Trem Bala

Crítica – Trem Bala

Sinopse (imdb): Joaninha (Brad Pitt) é um assassino azarado determinado a fazer seu trabalho pacificamente depois de muitos outros saírem dos trilhos. O destino, no entanto, pode ter outros planos, pois a última missão de Joaninha o coloca em rota de colisão com adversários letais de todo o mundo – todos com objetivos conectados, mas conflitantes – no trem mais rápido do mundo. O fim da linha é apenas o começo nesta emocionante viagem sem parar pelo Japão moderno.

Tem gente que se empolga com filme novo de determinados super heróis. Heu me empolgo com filme novo de determinados diretores, como é o caso de David Leitch (não confundir com David Lynch!). Trem Bala (Bullet Train no original) estava no topo da minha lista de expectativas para 2022!

David Leitch era dublê, e virou diretor ao lado de Chad Stahelski com John Wick. Sozinho, fez Atômica, o melhor dos filmes de ação girl power que vi nos últimos anos. Leitch também fez Deadpool 2 e Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw, divertidos (mas inferiores a Atômica).

Se Atômica tinha um tom mais sério, Trem Bala está mais próximo de Deadpool e Hobbes & Shaw e abraça a comédia sem medo de ser feliz. Algumas cenas são engraçadíssimas. E mesmo assim o filme é bem violento. Humor negro rola solto aqui.

O clima às vezes lembra os filmes do Tarantino, com violência e bom humor. Mas acho que ficou mais próximo do trabalho do Guy Ritchie, que sabe trabalhar bem com personagens marginais e descolados, e isso tudo envolto numa edição estilosa.

Quando li a sinopse e a duração, rolou uma preocupação, porque um filme de mais de duas horas todo dentro de um trem com uma trama aparentemente simples podia ficar cansativo. Mas o roteiro é bem construído, com bons diálogos, temos flashbacks aqui e ali apresentando elementos extras, e temos uma excelente galeria de personagens. Ah, o desenho Thomas o Trem tem uma grande importância na trama!

Já que falei dos personagens, estes merecem um parágrafo à parte. Não tem nenhum personagem “normal” – talvez só o japonês atrás de vingança. Todos são esquisitos, todos são excêntricos. E o filme ainda usa uns letreiros para apresentá-los. E a dinâmica entre eles é muito boa, porque são objetivos diferentes, mas todos entrelaçados.

Aproveito pra falar do elenco. Brad Pitt é ótimo, sempre foi, sou fã do cara desde 12 Macacos e Clube da Luta, e aqui ele está sensacional. A gente lê a premissa e imagina um personagem sério tipo um John Wick, mas o seu Joaninha é um assassino profissional em busca da paz interior, então ele passa boa parte do filme em diálogos contra a violência. Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass) e Brian Tyree Henry (Eternos) são Limão e Tangerina, irmãos gêmeos (???), e têm uma ótima dinâmica juntos. Sandra Bullock aparece pouco, mas está ao telefone durante todo o filme, falando com o Joaninha; Michael Shannon também aparece pouco, mas é um personagem central. Joey King (A Princesa) convence com sua aparente fragilidade; Logan Lerman (Percy Jackson) tem um papel importante mas passa quase o filme todo morto; Zazie Beetz (Deadpool) aparece pouco mas é uma peça essencial para o quebra cabeça. Também no elenco, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada e Bad Bunny. Ah, prestem atenção no condutor, é o Masi Oka de Heroes; e a atendente que interrompe a luta entre o Joaninha e o Tangerina é Karen Fukuhara, a Kimiko de The Boys.

(Tem duas participações especiais não creditadas, não sei se posso citar aqui, pode ser um spoiler. Bem, um deles esteve recentemente nas telas com Brad Pitt e Sandra Bullock; o outro já estrelou um filme do mesmo diretor.)

(Uma curiosidade: o diretor David Leitch era dublê e já tinha trabalhado como duble do Brad Pitt algumas vezes, em filmes como Clube da Luta, Onze Homens e um Segredo, Troia e Sr e Sra Smith).

