The Electric State

The Electric State

Sinopse (imdb): Uma adolescente órfã atravessa o oeste americano com um robô doce, mas misterioso, e um excêntrico vagabundo, em busca de seu irmão mais novo.

Os irmãos Joe e Anthony Russo eram ilustres desconhecidos, até que dirigiram quatro dos melhores filmes do MCU: Capitão América O Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato – detalhe que este último é a segunda maior bilheteria da história do cinema. Mas, depois de Ultimato, lançaram dois filmes bem fuén: Cherry e Agente Oculto. Não são filmes ruins, mas são filmes bobos e genéricos.

The Electric State segue a mesma onda. Não é ruim, mas é bobo e genérico.

O filme se passa nos anos 90, mas é uma realidade paralela onde vivemos com robôs inteligentes (o que me faz questionar por que situar a trama nos anos 90, porque, se é uma realidade paralela, podia ser hoje em dia). Os robôs se rebelam, rola uma guerra entre humanos e robôs, e humanos ganham a guerra usando robôs controlados remotamente (ou seja, é tudo robô). Ter um robô passa a ser “crime de traição”. A protagonista, uma “adolescente” de vinte anos de idade, recebe a visita de um robô, que acredita ser controlado pelo seu irmão que foi declarado morto, e resolve acompanhá-lo numa aventura dentro do mundo dos robôs.

Vamulá. Tecnicamente falando, The Electric State é muito bom. É uma superprodução de 320 milhões de dólares onde boa parte deve ter ido pras equipes de efeitos especiais. São muitas cenas de atores interagindo com robôs – a maior parte deve ser cgi, mas nenhuma cena passa a sensação de ser fake. Realmente parece que os robôs são reais. Nesta parte, nenhuma queixa.

Agora, o roteiro é tão mal escrito que deu vontade de fazer uma lista de tosqueiras mais toscas… Então vou fazer mais alguns comentários, depois vou soltar um aviso de spoilers, e listar dez tosqueiras.

Tenho sensações dúbias quanto à trilha sonora. Porque é daquele tipo de filme que usa músicas pop pra despertar a nostalgia dentro do espectador, e neste aspecto as músicas são muito bem usadas. Sim, sei que é um truque sujo, mas é legal ouvir Journey, Danzig, Judas Priest, Oasis, The Clash e Marky Mark – inclusive esta última ainda traz uma boa piada. Aliás, a melhor piada do filme envolve a Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Agora, por outro lado, é triste ler nos créditos que a trilha original é do Alan Silvestri, e tentar lembrar da trilha e não conseguir. Sim, a trilha original é tão genérica quanto o resto do filme, não tem nenhum tema marcante.

Sobre o elenco: Millie Bobby Brown e Chris Pratt interpretam Millie Bobby Brown e Chris Pratt. Ambos fazem o de sempre, o que pode ser bom dependendo da proposta do espectador, mas, não é nenhum trabalho de atuação que mereça destaque. Stanley Tucci faz o vilãozão genérico; e, lembram que comentei que Giancarlo Esposito estava desperdiçado em Capitão América 4? Aqui ele está mais desperdiçado ainda! Alguém precisa avisá-lo urgentemente que ele precisa largar esse estereótipo, já cansou! Ke Huy Quan tem um bom papel, pena que é tão clichê que adivinhei o que ia acontecer assim que ele apareceu. Jason Alexander tem um papel pequeno e engraçado. Além disso The Electric State tem robôs com as vozes de Woody Harrelson, Anthony Mackie, Brian Cox, Jenny Slate, Hank Azaria, Colman Domingo e Alan Tudik – e preciso dizer que não reconheci Anthony Mackie, mesmo lendo seu nome nos créditos (talvez seja o único elogio que faço ao elenco).

E aí a gente volta pro assunto do início do texto: The Electric State é ruim? Não. O cara que ligar a Netflix atrás de uma diversão efêmera e despretensiosa vai curtir. O problema é você lembrar dos currículos das pessoas envolvidas e pensar que podia ser muito melhor…

Mickey 17

Crítica – Mickey 17

Sinopse (imdb): Segue Mickey 17, um “dispensável”, que é um funcionário descartável em uma expedição humana enviada para colonizar o mundo gelado de Niflheim. Depois que uma iteração morre, um novo corpo é regenerado com a maioria de suas memórias.

