Universidade Monstros

Crítica – Universidade Monstro

O primeiro prequel da Pixar!

Na época da faculdade, Mike Wazowski era um cara estudioso, mas não muito assustador; enquanto Sulley era popular e arrogante, graças ao talento inerente para o susto. Após um incidente durante um teste, os dois são obrigados a participarem da mesma equipe na olimpíada dos sustos.

Estamos de volta ao delicioso mundo de Monstros S.A., um dos meus desenhos animados favoritos. Agora, vemos os personagens do outro longa de animação na época da faculdade.

Confesso que rolava um certo receio, já que os dois últimos filmes da Pixar ficaram devendo – Valente foi fraquinho, e Carros 2 é de longe o pior longa do estúdio. Medo infundado: Universidade Monstros (Monsters University, no original), é divertidíssimo!

Digo mais: a Pixar é genial. Em vez de pegarem o caminho mais fácil, o roteiro foge do óbvio – por exemplo, o companheiro de quarto de Mike Wazowski é Randall e não Sulley. Aliás, Sulley nem é amigo do Mike… Outra coisa legal foi a inversão dos protagonistas: agora, Mike é o principal enquanto Sulley é coadjuvante.

Temos um novo personagem bem legal, a diretora Hardscrabble, que no original tem a voz da Helen Mirren (o trio principal de dubladores continua sendo John Goodman, Billy Crystal e Steve Buscemi). O pessoal da fraternidade Oozma Kappa também é interessante, gostei do Art, que parece um muppet com defeito. Aliás, rola um clima de A Vingança dos Nerds

A parte técnica, como era esperado, é impecável. Cada detalhe é bem cuidado, mesmo aqueles de fundo, que quase ninguém repara. E como é um filme no “mundo dos monstros”, a imaginação da equipe de arte podia correr solta.

Como acontece no primeiro filme, Universidade Monstros traz uma mensagem. E a mensagem aqui também foge do lugar comum – em vez do clichê “acredite nos seus sonhos”, está mais para “nem todos conseguem alcançar seus sonhos, mas mesmo assim podem ser felizes”. Gostei!

Vi a versão dublada. Fiquei com pena de não ouvir as vozes originais, mas senti um grande orgulho quando vi que Sergio Stern, meu amigo há mais de vinte anos, é o primeiro nome no elenco de dubladores nacionais. Aliás, reparei num detalhe muito interessante: várias coisas escritas na tela estão em português. Ponto pra Pixar, que deve ter feito cópias específicas para países de línguas diferentes. Legal!

Evitei o 3D. Nada contra, mas também nada a favor, cansei de pagar mais caro por óculos desconfortáveis e efeitos desnecessários. Consegui ver em 2D, mas tive que ir até a Barra – todos os cinemas da Zona Sul carioca têm cópia em 3D.

No fim dos créditos rola uma cena extra, continuação de uma piada. Pena que o cinema onde vi, o UCI do New York City Center, não respeitou os poucos espectadores que ficaram para ver a tal cena. Não só todas as luzes da sala estavam acesas, como tinham alguns refletores iluminando a tela. Lamentável…

p.s.: Sou o único que acha que o título em português está com erro de concordância? Não seria “Universidade Monstro” ou “Universidade dos Monstros“?

Pulp Fiction

Crítica – Pulp Fiction

Um curso de cinema me convidou para falar de Quentin Tarantino. Então resolvi rever os seus filmes. Primeiro revi Cães de Aluguel, já falei dele aqui no blog. Depois foi a vez de Pulp Fiction, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos!

O filme mostra algumas histórias interligadas, envolvendo uma dupla de assassinos profissionais, um boxeador e a mulher de um chefão do crime organizado.

É difícil resumir a sinopse de Pulp Fiction, que, entre outros prêmios, levou a Palma de Ouro de melhor filme em Cannes. O genial roteiro (ganhador do Oscar de 1995), escrito pelo próprio Tarantino, foge dos clichês comumente usados pelo cinema – inclusive na linha temporal usada, fora da ordem cronológica.