Entendo que é um filme exagerado. Tem muita coisa forçada. Tem lutas no trem, tem gente andando armada e suja de sangue, e o trem tem passageiros que não estão na trama. E determinado momento o trem fica vazio – pra onde foram as pessoas que trabalham no trem, como o condutor? Quem se importar com isso, vai se incomodar.

Uma coisa que gostei e que admiro é que Trem Bala não é franquia, não é continuação e traz uma história fechada – acho difícil virar franquia. Por mais que tenha gostado de todo esse universo criado para o filme, sei que uma franquia pode estragar o universo. Por isso fico feliz com a proposta!

 

King’s Man: A Origem

Crítica – King’s Man: A Origem

Sinopse (imdb): Um spinoff da franquia Kingsman sobre essa organização de espiões no início do século XX.

Ah, a expectativa. Já falei aqui diversas vezes, quando a gente cria expectativas, a chance de uma decepção é grande.

Gosto muito do primeiro Kingsman, um excelente filme com cenas de ação insanas e um humor no ponto exato. O segundo é mais galhofa, mas ainda é muito divertido. Fui ao cinema querendo ver algo nessa pegada. Mas esse terceiro filme é muito mais sério. Poucas cenas de ação, e quase nada de humor. E, pra piorar, o filme demora muito tempo no setup inicial, quase uma hora até as coisas começarem a acontecer.

E aí vem a minha dúvida: o problema foi do filme, ou heu que queria ver uma coisa e me foi apresentada outra? Pelo meu head canon, afirmo: achei uma decepção. Talvez vendo uma segunda vez heu mude de ideia, mas, dessa primeira vez, não curti.

Uma coisa que achei estranha foi que é do mesmo Matthew Vaughn que dirigiu os outros dois. Se tivesse mudado o diretor, dava pra entender a mudança de estilo, mas, sendo escrito e dirigido pelo mesmo cara, por que ele resolveu mudar?

Este filme traz uma coisa curiosa. Assim como Tarantino fez em Bastardos Inglórios e Era uma Vez em Hollywood, este King’s Man: A Origem traz personagens históricos reais dentro da trama do filme. Li uma crítica onde falavam que isso era um problema, porque você já sabe o destino de alguns personagens. Mas, admito, falha minha, conheço pouco sobre a história da primeira guerra mundial, então não sabia de nenhum dos acontecimentos.

O primeiro filme tem uma sequência sensacional, que poderia estar em listas de melhores sequências da história do cinema, a cena da igreja. A cena é extremamente bem filmada, e além disso ela tem uma importância muito grande na narrativa, porque o espectador se pergunta “e agora, pra onde a história vai?” Neste novo filme, não tem nenhuma cena que chama a atenção tecnicamente falando, mas tem um desses momentos de “pra onde a história vai?”. Sem spoilers, mas a parte na guerra me causou essa boa estranheza.

O elenco é bom. Como esse filme se passa cem anos antes do primeiro Kingsman, claro que não tem ninguém dos outros filmes – tive a impressão de ter visto Mark Strong na cena final, mas precisaria rever pra ter certeza, no imdb não fala nada. Ralph Fiennes manda bem como o protagonista, e se tiver que dar um destaque, vou de Rhys Ifans (irreconhecível) como Rasputin. Também no elenco, Gemma Arterton, Harris Dickinson, Djimon Hounsou, Matthew Goode, Charles Dance, Alexandra Maria Lara, Daniel Brühl, Tom Hollander e participações menores de Aaron Taylor-Johnson e Stanley Tucci.

King’s Man: A Origem estreia nos cinemas esta semana. Vou tentar rever pra ter uma segunda opinião.

Tenet

Crítica – Tenet

Sinopse (imdb) – Armado com apenas uma palavra, Tenet, e lutando pela sobrevivência do mundo inteiro, um Protagonista viaja por um mundo crepuscular de espionagem internacional em uma missão que se desdobrará em algo além do tempo real.

O filme mais aguardado do ano!