Finalmente foi lançado o aguardado novo filme de Bong Joon-Ho, depois que ele surpreendeu o mundo cinematográfico em 2020 ao levar 4 Oscars para Parasita, incluindo o de melhor filme – a primeira (e até agora única) vez que um filme não falado em inglês ganhou o Oscar principal. (Além de melhor filme, Parasita ganhou melhor diretor, melhor roteiro original e melhor filme internacional).

(A previsão era lançar ano passado, tanto que o filme estava na minha lista de expectativas para 2024…)

Mickey 17 é a adaptação do livro Mickey 7, de Edward Ashton. Soube que teve sessões de imprensa em outras cidades no Brasil onde críticos ganharam o livro, mas aqui no Rio não deram nada. Mas li no imdb o motivo de ser um número diferente: Bong falou que queria alterar pra poder matar o Mickey mais dez vezes.

O filme traz uma ideia boa. Mickey está endividado, então resolve se juntar a uma equipe que está saindo da Terra para colonizar um planeta distante. Como não tem muitas habilidades, resolve optar pelo cargo que lhe parecia mais fácil de ser contratado: o “dispensável”. Sempre que tem alguma tarefa perigosa, com risco de vida, ele vai executar. E quando morre, imprimem uma nova cópia, igual ao que acabou de falecer, inclusive com as mesmas memórias.

Aliás, tem uma coisa curiosa: várias vezes no filme perguntam ao Mickey “como é morrer?” Ora, se ele está sendo reimpresso com a memória até aquele dia, não tem como ele saber como é morrer! Não tem como recuperar a memória da morte!

(Achei estranho ter cópias com personalidades diferentes. Acho que se é pra ser igual, seria igual em tudo. Mas, impressão de corpo humano não existe na vida real, então, como estamos falando de ficção científica, vou aceitar que altere a personalidade.)

A parte técnica é muito boa. Robert Pattinson faz dois Mickeys, o 17 e o 18, e eles interagem boa parte do filme. Ok, não é a primeira vez que vemos um ator interpretando “gêmeos”, mas reconheço que o resultado aqui ficou perfeito.

Além disso tem as criaturas habitantes do planeta Niflheim (o nome do planeta é uma referência à mitologia nórdica, é um reino em estado permanente de inverno, a vida após a morte para aqueles que não morrem de forma heroica). Bong Joon-Ho já filmou monstros antes, o primeiro filme que vi dele foi O Hospedeiro, de 2006. Mas aqui são vários monstrinhos, e, que nem acontece com os “gêmeos”, o resultado é perfeito.

Assim como em outros filmes do diretor, os teóricos de plantão podem encontrar camadas para alimentar discussões sociológicas. Um amigo meu falou que seria uma crítica ao capitalismo, “onde você vai trabalhar até morrer”. Também podemos enxergar o personagem do Mark Ruffalo como um líder que mistura política com religião. Ou seja, é “filme de monstro e nave espacial”, mas também tem seu lado cabeça.

Sobre o elenco, é impressionante como, a cada filme, Robert Pattinson se mostra um ator melhor. Já tinha comentado isso em filmes tão díspares como O Farol e Batman, e aqui mais uma vez ele está muito bem, e ainda tem a oportunidade de fazer dois papéis completamente diferentes – Mickey 17 e Mickey 18 só são parecidos fisicamente, pois têm personalidades bem distintas. Por outro lado, achei Mark Ruffalo além do ponto. Entendo a opção de colocá-lo como um líder caricato, mas ficou over. Toni Collette, sua parceira, está melhor. Também no elenco, Naomi Ackie (Pisque Duas Vezes), Anamaria Vartolomei (O Império) e Steven Yeun (Não Não Olhe).

Mickey 17 pode não ser tão bom quanto Parasita. Mas mesmo sendo um filme menor, gostei, achei tão bom quanto O Hospedeiro ou O Expresso do Amanhã.

Entre Montanhas

Crítica – Entre Montanhas

Sinopse (imdb): Dois agentes altamente treinados se aproximam à distância após serem enviados para proteger lados opostos de um desfiladeiro misterioso. Quando um mal emerge, eles precisam trabalhar juntos para sobreviver ao que está lá dentro.

