Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Pequenos Grandes Heróis

Crítica – Pequenos Grandes Heróis

Sinopse (imdb): Quando invasores alienígenas capturam os super-heróis da Terra, seus filhos devem aprender a trabalhar juntos para salvar seus pais e o planeta.

Antes de falar do filme, preciso falar do diretor Robert Rodriguez. Ele é um raro caso que consegue ter duas carreiras paralelas, fazendo filmes infantis e também filmes para adultos. O cara fez Sin City, Alita, Prova Final, Machete, e teve uma parceria com Tarantino em pelo menos três filmes (Grande Hotel, Grindhouse e Drink no Inferno). E ao mesmo tempo fez Shark Boy e Lava Girl, A Pedra Mágica e toda a série Pequenos Espiões (acho que são 4 filmes). Não me lembro de outro caso que transita entre universos tão diferentes – talvez George Miller, que dirigiu os quatro Mad Max e também Babe o Porquinho e Happy Feet. Enfim, sou muito fã da carreira adulta do Robert Rodriguez, e admiro muito essa sua versatilidade.

(Tem outra informação sobre o Robert Rodriguez, mas que não tem muito a ver com o filme de hoje, mas vamulá. O cara escreve, produz e dirige os próprios filmes. Até aí, você encontra um monte de gente que faz o mesmo. Mas… o Robert Rodriguez também edita, faz efeitos especiais, trabalha na trilha sonora, opera a câmera… O cara faz de tudo num set de filmagem e na pós produção dos seus filmes. Admiro muito isso!)

Mas, vamos ao Pequenos Grandes Heróis (We Can Be Heroes, no original). É uma continuação de Shark Boy e Lava Girl, mas não precisa (re)ver o original, porque a trama segue independente daquele filme. O Shark Boy (interpretado por outro ator) e a Lava Girl (interpretada pela mesma Taylor Dooley do filme de 15 anos atrás) até aparecem, mas são coadjuvantes. A filha deles, a Guppy, é uma das principais.

(Aliás, talvez seja melhor nem lembrar do filme anterior. Porque tudo naquele filme era obra da imaginação de um outro personagem. Ou seja, será que esse “universo expandido” também está na imaginação do mesmo personagem? E será que ele ainda é criança? Deixa quieto…)

O foco fica nas crianças. Os adultos são sequestrados, e as crianças precisam se unir e organizar o novo time de mini-heróis – e alguns ainda não conseguem controlar os seus poderes.

Sim, é um filme bobinho. Mas, caramba, é um filme infantil!

Vi algumas críticas reclamando que o filme é bobo. Mas, pela idade do pessoal que comentou, me parece que eram crianças na época do Sharkboy e Lava Girl, e, hoje, adultos, não se tocaram que Pequenos Grandes Heróis não foi feito para eles, e sim para as crianças de hoje em dia.

Robert Rodriguez deu uma entrevista dizendo que quando faz um filme para crianças, não quer nada subliminar para os adultos. Ou seja, não espere camadas como um longa da Pixar. Pequenos Grandes Heróis é para crianças!

Pensando por aí, o filme até pode funcionar. Os mini-heróis não são personagens muito complexos, o filme é colorido, divertido e traz uma mensagem positiva. Mas… Hoje em dia, em tempos de Soul, Pequenos Grandes Heróis vai decepcionar muita gente.

Ainda preciso falar dos efeitos especiais. Sim, são toscos. Pô, Robert Rodriguez, você consegue efeitos melhores que isso! Agora, isso é coerente como o “lavagirlverse”. O primeiro filme também tinha efeitos beeem ruinzinhos. Mesmo assim, preciso dizer que gostei do efeito dos monstros criados pela vilã na batalha final. Efeito simples, mas eficiente.