Calma, explico. Tenet pode tranquilamente usar o apelido “o lançamento mais aguardado do ano”. Dos grandes lançamentos previstos para 2020 – todos adiados por causa da pandemia – foi o único que até agora resolveu encarar as salas de cinema. Então, de um modo geral, é o filme que simboliza a volta das salas de cinema, depois de sete meses fechados.

Tenet (idem, no original) é o novo projeto de Christopher Nolan. E quem conhece a sua filmografia sabe que um filme desses perde muito se visto numa tela de tv, dentro de um streaming. Tenet é cinemão, pra ser visto numa tela enorme. Por mais que isso seja perigoso nos dias de hoje. Vou voltar a esse assunto mais abaixo, agora vamos ao filme.

Vamos primeiro ao que funcionou. O cinema precisa de gente que nem Christopher Nolan. Tem uma cena onde um avião explode num hangar. O avião era real, a produção comprou um avião para ser destruído! Quase todos os efeitos especiais são efeitos práticos, Nolan não gosta de usar CGI. Outro dia comentei como as cenas de carros eram fracas em Invasão Zumbi 2, aqui é o oposto. Carros reais sendo filmados aparecem muito melhor na tela (e a cena de perseguição de carros de Tenet é de tirar o fôlego!). E isso funciona muito melhor numa tela grande. A sessão de imprensa foi na sala Imax, e Tenet ocupa toda a tela!

Tenet trabalha com viagem no tempo, mas diferente do que o cinema costuma apresentar. Vemos um “tempo reverso” – a pessoa anda pra frente enquanto tudo em volta anda ao contrário. Coerente com as ideias malucas de Nolan: Amnésia tem uma história que vai de trás pra frente; Interestelar,  Inception e Dunkirk têm linhas temporais paralelas que se desenvolvem em tempos diferentes.

Esse novo conceito traz cenas onde temos ao mesmo tempo alguns personagens no “tempo normal” e outros no “tempo reverso”. E algumas cenas assim são muito boas! Ok, fica confuso, é difícil de entender tudo, mas… Dá vontade de rever!

Ah, claro, esqueci de dizer: a fotografia é fantástica, e as locações idem. Tenet é um espetáculo visual sob todos os aspectos.

Agora, não gostei de vários pontos do roteiro. Várias coisas são explicadas (coisa comum em se falando de Nolan), mas coisas básicas ficam no ar – tipo quem são essas pessoas, o que é um “tenet”? Não seria legal a gente conhecer uma agência que recrutasse “agentes temporais”? Porque vemos personagens que não sabemos quem são e de onde vem, e, principalmente, quem está bancando financeiramente.

Além disso, a motivação de alguns personagens não convenceu ninguém. Por exemplo, por que o Protagonista (sim, esse é o nome do personagem) tinha tanto interesse na Kat? Isso dentre outros casos que não vou falar por causa de spoilers. O fato é: temos uma história confusa, com personagens que não convencem.

Tem um outro detalhe, mas isso é algo pessoal, que já me incomodou em outros filmes do Nolan. Em Inception, é estabelecida uma rígida regra de tempo – dentro do sonho, o tempo se passa x mais devagar, então se é sonho dentro do sonho, fica 2x mais devagar. Isso me incomodou porque um sonho não é algo “matemático”, não tem como controlar o tempo assim. E isso acontece aqui, as regras propostas pelo filme me soaram forçadas.

No elenco, acho que só se salva o Robert Pattinson (por incrível que pareça). John David Washington, que estava bem em Infiltrado na Klan, tem um Protagonista com falta de carisma. Kenneth Branagh faz um vilão russo caricato, que lembrou o vilão russo caricato que ele fez em Operação Sombra – Jack Ryan. Elizabeth Debicki não está mal, mas o seu personagem é outro ponto forçado no roteiro – por que ela é tão importante? Ainda no elenco, Clémence Poésy, Dimple Kapadia, Aaron Taylor-Johnson, Himesh Patel, Martin Donovan, e uma ponta de Michael Caine, figurinha recorrente nos filmes do Nolan.