Aconteceu algo curioso. Entre Montanhas (The Gorge, no original) é um filme de streaming, da Apple TV. Comecei a ver, bateu sono, aí parei na metade, e terminei no dia seguinte. E Entre Montanhas é daquele tipo de filme que muda de rumo no meio, e achei a segunda metade bem inferior à primeira…

(Aliás, por que diabos chamar de “Entre Montanhas” um filme que no original se chama “O Desfiladeiro”? O nome original tem muito mais a ver!)

Vamulá. Dois atiradores de elite, de nacionalidades diferentes, que não se conhecem, são escalados para passar um ano, isolados do mundo, cada um em uma torre, de lados opostos de um desfiladeiro. Algo misterioso está lá embaixo, e eles só precisam vigiar. Teoricamente eles não poderiam entrar em contato um com o outro, mas começam a se comunicar através de cartazes, um escreve e o outro vê através de binóculos. Aliás, tem um momento onde o Miles Teller toca bateria (como em Whiplash) e a Anya Taylor-Joy joga xadrez (como em O Gambito da Rainha), e coincidentemente isso já estava no roteiro antes do elenco ser escolhido.

Essa parte da comunicação à distância é a melhor parte do filme. Tem um momento onde o ritmo é quebrado e vemos algo tentando sair do desfiladeiro. A sequência é boa, mas heu acho que podia mostrar menos sobre o que estava lá embaixo – sempre defendo que o quanto menos a gente sabe, maior é o medo que a gente sente. Mas pelo menos a sequência é empolgante e bem filmada.

Até aí, heu estava gostando do filme. Mas na segunda metade, algo acontece e os dois vão parar dentro do desfiladeiro. E aí o filme entra numa onda de clichês (como quando encontram um filme em super 8 que vai explicar tudo) e forçadas de barra no roteiro (como os dois conseguirem fazer tudo e sobreviver num ambiente onde milhares de soldados tentaram e todos morreram). Não que o filme fique ruim, mas é que cai no “mais do mesmo”.

A direção é de Scott Derrickson, que tem um histórico no cinema de terror: O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade, Livrai-nos do Mal, O Telefone Preto (além de um Marvel, Doutor Estranho). Por ser alguém do meio, achei que a segunda metade do filme podia ser mais “terror”. Pena, virou um sub Resident Evil, naquela linha entre ação, terror e ficção científica.

No elenco, quase o filme todo é em cima de Miles Teller e Anya Taylor-Joy, que estão bem, e convencem, tanto como atiradores, quanto como o improvável casal. Sigourney Weaver faz uma ponta de luxo, caricata, mas pouco aparece. E acho que o único outro personagem relevante é interpretado por Sope Dirisu, de Gangs of London.

A segunda metade tem uma falha grave de roteiro. Mas como é no fim do filme, vou colocar um aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A gente descobre que lá embaixo existe uma contaminação. Mas tem um rio correndo. Ué, a água que sai do desfiladeiro e vai “para o mundo” não está contaminada?

FIM DOS SPOILERS!

No fim, Entre Montanhas é um filme apenas ok. Não vai deixar o espectador com raiva, mas também não vai mudar a vida de ninguém. Só fico triste com a queda de qualidade no meio do filme. Seria melhor se não tivesse caído no clichê.

Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.

Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.

Alien: Romulus

Crítica – Alien Romulus

Sinopse (imdb): Enquanto exploram as profundezas de uma estação espacial abandonada, um grupo de jovens colonizadores espaciais se depara com a forma de vida mais aterrorizante do universo.

E vamos a mais um Alien!

Antes, um breve recap: o primeiro Alien, de 1979, dirigido por Ridley Scott, é um clássico absoluto, um dos melhores filmes de terror e ficção científica da história. O segundo, de 86, dirigido por James Cameron, é uma ótima continuação. Tivemos um terceiro em 92 dirigido por David Fincher e um quarto em 97 dirigido por Jean Pierre Jeunet, ambos com algumas qualidades mas também alguns problemas. Tem dois Alien versus Predador, uma ideia que no papel era ótima, mas os dois filmes são muito ruins. E em 2012 o próprio Ridley Scott voltou à franquia, com Prometheus, e cinco anos depois, com Covenant, dois filmes com mais problemas do que méritos.

