Você Nunca Esteve Realmente Aqui

Crítica – Você Nunca Esteve Realmente Aqui

Sinopse (imdb): Um veterano traumatizado, sem medo de violência, resgata meninas desaparecidas como meio de vida. Quando um trabalho fica fora de controle, os pesadelos de Joe o superam enquanto uma conspiração é descoberta, levando ao que pode ser sua viagem de morte ou seu despertar.

Filme novo da diretora Lynne Ramsay (Quem Vai Ficar com Kevin), Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here no original) mostra um bom trabalho do ator Joaquin Phoenix num filme que não é grandes coisas.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui tem seus méritos. Por exemplo, é um filme muito violento, mas não mostra quase nada, quase toda a violência é mostrada indiretamente (tem uma sequência muito boa mostrada através de câmeras de segurança). Mas o ritmo é tão lento, que o filme cansa, apesar de ser curtinho (uma hora e vinte e nove minutos).

Vale pelo Joaquin Phoenix, mas não é pra qualquer um.

Climax

Crítica – Climax

Sinopse (imdb): Dançarinos franceses se reúnem em uma escola vazia e isolada para ensaiar em uma noite de inverno. Ao longo da noite, a celebração se transforma em um pesadelo alucinatório quando eles descobrem que sua sangria está misturada com LSD.

Filme novo do Gaspar Noé (Irreversível, Love). Quem já viu outros filmes dele, já sabe mais ou menos o que vai ver…

Climax (idem, no original) tem uma característica parecida com o anterior, Love: um roteiro com poucas páginas e muito espaço para improviso (o padrão costuma ser mais ou menos uma página por minuto de filme; o roteiro de Climax tinha apenas cinco páginas, para um filme de uma hora e trinta e cinco minutos). Esse improviso traz um problema: algumas cenas se estendem demais e são chaaatas…

O que salva Climax são dois planos sequência. Um é logo no início, começa com uma apresentação de dança e depois segue pela festa – as coreografias são muito boas, a música idem. O segundo é na parte final, e traz as crescentes “bad trips” relativas às drogas. As cores saturadas e a trilha sonora ajudam o desconforto.

No elenco, apenas um nome conhecido, Sofia Boutella (Atômica, Kingsman, Star Trek) – que exitou em aceitar o papel porque não tinha roteiro. O resto do elenco é composto por dançarinos.

Climax não tem nenhuma grande polêmica como os dois filmes que citei lá no início (estupro em Irreversível, sexo explícito em Love), isso pode ajudar o filme a ser mais palatável. Mas acho que, pelo mesmo motivo, será mais esquecível.

Crimes em Happytime

Crítica – Crimes em Happytime

Sinopse (imdb): Quando o elenco de marionetes de um programa de TV para crianças dos anos 90 começa a ser assassinado, um por um, um ex policial marionete que foi expulso e virou detetive particular assume o caso.

Fiquei curioso desde a primeira vez que ouvi falar deste Crimes em Happytime (The Happytime Murders, no original). Claro que ia querer um filme dos Muppets com temática adulta! Mas aí veio a notícia que o filme foi um grande fracasso de bilheteria, um dos maiores flops de 2018.

Mas, afinal, o filme é ruim? Por que o flop? Fácil de explicar. Um filme com violência, sexo e drogas – e estrelado por bonecos fofinhos – não é pra qualquer público (mesmo que seja tecnicamente muito mais bem feito que o Meet the Feebles, tosqueira com temática semelhante, dirigida por Peter Jackson no início da carreira).

Crimes em Happytime tem dna de Muppets. Foi dirigido por Brian Henson, filho do Jim Henson, um dos criadores dos Muppets. Claro que não tem nenhum dos bonecos famosos. Mas todos os bonecos aqui são animados exatamente iguais a eles.

Parágrafo à parte para falar da parte técnica de animação das marionetes. A gente vê bonecos de corpo inteiro, andando – coisa que não acontecia na época dos Muppets (eles sempre estavam atrás de alguma coisa, pra esconder o marionetista). Cheguei a pensar que podia ser cgi. Mas nos créditos finais vemos o making of de algumas cenas: eles usaram fundo verde para esconder os marionetistas. Assim, temos bonecos que se portam exatamente igual aos Muppets, mas com muito mais liberdade cênica.

