Mogli: O Menino Lobo

Mogli-posterCrítica – Mogli: O Menino Lobo

Criado por lobos, o “filhote de homem” Mogli, tenta fugir da selva depois da ameaça de um tigre. Guiado por uma pantera e um urso, Mogli embarca em uma jornada de autodescoberta, onde encontra outros bichos, nem sempre com os mesmos interesses.

Seguindo a onda de adaptações “live action” dos clássicos Disney, a bola da vez é Mogli: O Menino Lobo (The Jungle Book, no original), dirigido por Jon Favreau, o ex ator mediano que virou diretor de blockbusters (Homem de Ferro 1 e 2, Cowboys & Aliens). Sim, a história original foi baseada no livro de Rudyard Kipling, mas este filme é claramente uma versão do desenho animado da década de 60. A trama segue o mesmo caminho. Criado pelos lobos, Mogli é levado por Baloo e Bagheera para a aldeia dos homens, e no caminho encontra personagens como a cobra Kaa, o orangotango Rei Louie e a manada de elefantes, enquanto foge do tigre Shere Khan. Tem até duas músicas que estavam no desenho. Foi delicioso ouvir mais uma vez o Baloo cantando “Eu digo – necessário, somente o necessário / o extraordinário é demais”.

O que mais chama a atenção neste Mogli: O Menino Lobo é a parte técnica. Tudo foi filmado em estúdio, todos os cenários e animais são bonecos ou digitais. E olha, posso dizer que nunca vi algo tão real! Realmente, depois deste filme, pensamos que falta pouco para termos atores digitais…

Praticamente o único ator em cena, o garoto Neel Sethi manda bem como o menino lobo. A dublagem brasileira é muito boa, mas, lendo o elenco original, fiquei triste porque a sessão de imprensa foi dublada. Afinal, não ouvi as vozes de Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Scarlett Johansson, Lupita Nyong’o e Giancarlo Esposito – e Christopher Walken cantando! Droga, tenho que rever, com o som original…

Preciso dizer que não gostei do tamanho do Rei Louie. Mas claro que isso não é um defeito grave.

Mogli: O Menino Lobo não tem cena pós-créditos, mas têm umas animações impressionantes e engraçadas durante os créditos principais, enquanto ouvimos mais uma vez a música do Rei Louie. Não saia sem ver!

Ah, o 3D. Blé, como quase sempre.

Boa opção para crianças pequenas e crianças grandes!

p.s.: na dublagem, chamam o lobo chefe de “Akíla”. Protesto! Como ex-escoteiro, sempre falarei “Akelá”!

A Travessia

A Travessia-posterCrítica – A Travessia

Em 1974, o equilibrista Philippe Petit recruta um time de pessoas para ajudá-lo a realizar seu sonho: atravessar os topos das duas Torres Gêmeas do ainda em construção World Trade Center.

Robert Zemeckis sempre vai morar no meu coração por ter dirigido De Volta Para o Futuro. Mas a gente não pode esquecer que ele fez um monte de outras coisas boas, e, entre elas, ganhou o Oscar de melhor diretor em 1995 por Forrest Gump. A Travessia lembra bastante o formato de seu filme oscarizado: temos um personagem contando uma história fascinante. A diferença é que Forrest Gump era um personagem fictício, enquanto Philippe Petit é real.

Ok, a gente não sabe se tudo aquilo mostrado no filme aconteceu de verdade, mas o fato é: em 74, enquanto as Torres Gêmeas ainda não estavam prontas, Petit prendeu um cabo entre os dois prédios e protagonizou talvez o número de equilibrismo mais famoso da história – tanto que virou um documentário em 2008, que chegou a ganhar o Oscar, O Equlibrista (Man on Wire).