Agora é a vez de Fede Alvarez, que surgiu fazendo o novo Evil Dead (que é um bom filme, mas NÃO É Evil Dead!!!), e depois fez o bom O Homem nas Trevas. E Alvarez consegue um resultado muito melhor que os últimos filmes!

(Falei dos outros filmes só pra avisar que é bom ver ou rever o primeirão antes de ver este aqui, que se passa entre os dois primeiros. Alien: Romulus traz algumas referências ao Alien de 1979.)

Alien: Romulus (idem, no original) parte de uma premissa parecida com O Homem nas Trevas: um grupo de jovens precisa invadir um local pra roubar uma coisa. A princípio algo simples, entrar, pegar e sair. Mas eles acabam presos junto com algo perigoso dentro desse local.

Alien: Romulus começa num planeta minerador, onde pessoas são oprimidas pela corporação Weyland Yutani (do primeiro filme), e um grupo de jovens quer sair de lá para tentar a vida num lugar melhor. Só que o lugar mais perto está a 9 anos de distância, então eles precisam de cápsulas de criogenia para se congelarem durante a viagem. Invadem então uma estação abandonada, mas não sabem que a nave está cheia de “face huggers”.

Fede Alvarez conseguiu criar um clima e um visual fantástico para o seu filme. É uma ficção científica “velha” e “suja”, muitas coisas lembram o primeiro filme, de 45 anos atrás, tudo meio retrô. Os efeitos especiais são perfeitos, tanto na parte das naves, quanto nos face huggers e xenomorfos (que não custa lembrar, foram criados por H R Giger!). E outro mérito de Alien: Romulus é que voltou a ser um filme de terror como o Alien original, tem algumas cenas bem tensas e alguns jump scares.

Ouvi críticas com relação a alguns pontos do roteiro serem cópias dos filmes anteriores. Verdade, algumas cenas realmente repetem ideias que já vimos antes em outros filmes da franquia. Mas não achei isso algo negativo. Já falei aqui no heuvi diversas vezes: o problema não é reciclar uma ideia, o problema é quando você recicla essa ideia e o resultado fica ruim. Alien: Romulus recicla ideias e entrega um resultado empolgante e num clima excepcionalmente bem construído.

No elenco, a “final girl” da vez é Cailee Spaeny (Guerra Civil, Priscilla), que se esforça pra ser a “nova Ripley”. Ouvi comentários de que ela não tem o carisma da Sigourney Weaver. Isso pode até ser verdade, mas, por outro lado,  Sigourney Weaver está com 74 anos, não tem como trazê-la de volta num novo filme! Vamos abrir espaço pra galera mais nova!

Agora, preciso dizer que não gostei da parte final. Sem spoilers aqui, mas achei o “monstro final” inferior aos que aparecem ao longo do filme.

Mesmo com o problema no final, ainda achei um filmão. Merece ser visto nos cinemas!

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo

Critica – Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo

Sinopse (imdb): Uma infame caçadora de recompensas retorna ao lugar onde cresceu, o caótico planeta Pandora, e forma uma aliança inesperada com uma equipe de desajustados para encontrar a filha desaparecida do homem mais poderoso do universo.

Confesso que rolava uma certa curiosidade sobre esse filme. Baseado em videogame, com direção de Eli Roth, e com Cate Blanchet, Jamie Lee Curtis e Jack Black no elenco. Mas, uma sessão de imprensa na véspera da estreia, com embargo até o dia da estreia, era um sinal claro de que a distribuidora não confiava no potencial do filme.

E infelizmente a distribuidora estava certa. Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands, no original) não é bom.

Me pareceu que o principal problema é que estamos diante de um trash, mas que tem medo de se reconhecer como tal. Tudo aqui é caricato. Se a produção se assumisse trash, o filme seria bem mais divertido. Abracem o trash, galera!