Mas, mesmo com esses pontos negativos, achei o saldo positivo. É sempre bom ver um “filmão” como esses, e foi bem agradável voltar a uma sala de cinema sete meses depois, mesmo com todas as restrições.

Antes de acabar meu texto, preciso falar do “novo normal no cinema”. A cada três poltronas, duas estão bloqueadas. Todos ficam de máscara durante toda a permanência dentro da sala. O UCI anunciou antes de começar a sessão um sistema de ionização dos dutos de ar condicionado, um processo que ajuda a eliminar boa parte dos microorganismos dos ambientes climatizados (tecnologia usada na área de saúde – como em ambulatórios e centros cirúrgicos).

Ir ao cinema é um programa 100% seguro? Não, não é. Mas me pareceu mais seguro do que boa parte das coisas que já estão liberadas há meses.

Cuidem-se!

Na Mira do Atirador

Na Mira do AtiradorCrítica – Na Mira do Atirador

No Iraque, dois soldados americanos se veem encurralados por um atirador letal, com apenas uma parede instável entre eles.

Sinal dos tempos. A Netflix tem lançado muito conteúdo original, mas não é o único novo “estúdio alternativo”. A Amazon (que, não podemos nos esquecer, estava na produção de Manchester À Beira-Mar, que chegou a concorrer ao Oscar) também quer se firmar como produtora de conteúdo, e agora apresenta seu novo longa metragem.

Apesar de trazer um diretor (Doug Liman) e um protagonista (Aaron Taylor-Johnson) com um certo star power, Na Mira do Assassino (The Wall, no original) é uma produção bem pequena. São apenas três atores, sendo que um (John Cena) aparece pouco, e o outro, Laith Nakli, nem aparece, só ouvimos a sua voz. E tudo se passa no mesmo cenário. Não sei se o filme é uma peça de teatro filmada, mas funcionaria nos palcos. A Amazon foi esperta: Na Mira do Assassino pode ter cara de superprodução, mas deve ter sido um filme bem barato.

O ritmo é um pouco lento, mas como o filme é curtinho (88 minutos), tudo flui mais fácil. Além disso, Aaron Taylor-Johnson está bem, e seus diálogos pelo rádio conduzem bem a trama.

Nada essencial, mas pode ser uma boa opção pra quem curtir o estilo.

Vingadores: Era de Ultron

Vingadores 2Crítica – Vingadores: Era de Ultron

Finalmente, uma das continuações mais esperadas dos últimos anos!

Quando Tony Stark tenta usar um programa de inteligência artificial com objetivo de alcançar a paz e as coisas dão errado, os Vingadores precisam se unir para deter o vilão Ultron e seu terrível plano.

Os Vingadores foi um dos melhores filmes de 2012, e um dos melhores filmes de super heróis de quadrinhos de todos os tempos. Claro que a expectativa era muito alta. E acredito que este é o maior problema de Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron, no original). O filme não é ruim. Mas é bem inferior ao primeiro.

Na verdade, esta não é uma continuação direta do primeiro Vingadores, e sim do segundo Capitão América. Palmas para a Marvel, que conseguiu construir um universo sólido, com vários bons filmes independentes, mas interligados!

Mais uma vez dirigido por Joss Whedon, este segundo Vingadores tem um início alucinante. Vemos os seis heróis em ação juntos – Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro mostram um bom entrosamento, pra nos provar logo de cara que o time é muito forte. Toda a sequência – que inclui um plano sequência muito bem orquestrado – é sensacional. Aliás, justiça seja feita, todas as sequências de ação são muito boas. A briga do Hulk com uma versão “bombada” do Homem de Ferro também chama a atenção.

Não só a ação é muito bem montada, como temos vários momentos de humor – a grande diferença entre a Marvel e a DC é que enquanto a DC quer criar personagens sombrios, o universo Marvel parece se basear na premissa “o cinema é a maior diversão” (na minha humilde opinião, um caminho muito melhor). Alguns trechos são pura comédia, a plateia deu boas risadas. E todas as citações ao martelo do Thor são geniais.

