Império da Luz

Crítica – Império da Luz

Sinopse (filmeB): Uma história poderosa e comovente sobre a conexão humana e a magia do cinema, situada em uma cidade litorânea inglesa no início dos anos 80.

Comentei no texto sobre Amsterdam, às vezes a gente vê filmes em sessões de imprensa que acontecem muito antes da estreia. Nesses casos, fico na dúvida se vale a pena lançar a crítica logo e ser um dos primeiros, ou se é melhor aguardar o lançamento, porque provavelmente vai ter mais gente falando sobre o filme. Vi Império da Luz umas duas semanas atrás, e até agora não ouvi NINGUÉM comentando, não vi nenhum vídeo no youtube, na página do imdb só tem uma crítica. Fui ver no filme B, a previsão de estreia é em 23 de fevereiro de 2023! Claro que não tem ninguém falando sobre o filme!

Enfim, vou falar logo, porque prefiro fazer uma crítica com o filme recente na memória. Não quero esperar meses. Vamos lá?

Império da Luz foi o filme escolhido para abrir o Festival do Rio deste ano. Quem viu na ocasião viu, quem não viu agora só ano que vem. E aproveito pra citar o Festival do Rio, que em outros anos sempre teve um grande espaço aqui no heuvi, mas este ano recusaram a minha credencial, então decidi ignorar o festival. Quem sabe ano que vem?

Minha expectativa por Império da Luz era por ser o novo filme dirigido por Sam Mendes, o primeiro depois do sensacional 1917 – que foi o melhor filme de 2020 aqui no heuvi! Mas, pena, Império da Luz não é tão bom quanto 1917.

Império da Luz fala de vários temas importantes, como racismo, pessoas com desequilíbrio emocional e abuso sexual no trabalho. Mas, senti uma falta de foco, o filme aborda vários temas e não se aprofunda em nenhum. Um bom exemplo é o racismo. O filme tem uma cena forte usando skinheads racistas, mas depois o filme deixa esse plot pra lá.

Por outro lado, é um filme muito bonito. Império da Luz abre com belíssimas imagens de um saguão de cinema nos anos 80. Não li em lugar nenhum isso, mas arriscaria dizer que é uma parte autobiográfica do diretor e roteirista Sam Mendes, que nasceu em 1965 e tinha 15 anos na época em que o filme se passa. Mas a sequência mais bonita é uma onde a personagem principal vê um filme, sozinha no cinema. Ok, vários clichês, como a personagem de frente emocionada com a luz do projetor ao fundo, mas uma cena inegavelmente bela e emocionante. Essa sequência tem cara de clipe pra passar no Oscar…

Sim, Oscar. A decisão de lançar o filme em fevereiro do ano que vem deve ser porque este filme deve ganhar algumas indicações, como melhor filme, melhor diretor, melhor fotografia para Roger Deakins (que já tem dois Oscars, por 1917 e Blade Runner 2049), e melhor atriz para Olivia Colman, que está ótima (ela ganhou por A Favorita e foi indicada por Meu Pai e A Filha Perdida).

Mas, apesar dos pontos positivos, Império da Luz termina com ar de decepção. Bonito, mas vazio.

1917

Crítica –  1917

Sinopse (imdb): 6 de abril de 1917. Enquanto um regimento se reúne para travar uma guerra nas profundezas do território inimigo, dois soldados são designados para correr contra o tempo e entregar uma mensagem que impedirá 1.600 homens de caminharem direto para uma armadilha mortal.

Ok, admito que tenho andado um pouco desligado quanto aos lançamentos. Aí de repente descubro que 1917, um filme que heu nunca tinha ouvido falar, ganhou Globo de Ouro de melhor filme e melhor diretor. Aí ouço no rádio que o filme é um único plano sequência.

Como assim??? Fizeram um filme de guerra em plano sequência e heu não sabia??? Pára o mundo, preciso ver isso!!!

Por sorte, pouco depois do Globo de Ouro, tive a oportunidade de ver. E tenho tranquilidade para afirmar: 1917 é o primeiro filme “obrigatório” do ano.

Dirigido por Sam Mendes (007 Contra Spectre), 1917 traz uma boa história, num bom ritmo e uma bela fotografia, e com uma perfeita reconstituição de época. Ah, e como falei antes: tudo isso num único plano sequência.

