Jurado Nº2

Crítica – Jurado Nº 2

Sinopse (imdb): Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, um homem se vê em um dilema moral, podendo influenciar o veredito do júri.

Uma coisa que acho muito legal é quando vejo pessoas idosas trabalhando no que gostam, por prazer. Sim, sei que tem muita gente com condições financeiras precárias, que precisa continuar trabalhando, mas alguns trabalham porque gostam do que fazem. Lembro do show do Deep Purple, ano passado, no Rock in Rio. Quatro membros da banda com mais de 75 anos!

Aí a gente vê que chegou no streaming o novo filme dirigido por Clint Eastwood – que está com 94 anos! Quando crescer, quero ser que nem esses caras!

(Antes de entrar no filme, uma coisa que descobri pesquisando sobre o que ia falar aqui: Clint Eastwood tem fama de ser um diretor muito responsável com prazos e orçamentos. Seus filmes sempre custam menos do que o estimado e sempre são entregues antes do prazo. Legal!)

E vamos ao filme. Vi Jurado Nº 2 (Juror # 2, no original) no finzinho do ano passado, lembro que alguns amigos colocaram o filme em suas listas de melhores do ano, queria ver logo pra ver se ia mudar o meu top 10. Reconheço todos os méritos de Jurado Nº 2, é um filmão, mas não mudou minha lista.

A ideia é muito boa. Um cara é convocado pra fazer parte de um júri. Durante o julgamento, ele descobre que pode ter um envolvimento pessoal com o caso. Aí entra o dilema moral: será que ele deve assumir a sua responsabilidade, ou é melhor deixa outra pessoa pagar por um erro seu?

(Nunca entendi esse sistema que acontece nos EUA onde pessoas são convocadas pra participarem de um júri. O que acontece se a pessoa não pode? Se tem um trabalho que não a deixa sair? Se tem algum problema de saúde? Acho que isso não funcionaria no Brasil…)

Um dos destaques de Jurado Nº 2 é o roteiro, que consegue explorar bem vários tons de cinza no meio do julgamento, e consegue equilibrar um elenco com vários bons personagens. Ok, não tem como aprofundar todos os personagens em um filme de uma hora e cinquenta e quatro minutos, são uns vinte personagens participando da trama. Mas conseguimos ver nuances de vários deles.

Outro destaque é o elenco. Nicholas Hoult (segundo filme que comento este ano, segundo filme com o Nicholas Hoult) está excelente com seus dilemas – ele tem uma esposa em gravidez de risco, ele tem um histórico de alcoolismo, e está vendo um homem que pode ser inocente ser condenado. E Toni Collette, como a promotora, também tem seus dilemas, porque está vendo que talvez precise prejudicar terceiros por motivos pessoais. Duas grandes atuações! E ainda tem outros dois grandes atores em papéis bem menores, J.K. Simmons e Kiefer Sutherland. Papéis importantes, mas com pouco tempo de tela. Também no elenco, Zoey Deutch, Chris Messina e Leslie Bibb. Ah, a vítima do assassinato é Francesca Eastwood, filha do Clint.

Jurado Nº 2 foi muito mal lançado. Um filme desses merecia ir pros cinemas. Mas foi direto pro streaming, e sem nenhuma divulgação. Nosso diretor nonagenário merecia um tratamento melhor!

Nosferatu (2024)

Crítica – Nosferatu

Sinopse (imdb): Um conto gótico de obsessão entre uma jovem assombrada na Alemanha do século XIX e o antigo vampiro da Transilvânia que a persegue, trazendo consigo um horror incalculável.

Comecemos pelo original, de mais de 100 anos atrás. Em 1922, F.W. Murnau resolveu fazer uma adaptação do livro Drácula, de Bram Stoker. Alterou os nomes dos personagens, alterou o país onde se passa a história, alterou quais são os dentes do vampiro (incisivos em vez de caninos). O resto é exatamente igual. Exatamente a mesma história. A viúva de Bram Stoker descobriu o plágio, entrou com um processo, e pediu para que todas as cópias fossem destruídas. Por sorte, alguns colecionadores e cinematecas guardaram cópias, se não hoje não teríamos essa obra icônica.

Heu nunca tinha visto este Nosferatu de 1922. Vi agora, e entendo todos os méritos, mas preciso admitir que não gosto muito do estilo usado na época. Como era cinema mudo, todas as atuações parecem exageradas, isso me incomoda um pouco. Mas reconheço a importância do filme.