O problema aqui é que o primeiro filme tinha duas horas e vinte e três minutos e não cansava, enquanto este novo tem quase a mesma duração (são dois minutos a menos), e vemos algumas “gordurinhas” que poderiam ser cortadas. Por exemplo, aquela sequência na fazenda podia ser bem menor. E a subtrama do Thor ficou confusa e pareceu incompleta, de repente é algo só para quem acompanha os heróis pelos quadrinhos.

O elenco é um grande destaque. O bom trabalho da Marvel na construção do seu universo, com bons filmes e boas bilheterias, garante a manutenção dos vários nomes do grande elenco. Assim, temos de volta Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Scarlet Johansson, Jeremy Renner, Samuel L. Jackson, Don Cheadle, Cobie Smulders, Anthony Mackie, Hayley Atwell, Idris Elba e Stellan Skarsgard – as personagens de Gwyneth Paltrow e Natalie Portman são citadas, mas as atrizes não aparecem. Paul Bettany – a voz do Jarvis – finalmente mostra a cara (ou quase). De novidade, temos Elizabeth Olsen, Aaron Taylor Johnson, Andy Serkis (ele mesmo, sem captura de movimento), Julie Delpy e a voz de James Spader no vilão Ultron. Ah, claro, Stan Lee, como sempre, faz uma ponta.

Por fim, preciso citar os efeitos especiais. É impressionante a qualidade e clareza das imagens em todas as cenas de ação e – principalmente – de destruição. E o vilão Ultron é um absurdo de bem feito.

Vingadores: Era de Ultron pode não ser tão bom quanto o primeiro, mas acho que vai agradar os fãs. E nem precisa mencionar que tem um gancho para um próximo filme, né?

p.s.1: Não tem cena pós créditos, tem uma cena curta durante, logo depois dos créditos principais.

p.s.2: Não conheço os quadrinhos, mas sei que os X-Men atuais não fazem parte do mesmo universo Marvel dos Vingadores. Afinal, Quicksilver aparece no útlimo X-Men, numa cena dos anos 70 e é americano, enquanto no Vingadores ele é jovem e nasceu na fictícia Sokovia…

Godzilla (2014)

0-Godzilla-Crítica – Godzilla

O novo Godzilla!

O monstro mais famoso do mundo está de volta, para enfrentar criaturas gigantescas que, alimentadas pela arrogância da humanidade, ameaçam a nossa própria existência.

Antes de tudo, um fato curioso: este é apenas o segundo longa para cinema do diretor Gareth Edwards, que chamou a atenção quatro anos atrás com o filme Monstros, um filme independente que custou apenas 15 mil dólares, mas tem excelentes efeitos especiais. Provavelmente o chamaram por causa deste filme.

O último blockbuster com o famoso monstro japonês foi a versão de 1998 dirigida pelo Roland Emmerich. É um divertido filme catástrofe, mas os fãs reclamaram que aquele lagarto gigante pouco parece com o Godzilla original.

Neste aspecto, o novo filme não vai decepcionar os fãs. O Godzilla atual é fiel ao original nipônico. Tem até outro monstro gigante pra brigar com o Godzilla. Nisso o filme acerta. Pena que erra em outros aspectos.

Godzilla tem basicamente dois problemas. O primeiro é que o montro Godzilla é um personagem secundário, que pouco aparece – ele só mostra a cara com quase uma hora de filme. A trama é centrada no “soldado mais azarado do mundo” – acabou de chegar em casa depois de meses fora e logo tem que viajar de novo por motivos pessoais. E onde ele vai, aparecem monstros gigantes destruindo tudo. O cara passa por três continentes, sempre os bichões estão por perto.