E tem uma coisa que sinceramente não entendi: pra que chamar uma atriz do porte da Cate Blanchett, ganhadora de dois Oscars (O Aviador e Blue Jasmine) para um filme desses? Qualquer atriz meia boca servia pro papel. Foi um grande desperdício de talento. (E nem estou falando de Jamie Lee Curtis, que ganhou Oscar ano passado por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, mas que acho que está num momento da carreira que aceitaria um filme desses).

A direção é de Eli Roth, que ficou conhecido nos anos 2000 por ter dirigido O Albergue e por ter feito um dos principais papéis de Bastardos Inglórios. Roth tem um bom currículo no terror e no gore, e ano passado fez o bom Feriado Sangrento. Taí, Roth podia ter puxado o espírito do filme pro trash e pra galhofa. Pena que não o fez.

Borderlands parece uma mistura de Mercenários das Galáxias com Esquadrão Suicida, e é literalmente um “filme baseado em videogame”. O roteiro não segue o “formato Syd Field” com três atos, parece mais que estamos vendo seguidas fases de um videogame. Acabou uma fase, começamos a fase seguinte. Chega ao ponto de ter uma espécie de “regeneração” – vejam que em uma das fases o robô leva muitos tiros, mas num passe de mágica ele volta ao visual anterior.

Claro, como num videogame, várias coisas não fazem sentido, como por exemplo um líquido super corrosivo, que “destrói tudo, menos os cristais que já estavam na caverna” – mas que depois vemos esse líquido dentro de encanamentos. Afinal, deve correr tudo, menos os cristais e aqueles canos.

E o pior está guardado pro final, quando acontece uma espécie de plot twist e um dos personagens ganha super poderes e o Borderlands vira filme de super herói. “De longe, o final parece ruim, de perto, parece que está de longe”.

O filme se passa em uma realidade paralela à nossa, então não temos muitas músicas pop embalando as cenas, coisa que costuma ser bastante comum nos dias de hoje. Mas tem uma cena usando Ace of Spades, do Motörhead, que é uma cena muito boa, talvez a melhor do filme. Ok, clichê, música rock’n’roll rolando enquanto vemos tiro porrada e bomba. Clichê, mas funciona. Mas, ora, se tem Motörhead em uma cena, por que não usar outras músicas conhecidas? É uma cena boa, mas parece fazer parte de outro filme.

O elenco é muito bom, mas… Todos estão exagerados. Fica difícil julgar o trabalho de um ator quando o filme é tão caricato assim. Além das já citadas Cate Blanchett e Jamie Lee Curtis, Borderlands conta com Ariana Greenblatt, Kevin Hart, Florian Munteanu e Edgar Ramírez. Nenhum deles está bem. Do elenco, heu só salvo o Jack Black, que faz a voz do robô. É o alívio cômico, ele faz piada o filme inteiro, talvez esteja um pouco demais. Mas reconheço que gostei de algumas. Ri alto na cena da flor.

Enfim, Borderlands não e um total lixo. Mas fica a sensação de que podia ter sido muito melhor. Esperamos que não vire franquia!

Arcadian / Depois do Apocalipse

Crítica – Arcadian / Depois do Apocalipse

Sinopse (imdb): Um pai e seus filhos gêmeos adolescentes lutam para sobreviver em uma casa de fazenda remota no fim do mundo.

Filme pós apocalíptico, de monstro, e estrelado pelo Nicolas Cage. Claro que entra no meu radar!

Parece uma versão de Um Lugar Silencioso, mas com monstros sensíveis à luz em vez do som. Não tenho nada contra ideias recicladas, mas o filme precisa ser bom, e Arcadian tem algumas ideias boas, outras nem tanto.

Dirigido pelo pouco conhecido Benjamin Brewer, Arcadian explica pouca coisa. O filme começa com o Nicolas Cage fugindo, e ouvimos ao fundo gritos e sons de tiros, mas não vemos nada. Passam-se alguns anos e agora nosso protagonista vive num lugar isolado, acompanhado pelos seus dois filhos. E sabemos que, quando a noite cai, algo espreita a casa, mas não sabemos o que.

A primeira cena onde vemos algo do monstro é sensacional, quando vemos a “mão” da criatura tentando entrar por um buraco na porta. Mesmo assim, continuamos sem saber como é o tal monstro! Gosto desse conceito, de se manter o mistério sobre o que é a criatura, defendo isso desde o primeiro Alien, de 1979. É muito mais assustador quando não sabemos o que está atacando!