(Existe outra versão de Nosferatu, de 1979, dirigida por Werner Herzog e estrelada por Isabelle Adjani e Klaus Kinski. Vi muitos anos atrás, me lembro de pouca coisa desta versão.)

Finalmente chegamos em 2024 (apesar de já estarmos em 2025). Gosto do estilo do Robert Eggers, gostei de A Bruxa, e gostei mais ainda de O Homem do Norte – apesar de não ter gostado nem um pouco de O Farol, achei chato e pretensioso. Mas estava curioso em ver como Eggers ia apresentar sua versão de Nosferatu.

A história todo mundo conhece: o jovem corretor de imóveis Hutter vai até a Transilvânia para fechar um contrato de venda de um imóvel para o misterioso conde Orlok, que vai até a Alemanha atrás da esposa de Hutter.

Se a história é batida, o visual não é. Goste ou não do estilo de Robert Eggers, seus filmes são sempre belíssimos, com várias sequências com visual deslumbrante. E isso acontece aqui, Nosferatu enche os olhos. A trilha sonora também é muito boa. Além disso, todo o figurino e reconstituição de época são perfeitos.

Um parágrafo à parte pra falar da maquiagem. Bill Skarsgård está irreconhecível. A divulgação do filme fez bem em não explorar o visual deste novo Nosferatu, porque quando ele aparece, está assustador, tanto na aparência quanto na voz – ele treinou a voz por semanas pra baixar uma oitava do seu registro natural para seu personagem ter a voz o mais grave possível.

O vampiro de Bill Skarsgård é assustador, e o clima do filme segue a mesma linha. Nosferatu ainda tem alguns jump scares bem bolados (daqueles que a gente não adivinha quando vão chegar). Mas o mais importante aqui não são os jump scares, e sim o clima tenso de terror. Sim, Robert Eggers sabe trabalhar o clima como poucos no cinema contemporâneo.

(Achei estranho o personagem ter bigode. Deve ser porque Vlad Tepes também tinha.)

Bill Skarsgård não é o único destaque do elenco. Lily-Rose Depp também está excelente (parece que o papel seria da Anya Taylor-Joy, mas ela teve que passar adiante por problemas de conflito de agenda quando foi fazer Furiosa). Também no elenco, Nicholas Hoult, Willem Dafoe, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin e Ralph Ineson.

Gostei muito deste novo Nosferatu, mas reconheço que não é um filme para qualquer um. Aliás, todo o cinema de Eggers tem essa característica, seus filmes são o oposto do pop. Provavelmente vai ter parte do público saindo insatisfeita do cinema. Mesmo assim, recomendo: filmão!

Por fim, um mimimi que não é um problema deste filme, porque na verdade estava na versão de 1922. Na história original do Bram Stoker, Drácula vai de navio até a Inglaterra. É longe, sair da Transilvânia e ir até a Inglaterra, mas tem lógica se a gente pensar que a Inglaterra é uma ilha, então teria alguma lógica ir pelo mar. Na versão “pirata”, a história se passa na Alemanha, e mesmo assim, Orlok vai de navio. Não entendo muito de geografia europeia, mas a Alemanha só tem acesso ao mar pelo norte. O navio nesta versão teve que dar uma volta enorme! Não vejo lógica em ele ir de navio da Romênia até a Alemanha. Fui o único que pensei nisso?

Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Sinopse (imdb): Em Rohan, um ataque surpresa de Wulf, um senhor Dunlendino astuto e implacável em busca de vingança pela morte de seu pai, força o rei Helm Mão-de-Martelo e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza de Hornburg.

Depois de décadas, O Senhor dos Anéis volta para a animação!

(Pra quem não sabe ou não se lembra, em 1978, muito antes da famosa e premiada trilogia do Peter Jackson, Ralph Bahshi dirigiu uma versão animada dos livros de Tolkien!)

A novidade agora é que a animação, dirigida por Kenji Kamiyama, é em estilo anime. O visual da animação é muito bonito. É curioso ver nos cinemas uma animação “old school”, comentei aqui outro dia sobre Moana 2 e sua animação perfeita. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está longe dessa proposta, mas mesmo assim traz um belo visual.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim conta uma história que se passa 200 anos antes dos acontecimentos principais dos livros. Acompanhamos Hera, a filha do rei Helm Mão de Martelo. Li os três livros, mas não me considero um grande conhecedor de Tolkien. Me disseram que nos livros é citado que Helm tem uma filha, mas ela nem tem nome. Resolveram desenvolver então esta personagem, que ganhou o nome de Hera e virou a protagonista aqui.