Sobre o elenco, o principal adulto é Pedro Pascal, badaladíssimo por Mandalorian e Mulher Maravilha 84. Mas… Ele pouco aparece, a filha dele é que é a protagonista. Mas tem um caso pior, porque pelo menos o Pedro Pascal tem alguma importância na trama. Um dos heróis que tem menos espaço é o Christian Slater! Caramba! Que momento desvalorizado na carreira! Ainda no elenco dos adultos, Priyanka Chopra, Boyd Holbrook, Adriana Barraza e Christopher McDonald. Dentre as crianças, nenhum nome conhecido. E nenhum nome daqueles que a gente pensa “uau, vou anotar o nome desse garoto / garota, ele arrebentou, vamos ver como será o futuro”. Sim, o elenco infantil é bem maomeno.

Por fim, preciso falar que achei o final do filme bem ruim. Digo mais: vi com meu filho de 9 anos, e ele também falou que o final do filme não faz sentido.

Pena. Continuo gostando do Robert Rodriguez, mas prefiro sua carreira de filmes para adultos.

Alita: Anjo de Combate

Crítica – Alita: Anjo de Combate

Sinopse (imdb): Uma história cheia de ação da jornada de uma jovem mulher para descobrir a verdade de quem ela é e sua luta para mudar o mundo.

Opa! Filme novo do Robert Rodriguez! Ou será que é filme novo do James Cameron? Calma, explico.

Alita: Anjo de Combate (Alita: Battle Angel, no original) é baseado num mangá escrito por Yukito Kishiro. James Cameron anunciou interesse na adaptação em 2003, mas a produção atrasou por causa do Avatar (2009) e suas várias continuações (que estão previstas para serem lançadas em 2020, 2021, 2024 e 2025). Até que em 2016 foi anunciado que Robert Rodriguez assumiria a direção, dividindo o roteiro com Cameron (e com Laeta Kalogridis).

Mas, será que funciona a parceria entre um cara que costuma andar no limiar do trash e outro conhecido por uma produções megalomaníacas? Felizmente, a resposta é afirmativa!

Alita: Anjo de Combate chama a atenção logo de cara pelos efeitos especiais. A gente sabe que é um personagem digital, mas é um personagem tão perfeito que ao longo do filme a gente até se esquece disso. O trabalho de captura de movimento feito pela atriz Rosa Salazar é impressionante. Sei que é cedo, mas já arrisco dizer que estará no Oscar ano que vem.

Não só o personagem Alita, mas toda a ambientação distópica é muito bem feita. As sequências com o esporte do filme, Motorball (acredito que a semelhança com Rollerball seja proposital), também são muito bem feitas.

Sobre ser um filme do Robert Rodriguez ou não, a cena do bar (um dos melhores momentos do filme) tem a cara do diretor texano – arrisco a dizer que até a trilha sonora desta cena deve ter sido composta por ele (diferente do que acontece em quase todos os seu filmes, Rodriguez aqui não foi “multi tarefa”, seu maior orçamento até hoje tinha sido 65 milhões em Sin City 2; agora ele estava em um projeto de 200 milhões).

Infelizmente, nem tudo no filme é perfeito. Achei o par romântico desnecessário, e o ator Keean Johnson, que o interpreta, é bem fraquinho. Por sorte, o resto do elenco é muito bom: Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali, Ed Skrein, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey e Eiza González. Li no imdb que tem Casper Van Dien e Michelle Rodriguez, mas não os vi. E o papel (não creditado) de Edward Norton nos dá a quase certeza de que teremos uma continuação.

Poizé, isso é ruim. Alita não tem fim, acaba com um gancho. Ainda acho que podiam ter fechado a história, mas é um mal comum nos dias de hoje…

Revanche Rebelde / Roadracers

0-revanche-rebeldeCrítica – Revanche Rebelde / Roadracers

Numa recente viagem ao exterior, visitando uma loja de dvds, descobri um filme de 1994 dirigido pelo Robert Rodriguez que heu nunca tinha ouvido falar! Claro que heu precisava ver este filme!

Um olhar cínico dos anos 50, onde um roqueiro rebelde tem que enfrentar bandidos com facas e o xerife da cidadezinha local para definir o seu futuro.