Sobre a qualidade do filme: não me incomodei com os “Muppets adultos”. Achei boas as piadas com os clichês do cinema noir. Na verdade, o que me incomodou foi o “humor Melissa McCarthy”. Já tinha visto esse mesmo estilo em filmes como Caça-FantasmasA Espiã que Sabia de Menos – acho o timing dela ruim, ela estica demais os diálogos nas piadas, mas, se a piada não foi engraçada da primeira vez, esticá-la não vai consertar. Também no elenco, Elizabeth Banks, Maya Rudolph, e, como a voz do protagonista, Bill Barretta, que trabalha com Muppets desde os anos 90.

Pena que flopou. Heu veria mais filmes como Crimes em Happytime.

p.s.: O nome “Crimes em Happytime” foi dado por alguém que não viu o filme. Happytime era o nome de um programa de TV. Os crimes estão ligados, mas não aconteceram “em Happytime”…

A Balada de Buster Scruggs

Crítica – A Balada de Buster Scruggs

Sinopse (imdb): Um filme de antologia que compreende seis histórias, cada uma tratando de um aspecto diferente da vida no Velho Oeste.

De repente, descubro que tem um irmãos Coen novo sendo lançado direto pelo Netflix. Opa, o fim do ano passado foi muito melhor que todo o primeiro semestre. Depois de Roma e Bird Box, vamos de A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, no original), um “legítimo irmãos Coen”: personagens estranhos, humor negro e situações com moral duvidosa.

São seis histórias curtas, todas passadas no velho oeste. E aí reside o problema comum de quase todo filme em episódios: a irregularidade. Na minha humilde opinião, os dois primeiros são excelentes, os dois seguintes são bons, e os dois últimos são os mais fracos.

Adorei a primeira história, com o pistoleiro cantor. Tim Blake Nelson está ótimo, a violência e o humor negro são muito bem colocados, e as músicas são tão boas que fiquei cantarolando dias depois. A segunda história, com o James Franco ladrão de bancos, também é boa, mas não tem um bom final.

A terceira, com Liam Neeson, é mais dark; a quarta traz Tom Waits nos ensinando como se acha um veio de ouro. A quinta tem bons momentos, mas achei longa demais; a sexta tem tanto falatório que cansa.

Como o filme tem duas horas e treze, acho que podiam ter cortado as duas últimas, e mudado a ordem. A Balada de Buster Scruggs seria melhor se fosse 1, 3, 4 e 2. Mas esse seria o “Helvecio’s cut”. Vou mandar um zap pros Coen e sugerir isso…

Coherence

Crítica – Coherence

Sinopse (imdb): Coisas estranhas começam a acontecer quando um grupo de amigos se reúne para um jantar numa noite em que um cometa passa.

Sei lá por que, deixei escapar este Coherence, de 2013. Depois de ver recomendações em mais de um lugar, resolvi ver.

Escrito e dirigido por James Ward Byrkit, Coherence (não sei se tem nome em português) é um filme barato, com elenco reduzido e poucos cenários – e uma história muito bem construída usando o conceito de universos paralelos. E, a boa notícia é que apesar de ser um filme nada linear, dá pra entender de primeira, diferente de filmes herméticos como Primer.

Coherence custou 50 mil dólares e foi filmado em apenas 9 dias – números irrelevantes para o padrão hollywoodiano. Sim, vemos essa simplicidade na tela (é uma ficção científica sem efeitos especiais!). E confesso que não gostei da estética cinematográfica de Byrkit – câmera tremida, às vezes perde o foco… Mas quando acaba o filme, dá vontade de rever, pra pegar detalhes que passaram desapercebidos.

No meio dos rostos desconhecidos no elenco, achei um nome curioso: Lorene Scafaria, roteirista e diretora de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, um filme bem legal que mostra um lado pouco explorado do assunto “apocalipse”. Também no elenco, Emily Baldoni, Maury Sterling, Nicholas Brendon, Hugo Armstrong, Elizabeth Gracen, Alex Manugian e Lauren Maher.

Boa opção escondida por aí!

As Filhas do Fogo / Las Hijas del Fuego

Crítica – As Filhas do Fogo

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Bem no fim do mundo, três mulheres se encontram por acaso, começando uma jornada poliamorosa que irá transformar as suas vidas. Uma viagem ao longo de estradas e através do tempo que se transforma em pura alegria, rios de prazer e diversão. Elas lentamente exploram uma paixão irreversível e a utopia do amor monogâmico, longe dos sentimentos de posse e de dor, como o inevitável fim de um amor que não se encaixa em lei alguma. Através de suas anotações, Violeta nos conta sobre as aventuras das Filhas do Fogo: um grupo de mulheres em busca de suas próprias descobertas eróticas.