O outro problema não sei se é do filme ou da cópia que vi. A sessão de imprensa foi com uma cópia em 3D que estava escura demais. Boa parte do filme é de noite, mal vemos as brigas dos monstros no escuro e através de fumaça – e, pra piorar, provavelmente por razões estilísticas, o diretor inventou de colocar pessoas passando na frente das câmeras, pra dar ao espectador a sensação de estar no meio da ação. Resumindo: evite o 3D. Não tem nenhuma cena que justifique o efeito!

Se o 3D fica devendo, não podemos falar o mesmo sobre os efeitos especiais. Os monstros são extremamente bem feitos, a destruição das cidades idem. O cgi é tão real que impressiona!

O roteiro não é lá grandes coisas. Como temos pouca coisa dos monstros, os roteiristas enchem linguiça com dramas familiares. Lembra até filmes do Spielberg, é um tal de criança separada dos pais, cachorro separado dos donos… E isso porque não vou parar pra listar certas inconsistências – por exemplo, pra que usar o trem pra carregar a bomba, se tinha a opção do helicóptero?

O elenco tem um problema. Não adianta você ter Bryan Cranston, Juliette Binoche, Ken Watanabe e David Strathairn se o papel principal está com um Aaron Taylor-Johnson apático. Johnson estava bem em Kick-Ass, mas aqui ele é um dos pontos fracos. Ah, Elizabeth Olsen faz quase uma ponta.

Enfim, não é um filme essencial, mas os fãs vão gostar. E vão gostar mais ainda se virem em 2D, claro.

Kick-Ass 2

Crítica – Kick-Ass 2

Estreou a continuação de Kick-Ass!

O “super heroi caseiro” Kick-Ass está de volta, junto com outros cidadãos comuns que também se fantasiam para combater o crime. Enquanto isso, Red Mist planeja vingar a morte do seu pai.

O primeiro Kick-Ass foi uma agradável surpresa, uma adaptação de quadrinhos pouco conhecidos que misturava bem ação e humor, usando muita violência gráfica (às vezes até demais). E a continuação pode não ser tão boa quanto o original, pelo menos consegue manter o alto nível.

Houve uma troca de diretor. Mathew Vaughn, que foi para a franquia X-Men – Primeira Classe, deixou o cargo para Jeff Wadlow. Pelo menos continuou no projeto como produtor, talvez para fazer um “controle de qualidade”.

Uma das melhores coisas do primeiro filme era a Hit Girl de Chloe Grace Moretz. Parece que não sou o único a pensar assim: Chloe aqui tem um papel tão importante quanto o protagonista Aaron Taylor-Johnson, talvez até mais importante – se o filme se chamasse “Hit Girl” em vez de “Kick-Ass”, não seria estranho. Chloe continua carismática e boa atriz, ela consegue um equilíbrio perfeito na sua adolescente que pende entre a escola e o combate ao crime. Chloe tem apenas 16 anos e já tem uma currículo com vários filmes legais. Essa menina vai longe!

Outro destaque do elenco é Christopher Mintz-Plasse, que está ótimo, careteiro e exagerado na medida exata com o seu vilão Motherf$#@cker. E, se Nicolas Cage não volta (seu personagem morreu), temos um Jim Carrey menos careteiro que o habitual – o que ajuda no seu papel. Ainda no elenco, John Leguizamo, Morris Chestnut, Clark Duke, Lindy Booth, Olga Kurkulina e Donald Faison.

Ainda sobre o elenco: a Mother Russia da estreante Olga Kurkulina é uma personagem ótima, uma espécie de Ivan Drago (Rocky IV) com seios (mas nem por isso podemos chamar de uma “versão feminina” de Drago). E a cena quer ela briga com vários policiais ao som de uma versão rock’n’roll de Tetris é sensacional!

Aliás, a trilha sonora funciona muito bem, tanto nas canções quanto nos temas instrumentais. E traz uma coisa particularmente interessante para o público brasileiro: uma versão, em português (com sotaque), de A Minha Menina, aquela do Jorge Ben que Os Mutantes gravaram.

Pena que nem tudo funciona. Algumas coisas ficam difíceis de “engolir”, como, por exemplo, por que ninguém usa armas de fogo na cena final? E uma cena em particular traz uma escatologia que não combinou muito bem com o resto do filme. Um filme desses não precisa de piadas com excrementos.