Revanche Rebelde (Roadracers, no original) é uma produção para a tv, um filme simples e despretensioso, mas já é um “legítimo Robert Rodriguez” em essência. Claro, é mais próximo de El Mariachi do que de Machete – Rodriguez dirigiu este filme entre El Mariachi e A Balada do Pistoleiro.

A ambientação do filme é excelente. Rodriguez conseguiu captar bem o clima “Grease nos tempos da brilhantina dark” proposto – não sei se era assim na vida real, pois não vivi aquela época, mas o que a gente imagina era aquilo mesmo. A trilha sonora rockabilly é outro ponto forte.

O papel principal é de David Arquette, que aqui faz talvez a melhor interpretação de sua carreira. William Sadler está ótimo como o xerife, e o filme ainda conta com uma Salma Hayek antes da fama.

Revanche Rebelde / Roadracers nunca foi lançado em dvd por aqui. Mas se alguém tiver curiosidade, o filme está legendado no youtube…

Claro, hoje em dia os filmes de Rodriguez têm uma cara diferente, é até covardia comparar este filme com os Sin City e os Machete. Mas Roadracers não faz feio na sua filmografia.

Sin City 2 – A Dama Fatal

0-Sin City-posterCrítica – Sin City 2 – A Dama Fatal

Nove anos depois, a continuação de Sin City – A Cidade do Pecado!

Misturando duas histórias clássicas da graphic novel de Frank Miller com tramas inéditas, vemos os cidadãos mais durões encontrando alguns dos mais famosos habitantes de Sin City.

O primeiro Sin City foi uma revolução nas telas dos cinemas. Nunca antes na história do cinema tivemos uma adaptação tão perfeita de uma graphic novel. Às vezes, parecia que era a câmera passeando pelas páginas da revista! Agora não é mais novidade, o espectador já sabe o estilo de filme que vai encontrar. Se não existe mais o impacto, pelo menos a qualidade foi mantida.

Mais uma vez, temos uma graphic novel na tela. É injusto falar de “adaptação”, quando a fotografia do filme emula as páginas da graphic novel. Assim como no primeiro filme, a cor do filme chama a atenção, preto e branco com alguns detalhes coloridos, mas sempre com cores fortes – o preto é preto mesmo, são poucos tons de cinza. O 3D não é essencial, mas ajuda na visualização das “páginas”.

A parceria na direção, presente no primeiro filme, se repete aqui. Sin City 2 – A Dama Fatal é assinado pelo diretor Robert Rodriguez e pelo autor da HQ, o próprio Frank Miller. Miller não tem muita intimidade com a sétima arte, depois de Sin City ele se arriscou sozinho na cadeira de diretor e fracassou com The Spirit. Ou seja, provavelmene Rodriguez dirigiu e Miller ficou só por perto. Mas não critico a opção de Rodriguez. Sin City 2 continua sendo um filme com a sua cara, e ele ainda teve um guru ao lado para dar os palpites certos.

Como de habitual, o workaholic Rodriguez trabalhou muito. Além de dirigir, produzir e editar, ele foi o responsável pela fotografia e pela excelente trilha sonora, dois dos destaques do filme.

Assim como no filme de 2005, Sin City 2 – A Dama Fatal conta com um bom elenco. E o nome a ser citado aqui é Eva Green, linda linda linda, e que cria uma das melhores femme fatales do cinema recente. Clive Owen foi substituído por Josh Brolin, que ficou bem no papel de Dwight. Mickey Rourke, Rosario Dawson, Jessica Alba, Powers Boothe, Bruce Willis e Jaime King estão de volta aos seus papeis. Dennis Haysbert ficou com o papel do falecido Michael Clarke Duncan; Joseph Gordon-Levitt tem um papelo importante escrito para o filme (não está nos quadrinhos). Ainda no elenco, Ray Liotta, Juno Temple, Jamie Chung, Marton Csokas e uma ponta de Christopher Lloyd- além de um cameo da cantora Lady Gaga.