O roteiro é perfeito. Diálogos afiados ao longo das duas horas e meia de filme, e várias cenas imprevisíveis. Uma das coisas que mais gosto em Pulp Fiction é justamente a ideia de distorcer clichês muito usados no cinema. Por exemplo, a cena que acontece depois da perseguição entre Butch e Marsellus é completamente diferente do que qualquer um poderia imaginar. Digo mais: algumas caracterizações, como a dupla Vincent e Jules (John Travolta e Samuel L Jackson), seguem essa onda – aquele visual dos dois é muito incomum!

O elenco é fantástico. John Travolta, Samuel L Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Amanda Plummer, Ving Rhames, Eric Stoltz, Rosanna Arquette, Maria de Medeiros, Harvey Keitel, Christopher Walken e o próprio Tarantino (rola até uma ponta de Steve Buscemi como Buddy Holly), entre outros menos conhecidos – e todos estão ótimos.

Ainda tem a trilha sonora, cheia de boas músicas que eram pouco conhecidas antes do filme – e que viraram hits em festinhas na época.

Lembro que, nos anos 90, quando vi pela primeira vez, gostei mais da crueza de Cães de Aluguel. Revendo hoje, digo que prefiro a sofisticação de Pulp Fiction

Heu poderia continuar falando do filme. Afinal, Pulp Fiction foi um marco, muita coisa em Hollywood passou a seguir o estilo criado por Tarantino (filmes como Coisas Para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto, O Nome do Jogo e Um Amor e uma 45). Mas chega. Se você não viu, corra e veja. Se já viu, é hora de rever!

P.s.: Posso contar um último “causo” ligado a este filme? Como falei no post “Quem sou heu“, tive uma videolocadora nos anos 90. O nome era “Pulp Vídeo”! 😀

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Se você gostou de Pulp Fiction, o Blog do Heu recomenda:
Bastardos Inglórios
Cães de Aluguel
Um Drink no Inferno

Gente Grande

Gente Grande

Depois do fracasso comercial de Tá Rindo Do Que?, Adam Sandler resolveu apostar em um projeto menos arriscado: este Grown Ups (no original), uma comédia despretensiosa com quatro antigos companheiros da época do Saturday Night Live.

Um grupo de cinco amigos da época da escola se reencontra 30 anos depois, para o enterro do antigo técnico de basquete. Na ocasião, aproveitam o feriado para alugar uma casa à beira de um lago e, ao lado de suas famílias, relembrar momentos da infância.

O que o filme traz de bom é a boa química entre os atores. Adam Sandler, Kevin James, Chris Rock, David Spade e Rob Schneider se conhecem há muito tempo e já trabalharam juntos diversas vezes – isso ajuda na velocidade das piadas. Ok, Schneider é tão ruim que não adianta química, suas piadas são sem graça. Mas os outros funcionam bem juntos, apesar do humor meio bobalhão de Rock e Spade.

Mas uma boa química não adianta muita coisa, se o roteiro é fraco. Não existe desenvolvimento nem da trama nem dos personagens, o filme é inteiramente baseado nas piadas nem sempre engraçadas.

E assim, um bom elenco foi desperdiçado numa comédia boba. E quando falo em bom elenco, não me refiro apenas aos cinco protagonistas. Salma Hayek e Maria Bello fazem duas das esposas, e ambas têm papéis bestas. E ainda tem o bom Steve Buscemi num papel completamente idiota!

Gente Grande me lembrou Encontro de Casais, filme onde a gente vê que os atores estão curtindo mais do que o público. Tudo bem que este Gente Grande não é tão ruim quanto o outro – aqui, pelo menos algumas piadas são engraçadas, diferente de Encontro de Casais, onde nada se salva.

O fim do filme tenta trazer uma lição de moral, mas nem isso funciona. “Joe Hollywood” (Sandler) precisaria ter mais humildade antes de tentar ensinar isso aos seus filhos.

Só pra aqueles dias que não estamos exigentes.