Pra quem não gostou da série Anéis de Poder, a boa notícia é que aqui existe uma justificativa pra personagem feminina forte, não pareceu lacração. Afinal, ela é uma antepassada da Éowyn, que era uma personagem feminina forte nos livros e filmes. Gostei da Hera.

Aproveitando que falei dela, Miranda Otto, a Éowyn dos filmes, tem um papel aqui, narrando a história. Billy Boyd e Dominic Monaghan, Merry e Pippin nos filmes, também estão aqui, mas em outros papéis. Tem mais uma participação, numa cena curta no final, cena que parece ter sido inserida apenas por fan service.

O roteiro traz um problema. O nome do filme é “A Guerra dos Rohirrim”, e a gente lembra que no filme As Duas Torres tem uma batalha grandiosa no mesmo cenário, o Abismo de Helm. Aí a gente pensa no nome, e espera uma guerra ainda mais grandiosa. E a tal batalha do desenho é boa, mas bem inferior à do filme de 2002.

Como falei, no fim do filme rolam uns fan services. Nada importante pra trama, mas quem é fã vai curtir. Mas, talvez fosse melhor se colocassem como cenas pós créditos…

Wicked

Crítica – Wicked

Sinopse (imdb): Elphaba, uma jovem incompreendida por causa da pele verde, e Glinda, uma jovem popular, se tornam amigas na Universidade de Shiz, na Terra de Oz. Após um encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz, a amizade delas chega a uma encruzilhada.

Sim, estou atrasado. A sessão de imprensa de Wicked foi num dia complicado pra mim, então abri mão. E pra falar a verdade, não estava empolgado, vi o trailer e parecia ser meio trash. Mas vários amigos viram e elogiaram, então resolvi ver no circuito.

Mas, preciso dizer que não gostei. Reconheço algumas coisas boas, mas no geral achei um filme excessivamente longo e cansativo.

Antes de tudo, preciso falar que nunca vi a versão teatral do musical. Até gosto de musicais, gosto de A Pequena Loja dos Horrores, Hairspray, Rent, La La Land, O Rei do Show, Hair, gosto de vários. Ou seja, meus comentários negativos não são pelo usual preconceito que pessoas têm com musicais.

Comecemos pelos pontos positivos. Achei que o visual seria trash, mas, ledo engano, o visual aqui é elaboradíssimo. Wicked é muito colorido e tem várias cenas exuberantes. Alguns dos números musicais também são muito bons, gostei do número na biblioteca – mas achei que aquela parte que roda podia ser mais explorada. Também gostei do número quando as duas chegam na cidade das esmeraldas.

É difícil comentar sobre o elenco, porque uma das principais, Ariana Grande, faz uma personagem insuportável. Mas não sei o quanto era do roteiro, pra gente odiar a personagem, ou o quanto é da atriz que não fez um bom papel. Volto a falar dela daqui a pouco. A protagonista é interpretada por Cynthia Erivo, e está bem apesar do papel clichê. Pelo menos as duas cantam bem. Também no elenco, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage como a voz do bode professor. Tem ainda uma participação especial da Idina Menzel e da Kristin Chenoweth, que fizeram Elphaba e Glinda no teatro.

Agora, vamos aos problemas? Em primeiro lugar, acho uma grande falta de respeito vender ingresso pra “Wicked” e quando começa o filme a gente ver que é “Wicked parte 1”. Por que diabos não avisam que a história estará incompleta? Fiz a mesma crítica com o primeiro Duna. Essas informações precisam estar na divulgação do filme!

E aí vamos para o principal problema de Wicked: são duas horas e quarenta! E só a primeira parte! (Quando passava no teatro, era quanto tempo? Mais de 5 horas?) O filme é cansativo. Tipo, ok, chega. Se tivesse uma hora a menos, seria muito melhor. A Pequena Loja dos Horrores, o meu musical favorito, tem uma hora e trinta e cinco. Fica a dica!