Claro, este estilo não é para todos. Alguns vão achar tudo caricato demais, todos os personagens homens são durões e quase todas as mulheres são fatais, todas as cenas têm narrações em off, tudo é estilizado demais. Mas quem entrar na onda vai curtir a viagem.

Pena que a bilheteria lá fora foi mal. Não devemos ter um Sin City 3

Machete Mata

Crítica – Machete Mata

A esperada continuação do divertido Machete!

O governo norte-americano recruta Machete para voltar ao México para procurar um traficante de armas que quer lançar um foguete no espaço.

Quem me conhece sabe que sou fã do Robert Rodriguez. O cara dirige, escreve o roteiro, produz, edita, faz a fotografia, a trilha sonora e os efeitos especiais dos seus filmes. E não só tem um currículo com filmes excelentes como fez Um Drink no Inferno e Sin City, como ainda tem uma carreira paralela como diretor de filmes infantis.

Depois do projeto Grindhouse, feito em 2007 em parceria com o seu amigo Quentin Tarantino, onde fez um trash fantástico, Planeta Terror, ele parece que “abraçou a causa” do trash exploitation, e pouco tempo depois lançou o sensacional Machete (2010).

Claro que quem gostou de Machete ia querer rever o anti-heroi feioso. Por isso, a continuação Machete Mata (Machete Kills, no original).

E qual foi o resultado? Bem, temos pontos positivos e negativos pra analisar.

Em primeiro lugar, este é um filme propositalmente tosco. Li no imdb gente reclamando do cgi – entendi que o cgi foi intencionalmente mal feito, pra parecer uma produção B dos anos 70. E digo que, pra mim, funcionou – dei uma gargalhada alta na hora que o helicóptero explodiu, depois que eles pulam no barco. As atuações também são exageradas, tudo dentro do contexto “grindhouse”. O mesmo podemos falar da ridícula trama. Idem sobre a violência excessiva e caricata – o filme é violento, mas de uma maneira que a gente ri.

Ok, a gente aceita trama, atuações e efeitos toscos. Mas em alguns momentos o roteiro parece preguiçoso – por exemplo, não gostei da personagem de Amber Heard, a achei completamente deslocada. E definitivamente não gostei do fim – aliás, é bom avisar: Machete Mata não tem fim, acaba no gancho para o terceiro filme (assim como De Volta Para o Futuro 2 ou Matrix Revolutions).

Mesmo assim, o roteiro ainda traz algumas viradas inesperadas, alguns personagens morrem quando menos se espera… Apesar de trash, Machete Mata está longe do lugar comum.

E é aí que entra a genialidade de Robert Rodriguez. Machete Mata é trash, mas está longe de ser ruim. Detalhes aqui e acolá mostram que Rodriguez se preocupou em fazer um filme bem feito, apesar de parecer o oposto.

Detalhes como as inúmeras referências a outros filmes, desde Guerra nas Estrelas e 007 Contra o Foguete da Morte a referências ao próprio universo “rodrigueziano”, como o revólver em formato de pênis igual a Um Drink no Inferno, ou o personagem que fica cego como em Era Uma Vez no México. Ou ainda detalhes como o cuidado com personagens interessantes mas com pouco tempo de tela (como a personagem da Lady Gaga).

Ah, precisamos falar do sensacional elenco! Danny Trejo é o mesmo Danny Trejo de sempre, mas ele está (mais uma vez) acompanhado de um time invejável. Mel Gibson está ótimo com um vilão canastrão; Sofia Vergara arranca gargalhadas com seu sutiã-metralhadora. Demian Bichir impressiona com um personagem de múltiplas personalidades; Charlie Sheen (creditado com o nome de batismo “Carlos Estevez”) está excelente como o presidente dos EUA. Alexa Vega, a menininha de Pequenos Espiões, cresceu e mostra um corpão; Lady Gaga está engraçadíssima em sua estreia cinematográfica. Ainda no elenco, Jessica Alba, Vanessa Hudgens, Michelle Rodriguez, Amber Heard, Cuba Gooding Jr., Walton Goggins, Tom Savini, William Sadler e Antonio Banderas.