Quando o monstro finalmente aparece, tem uma coisa que gostei, outra nem tanto. Gostei da velocidade das mandíbulas quando eles atacam, aquilo ficou realmente assustador. Por outro lado, não entendi o lance deles se juntarem e virarem uma grande roda. É o mesmo tipo de criatura ou tem outra espécie capaz de fazer aquilo?

Os efeitos especiais são apenas ok. Muitas cenas escuras, provavelmente pra esconder falhas no cgi. E em algumas cenas, o cgi dos monstros fica muito aparente. Além disso, a câmera é tremida o tempo todo. Às vezes dá nervoso.

Agora, Arcadian tem um problema na segunda metade. Acontece uma coisa com o personagem do Nicolas Cage e ele passa a ser um coadjuvante. Coincidência ou não, o ritmo do filme cai bastante depois que muda o protagonismo.

No elenco Jaeden Martell e Maxwell Jenkins fazem os filhos do Nicolas Cage, os atores não são ruins, mas os personagens são fuen. Sadie Soverall faz o único outro papel relevante.

Arcadian não é ruim, mas é uma ideia reciclada que fica alguns degraus abaixo da ideia original. Vamos ver se vai ter continuação pra gente saber um pouco mais sobre esses monstros.

Acolyte – primeiras impressões

Acolyte – primeiras impressões

Hoje é quarta, Acolyte acabou ontem, heu deveria fazer um texto analisando a série. Mas preciso rever tudo, são 8 episódios, e vou viajar amanhã, os filhos estão de férias e vou passar 4 dias offline com eles. E o texto seria mais um pra falar mal, porque é um consenso de que Acolyte é a pior coisa já feita dentro do universo de Star Wars. Então, em vez de um texto “chutando cachorro morto”, vou preparar pra semana que vem um texto semelhante ao que fiz com a série Obi Wan, citando “6 tosqueiras toscas em Obi Wan”.

Em primeiro lugar, a série é feita por quem não gosta de Star Wars. A showrunner (e também roteirista e diretora) Leslye Headland resolveu criar polêmicas como quando disse que “R2D2 é uma lésbica”. Vem cá, em algum momento dos nove filmes onde o R2D2 aparece, tem alguma única cena ligada à sexualidade dele? É um robô! Não estou nem entrando no mérito sobre heterossexualidade vs homossexualidade, a parada aqui é mais básica: É UM ROBÔ! NÃO TEM SEXO! Uma pessoa que dá uma declaração dessas, na verdade, não quer provar uma teoria, o que ela quer é agredir todo um fandom. Pra que levantar uma bandeira onde não existe espaço pra isso? Agora, ela pode dizer que quem não gosta da série é homofóbico. Dona, não tem nada a ver. Não force a barra.

Mas, esse não é o pior problema de Acolyte. Tem algo pior: não respeita o canon de Star Wars. Se você vai escrever uma história que se passa dentro de um universo onde existem vários filmes, séries, desenhos, livros e videogames, você precisa estudar esse universo, pra poder encaixar a sua historia sem entrar em conflito com outras coisas que já existem lá. E Acolyte não fez o dever de casa, como, por exemplo, quando coloca o Ki-Adi-Mundi, personagem que estava em Star Wars Ep 1 – e que não tinha idade para estar vivo na época em que se passa a série. Isso dentre várias outras coisas…

Mas, na verdade, esse também não é o pior problema de Acolyte. Uma história no estilo “What If”, num universo paralelo, fora do canon, pode ser boa. O pior problema é que é uma série ruim. A história é ruim, mal contada. Tecnicamente tem vários erros, é uma série mal dirigida e mal editada. É mal escrita, várias coisas no roteiro não fazem sentido. E o pior de tudo: é uma história chata. São episódios de pouco mais de meia hora, que cansam, com personagens sem carisma carregando uma história sem graça. Se não fosse Star Wars, heu teria parado no segundo episódio.

Enfim, semana que vem providencio o texto com tosqueiras da série. E fico na torcida pra não ter uma segunda temporada.

