mas não quero falar do homem, e sim da sua obra. Se hoje a gente fala sobre Saci, Cuca, Boitatá, Caipora e afins, muito se deve ao Monteiro Lobato e aos livros do Sítio. E heu sempre achei que essas lendas poderiam gerar histórias fantásticas pra adultos (tanto que fiz o curta do Boitatá e tinha um projeto pra fazer da Iara). E fiquei muito satisfeito com o resultado de Cidade Invisível. O clima é sério, é uma série de investigação policial, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem (um problema que Fábulas Negras teve foi a caracterização do Saci, ficou tão tosco que provocava risadas em vez de dar medo).

A trama foi adaptada pra se passar nos dias de hoje, em uma cidade grande – no caso, o Rio de Janeiro. Decisão arriscada, mas gostei – o mais fácil seria se passar no interior, em um tempo indeterminado, sempre que alguém fala em Saci ou Iara a gente logo pensa em fazendas e florestas. Colocar essas entidades na Lapa foi uma ótima sacada! Quem frequenta a Lapa sabe que, se tem gente estranha e diferente no Rio, é lá que eles vão se encontrar!

(Causos curiosos: lembro de ter encontrado o Jimmy London, o Tutu, em um show do Canastra, na Lapa. Me senti em casa vendo a série.)

Ouvi críticas com relação a isso, que Cidade Invisível deveria se passar no interior, que o boto é uma lenda da região Norte e não deveria ser encontrado em uma praia no Rio, etc. Ok, entendo as críticas, realmente folclore tem mais cara de interior rústico do que cidade grande cosmopolita. Mas, por outro lado, acho que os realizadores quiseram aproveitar o potencial turístico pra fazer um produto mais fácil de vender. Vamulá, a gente sabe que o Rio é uma das coisas mais famosas do Brasil. Deve ficar mais fácil vender um produto brasileiro se tiver paisagens conhecidas mundialmente, não? E, disse antes, repito: achei a adaptação muito boa.

(Heu mesmo, nos meus curtas, já usei paisagens turísticas. Pô, se moro aqui, por que não usar os cenários que estão disponíveis na minha cidade?)

Agora, gostei da adaptação, mas também tenho um mimimi, cabe aqui? Achei que a Iara tinha que ser uma índia! Adorei a personagem adorei a atriz, mas, pra mim, Iara tinha que ser índia. E queria ver a Cuca em versão “jacaré”!

Aproveitando que falei da Iara, preciso dizer: que cena maravilhosa aquela onde a gente descobre quem ela é, e como ela hipnotiza com seu canto e leva para a água! A cena ficou fantástica!

Aliás, não só a Iara. Uma coisa legal de Cidade Invisível é esse jogo de tentar entender quem é cada entidade. Não sei se gostei de ver a origem de cada uma (prefiro uma entidade que sempre foi aquilo, em vez de uma pessoa que virou entidade), mas isso não chega a atrapalhar.

Já que falei das entidades, vou me aprofundar um pouco. Queria ter visto a Cuca “jacaré”, mas, mesmo assim, achei que todas estão muito bem representadas na tela. Adorei o Curupira! Quero ver um spin-off com esse Curupira! E o Saci ter uma perna mecânica foi uma sacada de gênio!

Vamos aproveitar pra falar do elenco. Acho que heu só conhecia a Alessandra Negrini (e o Jimmy London como músico, nem sabia que ele atuava). Não conhecia o resto, gostei de todos, mas não vou entrar em detalhes aqui, porque não quero falar quem faz cada entidade. Mas, se fosse escolher um pra ganhar o prêmio de melhor atuação, com certeza seria o que faz o Curupira. Vamos aos nomes, sem especificar quem é quem: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Áurea Maranhão, Fábio Lago, Jéssica Córes, Wesley Guimarães, José Dumont, Jimmy London e Victor Sparapane.

A história fecha no fim do último episódio, mas deixa um gancho para continuar. Que venha a segunda temporada!

Run

Crítica – Run

Sinopse (imdb): Uma adolescente que estuda em casa começa a suspeitar que sua mãe está escondendo dela um segredo sombrio.

Quando vi quem era o diretor deste novo filme da Hulu, corri pra ver (sem trocadilhos). Run foi escrito e dirigido por Aneesh Chaganty, o mesmo de Buscando…, uma das melhores surpresas cinematográficas de 2018 – um filme de diretor estreante e orçamento modesto, onde tudo se passa através de uma tela de computador, numa variação do estilo found footage (com navegação pela internet, google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança). E o melhor de tudo: o resultado ficou excelente!