Duas horas e quarenta aturando uma personagem chata. G(a)linda é uma patricinha rica e mimada, sua personagem é insuportável. Ok, acredito que seja proposital, afinal o filme propõe inverter o que a gente viu no Magico de Oz, quem era do mal virou do bem e vice versa. Mas, isso precisa ser dosado. Focar meio filme numa personagem ruim enfraquece o resultado final.

Outra coisa que me incomodou foi a forçação de barra pras pessoas odiarem quem é verde. Ok, entendi o simbolismo, mas, num mundo onde tem um monte de coisas bem diferentes – como um bode professor universitário – uma pessoa de cor diferente não deveria ser algo tão estranho assim.

Enfim, acho que a produção partiu de uma boa ideia, mas se perdeu. Galera fã do musical deve curtir essa “versão estendida”, mas o público “normal” vai se cansar. E ainda vai ter uma segunda parte. Socorro!

Lobos

Crítica – Lobos

Sinopse (imbd): Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.

Pulp Fiction é um filme genial em vários aspectos. Um dos vários méritos do filme é sua rica galeria de personagens. Harvey Keitel faz um papel pequeno: o mr. Wolf, uma pessoa para chamada para “resolver problemas”.

Agora, 30 anos depois, aparece um filme onde os dois personagens principais têm a mesma profissão do personagem de Pulp Fiction. E se alguém tiver dúvida se foi coincidência ou não, é só ver as placas dos carros, o carro do Harvey Keitel tem a placa 3ABM581; o do George Clooney, 3ABM582.

A melhor coisa de Lobos (Wolfs, no original) é a química entre seus dois protagonistas, Brad Pitt e George Clooney, que além de amigos na vida real, já trabalharam juntos em cinco outros filmes (a trilogia Onze Homens e um Segredo, Queime Depois de Ler, e uma breve aparição de Pitt em Confissões de uma Mente Perigosa, dirigido por Clooney). Tanto Pitt quanto Clooney estão ótimos individualmente, como um está perfeito ao lado do outro. Comentei recentemente sobre Operação Natal, um filme onde a dupla principal, Dwayne Johnson e Chris Evans, não está bem; aqui em Lobos é o oposto. A gente sente a química em cada troca de olhares entre os dois protagonistas

O roteiro e a direção são de Jon Watts, mais famoso por ter dirigido os três filmes recentes do Homem Aranha, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Sem Volta para Casa (expulso de casa, fique em casa, etc). Gostei de como Watts conduz seu filme, vou procurar filmes anteriores dele. Alguns detalhes são muito bem sacados, como por exemplo a cena onde os dois protagonistas descobrem ao mesmo tempo que precisam de óculos pra ler o menu. E tem uma cena de atropelamento que é genial, uma cena que poderia constar em listas de melhores cenas do ano! Além disso, gostei da trilha sonora.

Depois de publicar meu texto sobre Anora, li algumas críticas comparando com Depois de Horas. Discordo. Na verdade, achei que Lobos lembra mais Depois de Horas: o filme todo se passa em uma noite, e os personagens vão se metendo em uma escalada de problemas que vai ficando pior a cada novo passo.

No elenco, claro que o destaque é da dupla principal. Mas Austin Abrams, o terceiro nome do elenco, também está bem. Ah, a voz ao telefone é de Frances McDormand, que também estava em Queime Depois de Ler com os dois protagonistas.

Talvez tenha gente reclamando que Lobos tem muitos clichês. Verdade, tem sim. Mas achei todos muito bem utilizados. Achei o filme divertidíssimo!

Herege

Crítica – Herege

Sinopse (imdb): Duas jovens missionárias tentam converter um homem, mas a situação se revela muito mais perigosa do que elas poderiam imaginar.

Confesso que fui ver Herege (Heretic, no original) com um pé atrás. Vi o trailer, gostei, aí fui no imdb ver quem tinha feito. Herege é escrito e dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, mesma dupla que ano passado fez 65 Ameaça Pré Histórica, filme que errou em quase tudo.

Felizmente, trago boas noticias: em Herege, a dupla de roteiristas e diretores acertou em quase tudo!

Conhecemos duas jovens missionárias mórmons que estão visitando casas para divulgar sua religião. Até que visitam o personagem de Hugh Grant, um cara simpático, carismático e muito inteligente, que primeiro as coloca numa armadilha mental, pra depois evoluir para uma armadilha real.