Mesmo com esses pequenos escorregões, Kick-Ass 2 ainda é bem divertido, e deve agradar ao público que gostou do primeiro filme.

Ah, e não se esqueçam de ver a cena depois dos créditos!

Selvagens

Crítica – Selvagens

Filme novo do Oliver Stone!

Dois amigos dividem uma plantação de maconha e o coração de uma mesma namorada. Suas vidas se complicam quando eles começam a ser chantageados por um cartel mexicano de drogas.

Oliver Stone é um cara talentoso, não há dúvidas com relação a isso. Mas também é um cara chato. Uma famosa crítica estadunidense uma vez declarou que iria se aposentar para nunca mais ter que ver os seus filmes. Em certo ponto, concordo com isso. Vejam um exemplo: Stone fez um ótimo filme sobre o Vietnam, Platoon. Aí resolveu fazer um segundo filme sobre o Vietnam, Nascido em 4 de Julho. Chega, né? Nada, quando ninguém mais aguentava mais ouvir falar de Vietnam, ele fez mais um filme sobre o mesmo tema, Entre O Céu e a Terra.

Tudo isso aí em cima foi pra explicar que prefiro quando Stone faz algum filme que não tem nenhum compromisso com posições políticas, como The Doors ou U-Turn. É o caso de Selvagens.

Baseado no livro de Don Winslow (co-autor do roteiro junto com o próprio Stone e mais um crédito), Selvagens está mais próximo de U-Turn do que de The Doors, por não se basearem em fatos e pessoas reais. E Selvagens tem um forte ponto em comum com U-Turn: ambos têm ótimos personagens.

Arriscaria a dizer que o melhor de Selvagens é sua galeria de personagens, principalmente os secundários. Se o trio principal apenas está ok, Salma Hayek, John Travolta, Benicio Del Toro, Emile Hirsch e Demián Bichir valem o ingresso.

O trio principal é um dos pontos fracos. Aaron Taylor-Johnson, o melhor dos três, parece meio perdido (ele estava bem melhor em Kick-Ass); Taylor Kitsch (John Carter) é boa pinta e tem jeito de galã de Hollywood, mas é limitado como ator; Blake Lively (Atração Perigosa) é bonitinha mas fraquinha, e sua narração em off só atrapalha.

(Nada contra a nudez dos dois protagonistas. Mas por que Blake Lively não tira a roupa também? Nas duas cenas de sexo do início do filme, ela está vestida enquanto seus parceiros estão nus…)

Mas acho que o pior de Selvagens é a história fraca. A começar por algumas posrturas dos personagens principais – qualé a do traficante zen com preocupações ecológicas (enquanto mantem um parceiro violento)? E sobre o roteiro, como é que os caras vão deixar tudo para o dia seguinte, mesmo com um violento cartel de traficantes na cola deles? E isso porque não estou falando do final duplo – parece que resolveram criar um novo final para agradar plateias mais caretas.

A parte técnica ê muito boa, pelo menos isso. Selvagens oferece um belo espetáculo visual. Mas no geral, a irregularidade do filme pode desagradar mais do que agradar.

Selvagens passou no Festival do Rio, mas, olha só, acabou de entrar no circuito!

O Garoto de Liverpool

O Garoto de Liverpool

Um filme mostrando a adolescência de John Lennon? Ok, vamos ver.

Aos 15 anos, John é um adolescente normal, inteligente e rebelde, que vive desde os cinco anos de idade com a rígida tia Mimi. Um dia, se reencontra com sua mãe, que tem um estilo de vida completamente diferente da tia, o que gera um certo atrito na família.

Um aviso aos beatlemaníacos: este filme não é sobre os Beatles! Vemos o primeiro encontro de John Lennon com Paul McCartney e, pouco depois, com George Harrison. E o filme termina com John se despedindo da tia porque estão indo para a Alemanha, tocar com “aquela outra banda”. Mas o nome Beatles sequer é citado!