Agora, em Run, Chaganty, mais uma vez com uma produção modesta, com elenco reduzido e poucas locações, consegue fazer um suspense de fazer o espectador se contorcer na poltrona. A trama pode não ser exatamente algo novo (é até um pouco previsível), mas o modo como Chaganty apresenta a história vale o ingresso.

Chaganty não esconde de ninguém a influência / homenagem a Stephen King. Não só a cidade fictícia Derry é citada (cidade onde várias histórias do Stephen King se passam, como It), como a atendente da farmácia se chama Kathy Bates. Se o clima aqui é parecido com Louca Obsessão, nada mais justo que deixar isso explícito e ter um personagem com o nome da atriz principal do outro filme. Assim ninguém reclama que é plágio!

Precisamos falar das duas atrizes principais. A mãe é a Sarah Paulson, atriz reconhecida por vários filmes e séries – o curioso é que ela sempre me lembra a série Studio 60 on the Sunset Strip, que era uma série bem legal, que só teve uma temporada, que mostrava os bastidores de um programa tipo Saturday Night Live, e que acho que ninguém mais viu. Já a filha é a estreante Kiera Allen, e que, assim como sua personagem, também é cadeirante na vida real. Chaganty quis escalar uma atriz com deficiência, afirmando que Hollywood raramente escolhe atores com deficiência para papéis assim. E ambas, tanto Sarah quanto Kiera, estão ótimas. Ambas dão show.

Como falei antes, se Run tem um problema é que não é uma novidade – li por aí que tem uma série que trata de um tema parecido, mas não vou deixar aqui qual série porque seria um spoiler. Mas, mesmo não sendo novidade, curti muito a viagem que Chaganty proporcionou, uma hora e meia de tensão bem filmada. E adorei a última cena! Sr. Chaganty, aguardamos seu terceiro filme!

Na Pedreira / En El Pozo

Crítica – Na Pedreira / En El Pozo

Sinopse (Cinefantasy): Uma tarde de verão, uma pedreira abandonada, quatro amigos. Um thriller interpelante sobre violência de gênero.

Escrito e dirigido pelos irmãos Bernardo e Rafael Antonaccio, o uruguaio Na Pedreira (En El Pozo no original; In The Quarry em inglês) é um exemplo de que se pode fazer um bom filme com orçamento reduzido. Apenas quatro atores (Rafael Beltrán, Augusto Gordillo, Luis Pazos e Paula Silva), apenas um cenário, toda a trama se passa em um dia. E tudo funciona bem.

A trama é construída em cima da tensão entre os personagens por causa do ciúme de um deles – a namorada dele é amiga de infância dos outros dois. Na minha humilde opinião, seria ainda melhor se algumas coisas ficassem subentendidas no relacionamento do triângulo, mas mesmo assim gostei do desenvolvimento do roteiro. Curtinho, uma hora e vinte e dois minutos onde a gente nem tem vontade de ver o relógio.

Na Pedreira estava na programação do Cinefantasy. Não sei quando será lançado, nem por onde. Mas sugiro ficar de olho pra assistir quando estiver disponível!

Entre Facas e Segredos

Crítica – Entre Facas e Segredos

Sinopse (imdb): Um detetive investiga a morte de um patriarca de uma família excêntrica e combativa.

Uma agradável surpresa pouco antes de fechar o ano!

Entre Facas e Segredos (Knives Out, no original) se parece com um “whodoneit”, aquelas histórias tipo Agatha Christie, onde temos um crime e vários possíveis suspeitos. Mas Entre Facas e Segredos faz ainda melhor, porque altera a forma clássica do whodoneit no meio do caminho.

Entre Facas e Segredos foi escrito e dirigido por Rian Johnson, dois anos depois do Star Wars ep. 8. Interessante ver que ele foi para um estilo bem diferente – e que ele foi bem sucedido nessa nova empreitada. O roteiro é muito bem construído, não só na condução da investigação, como também no equilíbrio entre os muitos personagens.