Vamulá. A gente sabe que houve cortes, que foram emendados digitalmente. Mas, pra mim, isso não tira o mérito. O filme foi concebido para ser uma única cena (na verdade duas, tem um momento no filme onde dava pra “desligar a câmera”). Cada detalhe de cenário, de figurino, de maquiagem, de entrada e saída de personagens, tudo tem que obedecer aquele conceito inicial de continuidade proposto.

Algumas cenas dão nó na cabeça – tipo, quando tem um corte, você coloca a câmera numa grua, depois na mão do cameraman, e por aí vai. Mas, sem um corte aparente? Saí do cinema com vontade de catar um making off.

No elenco principal, dois menos conhecidos, Dean-Charles Chapman e George MacKay (este estava em Capitão Fantástico). Colin Firth, Mark Strong, Benedict Cumberbatch e Richard Madden fazem papéis menores.

Filmaço. Para ser visto e revisto.

Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

Crítica – Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

Sinopse (imdb): Cinco anos depois dos eventos de Mamma Mia! O Filme, Sophie aprende sobre o passado de sua mãe durante a gravidez.

O primeiro Mamma Mia foi um grande sucesso. Claro que uma continuação era prevista, afinal, estamos falando de Hollywood. A dúvida era como eles fariam, já que quase todas as músicas famosas do ABBA estavam no primeiro filme. E, se o filme só tivesse “lados B”, não venderia tanto.

A solução foi repetir músicas, mas em outros contextos (com exceção da mais famosa de todas, Dancing Queen, que repete o mesmo cenário e as mesmas coreografias do primeiro filme). Além de Dancing Queen, temos novamente Thank You For The Music, Waterloo, S.O.S., I Have A Dream, Mamma Mia (claro) e Super Trouper (essa como encerramento, com todo o elenco cantando). Não me lembro de como foi Mamma Mia no filme anterior, mas aqui ficou bem legal.

Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo (Mamma Mia! Here We Go Again, no original) resolve usar flashbacks pra contar o passado da personagem. Assim, Meryl Streep dá lugar a Lily James, que vira a protagonista do filme e conta a história dos três pais e da chegada à Grécia, vinte anos antes do filme anterior.

(Uma crítica que fiz sobre o filme anterior é que não sabíamos quando se passava. Agora dá pra saber: Donna chegou na Grécia em 1979, então o filme anterior se passa em 1999, e este aqui seria em 2004. Custava eles dizerem que era um filme “de época”?)

A direção é do desconhecido Ol Parker, que não inventa novidades e deixa o filme fluir de acordo com as músicas. Afinal, o que mais funcionou no primeiro filme foram os belos cenários gregos e as boas músicas do ABBA. Então, o negócio é repetir, e todo mundo sai do cinema feliz.

Sobre o elenco: Meryl Streep deveria estar com a agenda cheia, então seu papel é reduzido (ela só filmou por uma semana). Estão de volta Amanda Seyfried, Pierce Brosnan, Colin Firth, Stellan Skarsgård, Dominic Cooper, Christine Baranski e Julie Walters; de novidades, temos Lily James, Andy Garcia, Cher, Alexa Davies, Jessica Keenan Wynn, Hugh Skinner, Josh Dylan e Jeremy Irvine. E, para os fãs, temos cameos dos dois “B” do ABBA, Benny Andersson e Björn Ulvaeus.

O segundo filme está sendo um grande sucesso de bilheteria, assim como foi o primeiro. Claro que estão pensando num terceiro filme. O ABBA tem música pra três filmes? Ou vão ter que pegar emprestadas músicas de outra banda sueca? O Roxette ia gostar… 😉

Kingsman: O Círculo Dourado

Kingsman 2Crítica – Kingsman: O Círculo Dourado

Sinopse: Quando sua sede é destruída e o mundo é feito refém, os Kingsman descobrem uma organização de espiões aliados nos EUA. Essas duas organizações secretas de elite devem se unir para derrotar um inimigo comum.

O primeiro Kingsman foi um dos melhores filmes de 2014. A expectativa agora era grande. Será que mantiveram o nível?

Boa notícia! Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle, no original) é tão bom quanto o primeiro! Um bom elenco numa trama alucinada com ritmo desenfreado e efeitos especiais de primeira linha!