O filme é narrado pelo próprio Petit, interpretado por Joseph Gordon-Levitt, que começa contando seu passado de uma forma meio didática. O ritmo melhora quando Petit vai para Nova York, e a narrativa de A Travessia passa a se assemelhar com os “filmes de roubo” e seus planos mirabolantes. Falando em Joseph Gordon-Levitt, ele fala com sotaque francês, e isso me fez pensar por que nas produções nacionais nunca pensam nisso… Também no elenco, Ben Kingsley, Charlotte Le Bon e James Badge Dale.

Ah, o 3D. Quem me conhece sabe que só admiro o 3D em raríssimas ocasiões, como A Invenção de Hugo Cabret. Pois bem, A Travessia é um desses casos. Zemeckis consegue efeitos especiais ao mesmo tempo discretos e impressionantes, onde o 3D finalmente faz diferença!

Ainda sobre os efeitos: fiquei curioso pra saber mais sobre a cena da travessia. Claro que são efeitos, o World Trade Center nem existe mais. Mas queria saber o quanto daquilo é cgi, será que Gordon-Levitt aprendeu a andar na corda bamba?

Bem, o que importa é que o filme tem cenas de tirar o fôlego. Quem tem medo de altura deve pensar duas vezes antes de ir ao cinema.

A Experiência (1995)

a experienciaCrítica – A Experiência (1995)

Hora de rever A Experiência!

Um cientista reúne um time para caçar Sil, uma bela predadora, resultado de uma experiência com dna alienígena.

Com um elenco acima da média, uma protagonista exuberante e uma criatura com a assinatura do H.R. Giger, A Experiência (Species, no original) é um dos marcos da mistura de ficção científica com terror, como Alien, Força Sinistra e O Enigma de Outro Mundo.

Ok, revendo hoje, a gente repara um monte de inconsistências no roteiro do filme dirigido por Roger Donaldson (November Man, Efeito Dominó) – tipo, como é que a Sil sai do trem usando o uniforme da funcionária, e ninguém repara? Ou, como é que não reparam que o corpo encontrado no carro estava amarrado, e no banco do carona? E por aí vai…

Mas aí a gente vê a Natasha Henstridge e esquece de tudo isso. Em sua estreia no cinema, Natasha rivaliza com a Mathilda May de Força Sinistra como a predadora alienígena mais sexy da história do cinema. Natasha está linda e passa boa parte do filme sem roupa. Conheço gente que diz que toparia morrer que nem o personagem de Alfred Molina – if you know what I mean…

Mas A Experiência não é apenas um filme exploitation, onde tudo o que interessa é a nudez. A criatura foi desenhada por H.R. Giger, o mesmo que desenhou o Alien do Ridley Scott. E o elenco é cheio de nomes legais: Ben Kingsley , Michael Madsen, Alfred Molina , Forest Whitaker, Marg Helgenberger e Michelle Williams, ainda adolescente.

O filme teve três sequências, em 1998, 2004 e 2007. A qualidade foi caindo ao longo das sequências…

Tem gente por aí que critica A Experiência, que acha que é um grande filme B. Discordo. O filme consegue manter o clima de tensão e, com efeitos especiais coerentes com a época, oferece uma diversão honesta – apesar dos furos de roteiro.

Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

Uma-Noite-no-Museu-3Crítica – Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba

Ninguém pediu, mas, olha lá fizeram mais um Uma Noite no Museu

Para salvar a tábua de Ahkmenrah, Larry precisa levá-la até o British Museum em Londres.

A série Uma Noite no Museu não é ruim. São filmes leves e com cara de sessão da tarde, com algumas piadas boas, e outras nem tanto. O problema é que a ideia original era divertida, mas não pedia continuações. Porque fica tudo previsível, algumas piadas acabam se repetindo…

Dirigido pelo mesmo Shawn Levy (dos outros dois filmes da série), Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (Night at the Museum: Secret of the Tomb, no original) é aquilo mesmo que o espectador está esperando. Mas o cara que se propuser a ir ao cinema para ver a parte 3 de uma franquia destas sabe o tipo de piada que o espera, e sabe que vai ver algumas delas repetidas.