Herege tem dois grandes trunfos. Um deles é o clima criado pelos cenários da casa velha e pelos excelentes diálogos que questionam vários dogmas de várias religiões. É um filme com muitos diálogos (na verdade, alguns são monólogos), e todos são bem escritos e bem conduzidos. E quase todo o filme se passa dentro da casa, o que cria um ótimo clima claustrofóbico.

Mas o melhor mesmo é a atuação de Hugh Grant. Ele sempre é lembrado pelas várias comédias românticas que fez (como Quatro Casamentos e um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill ou O Diário de Bridget Jones), mas de uns anos pra cá tem feito papeis diferentes. Gostei dele em Magnatas do Crime e em Wonka. Mas aqui ele está ainda melhor. É um cara simpático e sedutor, seus diálogos são cativantes e conduzem o filme de uma maneira quase hipnotizante. E isso tudo sendo o vilão do filme! Pena que pequenos filmes de terror raramente entram no radar de grandes premiações, porque este papel poderia lhe render um prêmio!

As outras duas atrizes, Sophie Thatcher e Chloe East, também estão bem, mas o destaque sem dúvidas fica para Hugh Grant. E, curiosidade, o outro mórmon que aparece pouco é Topher Grace, de That 70s Show.

Falei lá no início que Herege acerta em quase tudo. O “quase” é porque o terço final muda um pouco o rumo do filme e rola uma quebra de ritmo. Não que fique ruim, mas preferi o clima anterior.

Um comentário sem spoilers sobre o fim: interpretei de um modo, quando acabou a sessão fui conversar com alguns amigos, e ouvi outras duas suposições sobre o final. Ainda acho que a minha é a “certa”, mas foi legal ver que é um final que te faz pensar.

Herege estreia semana que vem, e já quero rever!

Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.

Gladiador 2

Crítica – Gladiador 2

Sinopse (imdb): Após ter seu lar conquistado pelos imperadores tirânicos que agora comandam Roma, Lucius é forçado a entrar no Coliseu e deve olhar para o seu passado para encontrar força para devolver a glória de Roma ao seu povo.

O primeiro Gladiador, de 2000, é um filmaço, tanto na parte técnica quanto na história: um general do exército acaba virando escravo e depois vira gladiador, enquanto busca vingança contra quem lhe fez mal. E tem um final fechado, porque – spoiler de um filme de 24 anos atrás – tanto o protagonista quanto o antagonista morrem no fim do filme. Como fazer uma continuação?

(O imdb fala de uma proposta de continuação que seria escrita pelo músico Nick Cave, onde Maximus chegaria no pós vida, onde encontraria Jupiter, que o mandaria de volta pra Terra como um imortal, e ele participaria das Cruzadas, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra do Vietnã, e terminaria trabalhando no Pentágono, em Washington. Acho que seria um filme muito ruim, mas heu queria ver esse filme!)

Bem, este Gladiador 2 usa alguns artifícios pra ser chamado de “continuação”. Primeiro, traz de volta um personagem secundário que era criança no primeiro filme. Depois, utiliza exatamente o mesmo formato: homem bom de briga vira escravo e depois gladiador, em busca de vingança. É algo criativo? Não, mas pelo menos não engana o espectador.

Mais uma vez dirigido por Ridley Scott (que faz 87 anos no fim do mês e está cheio de novos projetos para os próximos anos!), Gladiador 2 tem seus altos e baixos. Claramente é inferior ao primeiro, mas o “espectador de multiplex” (aquele que vai ao cinema no fim de semana apenas pra se distrair) não vai se decepcionar. Mas, preciso falar sobre uns problemas…

A comparação com o primeiro filme é inevitável. Lá, o protagonista Maximus Decimus tinha um objetivo claro de vingança, e persegue ela até o fim do filme. Aqui, o novo protagonista também tem um objetivo inicial de vingança, mas no meio do caminho o filme muda de antagonista e a vingança é deixada de lado. Aliás, a mudança do protagonista é muito brusca, ele odeia o personagem do Pedro Pascal, e depois de um breve diálogo, muda de ideia e o que era vilão passa a ser um coitado. Essa virada de chave ficou muito mal construída.

Outra coisa que achei forçada foi a ligação do protagonista com um passado que ele não viveu. Ele era criança no primeiro filme e não tinha vivido as coisas que colocaram aqui pra ligá-lo ao filme anterior. Bem, é forçado, mas é cinema, então é uma crítica mas a gente deixa pra lá.