O diretor Matthew Vaughn (o mesmo do primeiro filme) manteve o mesmo conceito – uma espécie de James Bond com mais violência e mais humor. Li em alguns sites que este segundo filme seria mais exagerado que o anterior. Mas, sei lá, lembro da cena da igreja do outro filme, imagino poucas coisas mais exageradas que aquilo…

Kingsman: O Círculo Dourado é repleto de ação e humor. E Vaughn sabe como poucos como filmar essas cenas, alternando câmera lenta e imagens aceleradas, muitas vezes com a câmera posicionada literalmente dentro da ação. As sequências de ação são impressionantes, desde a cena inicial, com uma perseguição de carro de tirar o fôlego, até os duelos finais – com planos sequência, não tão impressionantes como a já citada cena da igreja do primeiro filme, mas mesmo assim muito bem filmados.

Tem espaço para novos personagens. Somos apresentados a uma nova agência: os Statesman, uma versão americana dos Kingsman. Além de cutucadas entre Inglaterra e EUA, isso também abre espaço no elenco para Jeff Bridges, Channing Tatum, Halle Berry e Pedro Pascal, que se juntam a Taron Eggerton, Mark Strong e Colin Firth. Além deles, Julianne Moore está ótima como a vilã. Mas a melhor surpresa do elenco está com Elton John, numa participação pequena, mas sensacional!

Falei da Julianne Moore, né? Uma coisa legal aqui é a atualização dos conceitos que habitam os filmes de espionagem. Assim como aconteceu no último Homem Aranha, a vilã é capitalista. Claro, ela é psicopata, mas o que a move é o dinheiro. Outro personagem interessante é o presidente dos EUA, aparentemente baseado no Trump. Até o ímpeto sexual típico do estilo jamesbondiano está contido aqui – o agente tem que ligar para a namorada antes de pular a cerca.

Os mais ranzinzas vão reclamar que Kingsman: O Círculo Dourado não é tão surpreendente quanto o primeiro filme. Claro, né? No primeiro, tudo era surpresa, e agora a gente já tinha ideia do que encontrar. Mas posso dizer sem medo: se você gostou do outro filme: vá sem medo!

E que venha o terceiro filme!

Kingsman: Serviço Secreto

kingsmanCrítica – Kingsman: Serviço Secreto

Filme novo do Matthew Vaughn!

Uma organização secreta faz testes com novos recrutas para conseguir um novo espião. Durante o treinamento, uma ameaça global surge, vinda de um gênio da tecnologia.

Imagine um filme de 007, mas com mais humor e mais violência. Além disso, bom elenco, bom ritmo… o ano mal começou, e já temos um candidato à lista dos melhores filmes de 2015!

Mathew Vaughn tem uma extensa carreira como produtor (ele produziu os dois primeiros filmes do Guy Ritchie), mas dirigiu poucos filmes – este é seu quinto. Bem, até agora, tem uma carreira admirável: Nem Tudo é o que Parece, Stardust, Kick-Ass e X-Men Primeira Classe. Nada mal, não?

Mais uma vez Vaughn se baseia numa graphic novel, e desta vez traz uma trama absurda, uma espécie de versão jamesbondiana dos cavaleiros da távola redonda, com boas doses de humor e de violência. Várias coisas não têm sentido, mas se a gente usar um pouco de suspensão de descrença, o filme é divertidíssimo!

Diferente do “padrão Marvel sem sangue”, Kingsman tem bastante violência gráfica (como aconteceu em Kick-Ass). Uma cena, em particular, é um belíssimo balé violento, uma longa sequência de briga dentro de uma igreja, onde quase todos saem mortos. E, sobre o humor, Kingsman não é exatamente uma comédia, mas algumas cenas são engraçadíssimas. Gargalhei alto na sequência das cabeças explodindo!

O elenco é ótimo. Colin Firth mostra uma faceta ainda desconhecida na sua carreira: o herói de ação. Samuel L. Jackson também está ótimo, de língua presa, num personagem diferente do “badmotherf%$&cker” de sempre. O jovem desconhecido Taron Eggerton (será que é parente da Tamsin Eggerton?) é outro que também está perfeito. E o filme ainda tem o Mark Luke Skywalker Hammil! Ainda no elenco, Michael Caine, Mark Strong, Jack Davenport, Sophie Cookson e Sofia Boutella.

Não sei se existe uma franquia prevista. Mas não me espantarei se anunciarem em breve um Kingsman 2.