Biônicos

Crítica – Biônicos

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico em que as próteses robóticas dominam os esportes, duas irmãs competem no salto em distância. Só que essa rivalidade leva a um caminho sinistro.

Opa, ficção científica feita no Brasil!

Biônicos é o novo filme de Afonso Poyart. Poyart é um cara que merece o meu respeito, em 2012 ele fez 2 Coelhos, um dos melhores filmes nacionais que heu já vi. Três anos depois ele dirigiu Anthony Hopkins e Colin Farrell em Presságios de um Crime, e lembro de ter ido numa sessão no Roxy com presença do próprio Poyart. No ano seguinte, 2016, Poyart dirigiu Mais Forte Que o Mundo, contando a história do lutador José Aldo, outro filmão. Só por esses três títulos, Poyart já merece espaço no hall de melhores diretores brasileiros.

De lá pra cá, Poyart deu uma sumida. Vi no imdb que ele fez coisas pra TV. Até que estreou este Biônicos no streaming, anunciado como “o filme nacional mais caro da Netflix”. E apareceram alguns canais de youtube falando mal do filme. Realmente, Biônicos chama a atenção por ser extremamente bem feito. Mas por outro lado, o roteiro deixa a desejar. Vamulá.

O filme se passa num futuro próximo onde atletas amputados usam próteses biônicas que os deixam melhores que os atletas “normais”, a ponto de ter atletas que querem se amputar como uma espécie de “doping tecnológico”. Mas algumas coisas não fazem muito sentido, tipo um amputado tem direito a próteses, mas é acusado criminalmente se for responsável pela própria amputação. E isso acaba gerando uma das coisas mais forçadas do filme: a protagonista quer uma perna biônica, então ela força um acidente onde ela está de moto e um carro bate violentamente nela. Caramba! Como é que alguém vai conseguir controlar um acidente desses pra ser só um ferimento na perna? Ela podia ter morrido!

Agora, pra mim, o pior do roteiro é a personagem Maria, justamente a protagonista. Ela é antipática e invejosa. Sua irmã mais nova era uma atleta pcd, e sempre chegava em segundo lugar quando as duas competiam – por motivos óbvios. Quando surgiram as próteses biônicas, a irmã mais nova passou a chegar em primeiro lugar, e a protagonista nunca aceitou isso. E, pra piorar, a irmã mais nova é simpática e está sempre tratando bem a irmã. Acho que escolheram a protagonista errada.

O roteiro ainda tem mais alguns problemas aqui e ali, tipo um vilão caricato que tem atitudes sem sentido (além de um envolvimento romântico muito forçado com a protagonista), ou provas paralímpicas que mais parecem um videogame. Mas são problemas comuns de filmes desse  estilo, nada muito grave.

Agora, o visual é digno de ser um marco do cinema nacional. Não só toda a ambientação em um futuro meio cyberpunk, com figurinos e props que parecem coerentes com a proposta do filme (ficção científica nacional a gente pensa em figurinos com cara de Castelo Rá Tim Bum), como o cgi das próteses biônicas é muito bom! Essa parte ficou realmente muito bem feita!

(Só reclamo do cgi de um personagem que aparece na cena final, que parece uma cópia tosca do Ciborgue da Liga da Justiça. Aquele ficou com cara de novela do SBT.)

Além disso, tem algumas cenas muito boas. Lembro pouco de 2 Coelhos (não sei onde posso revê-lo, e não tenho o dvd!), mas lembro que tinha uma câmera lenta muito bem executada. Em tempos de Rebel Moon com câmera lenta mal aproveitada, Poyart mostra que ainda sabe usar o efeito. Tem uma cena onde chutam uma mesa que é daquelas pra guardar a cena e rever de vez em quando!

Tive um problema com o final. Como é na conclusão do filme, vou colocar avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Na parte final aparece o grande vilão, interpretado por Miguel Falabella. Aí, na cena final, pelo que heu entendi, os irmãos se unem ao vilão. Péra, no fim do filme eles viram “do mal”? Heu entendi direito???

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com os problemas, gostei de ver uma ficção científica brasileira tecnicamente bem feita. Só espero que em uma próxima vez caprichem um pouco mais no roteiro.