Tenho elogios e críticas à parte técnica. Por um lado, a tecnologia de efeitos pelo computador evoluiu, e aqui conseguimos ter coisas bem mais difíceis de se recriar vinte anos atrás. O filme começa com uma boa sequência de uma cidade sendo atacada por navios, tem uma cena no Coliseu onde enchem de água pra recriar uma batalha naval, e ainda tem uma outra cena no Coliseu onde vemos um rinoceronte! Todas essas sequências ficaram bem legais. Mas, por outro lado, tem uma batalha de gladiadores contra babuínos onde os babuínos ficaram bem toscos. O efeito especial não funcionou. A piada que rolou depois da sessão de imprensa é que esses babuínos seriam xenomorfos e este filme seria conectado à franquia Alien.

Sobre o elenco, preciso dizer que Paul Mescal não me convenceu – principalmente quando a gente lembra que é uma continuação e ele acaba sendo comparado com o Russell Crowe no primeiro filme. Por outro lado, Denzel Washington está muito bem. Sua interpretação é uma das melhores coisas de Gladiador 2. Não gostei do personagem do Pedro Pascal, achei inconsistente, ele começa sendo o antagonista, mas o roteiro resolve criar uma redenção que, na minha humilde opinião, falhou. Connie Nielsen volta ao mesmo papel, mas achei a personagem fraca. Derek Jacobi também repete o papel do primeiro filme, mas era um papel pequeno lá, e aqui também é bem secundário. Por fim, um dos imperadores é interpretado por Joseph Quinn, o Eddie de Stranger Things, que parece que está com a carreira decolando.

No fim, Gladiador 2 está sendo anunciado como “o épico do ano”, mas será apenas mais um filme ok, que será esquecido em breve.

Operação Natal

Crítica – Operação Natal

Sinopse (imdb): Após um sequestro chocante no Polo Norte, o Comandante da Força-Tarefa E.L.F. faz uma parceria com o caçador de recompensas mais infame do mundo para salvar o Natal.

Às vezes penso em fazer uma seção de “críticas curtas”. Este Operação Natal funcionaria neste formato: “Filme genérico de Natal estrelado por Dwayne Johnson e Chris Evans. Era melhor ter ido direto pro streaming”.

Só isso. Porque não tem muito mais o que falar sobre Operação Natal (Red One, no original). Mas, vamos tentar nos aprofundar.

Dirigido por Jake Kasdan, filho de Lawrence Kasdan (roteirista de O Império Contra Ataca e Caçadores da Arca Perdida) e diretor dos dois Jumanji recentes, Operação Natal traz uma história natalina genérica, bobinha e cheia de clichês. Não se transformará num novo “clássico natalino”, tampouco ganhará haters. Apenas mais um filme descartável.

Operação Natal se baseia no carisma das suas estrelas. O problema é que nenhum parece inspirado. Assim como em outros filmes recentes, igualmente esquecíveis, como Alerta Vermelho (Johnson) e Agente Oculto (Evans) – coincidência ou não filmes para o streaming – a dupla de astros aqui só cumpre tabela. J.K. Simmons está bem como um Papai Noel fortão, mas aparece pouco. Completam o elenco principal Lucy Liu e Kiernan Shipka.

O roteiro não é ruim, mas tem umas forçadas. Por exemplo, depois de Aruba, não existe nenhuma justificativa pra manter Chris Evans no rolê. E alguns efeitos especiais têm cara de que vão perder a validade logo logo.

Em defesa do filme, gostei do universo criado, misturando mágica com tecnologia, e abrindo espaço pra uma franquia usando seres mitológicos. Mas é pouco. Não sei se quero ver outro filme se for tão genérico quanto este.

Por fim, uma coisa que achei curiosa e não entendi o motivo. Por duas vezes, em cenas na oficina do Papai Noel, a gente ouve vozes ao fundo em português. Uma frase é nítida, o resto tem que prestar atenção. E isso na versão original, não vi a versão dublada. (Na sequência em Aruba também parece outra língua nas vozes ao fundo, mas não consegui identificar.) O que acho que aconteceu? De repente alguém da equipe técnica pegou alguns diálogos em uma “língua exótica”, algo que a maior parte do mundo não conseguiria identificar. Será que foi isso?