Falei do Morra Monstro Morra, que era a cara da mostra Midnight Movies. Mais um filme argentino, este As Filhas do Fogo também é. Relações lésbicas, sexo explícito e muito papo cabeça numa história que não faz muito sentido. Sim, amigos, coisas que a gente só vê em mostras assim.

Escrito e dirigido por Albertina Carri, As Filhas do Fogo (Las hijas del fuego, no original) segue a estrutura básica de filme pornô: algo acontece na história para justificar a cena de sexo que vem em seguida, e assim por diante. Acredito que foi proposital, isso inclusive é citado nos monólogos narrativos. A diferença é que as personagens têm rostos comuns – nenhuma delas estaria num filme pornô “normal”.

Claro que o objetivo é provocar. Não só pelo sexo explícito, mas também por mostrar um elenco quase todo feminino em cenas meio oníricas – a longa sequência final é uma grande viagem. Acho que o único homem no elenco é justamente um ser desprezível, que maltratava a esposa.

Vale por ser diferente. Um bom exemplo de filme que não vemos facilmente por aí.

Morra Monstro Morra

Crítica – Morra Monstro Morra

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Cruz, um policial rural, investiga o bizarro caso do cadáver de uma mulher sem cabeça encontrado em uma região remota das Montanhas dos Andes. David, marido da amante de Cruz, Francisca, surge como o principal suspeito e é logo enviado para um hospital psiquiátrico. Ele jura que a culpa do crime é da aparição inexplicável e brutal de um “Monstro”. Cruz acaba desencavando uma misteriosa teoria que envolve geometria rural, motociclistas de montanha e um mantra que não sai da sua cabeça: Mate-me, Monstro.

Escrito e dirigido pelo argentino Alejandro Fadel, Morra Monstro Morra (Muere, monstruo, Muere, no original) é a cara da mostra Midnight Movies. Violência, gore, papo cabeça e muito simbolismo.

Primeiro, vamos ao que funciona. Os efeitos de maquiagem são bons, temos algumas cabeças decapitadas, essa parte ficou bem feita. A fotografia do filme também é boa.

Agora, é um filme lento, e cheio de diálogos chatos. E tem outro problema: muita coisa deve ter um simbolismo escondido. E não li o “manual de instruções” do filme. Ou seja, metade do filme não teve sentido. Por exemplo, o que eram aquelas motos que apareciam, davam uma voltinha e iam embora?

Ah, tem um monstro. Sim, aparece no fim do filme. Fica claro o simbolismo por trás dele. Mas o visual do monstro é tão tosco, mas, tão tosco, que não rola. Desculpa, era melhor não aparecer.

Thoroughbreds

Crítica – Thoroughbreds

Sinopse (imdb): Duas adolescentes de classe alta no subúrbio de Connecticut reavivam sua improvável amizade depois de anos de distanciamento. Juntas, elas arquitetam um plano para resolver os problemas de ambas – não importando o custo.

Me recomendaram este Thoroughbreds. O trailer prometia. E o elenco era bom. Vamulá então.

Thoroughbreds (sem título em português) foi escrito e dirigido pelo estreante Cory Finley. Seu filme não é perfeito, mas ele mostra que sabe usar os silêncios para construir um bom clima e extrair um bom trabalho do elenco.

Gostei muito das duas protagonistas. Anya Taylor-Joy (A Bruxa, Fragmentado) e Olivia Cooke (Jogador Nº 1) estão ótimas em suas personagens esquisitas. Arrisco a dizer que elas são o suficiente para o filme valer a pena. Mas ainda tem um bônus: é o último filme do Anton Yelchin.

O clima é legal, o elenco está bem. Mas o ritmo não é bom, parece que o filme não engata. E não gostei do final. Mesmo assim, ainda vale ser visto.

How to Talk to Girls at Parties

How to Talk to Girls at PartiesCrítica – How to Talk to Girls at Parties

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): No Reino Unido do fim dos anos 1970, Enn, um jovem tímido e fã da nova febre punk, está pronto para se apaixonar. Até que ele conhece a etérea Zan, que acredita que o punk vem “de uma outra colônia”, uma de muitas pistas de que ela talvez não seja desse planeta. Uma história sobre o nascimento do punk, a exuberância do primeiro amor e o maior de todos os mistérios do universo: como conversar com garotas em festas?

Quando vi Antiporno, pensei que era o filme mais maluco do festival. Que nada. Ainda faltava este How to Talk to Girls at Parties.