Pra não dizer que Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba só tem piadas repetidas e previsíveis, tem pelo menos duas sequências “novas” muito boas: rola uma perseguição sensacional dentro de um quadro do Escher, e a piada do Wolverine foi hilária!

Sobre o elenco: parece que Robin Williams já tinha filmado toda a sua parte (o ator faleceu alguns meses antes do filme ficar pronto), o seu Teddy Roosevelt tem grande participação ao longo de todo o filme. A outra nota triste: também foi o último filme do veterano Mickey Rooney. Ben Stiller, Owen Wilson, Steve Coogan e Ricky Gervais voltam aos seus papeis, e o elenco ainda ganha os nomes de Ben Kingsley, Rebel Wilson, e Dan Stevens como sir Lancelot, além de pontas de Hugh Jackman e Alice Eve.

Enfim, Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba não vai mudar a vida de ninguém, mas proporcionará uma hora e meia de um divertimento honesto àqueles que se aventurarem.

p.s.: Mais alguém achou que o Laa, interpretado pelo Ben Stiller, ficou a cara do Tom Cruise? 🙂

Êxodo: Deuses e Reis

Exodus-posterCrítica – Êxodo: Deuses e Reis

Filme novo do Ridley Scott!

Criados juntos, Moisés e Ramsés se vêem e lados opostos quando Moisés resolve liderar 600 mil escravos hebreus em uma monumental jornada para fugir do Egito.

Ridley Scott resolveu mostrar a sua versão da já manjada história bíblica – todo mundo conhece, né? Pragas, mar se abrindo, tábuas dos dez mandamentos, etc, tá tudo lá. Inclusive, já temos filmes (Os Dez Mandamentos) e desenhos (O Príncipe do Egito) falando sobre isso. A questão é: Scott fez um filme “definitivo”?

Respondendo: sim e não. Por um lado, tecnicamente falando, Êxodo: Deuses e Reis (Exodus: Gods and Kings) é um absurdo. Mas, por outro lado, tire os efeitos, e temos um filme bobo. O filme não chega a ser ruim, só não empolga.

Vamos à parte técnica: temos tomadas aéreas das cidades e das batalhas onde vemos detalhes nunca antes vistos na história do cinema. As pragas que assolaram o Egito também são impressionantes. E a cena mais esperada por todos, o mar se abrindo, ficou fantástica.

Ainda neste assunto: Scott segue a atual tendência de realismo, e adaptou alguns dos milagres para a plateia cética atual. Se a morte dos primogênitos continua um mistério da fé, o mar se abrindo virou um tsunami. Boa sacada!

Tem gente por aí comparando Êxodo: Deuses e Reis com o recente Noé, do Darren Aronofsky. Discordo da comparação, as únicas coisas que ambos têm em comum são os temas bíblicos e os bons efeitos especiais. Noé tem várias “licenças poéticas”, a história bíblica virou um “samba do afro descendente especial” (versão politicamente correta de “samba do crioulo doido”). Neste aspecto, Êxodo: Deuses e Reis é mais próximo da história convencional.

Sobre o elenco, Christian Bale é um grande ator e faz um bom Moisés, podemos dizer que ele é carrega o filme nas costas. O pouco conhecido Joel Edgerton está ok como Ramsés, mas podia ser outro ator, meio que tanto faz. Agora, preciso dizer que não se contrata uma atriz como a Sigourney Weaver para uma participação tão pouco importante. Foi realmente decepcionante vê-la num papel tão secundário. Ainda no elenco, Ben Kingsley, John Turturro, Maria Valverde, Indira Varma e Tara Fitzgerald.

Ridley Scott sempre terá crédito comigo, afinal, o cara é o diretor de Alien e Blade Runner, além de vários outros bons filmes (1492, Gladiador, Falcão Negro em Perigo…). Mas, vou te falar, com uma sequência Robin Hood, Prometheus, Conselheiro do Crime e Êxodo: Deuses e Reis, fica cada vez mais difícil de defender o cara.