Antes de Dormir

Antes-de-DormirCrítica – Antes de Dormir

Uma mulher acorda todos os dias sem se lembrar de nada recente, resultado de um traumático acidente no seu passado. Um dia, novas evidências aparecem e a forçam a questionar todos em sua volta.

Lendo a sinopse, parece uma mistura de Como se Fosse a Primeira Vez com Amnésia. Mas, na verdade, Antes de Dormir (Before I Go to Sleep, no original) tem muito pouco em comum com esses filmes.

Antes de Dormir é um filme “correto”: boa fotografia, trilha sonora ok… mas no fundo nunca deixa de parecer um “filme de Supercine”, uma produção daquelas que iria direto para o mercado de home video – infelizmente, o filme não engrena nunca. O único destaque aqui é o elenco, afinal, não é sempre que se pode contar com Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong. Os três estão bem. E – para os fãs de Nicole – ela tem uma rápida cena de nudez, onde mostra que ainda está com tudo em cima aos 47 anos de idade.

Rowan Joffe dirigiu e escreveu o roteiro (baseado no livro homônimo de S. J. Watson). É o segundo longa para o cinema dirigido por Rowan, seu currículo como roteirista é um pouco maior (Extermínio 2, Um Homem Misterioso, entre outros). Rowan é pouco conhecido, mas filho de gente importante – seu pai é Roland Joffé, de A MissãoOs Gritos do Silêncio. Triste fato: como diretor, Rowan ainda é mais fraco que o pai.

Antes de Dormir é um daqueles suspenses onde os elementos são colocados na trama como se fosse um quebra cabeça. O problema é que o plot twist final é tão mirabolante que fica difícil acreditar que uma pessoa seria capaz de tal plano.

Enfim, um filme mediano, que não ofende ninguém, mas que também pode passar batido.

O Espião Que Sabia Demais

(Hoje inauguro uma novidade aqui no blog: um texto escrito po um colunista convidado! Com vocês, Gabriel França!)

Crítica – O Espião Que Sabia Demais

Baseado no livro de espionagem escrito por John Le Carré.

“Você eu não somos tão diferentes assim. Nós fomos treinados para identificar as falhas dos sistemas um do outro. Meu lado é tão sujo quanto o seu”.

São exatamente com estas palavras que George Smiley, interpretado de forma espetacular por Gary Oldman, propõe a maior incursão filosófica de seu personagem. Somos todos sujos, corruptos, traidores, mentirosos, egocêntricos e movidos por nossas paixões. Como também somos as nossas ações e a forma como que entendemos e conhecemos a cada um. No fundo somos aqueles personagens do baile de máscaras, uma das grandes cenas do filme dirigido pelo sueco Tomas Alfredson.

Existem duas formas de compreender O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy): 1) como um poderoso thriller de espionagem sobre a paranóia da Guerra Fria. 2) como um filme que usa tal fundo histórico e geopolítico para discutir as paixões humanas e suas maiores implicações no mundo. Ou unindo as duas concepções.

Tinker, Tailor, Soldier, Spy é uma fita absolutamente inovadora em termos técnicos neste gênero fílmico. Aqui nos é proposto um ritmo lento, gradual e constante. Onde cada parte é imprescindível para o todo. Não temos tiros, montagem frenética ou apostas em violência descabida. Por isso a fita é diferenciada, ousada em diversas cenas, de uma força simbólica que pouco vi nos últimos anos. Há de se comentar, por exemplo, a cena na Hungria entre um informante e Jim Prideaux (Mark Strong) e os olhares trocados por Prideaux e Bill Haydon (Colin Firth) numa certa cena relevante durante a trama.

Temos muito aqui do cinema de Bergman, Hitchcock e alguns breves lapsos de Operação França (The French Connection) ao longo dos 127 minutos. Tudo isso adicionado ao excelente roteiro que retira todas as gorduras do seriado produzido pela BBC nos anos 70 e do próprio livro. No entanto a grande sacada do roteiro e do próprio Tomas Alfredson é fazer um ajuste narrativo na introdução que é absolutamente genial! Desde já Alfredson, indubitavelmente, um dos grandes diretores da nova geração. Já havia mostrado potencial em seu filme de vampiros adolescentes Deixe Ela Entrar. Aqui fez o seu potencial prevalecer em terreno concreto.