(Quase todas as mulheres aparecem com pouca roupa, mas o filme não tem nudez…)

Como falei antes, Machete Mata não tem fim, termina com o gancho para um terceiro filme, “Machete Mata no Espaço“. A ideia é legal, mas heu realmente preferia que o filme acabasse. Pelo menos o trailer é divertido…

Segundo o imdb, a data de lançamento no Brasil era pra ser dia 11 de outubro. Devia estar previsto para o Festival do Rio. Mas não passou no Festival. E não tenho ideia de quando estreia. Nem ao menos sei se vai estrear…

Enfim, se você gostou do primeiro Machete, vai se divertir com a continuação. E se você nem viu, acho que nem chegou no fim deste texto, né?

 

El Mariachi

Crítica – El Mariachi

Li há pouco tempo uma entrevista com o Robert Rodriguez, um dos meus diretores favoritos, onde ele falava sobre produções simples e baratas. Me empolguei pra rever El Mariachi, seu filme de estreia.

Um mariachi chega em uma cidade atrás de trabalho, mas é confundido com um assassino que sempre carrega suas armas num case de violão.

Vi El Mariachi no cinema, na época que foi lançado por aqui. Não achei um bom filme na ocasião, e confirmo agora, não é um bom filme. Mas é um filme importante e essencial para os fãs de Rodriguez.

El Mariachi é um grande “laboratório”: Rodriguez estava aprendendo a fazer cinema. Seu talento está na tela – ângulos, movimentos de câmera – mas os recursos eram perto de zero. Aliás, este filme é famoso por ser um dos filmes mais baratos da história, diz a lenda que custou apenas 7 mil dólares (num tempo pré cinema digital, foi filmado em película). Lembro de reportagens na época com profissionais brasileiros afirmando que seria impossível se fazer um longa com tão pouco dinheiro, que só a parte da película sairia mais cara que isso…

Mas Rodriguez fez. E uma prova de que isso foi uma aprendizagem e que não custou muito é a quantidade de tarefas que ele próprio fez no filme. Além de produzir, dirigir, escrever o roteiro e editar o filme, Rodriguez está creditado como fotografia, edição adicional, operador de câmera, operador de dolly, efeitos especiais, edição de som e fotos still.

(Rodriguez manteve este estilo ao longo de sua carreira, ele é um workaholic que gosta de fazer de tudo um pouco em seus filmes. Mas acho que nunca fez tanta coisa como aqui.)

Mas, apesar de todo o talento e vontade de Rodriguez, a falta de dinheiro é clara. Quase todo o elenco é amador, e isso fica claro com várias atuações bem abaixo da crítica. E tudo fica pior nas cenas de ação – se Rodriguez estivesse fazendo um drama, talvez o visual não fosse tão tosco.

Três anos depois, Rodriguez fez praticamente uma refilmagem, com A Balada do Pistoleiro. Mas esse ainda preciso rever antes de palpitar…

No elenco, claro, ninguém conhecido. O papel principal é de Carlos Gallardo, que depois voltaria a trabalhar com Rodriguez em A Balada do Pistoleiro e Planeta Terror. Gallardo também trabalhou por trás das câmeras, aqui ele produziu, operou a dolly e trabalhou nos efeitos especiais. Consuelo Gómez também voltou para A Balada do Pistoleiro; e podemos esquecer o resto do elenco. 😉

Mesmo assim, achei o resultado final positivo. El Mariachi pode não ser um grande filme, mas é uma aula de como se fazer cinema barato.

 

Sin City – A Cidade do Pecado

Crítica – Sin City – A Cidade do Pecado

Comprei uma edição dupla gringa de Sin City – A Cidade do Pecado em blu-ray, com duas versões do filme – além da versão que passou nos cinemas, tem a “extended”, “uncut” e “recut”. Revi a original, assim que ver a outra, compará-las-ei no TBBT. Mas, antes disso, vou falar do filme aqui.