Ah, o elenco! Que elenco maravilhoso! Não é todo dia que temos Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Don Johnson, Toni Collette, LaKeith Stanfield, Christopher Plummer, Katherine Langford, Jaeden Martell, Riki Lindhome, Edi Patterson – e ainda tem o Frank Oz em uma ponta como o advogado! Arrisco a dizer que todos estão bem, mesmo aqueles com menos tempo de tela.

Recomendo!

p.s.: Heu não fui o único a achar o roteiro muito bom. Rian Johnson foi indicado ao Oscar de roteiro original.

O Juízo

Crítica  – O Juízo

Sinopse (google): Em crise no casamento devido ao alcoolismo e por ter perdido o emprego, Augusto Menezes decide se mudar com esposa e o filho para uma fazenda herdada de seu avô. O que ele não imaginava era que a propriedade fosse assombrada por Couraça e Ana, escravos decididos a se vingar dos antepassados de Augusto.

Oba! Mais filme de gênero nacional!

O Juízo é um “suspense sobrenatural”*. Mas, diferente da maior parte dos filmes nacionais fantásticos feitos com poucos recursos, O Juízo tem pedigree, é uma produção da grande Conspiração Filmes. Digo mais: parece ser um projeto da família Torres Waddington – o filme é dirigido por Andrucha Waddington, roteirizado por sua esposa Fernanda Torres, e tem no no elenco Fernanda Montenegro (mãe da Fernanda Torres) e Joaquim Torres Waddington (o filho mais velho do casal). Curioso que uma família tão ligada ao cinema tradicional tenha um projeto com cinema de gênero…

O Juízo não é um grande filme, não é um “novo clássico do cinema nacional”. Mas tem seus méritos. Gosto muito da câmera do Andrucha Waddington. Os cenários no casarão no meio do mato são ótimos – o detalhe de não ter energia elétrica na casa ajuda no clima. A trama ainda tem plot twists, e adorei a cena do acidente de carro.

O elenco é excelente. O casal principal, Felipe Camargo e Carol Castro, está bem; Joaquim Torres Waddington, em seu primeiro filme, também segura a onda. Fernanda Montenegro e Lima Duarte, monstros da atuação brasileira, são sempre ótimos. Mas, pra mim, o destaque é Criolo, que está assustador.

Agora, uma história pessoal. Meu filho estuda no colégio com o filho caçula do Andrucha. Num evento na escola, comentei que estava ansioso pra ver o filme, e ele me disse “vou te chamar pra pré estreia”. Veio o convite, fui feliz ao cinema, acompanhado do meu amigo Sergio Junior, do podcast Frequência Fantasma – ver um filme de graça, com direito a pipoca e refri, já era um bom programa por si só. Mas, encontrei a Fernanda Torres, e a sessão virou um evento inesquecível. Ela me perguntou qual sala que heu estava. “Vem ver o filme com a gente, na nossa sala”, e a assessora me deu dois convitinhos com um “R” escrito no canto. Entramos na sala, nos informaram “o ‘R’ é de reservado, vocês podem sentar ali, junto com a equipe e o elenco”. Sentamos numa fileira meio vazia, e aos poucos vieram sentar em volta. Na poltrona ao meu lado, Lima Duarte. Ao lado dele, Carol Castro, e logo depois, Felipe Camargo. Fernanda Montenegro e Gilberto Gil se sentaram pouco atrás.

É, amigos. Ver um filme com essa galera em volta foi uma grande noite!

*Lima Duarte, ao meu lado, antes do filme, puxou papo, e disse que esse era um “suspense sobrenatural”. Gostei, vou usar!

Não Olhe

Crítica – Não Olhe

Sinopse (imdb): Não Olhe é um thriller psicológico que conta a história de Maria, uma estudante de segundo grau alienada cuja vida é virada de cabeça para baixo quando ela troca de lugar com sua sinistra imagem no espelho.

Chega às telas Não Olhe (Look Away, no original), mais um terror / suspense meia boca.

O pouco conhecido roteirista e diretor Assaf Bernstein até consegue criar um clima interessante, e os efeitos simples de espelho são bem utilizados. Mas, por outro lado, o roteiro tem uns furos horríveis (como um personagem que some da trama depois que é atacado pela protagonista). E achei o final bem fuén.

No elenco, a protagonista India Eisley até funciona bem no papel duplo. Jason Isaacs (o Lucius Malfoy de Harry Potter) não atrapalha, com um personagem bem antipático. A decepção fica com a sumida Mira Sorvino, que deveria ter continuado sumida em vez de aceitar um papel ruim num filme idem.