Ender’s Game – O Jogo do Exterminador

Crítica – Ender’s Game – O Jogo do Exterminador

Uma das mais esperadas FC dos últimos tempos!

Em um futuro próximo, extra-terrestres hostis que parecem formigas gigantes atacaram a Terra, mas foram derrotados. Desde então, as forças militares terrestres treinam as crianças mais talentosas do planeta desde pequenas, no intuito de prepará-las para um próximo ataque. Ender Wiggin, um garoto tímido e brilhante, é selecionado para fazer parte da elite.

Trata- se da adaptação do livro de Orson Scott Card, escrito em 1985. Há tempos que os fãs do livro esperavam esta adaptação. Pena que o filme falhou. E feio.

O filme é bem feito, a produção é bem cuidada, bom elenco, bons efeitos especiais, mas… Ender’s Game – O Jogo do Exterminador tem um problema sério: a história não começa nunca! São quase duas horas de introduções e preparativos, e quando a ação realmente começa, passa rapidinho e o filme acaba.

Pra piorar, Ender’s Game parece um filme sem identidade. Parece uma mistura de Harry Potter com Tropas Estrelares, com uma pitada de Independence Day – logo no início vemos que a “grande manobra salvadora” é igualzinha à de ID4 (isso não é spoiler, é bem no começo do filme).

Ender’s Game foi escrito e dirigido pelo sul-africano Gavin Hood, que chamou a atenção com o bom drama Infância Roubada (Tsotsi), mas depois chamou atenção negativamente pela bomba X-Men Origens: Wolverine. Será que estamos diante de um “novo Shyamalan”?

Até nos efeitos especiais Ender’s Game deu azar. Os efeitos de gravidade zero são legais, mas inferiores ao Gravidade, lançado alguns meses antes…

O elenco é bom, mas não consegue salvar o filme. Asa Butterfield (Hugo Cabret) mostra que pode ser uma estrela do primeiro time, se souber trabalhar a carreira. Harrison Ford interpreta o mesmo Han Solo de sempre; Ben Kingsley aparece menos, mas está um pouco melhor. Ainda no elenco, Hailee Steinfeld, Abigail Breslin e Viola Davis.

O fim tem um gancho, mas nada muito forte. Se não vier um segundo filme, podemos considerar a história fechada. E, sinceramente, espero que a continuação não venha.

Homem de Ferro 3

Crítica – Homem de Ferro 3

Estreou o novo Homem de Ferro!

Tony Stark é o brigado a superar suas crises existenciais quando o terrorista Mandarim destroi sua casa e o isola do resto do mundo.

Depois de dois excelentes filmes “solo” e um sensacional filme ao lado de outros super herois, a dúvida era: será que o novo Homem de Ferro vai segurar o nível elevado?

Err… Não, não segurou. Homem de Ferro 3 é bom, mas está abaixo dos outros filmes.

O novo filme resolveu focar mais no homem do que no heroi, temos mais Tony Stark e menos Homem de Ferro. Stark está passando por crises e traumas decorrentes dos eventos ocorridos em Nova York, no filme d’Os Vingadores. (Aliás, tantas referências ao filme anterior revelam um grande furo no roteiro deste Homem de Ferro 3: quando Tony Stark teve sua mansão destruída e se viu sozinho, por que não ligou para Nick Fury e pediu ajuda aos coleguinhas super herois?)