Um exemplo da delicada e econômica direção do Alfredson é quando Smiley e seus dois colaboradores Peter Guillam (Benedict Cumberbatch) e Mendel (Roger Lloyd-Pack) estão em um carro e sofrem um “ataque” de uma mosca. Ao contrário de Peter incomodado com a mesma, Smiley simplesmente abre a porta do carro com um simples e leve movimento, com uma tranqüilidade e serenidade ímpares.

Não podemos nos esquecer da brilhante trilha sonora, uma realização de Alberto Iglesias, que já trabalhou com diretores do calibre de um Pedro Almodóvar. A música do desfecho (a francesa La Mer aqui interpretada pelo espanhol Julio Iglesias) é absolutamente contagiante e um grande acerto da produção. Certamente uma das melhores da temporada e bem utilizada em momentos propícios criando fortes contornos dramáticos.

Aliás, voltando ao elenco, o que falar sobre ele? Há anos não via um elenco tão rico em um único filme. Cada personagem, mesmo com poucos minutos em cena, deixa muito bem a sua marca. Mark Strong, Tom Hardy, Ciarán Hinds, Colin Firth, John Hurt, Benedict Cumberbatch, Toby Jones e Simon MCBurney.

Gary Oldman é um show à parte. Uma interpretação esplendorosa, de um dos maiores atores da face da terra. Sinceramente, são extremamente indescritíveis os seus trejeitos aqui, sua fria racionalidade em frente a um homem sutil e frágil com inúmeros conflitos internos.

As indicações ao Oscar de Melhor Ator, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora Original foram absolutamente justas. E poderia ter sido perfeitamente indicado em categorias como Melhor Diretor, Fotografia e Filme. Tudo o que a política academia deseja em filme existe em Tinker, Tailor, Soldier Spy. Os votantes preferiram filmes burocráticos como Cavalo de Guerra (War Horse), Histórias Cruzadas (The Help) e Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close).

Posso afirmar que vejo como absolutamente injustas as críticas em relação ao filme. Que é inconclusivo, confuso, lento… Nada disso possui alguma razão em meu ponto de vista. Pois outra grande sacada do Alfredson, a partir roteiro escrito por Bridget O’Connor e Peter Straughan, é confiar no seu espectador, chamá-lo para o filme e não transformá-lo em algo menor (subestimando nossa inteligência), tampouco se utilizando de artifícios baratos de um episódio de série barata que passa em um canal tosco de TV Fechada.

Infelizmente, no cenário nacional, será mais uma obra-prima que não ganhará um público que merece.

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Gabriel França, 23 anos, graduado em História, professor, pós-graduado pela Universidade de Brasília, tricolor de coração e um cinéfilo maníaco.

O Discurso do Rei

O Discurso do Rei

Existem grandes filmes feitos a partir de histórias simples. E existem filmes simples, que são engrandecidos porque contam grandes histórias. O Discurso do Rei é um exemplo do segundo caso.

O Discurso do Rei conta a história real do homem gago que virou o Rei da Inglaterra e enfrentou a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. O Príncipe Albert (Colin Firth), gago desde a infância, era o segundo na linha de sucessão, mas seu irmão abdicou do trono para se casar com uma americana divorciada (na Inglaterra, o rei é também o líder da Igreja). Albert precisava então lutar contra a gagueira e contra a desconfiança dos outros (afinal, ele “ganhou” o trono), e se preparar para se tornar o rei George VI e liderar a Inglaterra através da guerra. E, contra a gagueira, usa os métodos pouco convencionais do fonoaudiólogo Lionel Logue (Geoffrey Rush).

A história é muito boa. Toda a indecisão de Albert sobre o trono e sobre a luta contra a gagueira é muito interessante. E os meios como Lionel Logue consegue convencer Albert a continuar o tratamento geram cenas muito legais.

O filme, dirigido pelo semi-desconhecido Tom Hooper, traz uma boa história, mas é um filme simples demais. Acho que 12 indicações ao Oscar foi um certo exagero…

Se o filme não merece as 12 indicações, algumas são bem-vindas, como os dois atores principais, Colin Firth e Geoffrey Rush. Ambos estão excelentes. Helena Bonham Carter também foi indicada, mas achei um dos exageros… Ainda no elenco, Michael Gambon, Guy Pearce, Derek Jacobi e um impressionante Timothy Spall interpretando Winston Churchill!