Adaptação da graphic novel de Frank Miller, Sin City – A Cidade do Pecado mostra três histórias interligadas, envolvendo policiais corruptos, mulheres sedutoras e marginais durões, uns em busca de vingança, outros em busca de redenção.

Sin City – A Cidade do Pecado é uma das melhores adaptações da história do cinema. Aliás, nem sei se dá pra chamar de adaptação, porque às vezes nem parece filme, parece que estamos vendo na tela os quadrinhos da graphic novel.

A história disso vale ser contada. Um dos maiores nomes da história dos quadrinhos, Frank Miller não tinha um bom currículo em Hollywood. O convidaram para escrever os roteiros do fraco Robocop 2 e do ainda mais fraco Robocop 3. Miller deve ter ficado traumatizado, já que se afastou do cinema – pra que se aventurar num terreno onde não conseguiu bons resultados?

Aí apareceu Robert Rodriguez, que já tinha alguns sucessos na filmografia (A Balada do Pistoleiro, Um Drink no Inferno, Prova Final, Era Uma Vez no México). Rodriguez chamou Josh Hartnett e Marley Shelton e fez, sem ter a aprovação de ninguém, um filminho de poucos minutos, capturando o estilo da graphic novel. E perturbou Miller até conseguir mostrá-lo. Com esse curto filme, convenceu Miller a acompanhá-lo ao set e dividir com ele a cadeira de diretor. Miller pensaria nos quadrinhos da sua graphic novel, enquanto Rodriguez se preocuparia com a parte técnica.

Antes avesso a adaptações cinematográficas, Miller agora sabia que sua graphic novel tinha boas chances de virar um bom filme e finalmente aprovou o projeto.

O visual é todo estilizado. Rodriguez filmou tudo em estúdio, e acrescentou os cenários em chroma-key. O filme é preto e branco, com alguns detalhes coloridos (olhos azuis de uma personagem aqui, tênis vermelho de outro personagem ali). Mais: o preto é realmente preto, e o branco é realmente branco, criando contrastes pouco comuns no cinema (mas comuns nos quadrinhos) – o sangue é quase sempre branco em vez de vermelho (e olha que tem muito sangue, o filme é bem violento). Até alguns movimentos de câmera são como se uma câmera estivesse passando sobre a revista. Como disse, a adaptação foi fantástica, como poucas vezes vista na história do cinema.

Os créditos do filme trazem os nomes dos dois como co-diretores, mas o filme é a cara do Robert Rodriguez, que aqui fez o de sempre: além de dirigir, editou, contribuiu com a trilha sonora, coordenou os efeitos especiais, a fotografia… o cara foi até operador de câmera! Robert Rodriguez é um workaholic do cinema!

(Ainda falando de direção, Sin City – A Cidade do Pecado tem uma participação especial de Quentin Tarantino, que dirigiu a cena no carro com Clive Owen e Benicio Del Toro.)

O elenco também chama a atenção: Mickey Rourke, Clive Owen, Rosario Dawson, Jessica Alba, Elijah Wood, Rutger Hauer, Bruce Willis, Carla Gugino, Michael Madsen, Brittany Murphy, Benicio Del Toro, Michael Clarke Duncan, Devon Aoki, Jaime King, Alexis Bledel, Powers Boothe, além de Josh Hartnett e Marley Shelton (o curta feito antes por Rodriguez foi aproveitado, e abre o filme). Nada mal, não?

Claro, o filme não é para qualquer um. O ritmo quase sempre com narração em off pode cansar. Outra coisa que pode desagradar são os personagens, quase todos no limite da caricatura – todos os homens são durões, todas as mulheres são fatais e gostosonas. Pelo menos essas duas coisas ajudam a criar um clima de filme noir diferente…

Desde a época do lançamento (2005), rola um boato sobre uma continuação. Mas até hoje, sete anos depois, não há nada confirmado. Se vier, que mantenha a qualidade!

p.s.: Frank Miller tentou de novo, e, três anos depois, dirigiu The Spirit. Mas foi um fracasso. Senti falta do Robert Rodriguez.