O que salva o filme é que o personagem Tony Stark é muito bom, e o ator Robert Downey Jr tem um carisma enorme, e se encaixa perfeitamente no papel. Só vê-lo como o irônico e sarcástico Stark já vale o ingresso. Mas quem surpreende aqui é Gwyneth Paltrow com sua “Pepper Potts 2.0”. Aos 40 anos, Gwyneth mostra excelente forma física e participa ativamente da ação do filme. E Guy Pearce e Ben Kingsley mandam bem como os novos vilões. Ainda no elenco, Rebecca Hall, Don Cheadle, William Sadler, James Badge Dale e John Favreau (que aqui deixou a direção de lado e ficou só como ator coadjuvante e produtor executivo)

(Li por aí fãs dos quadrinhos falando mal do personagem de Ben Kingsley. Parece que o Mandarim dos quadrinhos não é assim. Bem, como nunca li quadrinhos do Homem de Ferro, achei muito legal o que acontece com o personagem.)

Falando na direção, John Favreau era um ator mediano que se arriscou do outro lado das câmeras e surpreendeu positivamente, virando um diretor de primeira linha (além dos dois Homem de Ferro, ele também dirigiu Cowboys & Aliens). Não sei por que, aqui ele deixou a cadeira de diretor para Shane Black, roteirista experiente (é dele o roteiro do primeiro Máquina Mortífera), mas em seu segundo trabalho como diretor. Não sei o quanto a troca de diretor influenciou no produto final…

Outra coisa: o que aconteceu com a trilha sonora? Cadê o rock’n’roll? Ouvi AC/DC e Black Sabbath nos filmes anteriores, mas aqui, não me lembro de ter ouvido nada de rock. Nem em cenas onde tinha espaço para uma música não orquestrada, como logo no início, quando Stark coloca um disco na vitrola para testar a nova armadura.

Ah, o 3D. Nas duas salas do cinema onde fui, só tinha opção 3D. Paguei mais caro por um artifício desnecessário. Prefira o 2D, se tiver essa opção.

Por fim, nem preciso dizer, né? Tem cena pós créditos, envolvendo o universo Marvel – como todos os outros filmes da “turminha Vingadores”.

O Ditador

Crítica – O Ditador

Oba! Outro filme politicamente incorreto do Sacha Baron Cohen!

O Ditador conta a heroica história do ditador Aladeen, que arrisca a própria vida para garantir que a democracia nunca chegue a Wadiya, país que ele governa com mão de ferro e muito amor.

Sacha Baron Cohen é um cara que faz muito bem ao humor dos tempos atuais onde a correção política impera. Ele é corajoso ao cutucar onde muitos têm medo. Mas ele está certo, afinal o humor deveria ser livre de censuras. A única piada ruim é a piada sem graça, piadas ofensivas sempre tiveram espaço no humor.

Me lembro do programa de tv Da Ali G Show, onde Sacha Baron Cohen interpretava três personagens: o rapper Ali G, o repórter do Cazaquistão Borat e a bicha especialista em moda Bruno. O programa era um mockumentary cheio de situações constrangedoras, sempre puxando pro lado politicamente incorreto. Cada um dos três personagens interagia com pessoas que não sabiam que era um ator por trás, e as situações desconfortáveis eram constantes e inevitáveis.

Em 2006, veio o filme Borat, com seu humor grosseiro e ofensivo questionando o american way of life. Três anos depois ele lançou Brüno, mas esse era mais fraco, bem inferior a Borat. Agora, em 2012, O Ditador recupera o bom nível do humor, ao mesmo tempo que mantém o espírito grosseiro e ofensivo.

Mais uma vez dirigido por Larry Charles (diretor dos outros dois filmes), O Ditador tem uma diferença estrutural para os outros dois: o mockumentary foi deixado de lado, o personagem é ficcional e ninguém está sendo “enganado” como nos outros filmes. Por um lado, isso pode tirar um pouco da espontaneidade que rolava nos outros filmes (que traziam algumas cenas impagáveis por conta de pessoas que não sabiam que aquilo era fake). Mas por outro lado, isso abriu espaço para um tipo ousado de piada – Megan Fox e Edward Norton aparecem no filme interpretando eles mesmos sendo sacaneados!