(Pequeno parênteses pra continuar o assunto de idades dos atores, que citei ontem, ao falar sobre as idades de Mark Wahlberg e Christian Bale e seus personagens em O Vencedor – por que usar Guy Pearce, um ator 7 anos mais novo que Colin Firth, pra fazer seu irmão mais velho?)

Hoje à noite rola o Oscar. Pela quantidade de indicações, são grandes as chances de vários prêmios para O Discurso do Rei. Veremos. Achei um bom filme, mas, na minha humilde opinião, tem opções melhores entre os dez indicados.

p.s.: ATUALIZAÇÃO – 28 / 02

Ontem rolou o Oscar, e realmente, O Discurso do Rei confirmou o favoritismo. Ganhou só 4 estatuetas, mas foram 4 importantes: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor ator (Colin Firth) – os cinco prêmios mais importantes são considerados filme, diretor, roteiro, ator e atriz.

A Origem também ganhou 4 Oscars, mas foram 4 prêmios técnicos: efeitos especiais, fotografia, som e edição sonora. A Rede Social ganhou roteiro adaptado, trilha sonora e edição; O Vencedor ganhou ator coadjuvante (Christian Bale) e atriz coadjuvante (Melissa Leo); Toy Story 3 ganhou longa de animação e canção; Cisne Negro ganhou atriz (Natalie Portman); Alice no País das Maravilhas ganhou direção de arte e figurino; e O Lobisomem ganhou maquiagem.

O Retrato de Dorian Gray

O Retrato de Dorian Gray

Baseado no livro homônimo de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray mostra o jovem Dorian Gray, que acabou de se mudar para a efervescente Londres vitoriana. Obcecado por sua beleza e juventude, Dorian aceita que lhe pintem um restrato. Ao vê-lo pronto, afirma que daria sua própria alma para ter eternamente aquela aparência.

Neste filme dirigido por Oliver Parker, a reconstituição de época é muito bem feita, o elenco está ok, os poucos efeitos são eficientes, mas… Mas o filme não empolga…

Acho que o roteiro pecou em não se dicidir sobre o estilo do filme. Às vezes, parece um romance de época, às vezes, um terror clássico. E falha nos dois sentidos.

Pena, porque o elenco é legal. Ben Barnes, mais conhecido por filmes infanto-juvenis como As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian e Stardust – O Mistério da Estrela, funciona bem como o protagonista que se recusa a envelhecer e escolhe uma vida dedicada ao hedonismo. Colin Firth está ótimo como o bon vivant Henry Wotton, espécie de mentor de Dorian. Ben Chaplin, Rebecca Hall e Rachel Hurd-Wood também estão ok.

Mas o resultado final fica devendo. Pena.

A Verdade Nua



A Verdade Nua

Nos anos 50, Lanny e Vince são uma dupla de atores, apresentadores de uma famosa “telethon” (uma maratona televisiva beneficente), que se separam após um incidente envolvendo uma jovem morta. Quinze anos depois, uma jornalista investiga o caso.

Escrito e dirigido por Atom Egoyan em 2005, A Verdade Nua (Where The Truth Lies, no original) tem uma interessante narrativa usando flashbacks. Mas, por outro lado, tem um grave problema ao não valorizar o mistério sobre o crime. O roteiro não soube aproveitar bem isso…

O filme vale pela inspirada atuação da dupla Kevin Bacon e Colin Firth, ambos muito bem – li em algum lugar que a inspiração para a dupla seria Jerry Lewis e Dean Martin. A atuação de Alison Lohman foi criticada na época do lançamento do filme, mas, na minha humilde opinião, ela está bem, o roteiro é que não ajuda.

Rola muito sexo, nudez e drogas, mas nada é gratuito, tudo está bem inserido na trama. Inclusive, o filme foi envolvido numa polêmica entre o diretor Egoyan e a censura norte-americana, que pedia cortes no filme. Mas uma das mais importantes cenas, um ménage entre Bacon, Firth e Rachel Blanchard, é essencial para a trama e não tinha como ser editada, só se fosse refilmada. Assim, o filme não escapou da temida classificação NC-17, o que atrapalhou bastante a sua distribuição.

Não é um filme essencial, mas pode ser uma opção para aqueles dias menos exigentes.