Talvez seja melhor seguir o conselho dado no título e olhar outro filme…

Vidro

Crítica – Vidro

Sinopse (imdb): O segurança David Dunn usa suas habilidades sobrenaturais para rastrear Kevin Wendell Crumb, um homem perturbado que tem vinte e quatro personalidades.

Já falei aqui sobre a carreira do M. Night Shyamalan. Depois de um início sensacional, foi ladeira abaixo até A Visita (seu nono filme) começar uma curva ascendente, que culminou no bom Fragmentado – que terminou com uma cena que o ligava a Corpo Fechado, segundo filme do diretor. Agora é o momento de ver como ficou essa conexão entre os dois filmes aparentemente independentes entre si.

(Todos se perguntam se Shyamalan teve a ideia de fazer uma trilogia lá atrás, quando fez Corpo Fechado. Heu acredito que não, que a ideia só deve ter surgido junto com Fragmentado – quando fez Dama na Água ele tinha moral para um grande orçamento, era melhor ter feito àquela época, quando o Bruce Willis estava mais novo).

O melhor de Vidro (Glass, no original) é como foi feita a união desses dois filmes. Não me lembro de outro caso assim, onde um filme é revisitado quase vinte anos depois, e é ligado a outro filme que não teria nada a ver – com o detalhe de manter o diretor e roteirista, além de todo o elenco (não só temos o trio principal Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy, como Spencer Treat Clark repete o papel de filho do Bruce Willis e Charlayne Woodard volta como a mãe do Samuel L. Jackson, papeis que eles fizeram em Corpo Fechado). E, vendo Vidro, a gente realmente acredita que os três filmes são uma coisa só. Palmas para o Shyamalan.

Se por um lado a junção dos dois filmes ficou boa, por outro lado Shyamalan perdeu a mão no ritmo do filme. Sim, ele continua sabendo conduzir sua câmera, e a boa trilha sonora ajuda. Mas em alguns momentos Vidro fica chato, com muita enrolação, principalmente na parte do hospital. Talvez pudesse ser um filme mais curto – são duas horas e nove minutos!

Outra coisa que não funcionou é que este era pra ser o filme do Mr. Glass (já que o primeiro foi do David Dunn e o segundo, do Kevin). Ele inclusive ganha o nome do filme. Mas sua participação é discreta, ele passa mais da metade do filme olhando pro nada. (Além disso, fiquei me perguntando por que a personagem da Sarah Paulson o colocou junto com os outros dois, inteligência não é exatamente um super poder).

Sobre o elenco, James McAvoy novamente dá um show. Sim, é a repetição do papel que ele já tinha feito em Fragmentado, mas aqui ele vai além, e conhecemos outras das suas personalidades. E McAvoy realmente convence quando muda de “personagem” – em uma das cenas, a câmera está dando voltas num quarto, enquanto personalidades entram e saem. Impressionante! Por outro lado, Anya Taylor-Joy não acrescenta nada com a volta do seu papel.

Vidro não vai agradar a todos, principalmente quem for ao cinema pra ver um filme de super heróis. Mas os fãs do diretor vão curtir.

p.s.: Vidro funciona muito melhor se você se lembra do que acontece em Corpo Fechado e Fragmentado. Não há explicações, quem não viu ou não se lembra talvez se sinta perdido em algumas situações.

Buscando…

Crítica – Buscando…

Sinopse (imdb): Depois que sua filha de 16 anos desaparece, um pai desesperado invade seu laptop para procurar pistas para encontrá-la.

Confesso que não me empolguei quando esse Buscando… passou nos cinemas. Mas depois de algumas recomendações, fui dar uma chance. Olha, que surpresa boa!

Escrito e dirigido pelo (ainda) desconhecido Aneesh Chaganty, Buscando… (Searching, no original) se passa todo numa tela de computador. Aí o leitor vai pensar “ué, mas Unfriended e Open Windows também ficam o tempo todo numa tela de computador…”. Ok, certo, mas Buscando… vai mais a fundo nessa proposta, temos um filme eletrizante, com um ritmo que deixa o espectador angustiado na beirada da cadeira ao longo de toda a projeção.