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Se você gostou de Sin City – A Cidade do Pecado, o Blog do Heu recomenda:
Sucker Punch – Mundo Surreal
Watchmen
300

A Pedra Mágica

A Pedra Mágica

Não me canso de falar aqui no blog o quanto sou fã do Robert Rodriguez. Este ano, o melhor filme dentre os 26 que vi no Festival do Rio foi o dele, o sensacional Machete. Isso porque antes ele fez Planeta Terror e Sin City. O cara é gênio. E tem mais: ele tem uma carreira paralela, de filmes infantis. Ele fez os três Pequenos Espiões e também Shark Boy e Lava Girl. A Pedra Mágica é o seu novo filme pra criançada.

Nesta fábula amalucada, um garoto descobre uma pedra colorida capaz de realizar qualquer desejo. Quando outras pessoas descobrem os poderes da pedra, o caos se instala no pequeno subúrbio de Black Falls, dominado por uma grande companhia que fabrica o Black Box, uma engenhoca que parece uma mistura de celular com videogame com mini-computador com mais um monte de coisas.

A Pedra Mágica é um filme divertido, com personagens bem construídos e um roteiro não linear muito bem escrito. E, assim como faz em seus filmes direcionados ao público adulto, Rodriguez faz de tudo. Aqui ele dirigiu, escreveu, produziu, editou e ainda trabalhou na fotografia e na trilha sonora.

Preciso falar do roteiro. O título original, Shorts, deve ser porque o filme é contado em seis pequenos episódios. Mas, como fez Quentin Tarantino (amigo e parceiro de Rodriguez) em Pulp Fiction, os episódios não estão na ordem cronológica! E, com uma edição bem feita, isso torna o filme ainda mais divertido.

O elenco adulto tem alguns nomes conhecidos, como William H. Macy, John Cryer, Leslie Mann e James Spader. Mas o melhor nome do elenco está no “time infantil”: a (ainda) desconhecida Jolie Vanier, de apenas 11 anos, como a vilã Helvetica Black. A menina é ótima!

(Mais uma bola dentro de Rodriguez: seus filhos estão no elenco, como em vários de seus outros filmes – Rebel Rodriguez esteve em Planeta Terror e Shark Boy e Lava Girl. Mas, diferente de muita gente adepta ao nepotismo, seus filhos são coadjuvantes. Os papéis principais ficam com as crianças realmente talentosas!)

Os efeitos especiais são bastante eficientes para mostrar esse mundo louco. Jacarés andando em duas patas, um pterodátilo, um monstro de meleca, alienígenas minúsculos, um robô gigante, dois personagens em um só corpo, um personagem que vira um besouro, outro com chocolates infinitos… A imaginação estava fértil quando escreveram o roteiro, e os efeitos especiais acompanham tudo isso.

Claro, tem gente que vai achar tudo aqui exagerado. E é sim, os personagens adultos são caricatos, os desejos pedidos à pedra são absurdos, o tal aparelho Black Box faz tudo… Mas, caramba! É um filme infantil!

Boa opção para quem quiser um filme infantil diferente do óbvio.

Machete

Machete

Há muito espero para ver este Machete. Quase desisti de ver no cinema (já existe um R5 para baixar na internet), mas aguardei e consegui ver no Festival do Rio, na sala grande – e valeu a pena!

Machete (Danny Trejo) é um eficiente e durão policial federal mexicano, que acaba afastado do seu país pelo traficante que manda na polícia. Imigrante ilegal nos EUA, ele é contratado para matar um político, mas descobre que é uma armadilha, e passa a ser caçado pela polícia americana.