Apesar do fundo musical, o principal foco de O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy no original), longa de estreia da diretora inglesa Sam Taylor-Wood, é nas conturbadas relações entre John Lennon, sua mãe e sua tia.

Ainda assim, a parte musical é bem legal. Lennon, então com 15 anos, aprende a tocar banjo, muda para o violão e monta, com colegas da escola, a banda The Quarrymen, através da qual conhece Paul e George. E o resto é história da música pop…

Lennon é interpretado por Aaron Johnson, o protagonista de Kick-Ass. Ele faz um bom trabalho, mas acho que poderiam ter usado um ator mais parecido com o músico. Aliás, defeito igual acontece com Paul e George. Custava eles terem feito como em Backbeat? Lembro que o ator Ian Hart foi chamado para o filme devido à sua semelhança com Lennon! Já Kristin Scott Thomas e Ann-Marie Duff, respectivamente a tia e a mãe, estão ótimas.

Bom filme. Só não sei se beatlemaníacos vão gostar…

Kick-Ass

Kick-Ass

Kick-Ass é uma das melhores surpresas da temporada!

Dave Lizewski (Aaron Johnson) é um garoto meio nerd, fã de quadrinhos e com poucos amigos. Até que resolve virar um super-heroi – mesmo sem ter super poderes.

Falei que é uma surpresa, porque heu esperava uma comédia na linha do fraco besteirol Super-Herói: O Filme. Que nada, Kick-Ass é um excelente filme de ação, com boas doses de humor (negro) e a quantidade exata de drama. Ou seja: um filme simples, mas com tudo “no lugar”.

Kick-Ass é baseado nos quadrinhos homônimos. Nunca li, não tenho ideia se o filme é fiel aos quadrinhos. Mas o roteiro, escrito por Mathew Vaughn (também diretor) e Jane Goldman, é muito bem escrito, e brinca o tempo todo com clichês de super-herois conhecidos.

O quase desconhecido Aaron Johnson está perfeito no papel principal, o adolescente nerd que quer virar super-heroi, mas mesmo assim nunca consegue deixar de ser nerd. Mas o elenco traz outros dois nomes dignos de nota. Um é a pequena Chloe Moretz, de apenas 13 anos (mas atriz desde os sete), que manda muito bem como a Hit-Girl. Ela é convincente tanto nos momentos dramáticos quanto nos momentos de pancadaria! E o outro nome é Christopher Mintz-Plasse, que estava ótimo mas um pouco exagerado como o McLovin de Superbad, e que aqui encontrou o tom exato (mais sobre seu papel não posso falar sem spoilers!).

Ainda tem espaço para um nome “de ponta”, Nicolas Cage, num papel menor porém importantíssimo. Mark Strong, vilão do novo Sherlock Holmes, aqui também faz um eficiente antagonista. Lyndsy Fonseca é apenas um rostinho bonitinho que funciona – mas o que achei mais curioso é lembrar que há cinco anos ela está em quase todos os episódios de How I Met Your Mother, como a filha do protagonista / narrador. E, last but not least, papéis pequenos para dois rostos femininos conhecidos nos anos 80: Elisabeth McGovern e Yancy Butler.

E a parte técnica? O filme parece ser uma produção menor, mas traz efeitos especiais excelentes. As cenas de ação são de tirar o fôlego – algumas delas dão vontade de voltar para ver de novo, como a cena onde Big Daddy ataca o galpão de Frank D’Amico. E ainda aparecem alguns artifícios na edição do filme para parecer que estamos lendo quadrinhos – isso sem contar todo um trecho em quadrinhos mesmo, contando o passado de Big Daddy.

Vejam só que coisa curiosa é o mercado cinematográfico. Homem de Ferro 2 estreou aqui no Brasil uma semana antes da estreia americana. Já este Kick-Ass tem estreia nacional prevista para 11 de junho, mas já existe para download o release R5 dele…

Enfim, ainda é maio, mas arrisco dizer que estamos diante de um dos melhores filmes do ano!