Buscando… parece um novo jeito de se fazer found footage (filmes de câmera encontrada). Temos navegação normal pela internet, pelo google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança. Tudo pela tela do computador, mas tudo fluindo normalmente, nada parece forçado. E, diferente dos dois filmes que citei no parágrafo anterior, aqui não é tudo em tempo real, o que facilitou o desenvolvimento da trama.

Pra economizar tempo de filmagem, Chaganty fez um rascunho do seu filme onde ele interpretou todos os papeis, e quando mostrou para a equipe, ficou mais fácil de se entender todo o conceito. Assim, temos um roteiro bem amarrado, bem filmado e bem editado. Nada mal para um estreante.

A imersão é tão importante que a produção do filme providenciou traduções em alemão, francês, espanhol, russo e português para todos os textos escritos nos chats ao longo do filme. Assim o espectador de língua “não inglesa” consegue prestar atenção no que importa, em vez de ler legendas. Boa sacada!

No elenco, temos dois nomes conhecidos, John Cho (Star Trek) e Debra Messing (Will and Grace). Ainda temos um nome importante na produção, Timur Bekmambetov – não por coincidência, também produtor de Unfriended. Mas o nome a ser anotado é Aneesh Chaganty. Que seu próximo filme nos surpreenda de novo!

Bird Box

Crítica – Bird Box

Sinopse (imdb): Cinco anos depois de uma presença sinistra e invisível levar a maioria da sociedade ao suicídio, uma mãe e seus dois filhos fazem uma tentativa desesperada de alcançar a segurança.

Um tempo atrás surgiu o empolgante trailer de um filme que seria “uma versão de Um Lugar Silencioso, trocando a audição pela visão”. Achei que ia pros cinemas, mas depois descobri que era um lançamento Netflix. Bora ver então.

Dirigido por Susanne Bier (diretora de Hævnen, ganhador do Oscar de filme estrangeiro em 2011), Bird Box é baseado no livro homônimo de Josh Malerman, que traz um conceito um pouco difícil de assimilar (e que lembra o terrível Fim dos Temposas pessoas cometem suicídio de repente). Você precisa aceitar que as pessoas consigam fazer tudo de olhos vendados, e realmente acreditar que a tal criatura não faz nada enquanto não houver contato visual. Essa proposta funcionou melhor em Ensaio Sobre a Cegueira…

Mas, quando você compra a ideia, até que o filme funciona. O clima de tensão é bem construído, e a trama em duas linhas temporais flui bem. O roteiro tem alguns furos aqui e acolá (tipo um casal de personagens tão desnecessário que, no meio do filme eles simplesmente vão embora), mas o filme tem bom ritmo e prende a atenção até o fim.

Sandra Bullock é o principal nome do elenco, mas não podemos ignorar a boa presença de John Malkovich como o egoísta preconceituoso. Também no bom elenco, Trevante Rhodes, Sarah Paulson, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Tom Hollander, BD Wong, Pruitt Taylor Vince, e as crianças Vivien Lyra Blair e Julian Edwards.

Bird Box não chega a ser tão bom quanto Um Lugar Silencioso, mas pelo menos é melhor do que a maior parte do catálogo Netflix de 2018.

In Darkness

Crítica – In Darkness

Sinopse (imdb): Uma música cega ouve um assassinato cometido no apartamento no andar de cima do dela, que a leva a um caminho sombrio para o submundo criminoso de Londres.

Pelo trailer, a premissa parecia ser boa – uma cega “testemunhando” um assassinato. Pena que não era bem isso.

In Darkness tem seus bons momentos. Mas o roteiro tem alguns detalhes tão mal escritos que dão raiva!

Um bom exemplo do que estou falando é a cena da van. Um plano sequência complexo, envolvendo acidente de carro, atropelamento, tiro… Tecnicamente, a cena é ótima! Mas… Quebram dois dedos da personagem, e logo depois ela está usando a mão como se nada tivesse acontecido! Gente, na boa, qual é o problema de se ter coerência?

O roteiro co-escrito pelo diretor Anthony Byrne e pela protagonista Natalie Dormer ainda traz outros exemplos desses altos (gostei da cena onde ela é atacada e só vemos as sombras na parede) e baixos (dá pra adivinhar o “segredo” da infância dela com alguns minutos de filme).

No elenco além da já citada Natalie Dormer, Emily Ratajkowski, Ed Skrein, Joely Richardson e Neil Maskell.

Resumindo: até dá pra curtir o filme, mas se você tiver raiva no meio do caminho, faz parte.