Nem todos sabem a origem deste filme. Ao idealizarem o projeto Grindhouse, Quentin Tarantino e Robert Rodriguez pensaram em falsos trailers para acompanharem os seus dois filmes (À Prova de Morte e Planeta Terror). Eram trailers fakes, os filmes não existiam. Um destes trailers era Machete…

Só que o trailer fez sucesso, e então resolveram fazer o longa. E o filme ficou ótimo, desde já, um dos melhores filmes de 2010!

Machete é sensacional. O diretor Robert Rodriguez, mais uma vez, estava inspirado, e criou uma obra com uma cena antológica seguida de outra. São vários momentos memoráveis! Acho que o meu preferido é a “cena do intestino”. Genial, genial, genial!

Falando de Rodriguez, vou ser repetitivo e copiar o que escrevi sobre ele no post de Planeta Terror: “Robert Rodriguez é um gênio sem par em Hollywood. Ele dirige, escreve o roteiro, produz, edita, faz a fotografia e a trilha sonora e ainda trabalha nos efeitos especiais. E não é só isso: o cara tem duas carreiras paralelas. Além dos filmes para adultos (como Sin City e Era uma vez no Mexico), ele ainda faz filmes infantis, como Shark Boy & Lava Girl e a série Pequenos Espiões. Como ele consegue tempo pra isso tudo? Não sei, mas sei que Hollywood ia ser menos divertida se não existissem caras como ele…”

E Rodriguez continua em forma. Há pouco passou nos cinemas o infanto-juvenil A Pedra Mágica, e agora temos Machete

Vamos falar do elenco? Danny Trejo, eterno coadjuvante de filmes de ação, sempre presente em filmes de Rodriguez, ganhou (acho que pela primeira vez na carreira) um papel principal. Claro que ele é um ator limitado. Mas ele é o Machete perfeito: brutamontes, de poucas palavras, bom de briga e ótimo com uma faca na mão!

Quem estava no trailer original voltou, claro: Jeff Fahey e Cheech Marin, este último presente em vários filmes de Rodriguez, e que aqui lembra seus tempos de Cheech e Chong com seus charutos de maconha.

No time das meninas, temos Jessica Alba, Lindsay Lohan e Michelle Rodriguez. Jessica está o de sempre, bonitinha, mas nada demais – e sua cena de quase nudez é falsa, ela estava vestida e a roupa foi apagada por cgi. Lindsay tem algumas falas espirituosas, que lembram seu conturbado momento atual de vida (problemas ligados a drogas) – e sua nudez também deve ser fake. Michelle faz bem o papel da latina mal-humorada (que ela faz sempre), mas a partir de um momento do filme, seu papel ganha um bom “upgrade” na esquisitice. E vou prestar atenção em Alicia Rachel Marek, a ruiva que faz a mãe da Lilo…

O filme traz ainda alguns “nomes que não estariam numa produção assim”. Robert De Niro está ótimo como o político preconceituoso; Steven Seagal, gordo, também manda bem como o traficante mexicano; só não gostei muito de Don Johnson (sim, ele mesmo, da série Miami Vice), que está quase o filme inteiro debaixo de chapéu e óculos, quase não vemos o seu rosto – aquele papel poderia ter sido feito por qualquer um.

(Acho que o Tarantino aparece não creditado, numa breve ponta. Na cena final, logo antes do confronto, tem um cowboy alto e desengonçado que é a cara dele!)

Machete não tem as falhas propositais que acompanham os dois Grindhouse. Mas manteve o delicioso clima de filme B. É um filme bem feito, mas com cara de vagabundo. E, seguindo essa onda meio trash, os efeitos especiais são excelentes. Tudo exagerado. Exageradamente divertido.

E, pra completar, a trilha sonora é muito boa. O tema principal sozinho já vale a compra do cd!

Enfim, diversão garantida! Recomendo fortemente!

Ah, sim, quem quiser ver o trailer original, está aqui (o trailer “oficial” é este). Acho que Machete está fazendo bonito nas bilheterias, então, é capaz de vermos em breve outro filme baseado nos trailers fakes…