Monstros S.A.

Monstros S.A.

É bom ter filho pequeno em casa, não? Aproveitei meu filho de dez meses para rever aquele que considero o melhor longa de animação da história!

Vamos voltar no tempo? Nos anos 80, a Disney não andava muito bem, até que, com filmes como A Bela e a Fera (91) e Alladin (92), começou uma nova “era de ouro”. Não tinha pra ninguém, a qualidade Disney era imbatível.

Essa hegemonia foi ameaçada nos anos 90 com o surgimento de dois outros estúdios de animação, a Dreamworks e a Pixar (ligada à Disney). Aliás, essas três são o grande triunvirato que dita a animação em Hollywood nos dia de hoje.

No post de hoje não vou me aprofundar na rivalidade entre a Pixar e a Dreamworks, só quero falar da primeira. A Pixar já existia desde os anos 80, mas só começou a conquistar o mundo em 1995, com o lançamento de Toy Story, o primeiro longa metragem em animação por computador, que virou um março na história do cinema. E, realmente, Toy Story e seu sucessor Vida de Inseto são muito bons: bons personagens, em bons roteiros, formatados numa animação computadorizada de primeira qualidade.

E finalmente chegamos a Monstros S.A.! Por que digo que Monstros S.A. é genial?

1- A animação é deslumbrante. Hoje em dia tem um monte de animações de alto nível por aí, mas, em 2001, quando Monstros S.A. foi lançado, eram bem poucas por ano. E, mesmo hoje, quando estamos acostumados com boas animações, os longos pelos azuis e verdes do monstrão Sulley ainda chamam a atenção, esvoaçando no vento.

2- Parafraseando Conrad, “o humor, o humor!” Este é um dos desenhos animados mais engraçados da história! Na época, os desenhos nem sempre investiam na comédia, foram muitos longas da Disney com cara de musical.

3- A mensagem do filme é sensacional. “Crianças, não tenham medo que um monstro saia do seu armário! Sim, monstros existem, mas eles têm medo de crianças!” 😀

Isso sem contar com uma fantástica trilha sonora composta por Randy Newman!

Curiosamente, nunca ouvi a versão legendada, com as vozes de John Goodman, Billy Crystal e Steve Buscemi. Já vi Monstros S.A. dezenas de vezes, mas sempre em português. Bem, pelo menos ouço o meu amigo dublador Sérgio Stern fazendo um bom trabalho como a voz de Mike Wazowski!

O Grande Lebowski

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O Grande Lebowski

Um filme pode ter mais forma do que conteúdo e ser bom? Na minha opinião, sim!

Costumo lembrar de dois filmes legais onde a forma é mais importante que o conteúdo: Delicatessen e O Grande Lebowski, dos irmãos Joel e Ethan Coen (dirigido por um, produzido pelo outro, escrito pelos dois), que antes nos deram pérolas como Fargo, Arizona Nunca Mais e Na Roda Fortuna, dentre outros, e ano passado ganharam o Oscar de melhor diretor por Onde os Fracos Não Têm Vez.

Jeffrey Lebowski é um cara largadão. Desempregado, sua vida é jogar boliche, ouvir Creedence, beber white russian e fumar maconha. Inclusive, detesta ser chamado de Jeffrey, prefere simplesmente “The Dude”. Até que um dia é confundido com um milionário homônimo, o seu tapete é danificado e sua vidinha simples é virada ao avesso…

O Dude é maravilhosamente interpretado por Jeff Bridges. Tanto que existe uma convenção nos EUA, a Lebowski Fest, só de fãs do seu estilo de vida (do personagem, não do ator!).

E todos os outros personagens são ótimos, caricatos ao extremo, interpretados de maneira deliciosa por atores-assinatura dos irmãos Coen. John Goodman faz Walter, um veterano do Vietnã estressado e brigão; Steve Buscemi é Donny, o aéreo parceiro de boliche; John Turturro é o sensacional e caricato Jesus, rival no boliche. E tem mais: Julianne Moore, Tara Reid, Philipp Seymour Hoffman, David Huddlestone, Sam Elliot, Ben Gazarra, David Thewlis… O desfile de bons atores em papéis geniais parece interminável!