O roteiro, escrito pelo próprio Cohen em parceria com Alec Berg, David Mande e Jeff Schaffer, traz algumas piadas muito boas, misturadas a algumas tão grosseiras que beiram o limite do bom senso. Mas no geral, achei o filme muito engraçado. E o discurso que Aladeen faz no final é genial, uma crítica aos EUA, usando uma ironia pouco comum de se ver por aí

No elenco, o destaque – claro – é Sacha Baron Cohen, que mais uma vez mostra que é um bom ator fora do mockumentary (ele já tinha feito um bom trabalho em A Invenção de Hugo Cabret). E, por ser um filme de ficção, Cohen tem alguns bons atores ao seu lado, como Ben Kingsley, Anna Faris e John C. Reilly, além do pouco conhecido Jason Mantzoukas (na verdade, o principal coadjuvante).

Claro que o humor de O Ditador não é pra qualquer um – além de ser um humor propositalmente ofensivo, algumas são de gosto duvidoso. Mas, quem tem a cabeça aberta e concorda comigo que o politicamente correto é algo ruim, vai curtir O Ditador.

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Se você gostou de O Ditador, o Blog do Heu recomenda:
Brüno
This Is Spinal Tap
Se Beber Não Case

A Invenção de Hugo Cabret

Crítica – A Invenção de Hugo Cabret

Tinha uma coisa me encucando desde que vi o primeiro trailer deste filme. Como assim, uma fábula infanto-juvenil em 3D, dirigida pelo Martin Scorsese? Scorsese nunca fez um filme infantil, até onde sei… Enfim, fui ao cinema ver, incentivado também pelos 11 Oscars que está concorrendo (a  premiação é amanhã!). E posso dizer: A Invenção de Hugo Cabret é um filmaço!

Paris, anos 30. Hugo é um órfão que vive escondido pelos engrenagens dos relógios da estação de trem. Seu pai lhe deixou um autômato, que ele tenta consertar – até descobrir que o autômato pertencia a George Méliès, diretor de cinema, o grande precursor do cinema de ficção.

A primeira dúvida que heu tive era como seria o estilo do Scorsese em um filme direcionado aos pequenos. O cara é o autor de vários fimes excelentes, mas sempre com temas adultos, e muitas vezes violentos –  como Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, Gangues de Nova York e Ilha do Medo. Neste aspecto, A Invenção de Hugo Cabret difere de sua filmografia, e pode ser classificado como um novo clássico infanto-juvenil.

Mas que ninguém pense que A Invenção de Hugo Cabret é só para os pequenos. Adultos também vão apreciar o filme, principalmente aqueles que são fãs de cinema. Poucas vezes a magia do cinema esteve tão bem representada nas telas. E em alguns momentos, parece que estamos vendo making offs dos filmes de George Méliès!

Outra coisa que chama a a tenção aqui é o 3D. Quem me lê sempre, sabe que não sou um fã dessa “febre 3D”. Um filme não precisa de 3D para ser bom, a não ser que seja um filme do estilo “circense”, tipo Dia dos Namorados Macabro, Fúria Sobre Rodas ou Piranha, onde o 3D faz parte da diversão (e você tem que se abaixar pra desviar das coisas atiradas na direção da câmera). E ainda é pior quando um filme é feito usando os meios convencionais e posteriormente convertido para 3D, aí a gente vê como o efeito é artificial e desnecessário. Pois bem, o 3D de Hugo Cabret é um dos melhores já feitos até hoje. Em algumas cenas, a gente realmente sente a profundidade, como nos flocos de neve, ou na cena do aquário usado por Méliès (quando ele filma através do aquário). E Scorsese mostra que está em plena forma, quase aos 70 anos (que ele completa em novembro deste ano) – alguns travellings em 3D pela estação são belíssimos!