É difícil falar de How to Talk to Girls at Parties. É um filme completamente “fora da caixinha”. “Festa estranha com gente esquisita”, um desfile de personagens bizarros em situações bizarras. Mesmo assim, arrancou gargalhadas da plateia várias vezes. Apesar de ser um filme diferente de tudo, é o mais leve e divertido que já vi do diretor John Cameron Mitchell (Hedwig, Shortbus, Reencontrando a Felicidade).

Trata-se de uma adaptação de um conto de Neil Gaiman (que tem uma versão em graphic novel, desenhada pelos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá). Não li o livro, nem os quadrinhos. Mas é curioso ver que o título não faz sentido na história do filme.

Os figurinos dos alienígenas merecem uma citação. O filme explora o clichê de alienígena dos anos 70, roupas colantes em cores berrantes. O visual ficou bem legal. E tudo combina com a grande coleção de personagens excêntricos. Quem embarcar na viagem proposta por Mitchell vai se divertir.

O papel principal ficou nas mãos do desconhecido Alex Sharp, mas ele faz par com Elle Fanning (o que deve ajudar a vender o filme). Nicole Kidman faz um papel menor como uma punk veterana.

Acho difícil este filme chegar no circuito…

O Artista do Desastre

Artista do DesastreCrítica – O Artista do Desastre

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): A verdadeira história por trás da produção de The Room, um clássico cult chamado de “o Cidadão Kane dos filmes ruins”. Desde seu lançamento em 2003, o filme vem cativando o público no circuito midnight com sua história desconjuntada, atuações dissonantes e diálogos inexplicáveis. Cada faceta do filme impressiona, assim como a misteriosa e magnética performance de seu criador e protagonista, Tommy Wiseau. Este filme reconta a produção a partir das lembranças de Greg Sestero, amigo de Wiseau e co-estrela relutante do longa.

Já escrevi aqui sobre The Room, um filme ruim, muito ruim, tão ruim que chega a ser uma experiência dolorosa. Mal sabia heu que um outro filme me traria vontade de rever aquele filme ruim muito ruim.

O Artista do Desastre (The Disaster Artist, no original) conta os bastidores das filmagens de The Room, e expõe as excentricidades de seu autor, o bizarro Tommy Wiseau. Wiseau é um cara tão estranho, e a história deste filme é tão inacreditável, que parece que tudo foi inventado. Nada disso, o cara existe e a história aconteceu!

Pra quem nunca ouviu falar de The Room: um cara sem talento nenhum resolveu bancar a produção de um filme que ele mesmo escreveu, dirigiu e protagonizou. Claro que o filme é uma grande porcaria – mal escrito, mal dirigido e mal interpretado. Mas ganhou status de cult como um dos piores filmes da história.

E agora ganha um filme-tributo. E este filme-tributo é muito bom!

O Artista do Desastre é a adaptação do livro “The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made”, escrito por Greg Sestero, que era o melhor amigo de Wiseau na época do filme. Vemos como começou a amizade entre os dois, e vemos vários episódios bizarros da excêntrica vida de Wiseau.

James Franco foi o “Wiseau” aqui: dirigiu e protagonizou. A diferença é que Franco tem talento. E sua caracterização como Wiseau está excelente! Segundo o imdb, ele não saía do personagem nos intervalos, e continuava falando com o estranho sotaque do Wiseau.

Aliás, o elenco é muito bom. Dave Franco pela primeira vez divide a tela de um longa com seu irmão, interpretando Greg Sestero. Também no (grande) elenco, Zoey Deutch, Alison Brie, Josh Hutcherson, Zac Efron, Megan Mullally, Sharon Stone, Melanie Griffith, Christopher Mintz-Plasse e e Bryan Cranston, e participações de Kristen Bell, Lizzy Caplan, Adam Scott, Zach Braff e J.J. Abrams. Acho que o ponto negativo do elenco é Seth Rogen, interpretando o Seth Rogen de sempre, e que parece que quer aparecer mais do que o filme pede, achei que seu personagem forçou um pouco a barra.

Uma coisa que ficou bem legal foi que recriaram algumas das cenas do filme original, e no fim do filme vemos a tela dividida, com a versão original de um lado, e a refilmagem do outro. Impressionante como aquilo era ruim; impressionante como ficou igual!

O único problema de O Artista do Desastre é que a gente sai do cinema com vontade de ver (ou rever) The Room. E isso é um desserviço à história do cinema. Caí nesta falha, e revi. Só pra constatar que não vale a pena… Fique com as cenas dos créditos, vale mais a pena.

Segundo o filmeB, O Artista do Desastre estreia nos cinemas brasileiros só em janeiro de 2018. É, vamos ter que esperar…