Detlhe para duas pontas interessantes: o niilista baixinho é Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers; enquanto a coadjuvante no filme Longjammin é Asia Carrera!

Assim, entre personagens estranhos e situações esquisitas, nosso amigo Dude vai se envolvendo com situações cada vez mais bizarras e engraçadas. E, cada vez mais, ele quer se livrar disso tudo e voltar a sua vidinha simples…

Cães de Aluguel

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Cães de Aluguel

O ano era 92. Algumas pessoas começavam a comentar sobre um filme ultra-violento que estava passando em algumas salas da cidade, dirigido por um ex balconista de videolocadora. Falavam de um ritmo diferente, porque o filme usava o “tempo real” e muitos flashbacks.

Fui ver o filme. E posso dizer que a história do cinema começou uma nova era…

O filme trata de um assalto a uma joalheria. Começa com tudo dando errado, e vai mostrando com flashbacks quem são aqueles homens, todos de terno preto, e como eles chegaram lá.

Além dos ternos pretos, todos têm nomes de cores – Mr. Pink. Mr. White, Mr. Blonde, Mr. Orange, Mr. Blue e Mr. Brown. Aos poucos vemos como eles foram recrutados para o assalto, e quem é cada um. E, também aos poucos, as tensões vão crescendo entre os violentos assaltantes e suas convicções, até o apoteótico fim – do qual é melhor não falar nada, porque nem todo mundo viu o filme…

Todos os diálogos do filme são geniais. Logo no início, o próprio Quentin Tarantino, diretor, roteirista e ator, protagoniza o hoje famoso “Madonna Speech”, onde explica a sua interpretação sobre a música Like a Virgin, da Madonna…

O filme é muito violento, rola muito sangue, mas não de uma maneira “splatter”. Parece real, tanto que um paramédico foi contratado pra acompanhar o sangramento de um dos personagens ao longo do filme.

O elenco está muito bom. Harvey Keitel era o único grande nome na época, e está ótimo ao lado dos geniais Steve Buscemi e Tim Roth. O quase sempre canastrão Michael Madsen funciona muito bem, ao lado do Chris Penn, que antes disso só tivera um filme que merece registro, como o amigo (magro!) do Kevin Bacon em Footloose.

Se antes do filme o diretor Quentin Tarantino era apenas um atendente de videolocadora, depois ele virou hype. Vendeu dois roteiros: Amor À Queima Roupa, do Tony Scott; e Assassinos Por Natureza, do Oliver Stone (segundo o que se diz, Oliver Stone teria mudado muito o roteiro original, por isso Tarantino pediu para ter seu nome excluído dos créditos); e depois fez Pulp Fiction.

Pulp Fiction merece um parágrafo! Se Cães de Aluguel é a violência crua, Pulp Fiction é a violência estilizada. Ganhou Oscar de melhor roteiro e Palma de Ouro de melhor filme em Cannes. Ressucitou carreiras adormecidas e mais uma vez revolucionou a estrutura dos filmes, não colocando o roteiro numa ordem cronológica. Genial, genial, genial. Outro dia falo dele aqui.

Cães de Aluguel é um filme obrigatório. Quem não viu, corra e compre um nas prateleiras de R$ 9,90 das grandes lojas. Quem viu, tá na hora de rever!

Curiosidade final: afinal, o que são os “reservoir dogs”? Durante o filme, o bando nunca é citado com esse nome, que só aparece nos créditos iniciais. Na verdade, na sua época de videolocadora, Tarantino gostou do título do filme Au Revoir Les Enfants (Adeus Meninos), do Louis Malle. Gostou do som desse nome, mas não conseguia falar direito o francês, então se enrolava falando “Au Reservoir Les Enfants“. Gostou tanto que resolveu dar o nome pro seu bando…