O elenco é outro destaque. O pouco conhecido Asa Butterfield interpreta o personagem título; Sacha Baron Cohen (o Borat!) está excelente como o inspetor da estação; Chloë Grace Moretz, minha atriz mirim contemporânea favorita, também está ótima, como sempre (como em Kick-Ass e Deixe-me Entrar). Ainda no elenco, Ben Kingsley, Christopher Lee, Jude Law, Ray Winstone, Emily Mortimer e Michael Stuhlbarg.

A Invenção de Hugo Cabret é o grande favorito para o Oscar amanhã, está concorrendo a 11 estatuetas, incluindo melhor filme e melhor diretor (Scorsese já foi indicado sete vezes para melhor diretor e duas vezes para melhor roteirista, mas só ganhou uma vez, como diretor, por Os Infiltrados). A concorrência este ano está boa, se Hugo Cabret ganhar, será legal; mas se perder para O Artista, não será injusto.

Por fim, preciso falar mais uma vez do título nacional. O filme foi baseado no livro homônimo, escrito por Brian Selznick , então o erro desta vez não é do tradutor brasileiro. E parece que o livro originalmente se chama “The Invention of Hugo Cabret”, ou seja, o erro vem de mais longe ainda. Mas, será que alguém pode me explicar que “invenção” é essa? Hugo Cabret não inventou nada, a invenção é de George Méliès… O nome original do filme é mais correto: “Hugo“.

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Se você gostou de A Invenção de Hugo Cabret, o Blog do Heu recomenda:
As Aventuras de Tintim
O Artista
Micmacs à Tire-Larigot

Ilha do Medo

Ilha do Medo

Uêba! Filme novo do Scorsese nos cinemas cariocas!

1954. Dois agentes federais são mandados à Ilha Shutter, onde funciona um hospital psiquiátrico, para investigar o desaparecimento de uma paciente. Uma grande tempestade os impede de sair da ilha, e eles acabam descobrindo que existe algo de estranho com a ilha.

Ilha do Medo chama a atenção por ser um “filme de gente grande”. Enquanto Hollywood está cada vez mais infestada de novas pequenas produções, sempre econômicas, é legal ver um filmão à moda antiga, com bons atores, trama bem elaborada, fotografia bem cuidada e trilha sonora impactante. De quebra, os efeitos especiais são discretos e perfeitos.

Este já é o quarto filme de Scorsese com Leonardo DiCaprio no elenco principal (os outros foram Gangues de Nova York, O Aviador e Os Infiltrados). Parece muito, mas na verdade, Scorsese já fez parcerias assim antes, como ao lado de Robert de Niro (acho que foram oito filmes até agora: Caminhos Perigosos, Taxi Driver, New York New York, Touro Indomável, O Rei da Comédia, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo e Cassino). DiCaprio ainda não é um De Niro, mas já se destaca como um dos melhores atores de sua geração.  Ao seu lado, Ilha do Medo conta com um elenco de primeira, com nomes como Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, Elias Koteas, entre outros. Todos estão ótimos! (Aliás, os dois últimos que citei, Haley e Koteas, estão assustadores!)

Adaptação do livro Paciente 67, de Dennis Lehane (o mesmo que escreveu o premiado Sobre Meninos e Lobos), o roteiro de Ilha do Medo nos leva a uma interessante viagem, onde não sabemos exatamente o que é mentira e o que é verdade. Acredito que parte do público pode não gostar, já que nem sempre o que está na nossa frente é a verdade… E uma prova de que estamos diante de um filme diferente do “mais do mesmo” é o cuidado com a fotografia em cada cena. Imagens belíssimas compõem o resultado, em pouco mais de duas horas de projeção.

Um detalhe curioso sobre a música do filme: a trilha sonora não é original, composta para o filme, são temas clássicos. O tema principal é a assustadora Sinfonia número 3 de Penderecki. Independente do filme, dá medo de ouvir.

Não sei se Ilha do Medo entrará para a história como um dos grandes filmes de Scorsese, afinal, o cara já fez muita coisa boa. Mas podemos afirmar que estamos diante de um dos melhores filmes deste 2010 que começou há pouco!